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Tiro no pé

26 Janeiro, 2008

Continua a polémica acerca da anulação da ida de Bento XVI à Universidade ‘La Sapienza’.
Há quem julgue que se terá tratado de uma ardilosa manobra para se vitimizar. Num novo abaixo-assinado em solidariedade com os contestatários da visita, argumenta-se que a presença do Papa iria pôr em causa “o saber livre de tutelas”.
Não têm razão. Pior: no seu erro, alentam aquilo que querem combater.
A laicidade do espaço público foi uma das maiores conquistas da Modernidade. Mas que só se sustenta na vivência da tolerância como elemento essencial. E o gesto daqueles docentes e alunos foi intolerante. No fundo, mostraram que a sua própria tutela do saber não admite debate ou concorrência com outros saberes – e isso é negar a própria razão de ser da Universidade laica que foi criada, nunca o esqueçamos, para que nenhuma versão do conhecimento pudesse asfixiar a liberdade das demais.

Correio da Manhã, 25.I.2008

8 comentários leave one →
  1. Nuno Mendes's avatar
    26 Janeiro, 2008 01:41

    O papa não ia à Universidade La Sapienza para debater fosse o que fosse. Ia abrir o ano académico, que é uma ocasião solene, onde faz sentido que quem discurse esteja em sintonia com o espírito da universidade. Muitos professores e alunos não se reviram na figura de Bento 16 e quiseram fazer saber do seu descontentamento na escolha daquele orador. O papa, dada esta contestação desisitiu de ir.

    Isto não é o mesmo que recusar o debate de ideias, ou ser intolerante com perspectivas diferentes.

    A indignação sentida pelos professores e alunos que subscreveram o manifesto seria a mesma indignação ou estranheza que certamente todos sentiríamos se se convidasse para abrir uma conferência de direitos humanos o líder de um país com atitudes ambivalentes, no mínimo, em relação ao valor desses direitos.

    Creio que tudo seria muito diferente se o Papa tivesse sido convidado para um debate ou um ciclo de conferências. Porquê aí levantam-se questões e fazem-se perguntas, e não creio que sua santidade se sentiria confortável nesse ambiente tão esvaziado de dogma.

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  2. piscoiso's avatar
    piscoiso permalink
    26 Janeiro, 2008 02:28

    Pois que convidem sua eminência, o Bento, a ir debater o que quer que seja a uma universidade, para ver se ele aceita o convite, mesmo com manifs a pedirem para ir.
    Se era para dizer uma oração, mandava uma cassete eum poster.

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  3. Desconhecida's avatar
    26 Janeiro, 2008 13:36

    A Universidade tem duas vertentes: a do conhecimento e a da reputação política.
    Do ponto de vista do conhecimento, um orador vale pelo conteúdo do seu discurso e não pela pessoa em si, e parece-me que o tema do discurso do Papa era bastante pertinente e estava de acordo com o espírito académico.
    Do ponto de vista da reputação política, vale tudo aquilo que para uma universidade, em teoria, não deveria valer, mas que faz parte da sua sobrevivência. E aí a presença do Papa, independentemente do que diga, é vista como uma aproximação institucional entre a religião católica e a Universidade, o que é mau para a sua imagem na sociedade actual.

    Os manifestantes da La Sapienza sacrificaram um bocadinho do seu método de avaliar conhecimento, em troca de reputação política. A própria abertura do ano lectivo está transformada num acontecimento político, completamente institucionalizado, e por isso é natural que o que interesse seja a imagem que é dada, saber quem é que são os “amigos da universidade”.

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  4. Desconhecida's avatar
    26 Janeiro, 2008 15:19

    Nuno Mendes,

    «O papa não ia à Universidade La Sapienza para debater fosse o que fosse. »

    É evidente que o Papa não ia para uma sessão de perguntas e respostas. Mas o seu discurso daria uma oportunidade ao debate. Ao visitar a Universidade, seja em que circunstâncias fôr, coloca-se ao alcance da discussão (não imediata, evidentemente) acerca das suas posições acerca dos mais diversos temas, quer as próprias quer as que lhe são imputadas (muito triste a não compreensão da citação de

    Diz que o Papa «Ia abrir o ano académico, que é uma ocasião solene, onde faz sentido que quem discurse esteja em sintonia com o espírito da universidade». Donde, presumo, dada a solenidade, inerente a quase todos os actos de Universidades tão antigas como a La Sapienza, só se deve convidar quem já se sabe de antemão que irá dizer aquilo que agrada à maioria…

    E o que é isso do «espírito da Universidade»???
    É que eu só conheço um conceito capaz de se lhe subsumir: a capacidade de apreensão e desenvolvimento do conhecimento tão livre que não é coagido nem nunca coage ninguém.

    (Mais: http://ablasfemia.blogspot.com/2008/01/errado-e-contraproducente.html )

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  5. Desconhecida's avatar
    26 Janeiro, 2008 15:24

    Peço desculpa mas uma frase do cometário anterior ficou inacabada. A versão completa é assim:

    ” (muito triste a não compreensão da citação de Feyerabend cuja autoria foi atribuída a Bento XVI, descontextualizada, tal como tinha acontecido com o discurso de Ratisbona – na altura, verberou-se o comportamento dos extremistas muçulmanos; agora, os que o fizeram deveriam envergonhar-se em vez de suscitarem apoios para os que se manifestaram contra a visita) “

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  6. António Vilarigues's avatar
    26 Janeiro, 2008 18:44

    Caro CAA,
    Dois links com interesse para a discussão.
    http://odiario.info/articulo.php?p=602&more=1&c=1
    http://odiario.info/articulo.php?p=603&more=1&c=1

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  7. tacci's avatar
    26 Janeiro, 2008 23:45

    Tiro no pé, porquê?
    Protestaram, era o seu direito.
    Chamaram a atenção para a atitude anti-ciêntífica de Joseph Ratzinger, era o que julgaram ser o seu dever.
    Podiam ter esperado com um ar seráfico pela entrada do Papa e depois atirar-lhe ovos podres à passagem. Não o fizeram. Podiam tê-lo atacado com uma faca, como aconteceu com outro Papa antes dele. Também não o fizeram.
    Concorde-se com os seus protestos ou não, usaram da sua liberdade de uma forma irrepreensível.
    Foi isso o tiro no pé?

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  8. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    28 Janeiro, 2008 10:57

    É evidente que o Papa não ia para uma sessão de perguntas e respostas. Mas o seu discurso daria uma oportunidade ao debate.CAA

    E evidente que o CAA continua no seu auto-engano e um nao save a qué atribuir esta oscura confusao de ideias. Porque o CAA conhece (como nós conhecemos) que o qué os “airados” manifestantes queríam era nao ser “discriminados” com a apertura de curso respeito de “outras universidades católicas”.Algúns ainda foram a Constituçao Italiana para olhar sim havia materia para querelhamento…

    Ávila, 17 de octubre de 2007
    El jueves 18 de octubre de 2008 se desarrollará la Solemne Apertura del Curso Académico 2007/08 en la Universidad Católica de Ávila, a la que precederá una Eucaristía en el convento de la Encarnación, a las 11,00 horas. Está previsto que el acto solemne comience a las 12,30 horas.

    MÉXICO, 14 de agosto 2007 (SIAME).- La ceremonia se llevó cabo en el marco del 25 aniversario de la reapertura de la institución que se celebro el pasado 29 de junio, por lo que desde el 25 de enero de 2007 a la misma fecha del 2008 se realiza un año jubilar.

    En la Homilía pronunciada durante la ceremonia eucarística, el Arzobispo primado de México, recordó a las autoridades y alumnos de la UPM que su tarea debe basarse en los compromisos de: Conocer y hacer conocer al Padre como Cristo lo enseñó, Amar al Padre, Buscar la voluntad del Padre y Servir a Dios en el prójimo.

    “Es un deber ineludible de la Universidad el escudriñar de manera científica la Sagrada Escritura y la Tradición de los Padres, tomando en cuenta el Magisterio de la Iglesia para enseñar dicha vida eterna, e implementar los medios para difundir y propagar la verdad de Jesucristo”, destacó.

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