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Fúria nacionalizadora (*)

5 Novembro, 2008

Por interpostos Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio, Sócrates resolveu no passado domingo imitar Gordon Brown, num acto que pretende demonstrar arrojo e capacidade de decisão num momento de crise aguda. O mainstream político e económico aplaudiu e o Parlamento validará hoje a decisão, imagino que com uma ou outra abstenção à direita.

A questão que se põe é saber se tal decisão se ficou a dever apenas a uma situação de insolvência de um Banco ou se terá também havido motivações políticas. Tenho para mim que, qualquer intervenção do Estado na economia, tem sempre motivações de carácter político e ideológico e que transcendem em muito a simples racionalidade económica. A recente intervenção à escala global dos Estados na “salvação” de bancos em dificuldades está a alterar por completo o paradigma dos mercados e irá por certo provocar sérias distorções a prazo. O mercado já interiorizou que ao sector bancário não se aplica a profilaxia da falência. Isto significa que, agora e no futuro, aquele sector irá sempre assumir níveis de risco excessivos na sua actividade, na certeza de que, se algo correr mal, haverá sempre a almofada que os contribuintes compulsivamente lhe colocarão por baixo.

Nestas alturas, justifica-se sempre a intervenção estatal com o efeito de contágio que a falência de um banco, por pequeno que fosse, poderia ter em todo o sistema. Cabe também aqui a eterna defesa dos depositantes (então e o fundo de garantia dos depósitos?) naquele discurso que, à partida se sabe ser consensual, em suposto favor dos pequeninos e dos coitadinhos. Estamos perante o habitual argumento alarmista que os políticos são exímios em desencantar nestas alturas, sempre muito oportuno para convencer os cidadãos da inevitabilidade das medidas decretadas e da inexistência de qualquer alternativa.

Na realidade, nada nos garante que a falência de um banco iria provocar em efeito dominó a queda de todos os outros. Nem que o mercado não disponha de alternativas para recuperar empresas se acreditar na respectiva viabilidade económica. O problema são as mensagens e incentivos errados que se transmitem. Quando o governo anunciou, no momento da concessão da garantia de 20 mil milhões à banca, que não iria permitir a falência de nenhuma entidade, cessaram desde essa altura todos os incentivos que accionistas ou credores de banco em insolvência tivessem para, de forma concertada, investirem na respectiva recuperação. A partir de então, ficaram todos a aguardar que o Estado abrisse os cordões à bolsa dos contribuintes.

Mas pior que a “salvação” do BPN é a prometida “nacionalização” de todos os restantes bancos, na sequência da disponibilização de 4 mil milhões para reforço dos seus fundos próprios. Admitindo que alguns estejam com problemas de funding, a mensagem que se instalou definitivamente com esta medida é que a crise é sistémica. O efeito imediato será intensificar a fuga de capitais em direcção ao dólar, a qual vem desde há algumas semanas a colocar o euro sob pressão.

Sócrates estará indiferente a estes factos, na ostensiva ignorância que denota face às questões económicas (e não só). O seu principal objectivo será tirar dividendos políticos do caso BPN, a quem estão e estiveram ligadas figuras do PSD, com destaque para Dias Loureiro. Através deste, tentará ainda por ricochete atingir Cavaco, ultimamente muito activo na utilização do veto. Com a “nacionalização” do resto da banca, tentará mostrar a imprescindibilidade da (sua) política para que a economia funcione.

Os efeitos serão diferidos e começarão a sentir-se aquando da implementação das medidas. Os milhões anunciados terão de vir de algum lado. Não será de aumento da tributação, que 2009 é ano eleitoral. Só poderão provir de maior endividamento. Pouco ou nenhum será interno, que as poupanças nacionais estão depauperadas por via da queda das bolsas. Virá pois de mais dívida externa que já está em níveis estratosféricos, quase em 100% do PIB. Com isto, o spread da dívida da República face aos bunds alemães que já está em 90 pontos de base, levará mais um empurrão para cima. O risco-país também, e os alertas começarão a tocar junto dos nossos credores e potenciais financiadores.

(*) O Diabo, 04-11-2008

10 comentários leave one →
  1. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    5 Novembro, 2008 16:31

    O buraco da AIG não tem fundo.

    As AIG has rapidly eaten through the loan money, the Fed has twice expanded its original $85 billion bailout which itself was the largest government bailout of a private company in U.S. history. Earlier last month, the Fed reluctantly gave AIG $38 billion more in credit for securities lending to try to keep the firm from drawing down its first Fed loan too quickly.
    Then on Thursday, the Fed agreed to let AIG borrow $20 billion from a larger commercial paper bailout fund it had set up days earlier for all institutions that lend money to each other.
    If the company had filed for Chapter 11 bankruptcy protection, AIG could have frozen the crippling collateral calls, and shareholders would have had a chance at recovering some value from the company’s 80 percent drop in stock price from earlier this year, said Lee Wolosky, a lawyer for AIG’s largest shareholder, Starr International.

    http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/11/02/AR2008110202150.html?hpid=topnews

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  2. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    5 Novembro, 2008 16:32

    Atingia muito melhor o psd se deixasse o banco ir à falencia.

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  3. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    5 Novembro, 2008 16:33

    Isso é que era. Ficava demonstradex a incapacidade economica além da ladroagem do psd. Devia na verdade ter deixado a coisa ir à falencia. Ia ser um monte de pessoas inocentes completamente furiosas contra o psd.

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  4. Desconhecida's avatar
    5 Novembro, 2008 17:06

    Furiosas contra o PSD? O Cosntâncio, que parece que não tem partido, assobia para o ar, há vários anos! A Delloite pos-se a milhas, indo para lá outra Auditora que escreveu o que o “Velho” queria, e o vítor assobiava, assobiava, até parecia um canário!

    Mas, o pior é isto:

    Índice para a actividade dos serviços cai para níveis que indicam contracção
    O índice que mede a actividade dos serviços nos EUA caiu, em Outubro, pela sexta vez em 10 meses, tendo atingido valores que revelam uma contracção. O acentuar da crise financeira e o abrandar das vendas levou as empresas a reduzirem as suas despesas, o que penalizou o sector dos serviços.

    http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=339684

    ———————————-

    Claro que o Zé Trteas trata de todos os problemas, com mais umas patranhas. Mas, os tugas são como o “outro”, gostam de ser enganados!

    Não se queixem, e votem no “Engenheiro”. Ahhhh, mas seria engraçado que nacionalizassem o BCP. Ou seja, Vara voltaria à Caixa. À “sua” Caixa de Vinhais.

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  5. Pedro T's avatar
    5 Novembro, 2008 17:07

    A “fúria nacionalizadora” sem estartégia que não seja a da intormissão do estado na economia de mercado, só vem piorar ainda mais os efeitos da crise financeira, económica, e por arrasto social de que todos somos vitimas.
    Tudo o resto são noticias de vai-e-vem que só demonstram a fragilidade da nossa economuia

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  6. Desconhecida's avatar
    5 Novembro, 2008 17:33

    “Dar aos idosos 80 euros é um ultraje e um insulto porque eles, diabéticos, vão beber cerveja e comer doces e serão roubados pelos filhos”.
    Maria José Nogueira Pinto, nas Jornadas Parlamentares do PSD,

    Esta Senhora bebeu umas cervolas?

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  7. jose manuel santos ferreira's avatar
    jose manuel santos ferreira permalink
    5 Novembro, 2008 18:45

    Fúria nacionalizadora (*)

    Um banquinho ??? Que albergava os “main stream ?” os brains, os people, os brain storm, etc etc etc do PPD ????

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  8. Desconhecida's avatar
    5 Novembro, 2008 19:44

    Ficamos a aguardar que os culpados sejam responsabilizados criminalmente pela gestão danosa e “reservada” que fizeram.
    Eu fico a aguardar, até ao próximo acto eleitoral legislativo… O mesmo é válido para o subsequente acto presidencial.
    Para mim a gota de água foi já a intervenção do Estado na recuperação do banco; sou absolutamente contra e entendo que foi uma má opção do governo na utilização dos dinheiros públicos.

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  9. ALberto's avatar
    ALberto permalink
    6 Novembro, 2008 00:07

    Sendo verdade, e realístico o plano de M.Cadilhe, que teria um custo bem menor para os Contribuintes, e embora não seja nada dado a estas coisas de movimentação de “massas”, penso que esta deveria ser a derradeira gota d’agua, que deveria levar milhões de pessoas para a rua, contestar este uso dos dinheiros públicos (pior, da dívida futura) para fins políticos e eleitorais!

    Não bastasse isto, e ainda “aparece” um artigo que permitiria ao governo nacionalizar como e quando quisesse, sem sequer levar à AR.
    (Btw, a nacionalização deveria exigir o mesmo nº de deputados que as emendas à Constituição!)

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  10. suzy's avatar
    suzy permalink
    11 Novembro, 2008 23:10

    e o BCP encera na sua administração, senão rosas cheias de picos, ate a cor rosa é comum, só espero que esse não dê o berro.

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