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Cepticismo radical e o método científico

10 Fevereiro, 2009

Carlos Botelho, como muitos outros, não percebeu que o grande problema de quem se assume como autoridade para definir o que é investigação científica e o que não é, está no facto de o método científico ser incompatível com a submissão a autoridades. O Carlos Botelho pode não gostar das opiniões do bispo Williamson, mas isso não impede que as posições de Williamson sejam passíveis de avaliação do ponto de vista científico. Dado que as posições de Williamson são posições sobre os factos, e dado que podem ou não ser contraditadas pelos factos, fazem parte da discussão científica. Se fossem aceites outros critérios para alem deste, seria muito fácil excluir da discussão científica temas perfeitamente legítimos (e a avaliação crítica do Holocausto é um desses temas), bastando para isso que uma autoridade qualquer declarasse que o tema não é científico. Os facto de a ciência ser feita com base na avaliação descentralizada pelos pares, e não com base na avaliação dogmática de uma autoridade moral, permite que exista uma grande diversidade de abordagens e de ideias científicas em competição. Permite ainda a crítica sistemática às ideias estabelecidas. Tudo isso só é possível se ninguém (incluindo sobretudo os outsiders da comunidade científica) sofrer represálias pelas suas ideias científicas (por muito estúpidas que estas possam parecer).

Aliás, aquilo que é ou não ciência nem sequer pode ser determinado a priori. Para perceber isso é necessário saber distinguir “crenças” de “factos”. O método científico não permite saber os factos. Permite apenas encontrar a teorias erradas e, sob certas condições, reforçar crenças. Se as nossas crenças fossem suficientes para suprimir determinadas linhas de investigação ou determinadas posições sobre os factos, então ficaríamos sem os instrumentos que nos permitem ter confiança em determinadas crenças. É por isso que o processo científico se tem que basear no cepticismo radical, em que nada se sabe ao certo e que tudo pode ser posto em causa. Isso implica que nenhuma ideia deve ser suprimida por razões morais ou por causa das nossas crenças. Isto é sobretudo válido para as ideias que aparentam ser mais estapafúrdias, porque essas são aquelas que podem pôr em causa as nossas crenças de forma mais radical.

29 comentários leave one →
  1. Desconhecida's avatar
    João Ferreira permalink
    10 Fevereiro, 2009 15:50

    Caro João Miranda,
    Nem tudo é ciência. A Igreja Católica não é uma organização cientifíca, nem qualquer um dos seus bispos títula qualquer pesquisa cientifíca, enquanto tal. É utíl investigar o Holocausto, tal como é utíl atacar e derrotar os nazis e se tivermos que estabelecer uma prioridade começaria pela segunda actividade.
    Um abraço,
    João Ferreira

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  2. Piscoiso's avatar
    10 Fevereiro, 2009 15:51

    Mas afinal as opiniões do bispo, constituem ou não ideias científicas.
    Não fumo cachimbo, mas gosto de Magritte.

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  3. Desconhecida's avatar
    António Carlos permalink
    10 Fevereiro, 2009 16:03

    Caro JM,
    concordando com 90% do que escreve neste post, gostaria de lhe chamar a atenção para as seguintes afirmações:
    “… opiniões do bispo Williamson …”
    “… ideias científicas (por muito estúpidas que estas possam parecer) …”
    De facto “a ciência [é] feita com base na avaliação descentralizada pelos pares” e nunca “com a submissão a autoridades”. Como disse concordo a 90% mas chamo a atenção para a palavra “pares”, que indicia a existência de uma comunidade (científica presumo) e da qual o bispo Williamson não faz parte (mais uma vez, presumo) e para a sua distinção entre “opinião” e “ideias científicas”.
    Claro que não faz sentido suprimir ideias nem opiniões (por qualquer razão que seja – pela comunidade científica) mas isso também não significa que qualquer opinião “mereça”, segundo o ponto de vista dos pares da comunidade científica, análise.Agora tratando-se de opiniões, e não sendo o bispo um membro (par) da comunidade científica, não me parece que essas opiniões contituam automaticamente “ideias científicas”.
    E se da comunidade científica não se espera a supressão de opiniões, o mesmo já não se pode dizer da Igreja Católica face aos membros da sua hierarquia.

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  4. Carlos Pires's avatar
    10 Fevereiro, 2009 16:03

    Tirando um lapso ou outro (nem todos os argumentos de autoridade são incompatíveis com a ciência, apenas os inválidos, e o cepticismo radical é outra coisa) o João Miranda disse coisas acertadas acerca da ciência. Só não percebo a relação disso com as ideias revisionistas e as declarações do Bispo. Os critérios científicos que o João Miranda referiu já foram inúmeras vezes aplicadas às teses revisionistas – e falsificaram-nas. Aplicados às teses que defendem a existência do Holocausto confirmaram-nas – corroboraram-nas, na expressão de Popper. Até estas serem falsificadas temos razões para as considerar verdadeiras.
    A ciência implica algum cepticismo (mas não radical…), mas não implica relativismo.

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  5. JoaoMiranda's avatar
    JoaoMiranda permalink*
    10 Fevereiro, 2009 16:10

    ««nem todos os argumentos de autoridade são incompatíveis com a ciência, apenas os inválidos,»»

    A distinção entre válidos e inválidos implica que o argumento passa a ser avaliado com base nos seus méritos e não com o facto de ser proferido por uma autoridade. Deixa portanto de ser um argumentos de autoridade.

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  6. JoaoMiranda's avatar
    JoaoMiranda permalink*
    10 Fevereiro, 2009 16:16

    ««Os critérios científicos que o João Miranda referiu já foram inúmeras vezes aplicadas às teses revisionistas – e falsificaram-nas.»»

    Paciência. Terão que continuar a ser. O método científico funciona em permanência e a mesma ideia tem que ser falsificada várias vezes, quer porque os fórums mudam, quer porque aparecem novas ideias e informações quer porque de vez em quando é necessário revisitar os velhos problemas.

    ««plicados às teses que defendem a existência do Holocausto confirmaram-nas – corroboraram-nas, na expressão de Popper. »»

    Lamento, mas não é possível confirmar uma tese. Uma tese só pode ser refutada, nunca confirmada.

    «« Até estas serem falsificadas temos razões para as considerar verdadeiras.»»

    Nós só temos razões para acreditar numa tese se ela for sujeita a tentativas de refutação sistemáticas. Não é racional acreditar em teses que não foram refutadas porque ninguém o tentou fazer, ou sobre as quais existe uma crença de que foram refutadas há muito tempo.

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  7. Pi-Erre's avatar
    Pi-Erre permalink
    10 Fevereiro, 2009 16:30

    O JoaoMiranda ainda não sabe ao certo se o Sol gira à volta da Terra, coisa que já toda a gente sabe que é verdade. A Terra está quietinha.

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  8. vasco's avatar
    vasco permalink
    10 Fevereiro, 2009 16:34

    “Paciência. Terão que continuar a ser. O método científico funciona em permanência e a mesma ideia tem que ser falsificada várias vezes, quer porque os fórums mudam, quer porque aparecem novas ideias e informações quer porque de vez em quando é necessário revisitar os velhos problemas.” JM

    E eu que pensava que a permanência do método científico se manifestava na tentativa de falsificação das teorias que temos por certas e não no reiterar da falsificação das teorias que já tinham sido antes falsificadas… Alías, esta citação é uma enorme confusão. Primeiro começa por se referir a uma “mesma ideia” e depois fala em “novas ideias”.

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  9. vasco's avatar
    vasco permalink
    10 Fevereiro, 2009 16:35

    errata: aliás.

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  10. JoaoMiranda's avatar
    JoaoMiranda permalink*
    10 Fevereiro, 2009 16:36

    ««E eu que pensava que a permanência do método científico se manifestava na tentativa de falsificação das teorias que temos por certas e não no reiterar da falsificação das teorias que já tinham sido antes falsificadas… »»

    Como é que o Vasco sabe que as teorias antes falsificadas foram bem falsificadas?

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  11. JoaoMiranda's avatar
    JoaoMiranda permalink*
    10 Fevereiro, 2009 16:38

    ««O JoaoMiranda ainda não sabe ao certo se o Sol gira à volta da Terra, coisa que já toda a gente sabe que é verdade. »»

    Ouvi dizer que isso é uma treta. Depende do referencial.

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  12. Desconhecida's avatar
    Pitágoras permalink
    10 Fevereiro, 2009 16:54

    “Como é que o Vasco sabe que as teorias antes falsificadas foram bem falsificadas?”

    Parece que teremos de riscar 500 anos de desenvolvimento científico do mapa. E voltar à geracao espontânea do Aristóteles…

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  13. José Silva's avatar
    10 Fevereiro, 2009 16:57

    ah ah ah

    Jo�o Miranda devia ent�o ser menos c�mico quando questiona a ci�ncia veiculada pelo cientista Lou�a…

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  14. JoaoMiranda's avatar
    JoaoMiranda permalink*
    10 Fevereiro, 2009 17:00

    ««Parece que teremos de riscar 500 anos de desenvolvimento científico do mapa. E voltar à geracao espontânea do Aristóteles…»»

    Parece que não foi isso que eu disse.

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  15. Desconhecida's avatar
    Pitágoras permalink
    10 Fevereiro, 2009 17:34

    Entao o que é uma teoria “bem falsificada”? Como é que distingue de uma “mal falsificada”?

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  16. Piscoiso's avatar
    10 Fevereiro, 2009 17:47

    Essa é fácil.
    É como o vinho, quando bem falsificado ainda escorrega.
    Quando mal falsificado, cospe-se.

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  17. nuno castro's avatar
    nunocastro permalink
    10 Fevereiro, 2009 17:57

    mas há alguma teoria digna desse nome no negacionismo???

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  18. Desconhecida's avatar
    MP-S permalink
    10 Fevereiro, 2009 19:45

    Mais um trabalho para o ceptico radical: terao os americanos alunado na Lua? (passe o pleonasmo)

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  19. Carlos Pires's avatar
    11 Fevereiro, 2009 00:01

    João Miranda:

    1. Um argumento de autoridade é válido se obedece a 4 regras: a autoridade referida é de facto especialista na matéria, há consenso entre os especialistas, a autoridade referida não tem interesses directos na matéria em causa, a opinião da autoridade não contraria matérias de facto. Se quiser exemplos e explicações mais desenvolvidas vá por exemplo ao De Rerum Natura e procure “argumentos de autoridades”. Seja como for: um argumento de autoridade, se cumprir essas regras, não é incompatível com a racionalidade nem especificamente com a ciência. Na ciência o uso de argumentos de autoridade é absolutamente indispensável, caso contrário cada investigador, cada professor e cada estudante teriam de fazer todas as experiências científicas já efectuadas antes de fazer qualquer afirmação. Já viu o que seria? Se não pudessem referir as “autoridades” todos os professores de Física e Química teriam de efectuar as observações astronómicas e os cálculos matemáticos que permitiram determinar que a luz do Sol leva 8,33 m a chegar à Terra. Outro exemplo: se o João estiver doente, o que é mais racional – pensar pela própria cabeça e cair na asneira de auto-medicar ou confiar no saber dos médicos? Por outro lado: na Filosofia os argumentos de autoridade são quase sempre inválidos pois os filósofos – os especialistas – quase nunca estão de acordo.

    2. “Uma tese só pode ser refutada, nunca confirmada.” Não nos prendamos com maneirismos verbais. A palavra – bastante feia, por sinal – que Popper usa (corroborada) significa uma espécie de confirmação provisória, uma confirmação até mais ver… Não significa uma prova definitiva e absoluta – que de facto não parece estar ao alcance humano. Mas isso não impede que determinadas teses tenham um elevado grau de probabilidade. É logicamente impossível que a distância mais curta entre 2 pontos não seja uma recta, mas não é logicamente impossível que afinal a terra não se mova – mas é muito, muito improvável. Houve muitas oportunidades para tentar refutar essa ideia e nunca se conseguiu. Por isso temos boas razões para dizer que é verdade que a Terra se move.

    3. As teorias revisionistas e não revisionistas sobre o Holocausto têm sido muito escrutinadas. As revisionistas foram falsificadas, as outras não. Face ao volume de dados acho muito improvável que venham a ser – mas claro que não é logicamente impossível. O facto de haver muitas emoções e juízos morais a propósito do Holocausto da parte de muitas pessoas, isso não significa que não tenha havido uma atitude científica por parte da maioria dos historiadores e outros investigadores.

    4. Seja como for, o Bispo não deve ser censurado. As ideias do Bispo são falsas. Mas a liberdade de expressão inclui a possibilidade de expor publicamente ideias falsas.
    Em vez da mera crítica moral e da exigência de retractação devia-se era aproveitar a oportunidade para refutar essas falsidades – voltando a apresentar publicamente as imensas provas da existência do Holocausto.
    Quando Stuat Mill defendeu a liberdade de expressão argumentou que a verdade tem interesse em que a falsidade não seja censurada, pois no confronto público com ela “ganha-lhe” e fica assim reforçada.

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  20. JoaoMiranda's avatar
    JoaoMiranda permalink*
    11 Fevereiro, 2009 00:12

    ««. Um argumento de autoridade é válido se obedece a 4 regras:»»

    Um argumento de autoridade não é pura e simplesmente um argumento.

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  21. miguel dias's avatar
    miguel dias permalink
    11 Fevereiro, 2009 02:34

    “Dado que as posições de Williamson são posições sobre os factos, e dado que podem ou não ser contraditadas pelos factos, fazem parte da discussão científica. Se fossem aceites outros critérios para alem deste, seria muito fácil excluir da discussão científica temas perfeitamente legítimos (e a avaliação crítica do Holocausto é um desses temas), bastando para isso que uma autoridade qualquer declarasse que o tema não é científico.”

    Hoje morri. Fui a um médico e informei-o de tal facto científico, com o intuito de me passar uma certidão de óbito, documento imprescindível para a organização dos preparativos do meu funeral. Não é que o fulano se recusou. Argumentou que eu estava vivo. Respondi-lhe qArgumentei que se tratava de um facto, portanto sujeito

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  22. miguel dias's avatar
    miguel dias permalink
    11 Fevereiro, 2009 02:35

    (continuação)
    Respondi-lhe q

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  23. miguel dias's avatar
    miguel dias permalink
    11 Fevereiro, 2009 02:37

    (mais uma continuação)
    que isso se tratava de um facto, logo passível de contestação. Acabei na consulta de psiquiatria.

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  24. Carlos Pires's avatar
    11 Fevereiro, 2009 09:38

    “Um argumento de autoridade não é pura e simplesmente um argumento.”

    O João Miranda não sabe do que está a falar.
    Leia, estude, informe-se… E pense um bocadinho, já agora.

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  25. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    11 Fevereiro, 2009 10:05

    Se o JM defendia como defendia ao Busho de ai que defender os nazis e demais investigadores (esses sim que faziam “ciencia” racista) e só programarse para um pequeno salto de nivel de energia.

    Os electroes no seu salto de nivel precisaram de pouca mais (energía) do que ele…

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  26. Desconhecida's avatar
    necrophorus permalink
    11 Fevereiro, 2009 11:51

    “O João Miranda não sabe do que está a falar.”

    O Carlos Pires é que parece um pouco confuso.

    “Na ciência o uso de argumentos de autoridade é absolutamente indispensável, caso contrário cada investigador, cada professor e cada estudante teriam de fazer todas as experiências científicas já efectuadas antes de fazer qualquer afirmação”

    Isto não são argumentos de autoridade, são argumentos de quem já aplicou o método científico e partilhou os resultados aos quais chegou. Quem quizer baseia-se neles, quem quizer refuta-os se conseguir. Podem ser argumentos que já foram verificados, nos quais se tem algum grau de confiança, mas não são argumentos de autoridade. O que aconteceu no Renascimento senão a rejeição de argumentos transformados em autoridade que eram tomados como certos há centenas de anos? Argumentos de autoridade esses que, por serem de autoridade, não convinha muito criticar e verificar?

    ““Uma tese só pode ser refutada, nunca confirmada.” Não nos prendamos com maneirismos verbais”

    Maneirismos verbais? Antes de dizer que os outros não sabem do que falam, sabe o senhor o que é uma teoria, uma lei científica, etc? O que a ciência nos dá são graus de confiança em proposições, em análise de fenómenos, graus esses que nalguns casos se aproximam muito dos 100%. O senso comum pode transformar esses argumentos em certezas, a ciência não pode ter esses luxos. Perceber isto é essencial na ciência de modo a evitar posições dogmáticas e de autoridade que o senhor tanto defende.

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  27. Desconhecida's avatar
    necrophorus permalink
    11 Fevereiro, 2009 11:57

    quem quiser, claro.

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  28. Carlos Pires's avatar
    12 Fevereiro, 2009 00:53

    “argumento de autoridade:

    Um argumento baseado no testemunho de outras pessoas, em geral com uma forma lógica “X disse que P; logo, P”, sendo X uma pessoa ou grupo de pessoas e P uma afirmação qualquer. Por exemplo: “Einstein disse que nada pode viajar mais depressa do que a luz; logo, nada pode viajar mais depressa do que a luz”. Não há regras de inferência precisas para argumentos de autoridade, mas ao avaliar um argumento de autoridade devemos ter em mente os seguintes princípios: 1) O especialista invocado (a autoridade) tem de ser um bom especialista da matéria em causa. 2) Os especialistas da matéria em causa (as autoridades) não podem discordar significativamente entre si quanto à afirmação em causa. 3) Só podemos aceitar a conclusão de um argumento de autoridade se não existirem outros argumentos mais fortes ou de força igual a favor da conclusão contrária. 4) Os especialistas da matéria em causa (as autoridades), no seu todo, não podem ter fortes interesses pessoais na afirmação em causa. Precisamente porque em questões filosóficas disputáveis, por definição, os especialistas não concordam entre si, em filosofia os argumentos de autoridade são quase sempre falaciosos. Contudo, a maior parte do conhecimento de cada ser humano baseia-se em argumentos de autoridade, no sentido em que se baseia no testemunho de outras pessoas. Ver falácia.

    Murcho, Desidério, O Lugar da Lógica na Filosofia, Cap. 9 (Lisboa: Plátano, 2003″

    no Dicionário escolar de Filosofia = http://www.defnarede.com/a.html

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  29. Desconhecida's avatar
    necrophorus permalink
    12 Fevereiro, 2009 06:56

    Sim, e em que é que isso desmente o que foi dito? Quer que o que copiou seja argumento de autoridade?

    Você começa por copiar que X disse que P, logo P, e onde encaixa isto no método científico? Para dizer que P, X teve de usar o método científico e/ou basear-se em alguém que o usou. Se assim foi, não é argumento de autoridade, é o resultado da aplicação do método com um certo grau de confiança (diferente de 100%). Se assim não foi, nem é argumento. Einstein disse o que disse sobre a velocidade da luz baseado na interpretação de resultados de experiências de outros cientistas e usando o método científico. Algumas experiências depois vieram confirmar o que ele concluiu. Outras não se ajustam a 100%. Não disse que c é c porque sim. Basta então que P seja falsificável para que o argumento possa ser refutado. Logo, X disse que P, mas, no entanto, é P1. E em grande parte dos casos, será P1 após um certo tempo T, uma vez que tudo em ciência pode ser falsificável (não, isto não é um maneirismo verbal). Relembro-lhe, por exemplo: uma lei é um enunciado que não pode ser verificado por um número finito de provas; um postulado é um enunciado aceite sem demonstração. Teorias baseiam-se em leis e postulados. Está a ver onde isto pode chegar?

    O senso comum, a vida de cada um no seu dia a dia, pode ser baseado em argumentos de autoridade. A ciência (e a filosofia, como diz o próprio texto que postou) não podem basear-se nisso. Podem no máximo dar um certo grau de confiança a um argumento, mas sabendo que a qualquer momento pode surgir uma refutação.

    Tem ideia, por exemplo, do impacto que pode ter na ciência o tomar como certo o argumento de Einstein sobre a velocidade da luz apenas porque Einstein o disse? Tem ideia do atraso que isso pode trazer ao desenvolvimento das teorias envolvidas, se nunca se for verificar esse facto (que é, aliás, um postulado), apenas porque um génio o disse? Génio esse que se enganou noutros casos e noutros argumentos que seriam de autoridade apenas por terem sido ditos por ele?

    Sabe que em muitos círculos é quase tabú discutir a constância da velocidade da luz no vácuo para todos os referênciais inerciais? Veja-se por exemplo o João Maguejo, que não conseguiu publicar na Nature apenas porque se “atreve” a desmontar, por pouco que seja, aquilo que muitos tomam como autoridade? E quem diz o João Maguejo, diz milhentos mais, que lutam contra o estabelecimento de argumentos de autoridade numa área de conhecimento que não permite essas posições cómodas.

    A teoria do hockey stick ainda há dois ou três anos era argumento de autoridade, pelo menos para o IPCC (para este continua a ser) e muitos milhares de bocas cheias. Isto no tempo em que, por alguém dizer apenas “Mas…” era apelidado imediatamente de negacionista. Sabia que já foi desmentida? No entanto, enquanto durar como argumento de autoridade, decisões, estratégias e investigações serão condicionadas a seguir direcções erradas, com todo o tempo e esforço desperdiçados à conta disso.

    O próprio neutrino, transformado em autoridade… Mas a conversa já vai longa…

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