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Dreams

6 Novembro, 2008

«There’s no question that in the next thirty or forty years a Negro can also achieve the same position that my brother has as President of the United States, certainly within that period of time», Robert Kennedy, 27 de Maio de 1968.

Sem sombra de dúvida, a vitória de Obma é um facto histórico extraordinário.
Se recordarmos que apenas há precisamente 40 anos, quando Luther King foi assassinado, tinha-se acabado de obter certos direitos, como por exemplo o livre acesso ao ensino superior por parte dos cidadãos negros, o direito de se inscreverem nos cadernos eleitorais, o fim da discriminação na utilização de bens públicos, como sejam os transportes ou a fruição de parques e jardins, vê-se bem a evolução ocorrida. Nas últimas décadas, foram sendo eleitos como mayores, governadores, senadores ou nomeados membros do governo. A vitória de Obama é não apenas um fim de um longo caminho, mas também terá um profundo impacto social cultural e político em todos os EUA. 
É igualmente, uma vez mais, a concretização do «american dream», de que tudo é possível na América, incluindo o sonho de qualquer cidadão, sejam quais forem as suas circunstâncias, de se tornar presidente do país mais poderoso do mundo.

Em termos de projecto político do novo presidente, a campanha não permitiu grandes detalhes, mas em aspectos centrais não existiram diferenças significativas face ao seu opositor, estando ambos de acordo em particulares visões negativas: uma forte adesão ao intervencionismo do estado na sociedade, a defesa da guerra como forma de solucionar conflitos (distinguindo-se apenas de McCain pela geografia das prioridades imediatas), a crença no papel messiânico e conformador dos eua face ao mundo, a apologia da manipulação centralizada da economia, do preço do dinheiro e da máquina impressora de notas.  Pode-se argumentar, com razão, que tais são caracteristicas, infelizmente, muito generalizadas nos cidadãos e políticos norte-americanos. Verdade. Deseja-se é que quem assim não o entenda consiga construir projectos políticos alternativos, a bem da liberdade geral.

Não creio, nem vejo sinais de que esta vitória tenha resultado de alguma alteração profunda do eleitorado. O campo político agora derrotado, parece permanecer igual ao que era, aceitando mesmo com dificuldade um candidato em seu nome com o qual as ligações era mais do que ténues. Uma margem de descontentes providenciou a derrota, mas o centro da infeliz política conservadora dos últimos anos está lá, não mudou. Provavelmente tenderão nos próximos anos a barricarem-se, sofrendo derrotas e recusando-se a reconhecer que estavam errados. Os próximos 12 anos serão dos democratas. O republicanismo só voltará a ser dominante e a ter influência na sociedade, quando aceitar recuperar e actualizar, não apenas parte do reaganismo, como sobretudo uma visão verdadeiramente liberal, de acordo com a tradição fundadora  e essência dos eua, onde o respeito pela liberdade individual, o acérrimo controle do poder, o governo mínimo, a autonomia dos estados, das comunidades e dos cidadãos sejam verdeiramente respeitados e se abandonem definitivamente as visões imperiais ou salvifícas do mundo.

12 comentários leave one →
  1. Desconhecida's avatar
    Raskolnikov permalink
    6 Novembro, 2008 11:28

    Começo por fazer uma declaração de interesses. Pelo seu percurso pessoal, pelo facto de ter sido opositor de Bush no G.O.P. e por se ter comportado com a maior dignidade durante toda uma vida de serviço ao seu país, preferia que tivesse ganho o sr. McCain.
    No entanto, o voto dos americanos recaiu no sr. Obama. Os Estados Unidos são uma democracia há mais de 200 ininterruptos anos e, por tal, só se pode esperar que o novo Presidente tenha os maiores êxitos no seu mandato. Será difícil, mas a América vencerá no final.

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  2. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    6 Novembro, 2008 11:36

    Os Kennedy, Ted e Caroline passaram-lhe o testemunho durante a campanha e frisaram que a geração Obama sucedia à geração Kennedy. Onde é que eu ouvi isto…

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  3. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    6 Novembro, 2008 11:37

    As bolsas mundiais é que não estão a achar graça nenhuma.

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  4. Entrelinhas's avatar
    Entrelinhas permalink
    6 Novembro, 2008 11:38

    Tem piada ninguém agora se lembrar, ainda andava a Clinton em despique interno com o Obama, de quão fácil se dizia que ia ser para os Democratas derrotar os Republicanos depois da desastrosa passagem de W.Bush. Iam ser favas contadas, passava-se a mensagem de que “todo” o povo americano estava contra W.Bush, que as eleições iriam ser uma mera formalidade e a verdadeira batalha presidencial era entre Hillary Clinton e Obama.
    Claro que o sistema eleitoral distorce os resultados reais e as percentagens do colégio eleitoral são bem diferentes das percentagens de votos em cada candidato. No colégio eleitoral Obama tem uma vitória esmagadora, mas não esmaga ninguém em termos de percentagem total de votos expressos. Desse ponto de vista os Republicanos tiveram uma vitória estrondosa : conseguir mais de 40% dos votos depois da passagem daquela criatura pela Casa Branca é obra!

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  5. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    6 Novembro, 2008 12:19

    George W Bush destronou e acabou por levar ao enforcamento de S Hussein
    Barack H Obama sucede a W.Bush

    Ainda dizem que não há coincidencias

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  6. Sofia Ventura's avatar
    6 Novembro, 2008 13:02

    «É igualmente, uma vez mais, a concretização do «american dream», de que tudo é possível na América, incluindo o sonho de qualquer cidadão, sejam quais forem as suas circunstâncias, de se tornar presidente do país mais poderoso do mundo.»

    Viver em República é outra coisa.

    Já agora, parabéns pelo post desapaixonado.

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  7. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    6 Novembro, 2008 14:09

    “O republicanismo só voltará a ser dominante e a ter influência na sociedade, quando aceitar recuperar e actualizar, não apenas parte do reaganismo, como sobretudo uma visão verdadeiramente liberal, de acordo com a tradição fundadora e essência dos eua, onde o respeito pela liberdade individual, o acérrimo controle do poder, o governo mínimo, a autonomia dos estados, das comunidades e dos cidadãos sejam verdeiramente respeitados e se abandonem definitivamente as visões imperiais ou salvifícas do mundo.”

    A tendência “imperial ou salvifíca” tem sido a política normal dos EUA quando confrontados com ameaças e não só. Os EUA não tinham que se meter na Europa na Primeira, Segunda Guerra nem nas Guerras dos Balcãs há menos de duas décadas. Porque é que o fizeram? Por causa dos fundamentos dos EUA. Por causa daquilo que são os EUA.
    A Moral Internacionalista tem ganho quase sempre á corrente Isolacionista e não é a excepção mas a regra.

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  8. Vasco Silveira's avatar
    Vasco Silveira permalink
    6 Novembro, 2008 15:03

    Obama não é 1 “afroamericano”: a sua mâe é Americana e o pai é Africano.Não se trata de um preciosismo, é uma diferença essencial.Obama nunca poderia ser o neto da mulher de 106 anos referida no seu discurso de vitória. Obama não teve avós escravos, segregados, revoltados. Obama apenas tem em comum com os “afroamericanos” a cor da sua pele, mas isso é uma pequena parte de todo o peso histórico e pessoal desse grupo

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  9. Desconhecida's avatar
    6 Novembro, 2008 16:06

    Excelente “post”.

    Só não concordo com a análise futura que faz do GOP. Neste momento, a revolução já se iniciou no GOP. E como diz, só se pode basear na livre inicitiva, no espírito empreendedor e na liberdade individual.

    O Estado só é necessário, para que exista uma organzação comum. Nada mais.

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  10. Carlos Silva's avatar
    Carlos Silva permalink
    6 Novembro, 2008 17:40

    Quanto custa esta feita de propaganda?

    http://www.portugaltecnologico.fil.pt

    Quanto é que o Governo sugou às empresas para a promover?

    A BAN, organizador, é uma empresa de spin que trabalha para o Gabinete de José Socrates. Uma fachada, um veículo, para promover uma feira paga pelo QREN (talvez aumente a taxa de execução!) e por empresas que querem a amizade do Governo.

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  11. maloud's avatar
    maloud permalink
    6 Novembro, 2008 21:26

    Finalmente um post decente no Blasfémias sobre a eleição americana.

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  12. Desconhecida's avatar
    Raskolnikov permalink
    7 Novembro, 2008 00:11

    Sofia Ventura:

    Não concordo nada com a sua opinião. Faço-lhe uma pergunta: preferia viver na República da Coreia do Norte ou no Reino da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte?

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