“Ajuda do roto ao nu” *
Todos garantem que Portugal é o ‘senhor que se segue’ se a Grécia se estatelar por completo. Daí que me custe a entender a nossa participação na ajuda da UE àquele país. Sei que se tratam ‘apenas’ de 774 milhões – coisa pouca para quem, todos os dias, desbarata muito mais numa Administração Pública doentiamente burocrática. Mas a tarefa tem o efeito perverso de nos colocar na ilusória posição de pródigos dadores em vez daquela que nos cabe por pleno direito: a de um lugar mal governado há décadas (se calhar, há séculos) e em que se cometeram (e cometem), convictamente, quase todos os erros do catálogo na gestão da coisa pública. Pôr Portugal a acudir à Grécia é como pedir ao Leixões para ajudar o Belenenses a não descer de divisão.
Há quem defenda que se a Grécia não cair, Portugal também não desfalecerá. Discordo – não devemos duvidar da infinita capacidade para a asneira de quem nos governa. Basta uma leve aragem que nos faça sentir endinheirados para que se desvaneçam as efémeras hesitações de lucidez acerca do TGV, do novo aeroporto (à grega) e de outras megalomanias de ocasião.
Sem se rir
No debate televisivo com todos os candidatos à liderança do PSD, Paulo Rangel classificou a intenção de Pedro Passos Coelho de substituir o actual Procurador-Geral da República como “uma ajuda a Sócrates”. Então, Passos Coelho perguntou a Rangel: «Como é que você consegue dizer isso sem se rir?».
No primeiro discurso de Carcavelos, Passos Coelho garantiu que o apoio do PSD a Cavaco Silva não se deve apenas ao passado partidário do actual Presidente da República mas, principalmente, à grande qualidade do seu primeiro mandato – nessa altura apeteceu-me questionar o novo líder do PSD: «Dr. Pedro Passos Coelho, como é que consegue dizer isso sem se rir?».
Ideia vetusta
Ainda no primeiro discurso de Passos Coelho, emergiu uma proposta inesperada: controlar as nomeações políticas através de um órgão presidido por um ex-Presidente da República e composto por ex-presidentes de Supremos Tribunais. Pareceram-me logo ‘ex’ a mais para um órgão com futuro. O parecer mais mordaz, no entanto, ouvi-o a um conhecido advogado apoiante de Passos Coelho: «Ex-presidentes de Supremos? O Pedro não deve conhecer nenhum para defender uma coisa dessas» …
Duas rolhas
O blogue ‘31da Sarrafada’ foi um dos vencedores de Carcavelos – e não por terem sido eleitos para algum órgão (julgo que os seus autores nem são do PSD). Em homenagem à Lei da Rolha, distribuíram dezenas das ditas pelo Pavilhão dos Lombos empregando uma versão bem-humorada do método socrático (o da Grécia antiga e não o nosso) em que confrontavam os congressistas, os mesmos que aprovaram esmagadoramente a medida em Mafra, com a inexcedível tontice do que tinham feito.
Esse exercício de maiêutica só foi perturbado por não ter sido praticado com o autor daquela proeza jurídica e intelectual, Santana Lopes, e com a sua principal defensora, Ferreira Leite. O primeiro, porque, prudentemente, faltou; a segunda, pela pressa enorme com que se escapuliu – da rolha, do Congresso e da História…

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