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Chamaram-lhes retornados

11 Abril, 2015

Hoje no Observador publico um texto sobre a primeira grande leva de retornados. São aqueles que chegam a partir de Setembro de 1974.
Anúncios como estes foram durante alguns meses os únicos sinais de que os retornados estavam a chegar.

cabeleireiro1  Diário Popular, 5 de Dezembro de 1974ScanImage005 ; Expresso, 9 de Novembro de 1974

Durante meses os retornados são invisíveis nas páginas dos jornais portugueses. Também não se fala deles nas rádios nem na televisão. Informa-se em tom crítico que a minoria branca está a fugir de Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Medo infundado e receio de perder privilégios são as razões geralmente apontadas para essa fuga. Vítor Crespo, Alto-Comissário de Moçambique, é um dos dirigentes que mais associa a vontade que muitos portugueses manifestavam de deixar Moçambique ou Angola a uma espécie de aleijão moral e político. Moçambique só seria independente em Junho de 1975. Mas até lá Portugal sujeitaria os seus cidadãos naquele território a um regime que só não se diz totalitário porque a possibilidade de fugir continuava a existir. O que não quer dizer que não se tivesse tentado impedi-los dessa última liberdade, a liberdade de partir: na reunião da Comissão Nacional da Descolonização, presidida pelo Presidente da República, que teve lugar a 4 de Novembro de 1974 equacionou-se nesse dia a possibilidade de Portugal obrigar os seus funcionários públicos a permanecer em Moçambique depois da independência.

24 comentários leave one →
  1. 11 Abril, 2015 21:12

    Muito obrigado Helena Matos.
    Brevemente quando nós (os retornados) tiverem todos morrido, ficarão algumas, muito poucas vozes, a estragar a bela história que os gloriosos da “descolonização exemplar” quiseram e conseguiram que fosse a versão oficial.
    Como se viu noutro post a ignorância sobre o que eram e quem eram e o que faziam e para quem faziam os portugueses atirados para o caixote do lixo pelos senhores militares é abissal.
    O nome que menciona aí, já morreu.
    Não é possível que descanse em Paz, não contribuiu de modo nenhum para a mesma.

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    • Jean Marie Le Pen permalink
      12 Abril, 2015 22:14

      «Diplomatas soviéticos que deram início às relações diplomáticas entre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a República Popular de Moçambique criticam a política realizada por Samora Machel face à população portuguesa branca, sublinhando que, nesta área, o Presidente moçambicano se comportou de forma semelhante ao ditador soviético, José Estaline.»

      http://darussia.blogspot.pt/2009/04/contributo-para-historia-mocambique.html

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      • Josephvs permalink
        13 Abril, 2015 14:09

        Oh Caralho! Quem forneceu os avioes (ponte aerea)?
        Olhe eu posso dizer que viajei a boleia num 747 Jumbo de Nova Lisboa a Luanda. Tanta era a fartura de meios aereos !

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  2. Colono permalink
    11 Abril, 2015 21:57

    Há dezenas de testemunhas vivas:
    Reunião no átrio do Banco Nacional Ultramarino de Lourenço Marques, entre um canalha do PS ( em representação de Portugal e Joaquim Chissano :

    — Chissano: – Diga-nos dr. qual a solução para os funcionários portugueses?
    Delegado: – O problema é vosso!

    … É nosso ?!!!! -O vosso foi carregar os aviões da TAP com o nosso ouro!

    Ando às voltas para lembrar o nome do f.da,pt do delegado… sei que era um sujeito ligeiramente coxo… agarrado a uma bengala,!

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  3. A. R permalink
    12 Abril, 2015 00:01

    Há aí uns sacanas que devem ser julgados ainda: vivos ou mortos, por traição à Pátria e abandono de nacionais à gula sanguinária dos amantes do PCP.

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  4. lucklucky permalink
    12 Abril, 2015 00:54

    É a manipulação do jornalismo de esquerda, fossem outros e seriam “Refugiados” em vez de “Retornados”

    Não me lembro da ONU alguma vez ter ajudado este meio milhão de refugiados, nem vejo campos de refugiados e seus filhos, netos e bisnetos espalhados por aí.

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  5. manuel branco permalink
    12 Abril, 2015 07:34

    Nota: não sou nem tenho família regressado de África depois de 1974.

    Eram retornados? Na maioria eram. Até criaram um jornal com esse nome. O que é espantoso na nossa capacidade de integração é que isso hoje é passado.

    No post apenas vejo referência a Moçambique. Ora bem, eu lembro-me de uma data, 7 de setembro de 1974 e do sonho duma nova Rodésia branca. Eram 250 mil se não me engano e com um gostinho, só um gostinho, pela África do sul. A minha impressão é que fizeram a cama onde se deitaram. Mesmos com a aversão de Vítor Crespo à água, ao que dizem.

    Outro é o caso de Angola. Eram seiscentos mil e com uma paixão pela terra que perdura. Muitos voltaram, outros ficaram com a nostalgia, outros vão para lá agora. Também houve um movimento branco mas não me parece que fosse igual ao de Moçambique. A maioria simpatizava com a UNITA, alguns com o MPLA e poucos ou nenhuns com holden Roberto, tribalista. A grande maioria dos retornados angolanos foi de facto vítima.

    Quando fizer lá o seu estudo não se esqueça das diferenças: as populações europeias de Moçambique e Angola eram diferentes.

    E quanto aos crimes da descolonização será melhor ter presente o quixotesco duma guerra colonial fora de tempo, a aguentar até mais não, para depois cair tudo aos trambolhões. É só mais um pouco! É só mais um pouco! Para depois levar com a enxurrada em cima e dizer que a culpa é do mar. Lembra-se das cartas de Marcelo Matias a Salazar criticando os ventos de mudança do governo conservador inglês dos anos sessenta?

    E já agora: também me lembro dos magalas da minha aldeia que morreram. Lembro-me do funeral de um, lembro-me do medo nas famílias e um dia, se acaso visitar Bissau, quero deixar flores na campa dum conterrâneo meu que ali morreu por coisa nenhuma e cujo nome nem sequer sei. Uma coisa é dar a vida pela Pátria. Outra é perde-la numa obsessão ideológica, o tal Portugal intercontinental, o do Estado de Goa sob ocupação da União Indiana, que no fundo mais não foi que uma justificação que um regime anquilosado, calcificado, teve para procurar aguentar-se. Quando caiu caiu de podre e maduro. Se o resto foi convulsão até nisso a culpa é dele porque quem tinha o poder não teve a visão de don Juan Carlos e de Adolfo suarez nem do duque de Miranda.

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    • Colono permalink
      12 Abril, 2015 12:56

      Caro Manuel Branco

      Podia responder-lhe com “N” casos… porém, fixe-se neste: – Uma percentagem muito elevada de retornados era constituída por ex-militares e familiares.

      — Não se esqueça que foram os militares das guerras que ajudaram (e que maneira) a abrir os olhos ao povo “atrasado” do “contenente”!

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  6. licas permalink
    12 Abril, 2015 08:01

    Diz bem m. branco.
    O que fazer aos ainda com saudades dos “bons velhos tempos”
    que não voltarão nunca mais?
    Irão para a cova ainda mormurando: esteve quase, foi por uma unha negra
    que não ficámos com o Império por inteiro . . .
    Com estes, nada a fazer.

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    • Colono permalink
      12 Abril, 2015 14:31

      Camarada Licas ( ou laricas) ?

      Não te esqueças ( meu pulha) que fostes um chulo dos “saudosos dos velhos tempos”… Como és da EU … até a teta secar de vez… ai serás mais um saudoso dos europeus!
      Via pra c. da tua prima que não tem responde mais… a um comuna só escarro!

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      • licas permalink
        12 Abril, 2015 20:51

        Acertás-te em cheio! Parabens pela argúcia de me detectares
        como comuna.
        Quanto à língua, faz bochechos com um desinfectante forte: bem precisas . . .

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  7. Fernando S permalink
    12 Abril, 2015 10:29

    manuel branco,
    Não vou discutir a falta de visão do “Estado Novo” relativamente às colonias. Tanto não teve que aconteceu o que aconteceu.
    Alguma coisa teria de acontecer naqueles territorios, mais cedo ou mais tarde.
    Agora, isto ou o que quer que seja, não é razão para menosprezar centenas de milhares de portugueses brancos e ignorar a sorte de milhões de negros daquele territorio que também sofreram, e muito, com a “descolonização”.
    A “descolonização” foi um enorme desastre humano. Foi em si e a responsabilidade principal e directa foi daqueles que antes e depois do 25 de Abril de 1974 a prepararam e a levaram a cabo nos moldes em que foi feita.
    Pior do que a “obcessão ideologica” do regime anterior foi a cegueira e a enorme irresponsabilidade de quem fez a “descolonização” entregando sem condições e sem garantias o destino de milhões de pessoas a um ou outro dos grupos armados comunistas.
    As coisas não tinham necessariamente de se passar como se passaram.
    Mas, claro, tudo isso ja faz parte da historia, muitos dos protagonistas ja desapareceram, não ha naturalmente hoje qualquer possibilidade de voltar atras e de corrigir erros passados.

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    • Fernando S permalink
      12 Abril, 2015 10:40

      ** “Tanto teve [falta de visão] que …” … naturalmente !

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  8. Fernando S permalink
    12 Abril, 2015 11:32

    manuel branco,

    Moçambique, 7 de Setembro de 1974.
    Não fui uma causa do desastre da “descolonização”. Foi uma consequencia. Seguiu-se ao anuncio do conteudo do Acordo de Lusaka em que Portugal entregava o territorio à Frelimo, sem transição (formalmente menos de 1 ano, que mal dava para fazer as malas), sem referendo, sem eleições, sem garantias, nada !!
    Foi uma reacção de desespero de gente que se sentiu abandonada.
    Embora seja verdade que a parte militante e operacional da ocupação das instalações do Radio Club de Moçambique tivesse tido uma participação importante de pessoas ligadas a sectores mais radicais, o movimento foi mais amplo, teve o apoio directo de outros grupos de oposição à Frelimo, incluindo figuras não brancas, e foi inicialmente visto com simpatia por uma parte importante da população, não apenas da comunidade europeia mas também da população negra e “assimilada”.
    O movimento, que não era hostil a uma independencia em certas condições, exprimia sobretudo o receio de uma parte da população de que o territorio fosse directa e rapidamente entregue à Frelimo. Receio fundado porque foi o que veio efectivamente a acontecer.
    Dito isto, tendo em conta a posição dominante do novo regime português quanto à questão colonial (os “spinolistas” ja estavam a ser ultrapassados), o protesto não tinha então qualquer hipotese de sucesso e acabou rapidamente e de modo inglorio.
    Tudo muito triste, ainda mais sabendo-se hoje tudo aquilo que se passou depois, nos meses e anos seguintes.

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  9. 12 Abril, 2015 12:21

    Parece que houve um golpe militar por causa de um decreto em 25 de Abril depois chamada revolução dos cravos e que descambou na “descolonização exemplar”.
    Acontece que em 26 de Abril a mesma foi tomada por dentro e por fora (até hoje) pelo partido comunista que se aplicou a fundo e com notável êxito em três missões:

    Entregar todo o Ultramar a satélites da URSS e
    Transformar Portugal num mesmo satélite e
    Ao mesmo tempo impedir qualquer democracia,

    A primeira parte correu de forma perfeita e naturalmente os dirigentes que eram de matriz soviética agora são de matriz cleptocrata tendo o estimado povo passado de fome e miséria (cf. informação oficiosa) a muita fome e muita miséria conforme se vai sabendo.
    Nos dois últimos casos falhou porque o socialismo Mãe de Todos Estes Filhos de Boas Senhoras também falhou.
    Continuam no entanto a tentar arrastar Portugal para a miséria (só vingam onde tudo destroem) boicotando tudo e todos no bom estilo da terra queimada.
    São seguidos por certa de dez por cento da população.
    Fazem uma algazarra que alguém de fora diria que representam Portugal.

    Sobre o que eram Angola e Moçambique nada vou dizer.
    De Angola nada sei, nunca lá estive.
    De Moçambique, curvou-me perante imensos tipo Salgari o qual como sabemos nunca colocou um pé na Índia e escreveu maravilhosos romances contando tudo de imaginação.
    Nem sabia, fiquei a saber, que 250,000 tinham um gostinho pela África do Sul.
    O que se aprende num blog.

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  10. manuel branco permalink
    12 Abril, 2015 14:16

    Como disse nunca pus o pé em tais terras e francamente estou mais preocupado com o canapé na Europa de que falava Dom João vi.

    De todos por que passaram por Angola nunca ouvi um resquício de racismo. Ouvi sempre um grande amor àquela terra, de quem lá se estabeleceu e de quem lá fez o serviço militar. É uma paixão que me escapa pois é tão emotiva. Provavelmente, se o processo tivesse sido bem conduzido teriam lá ficado sem grandes problemas.

    Não digo o mesmo de Moçambique. Mais que uma vez ouvi histórias de segregação racial.

    Imputar tudo quanto sucedeu ao 25 de abril dá vontade de rir. O antigo regime foi aguentando um dique até ele rebentar, até lhe partir a espinha e causar a inundação que foi o PREC. Por muitas culpas que tenha havido em 1975, por muita mão de Moscovo que tenha havido, por muitos motivos de corporação militar que tenha havido, o grande culpado é quem não teve nem o juízo, nem a inteligência nem o bom-senso de fazer o que McMillan e de Gaulle fizeram e Franco aconselhava previdente.

    O resto é História. É como aquela música dos anos oitenta: se cá negasse fazia-se cá ski. Não nevava, não houve ski mas sim muita miséria causada pela cegueira dos homens.

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  11. Fernando S permalink
    12 Abril, 2015 14:19

    manuel branco : “… um dia, se acaso visitar Bissau, quero deixar flores na campa dum conterrâneo meu que ali morreu por coisa nenhuma e cujo nome nem sequer sei. Uma coisa é dar a vida pela Pátria. Outra é perde-la numa obsessão ideológica…”

    Mas o que é “dar a vida pela Patria” ?…
    O serviço militar era obrigatorio, ninguém perguntava se queriam ou não lutar pela Patria. Em Portugal, como em geral em todo o lado. Era quase sempre assim.
    Mas a esmagadora maioria dos soldados portugueses que fizeram a guerra em Africa tinham a noção de que combatiam pelos seu pais, pelo que eram então considerados os interesses do pais e das populações portuguesas e negras nos territorios ultramarinos.
    Não era uma verdadeira escolha individual mas era então considerado normal servir e combater nas forças armadas independentemente do conteudo exacto da politica seguida pelos governos em funções. Politica esta que, de resto, a maioria dos soldados desconhecia nos pormenores. No fim de contas, de um ponto de vista individual, o serviço militar era visto como um dever para com o pais, não se tratava de uma questão politica.
    Por tudo isto é uma enorme injustiça estar agora, por razões meramente ideologicas e politicas, a retirar aos individuos que combateram nas forças armadas portuguesas, e ainda mais aos que pagaram o preço supremo, morrendo em missão, bem como às respectivas familias que sofreram e os perderam para sempre, o simbolismo da dignidade e do reconhecimento por parte da colectividade nacional.
    Ou então a palavra “Patria” não tem qualquer significado que esteja acima das meras contigencias politicas de cada época.

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    • 12 Abril, 2015 15:43

      Obrigado.
      Resta acrescentar que todos os anos centenas de convívios existem por todo o Portugal onde milhares de “traumatizados” soldados enviados contra sua vontade para uma guerra que não era a sua se divertem em grande cavaqueira bebendo umas belas bejecas e recordando bons e gloriosos tempos.
      A esquerda continua a não gostar destes ajuntamentos.

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  12. Fernando S permalink
    12 Abril, 2015 14:29

    manuel branco : “De todos por que passaram por Angola nunca ouvi um resquício de racismo. (…) Não digo o mesmo de Moçambique. Mais que uma vez ouvi histórias de segregação racial.”

    Está muito mal informado. As diferenças entre Angola e Moçambique não tinham que ver com qualquer “segregação racial”. Os sistemas e os modos eram práticamente os mesmos. Nem Angola estava livre de qualquer “resquicio de racismo” nem em Moçambique era normal e frequente a “segregação racial” (para perceber e sentir a diferença bastava então atravessar a fronteira com a Africa do Sul e outras colonias inglesas).

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    • 12 Abril, 2015 15:50

      Não vale a pena perder tempo com que nada sabe e o que sabe foi-lhe ensinado por quem não quer que se saibam as verdades.
      A grande diferença entre Angola e Moçambique era que as passagens custavam mais do dobro e para se ir para Moçambique por completa estupidez de Salazar era necessário aquilo que ficou conhecido como “carta de chamada”.
      Isso criou em Moçambique uma classe de portugueses um pouco mais evoluída do que na outra província irmã, se acrescentarmos que a influência inglesa era tremenda, dentro e fora da mesma muita coisa se explica por si própria.
      Para quem não sabe, e são milhares, o RCM tinha uma emissão de 24 horas em inglês, naturalmente conhecida como LMB e que era um marco de especialização e qualidade.
      Dá uma vontade enorme de rir quando em 1974 se ouve falara de “colonos”.
      Devem estar a ler os quadradinhos do “Cavaleiro Andante” ou do “Mundo de Aventuras”.
      Crianças.

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  13. 12 Abril, 2015 17:18

    Felizmente para todos nós que perdemos aquele habito de seguir o que parecia bem e passamos a inspirarmo-nos na ideia mais UE de que a liberdade de expressão é uma benção a usar todos os dias

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  14. 13 Abril, 2015 14:23

    Obrigado Helena

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  15. Castrol permalink
    13 Abril, 2015 15:15

    A verdadeira idade das trevas de Portugal…

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