Argumentários….
Uma das mais engraçadas (e ridículas) reacções ao «não» irlandês é o do «mal-agradecidos». Afinal, quando aquele país entrou na UE era relativamente empobrecido e hoje é um dos mais pujantes e com maior nível de rendimento, certamente também por força dos apoios comunitários. Assim, na mente de alguns, a Irlanda teria a obrigação de apoiar todos os tratados e todo os «avanços» propostos. O que obviamente é um disparate. Basta ter acompanhado a campanha eleitoral e muito do argumentário apresentado. Uma das mais relevantes questões em favor do «não» foi precisamente que o novo Tratado poderia impedir, retirar ou no mínimo modificar as condições existentes que permitiram o elevado desenvolvimento irlandês. Independentemente de saber se tal argumento teria fundamento ou não, o certo é que foi com base no receio que o novo tratado viesse alterar o clima económico (elevação de taxas fiscais, restrições de apoio agrícolas, negociações de comércio livre) que em muito motivaram os defensores do «não». E que os defensores do «sim» se mostraram incapazes de contrariar, esclarecer ou refutar. Atendendo ao que foi dito na campanha parece plausível que muitos votaram «não» precisamente por gostarem, apreciarem e estarem agradecidos à UE e, precisamente por isso, não a pretendem ver transformar-se em algo diferente do que tem sido até agora.*
Uma outra ideia assaz curiosa é a de que «3 milhões não podem decidir por 500 milhões». Pois, mas sucede que os representantes dos tais «500 milhões» é que decidiram que se alguém recusasse o tratado este não entraria em vigor. Foram os dirigentes europeus que fixaram a regra da unanimidade. O que agora lhes parece incomodar. Podiam ter decidido, tal como previsto para o Tratado Constitucional, que o mesmo entraria em vigor (para os aderentes), quando fosse ratificado por 20 dos 25 Estados. Mas não, eles exigiram a unanimidade., o que agora não lhes agrada, mas já é tarde.
Evidentemente, também surge a argumentação de que os irlandeses terão votado por «motivos de política interna». Que coisa surpreendente! Afinal os irlandeses teriam votado de acordo com os seus interesses, ponderando os prós e contra ao invés de atenderem aos interesses franceses, alemães, checos ou portugueses! Não está certo….
Também se diz, numa interpretação que denuncia visões totalitárias, que os que votaram «não» o fizeram sem entender bem o que estava em questão, foram manipulados, não terão compreendido, lido ou não estavam conscientes das implicações do novo tratado. Em consequência, os 46% que votaram sim, leram, compreenderam, estavam conscientes, não sofreram pressões populistas nem ameaças… se calhar deveriam ter sido os únicos a poder votar, por saberem o que faziam! É difícil encontrar «argumento» mais abjecto: a pergunta é sim ou não ao tratado e há quem se atreva a interpretar que em caso de certo resultado as pessoas terão respondido a tudo, motivados sabe-se lá porquê, excepto à pergunta e ao que estava em causa. É que para certas pessoas, parece que a resposta «não» só pode indiciar obscurantismo, iliteracia, ignorância, trevas, manipulação por terceiros. Como é difícil a liberdade…..
* Como bem explica Harry van Bommel, deputado socialista holandês:
«They made exactly the same mistakes as our government back in 2005, when Dutch voters threw out a proposed European Constitution. The Irish government started their campaign far too late and they didn’t have any good arguments, except to say that people should be grateful to the European Union for the past,” van Bommel said.
‘‘But this treaty wasn’t about the past; it was about the future – so why bother to vote for a treaty to ensure what we already have? Dutch people, like the Irish, appreciate what the EU has done in terms of prosperity. But this is a new treaty about the future, with huge implications that threaten neutrality, sovereignty, independence, and erode democracy. Irish voters realised all of that, luckily,” he said.» (SBP)

Sim é dificil entender o argumentuário do “Sim”. Usam argumentos que pioram a própria posição como de dizer que as pessoas votam por outras razões: ora que coisa mais pior se pode assumir de um Tratado? Que as pessoas se dão ao trabalho de gastar o seu tempo para votar contra uma coisa por outras razões? Só se essa coisa for mesmo rasteira e não tiver mesmo valor algum. Depois vêm com o argumento da Dívida Paternal. Por essa ordem de ideias os EUA que salvaram a Europa Ocidental durante 2 Guerras Mundiais e ainda a Fria teriam direito a infindos “Yes. Mr. President”.
Finalmente nunca apontam virtudes ao Tratado. Cómicamente parece que nem eles o leram e entenderam.
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http://www.dailymail.co.uk/news/article-1026556/Gordon-Brown-faces-Tory-bid-wreck-EU-treaty-Lords.html
Gordon Brown faces Tory bid to wreck EU treaty in Lords
Gordon Brown was last night facing a concerted effort by victorious opponents of the EU treaty to wreck its passage into British law.
After Irish voters rejected the Lisbon Treaty in a referendum – effectively killing off plans for a European superstate – the Prime Minister defiantly pledged to continue ratification.
Months of parliamentary wrangling are set to reach their conclusion on Wednesday – the day before Mr Brown attends a crisis summit of EU leaders – with the Third Reading in the Lords and Royal Assent of a Bill to put the treaty on the UK statute book.
But last night, as diplomats worked behind the scenes to rescue the EU blueprint, moves were under way in the Lords to sabotage the Bill.
Britain’s Europe Minister Jim Murphy yesterday caused irritation in Dublin by saying it was Ireland’s responsibility to solve the impasse caused by the 53.4 per cent No vote. ‘The Irish government need to tell us how they think we should be taking this forward,’ he said.
William Hague, the Shadow Foreign Secretary, said if leaders failed to heed the Irish result it would show that the EU was ‘more undemocratic than ever’.
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O que eu gostava de perceber é a contradição dos blasfemos: estão de acordo que o referendo irlandês deve ser considerado válido (também eu…) mas defendem (quase todos) que se faça tábua rasa de um outro referendo e avançar com a regionalização em Portugal!
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Tratados são tratados conforme o interesse de cada um.Mas a verdade é que esta pode ser uma oportunidade de os políticos perceberem o que verdadeiramente está em questão e tirar as devidas ilações.Por exemplo, ser no país de maior sucesso,após entrada na UE,haver tanta gente a dizer não.É com medo que a formula de sucesso se extinga?
Se calhar porque nenhum europeu saiba, ainda, qual o caminho que o futuro nos reserva.E a ser assim,este tropeção não é mais do que isso.Um tropeção!
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«que se faça tábua rasa de um outro referendo e avançar com a regionalização em Portugal!»
a regionalização está prevista na constituição. A sua entrada em funcionamento depende de um novo referendo.
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“faça tábua rasa de um outro referendo e avançar com a regionalização em Portugal!”
Aliás, como aconteceu com o “aborto”! Não se aprova à primeira, aprova-se à segunda ou à terceira!
É a Democracia!
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Bush elogia Sarkozy por escolher Carla Bruni para mulher
O presidente norte-americano, George W. Bush, felicitou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, por ter escolhido Carla Bruni para sua mulher.
Bush, que está de viagem à Europa, disse que Carla Bruni é «uma mulher realmente inteligente e capaz».
«Percebo porque casou com ela», disse Bush a Sarkozy no sábado.
Bush também elogiou o presidente francês, chamado pela imprensa francesa de «Sarkozy l´Americain» («Sarkozy, o americano»).
«É um indivíduo interessante», disse Bush, que chamou Sarkozy pelo seu primeiro nome. «Ele é cheio de energia. Ele é cheio de sabedoria. Diz-me o que está na sua cabeça. E todas as vezes que me encontrei com ele, tivemos conversas muito interessantes.»
O presidente dos EUA disse que a França foi «o primeiro amigo dos Estados Unidos» ao ajudar na guerra pela independência norte-americana contra a Grã-Bretanha, em 1796.
A passagem de Bush por França é vista como mais um gesto de reconciliação entre os dois países, depois de anos de tensão sobre posições diferentes em relação à invasão do Iraque.
Diario Digital
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Excelente, caro Gabriel. Gostava de ter escrito isto. 😉
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“mas defendem (quase todos) que se faça tábua rasa de um outro referendo e avançar com a regionalização em Portugal!”
Não serão “quase todos”.
São só os idiotas úteis ou os que têm pretensões a um tacho, já que o lobi dos tachos centralista está saturado. Portanto com a diversificação…
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A IDEIA (genial!) de ir repetindo referendos até eles darem o que se pretende (acedendo, assim, a um estado de maior entropia que impede a reversão), foi muito citada a propósito da possível independência do Quebeque:
Na altura do último refendo (em que, mais uma vez, venceu o NÃO), um partidário do SIM explicava, sorridente, que era questão de ir insistindo, e fazia a analogia com o que sucede quando alguém é objecto de sucessivas tentativas de homicídio:
«O alvo precisa de ter sorte SEMPRE, enquanto o agente do atentado só precisa de ter sorte UMA VEZ…».
.
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Os mesmos que gostam do não Irlandes não gostam do não á regionalização.Os argumentos são para os dois lados.Referendo até ao sim!
Para os dois lados,claro!
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Gabriel,
De referendo em referendo até ter a sua opinião validada. Não são se esqueça que a nossa constituição onde se fala da regionalização também não foi refendada. Apenas validámos em eleições os deputados que a aprovaram tal como se quer fazer com o tratado de Lisboa.
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Mas podes crer, além de caprichosa e irresponsável, aquilo é maltosa de sempre por onde foi desgraçada, o rebotalho do piorio, por cima disso ainda mal-agardecida.
Estivesse em questão, ainda hoje, a exclusão natural da mama europeia, a ver se o Não não perdia.
E essa gente, já disse, tal o Benfica, é é egoísta e mesquinha.
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A regionalização é uma imposição constitucional, não é uma opção.
O que se referendou e se referendará é a lei em concreto, nomeadamente a divisão regional e os poderes que as mesmas terão.
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«Apenas validámos em eleições os deputados que a aprovaram tal como se quer fazer com o tratado de Lisboa.»
Certo.
E eu não sou defensor de que os tratados da UE tenham obrigatoriamente de ser referendados.
Cada estado deve ser livre de escolher a forma que entende melhor.
No caso irlandês a sua constituição obriga ao referendo.
No caso português, bem ou mal, os deputados de 4 dos 5 partidos tinham-se comprometido e prometido um referendo sobre o assunto. Ao negarem-se a fazê-lo romperam o contrato e mandato eleitoral que receberam.
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Gabriel mas o referendo á regionalização já foi feito…
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Eu considero essencial um referendo para qualquer mudança nos Poderes, Moeda, Justiça etc. Desde que entrámos na UE já deviam ter sido feitos vários referendos. Começando pelo primeiro da Entrada , na altura CEE.
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«Gabriel mas o referendo á regionalização já foi feito…»
pois já e AQUELA regionalização chumbada e enterrada.
Mas a constituição continua a dizer que o pais deve ser organizado regionalmente, pelo que mais tarde ou mais cedo, se terá de apresentar OUTRA lei de regionalização e fazer novamente o referendo.
Porque este não é sobre se deve ou não existir regionalização ( a CRP obriga a que esta exista), mas sim sobre o seu modelo/poderes.
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“Mas a constituição continua a dizer que o pais deve ser organizado regionalmente, pelo que mais tarde ou mais cedo, se terá de apresentar OUTRA lei de regionalização e fazer novamente o referendo.”
Mas a constituição também pode ser alterada. Parafraseando o Pessoa, isto são tudo papéis pintados.
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C. Medina Ribeiro, a ideia original foi do malogrado deputado do PCP Rui Sá, a propósito de referendo sobre a regionalização, que, salvo erro dizia “se a regionalização não passar temos que repetir o referendo até que passe”… conceitos de “democracia”…
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Gabriel Silva:
pois já e AQUELA regionalização chumbada e enterrada.
Pelos vistos não se recorda das perguntas colocadas a referendo. A primeira era sobre “a instituição em concreto das regiões administrativas”, não sobre aquela. Foi chumbada por 61%.
Mas a constituição continua a dizer que o pais deve ser organizado regionalmente, pelo que mais tarde ou mais cedo, se terá de apresentar OUTRA lei de regionalização e fazer novamente o referendo.
E por que não, mais tarde ou mais cedo, se terá que apresentar uma proposta de revisão da Constituição que retire desta algo com que a maior parte dos portugueses manifestamente não concorda?
Já foi referido por outros mas a falta de vergonha na cara por parte de alguns faz com que não seja demais apontá-lo novamente. “De referendo em referendo até à vitória” é um disparate e uma falta de respeito por quem se dá ao trabalho de ir votar.
O facto de estar na Constituição não torna a regionalização inevitável.
O nº 1 do artigo 13º diz que “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”.
A alínea d) do artigo 81º diz que “Incumbe prioritariamente ao Estado no âmbito económico e social” (…) “Promover a coesão económica e social de todo o território nacional, orientando o desenvolvimento no sentido de um crescimento equilibrado de todos os sectores e regiões e eliminando progressivamente as diferenças económicas e sociais entre a cidade e o campo e entre o litoral e o interior”.
E são logo os nºs 1 e 4 do artigo 236º que têm forçosamente que ser concretizados?
Tenha juízo.
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«A primeira era sobre “a instituição em concreto das regiões administrativas”, não sobre aquela.»
Vejo que não compreendeu a pergunta.
As pessoas que defenderam a regionalização não fizeram devidamente o seu trabalho e portanto perderam. Acontece.
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Gabriel Silva:
Vejo que não compreendeu a pergunta.
Se tivesse compreendido, teria respondido “sim”, não era?
Pretender que as perguntas não significam aquilo que as palavras dizem e que só responde “errado” (por definição, o oposto do que os “iluminados” pretendem) os que não as percebem não é novo mas não deixa de demonstrar o pouco respeito que esses “iluminados” têem pela opinião dos outros e o significado muito próprio que dão ao termo “democracia”.
Como é que é o ditado? “Presunção e água benta…”
O que estava em causa ficou perfeitamente claro desde o início, independentemente da forma da pergunta. E o resultado é inquestionável: os portugueses não querem uma divisão política do território, com aquele ou outro mapa, mesmo que lhe chamem administrativa.
E quanto ao resto (“previsto na Constituição”), disse nada. Percebe-se porquê.
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Desde partidos políticos a sindicatos, passando por associações empresariais, todos recebem dinheiro de Bruxelas. Não é de admirar que estas “instituições” sejam europeístas em quase todos os países. Mas o cidadão comum, que vê a sua situação económica cada vez mais difícil e a representatividade política mais limitada, não se revê, óbviamente, no caminho que a União Europeia está a tomar. A UE é um “gigante” com pés de barro e algum dia a casa vem abaixo.
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Só gostaria de deixar uma pequena achega ao texto, de facto o actual número de eleitores na Irlanda ronda os 3.059.033 milhões, considerando que o nível de abstenção foi da ordem dos 50%, na práctica só cerca de 1.529.516 foram a votos, 54% deste valor corresponde aproximadamente a 825.939 eleitores. Portanto a decisão da não ractificação do tratado ficou a cargo de menos de um milhão de eleitores.
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Um grande post.
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Querem chatear a nossa classe dirigente? Façam um referendo online sobre o Tratado de Lisboa! Vamos desmascarar a palhaçada.
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G Ferreira dos Santos:
Portanto a decisão da não ractificação do tratado ficou a cargo de menos de um milhão de eleitores.
Em primeiro lugar, a sua afirmação está errada. A decisão não ficou a cargo de menos de um milhão de eleitores mas sim a cargo de 3.059.033(?) eleitores. Sempre é melhor do que ficar a cargo de apenas algumas centenas de políticos.
Em segundo lugar, em democracia decide quem aparece. Ao menos os irlandeses puderam aparecer. Os outros foram muito “democráticamente” impedidos de dizer de sua justiça.
Independentemente de serem 800 e tal mil ou um centésimo desses, o importante é que mais de metade dos que puderam e se deram ao trabalho de votar disseram que não. Pretender valorizar mais os que não puderam ou quiseram votar do que os que puderam e quiseram votar demonstra um fraco entendimento do que é a democracia.
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Viva a Irlanda .
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Uma das mais engraçadas (e ridículas) reacções ao «não» irlandês é o do «mal-agradecidos».
Foi uma das poucas coisas que PA me ensinou e aceptei por ter tantas veces confirmado. Ser mal-agradecido vai no caracter e no gen do católico !
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