“E eu também” *

«Todos atacam Carlos Queiroz. E eu também. Afirmam que é um treinador desprovido de audácia, acanhado, sem rasgo e nem grandeza – e eu também. Contudo, é precipitado dizer-se que Queiroz não serve. É que a história dos nossos seleccionadores não é nada recomendável.
Lembro-me de algumas figuras singulares. Um dos misters que mais me marcou pela negativa era conhecido por Juca. Deram-lhe a selecção por três vezes (1977 a 1978; 1980 a 1982; 1987 a 1989) e fomos brindados com resultados incessantemente miseráveis. Uma vez, no princípio da década de 80, vi Portugal a ser derrotado em casa pela Suécia – no fim do jogo, Juca explicou aos jornalistas: “Não conseguimos ganhar à Suécia por motivos rácicos…”

Depois, tivemos aquela equipa estupenda do Euro 1984, em França. Para deleitar os clubes grandes, uma espécie de seleccionador chamado Fernando Cabrita foi assessorado por uma trindade consubstanciada em Toni, António Morais e José Augusto. Cabrita avançou cedo com a sua táctica bem estudada: “Aos nossos rapazes, ninguém os ensina a jogar à bola.” Um dos craques de então, Jaime Pacheco (era conhecido por Jaime I para o distinguir do outro Jaime do FC Porto, o Magalhães, que era o Jaime II), contou que, num treino, recebeu a bola e, antes que pudesse hesitar sobre a jogada seguinte, Cabrita terá gritado “chuta“, ao mesmo tempo que Morais berrava “passa” e Toni bradava “atrasa“. Jaime, baralhado, imobilizou a bola e perguntou: “Afinal o que é que eu faço?”

Ainda desfrutámos de um Torres que só pedia para o deixarem sonhar e um Rui Seabra sem currículo nem opções. Mesmo os que lá chegaram como vencedores revelaram-se impotentes na selecção – como aconteceu com Pedroto, Artur Jorge e Oliveira. Os melhores acabaram por ser Humberto Coelho e Scolari, este com dotes invulgares para chefe de claque.

Mas o saldo é muito negativo. Neste lote, convenhamos, Queiroz não destoa assim tanto. Pelo contrário, muitos pensarão que até é capaz de ser dos melhorzinhos – e eu também.»

* Ontem, no Diário de Notícias