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O Economista CSI

9 Agosto, 2010
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“O projecto político do PSD para a economia foi sintetizado pelo gestor Pedro Reis, responsável de Passos Coelho pela política empresarial, em entrevista ao i: “Os salários e os impostos estão 15% acima do que deviam.” Assim se prova, pela enésima vez, que o pensamento neoliberal está hoje reduzido a uma fraude intelectual conveniente para um certo poder gestionário nacional, tão mal habituado quanto bem alimentado”.

Esta prosa faz parte de uma crónica hoje publicada no jornal i, da autoria do Ladrão de Bicicletas, João Rodrigues (também Arrastão). Cronista estranho, este. Doutor em economia e apesar disso, arrasta-se por todas as falácias conhecidas. Para ele, apesar de termos 50% da economia nas mãos do estado, Portugal é um país com economia neoliberal. Sócrates, o homem do défice recorde é um perigoso neoliberal. Passos Coelho é ainda pior que Sócrates. Na verdade, todos os que não debitam a cassete da velha economia marxista são neoliberais. Qualquer um que se atreva a classificar-se como “liberal” é, por sua vez, um perigoso ultra-neoliberal. No que diz respeito a “neoliberalismo” o João faz a festa, atira os foguetes a ainda corre a apanhar as canas. Para este economista João, a solução para os nossos problemas é fácil: mais impostos, mais estado, nacionalizações, apropriação pelo estado dos meios de produção, combate ao capitalismo. Original. Tudo propostas que já foram bem testadas e com resultados por demais conhecidos.

A argúcia do economista João é invejável. Repare-se bem na frase que inicia este post: Com uma simples afirmação de opinião de um tipo qualquer próximo de PPC, consegue de imediato provar que “o pensamento neoliberal está reduzido a uma fraude intelectual, etc, etc”.  Que dedução. Um verdadeiro CSI à portuguesa. As últimas crónicas do economista João são sempre iguais. Com base numa centelha, ele vê o universo. Na penúltima, o João concluía que é cada vez mais claro que a União Europeia realmente existente é uma peça política fundamental no enfraquecimento dos estados e da generalidade dos cidadãos face aos interesses do capital global e das facções mais predadoras do capital nacional.

Na antepenúltima, o João, referindo-se ao capitalismo, concluía que “A fraude da opinião dominante que defende a sua benignidade, assim cumprindo a sua função de assegurar o conveniente conformismo político, torna-se clara.”

Noutra, concluía que a propostas de revisão constitucional do PSD, “trata-se, qual plano inclinado, de levar até às últimas consequências políticas, ou seja, até à Constituição, a lógica da erosão do Estado social e da fragilização das classes populares presente na perversa política de austeridade permanente com escala europeia.”

Na crónica de hoje, há outras brilhantes deduções. Veja-se esta:

“Num país onde 36% das empresas declaram ter proveitos para efeitos de IRC, é preciso ter lata para vir dizer que os impostos são altos.”

Genial. Como temos 64% de empresas que

a)   estão desactivadas
b)   dão prejuízo
c)   estão em vias de estoirar
d)   já estoiraram
e)   conseguem aldrabar o fisco

o economista João acha que os impostos são baixos – ou pelo menos, que é preciso ter lata para achar que estão altos. Claro que se eles fossem mais altos, haveria mais empresas a fechar, a dar prejuízo, a estoirar e a tentar aldrabar o fisco. Mas isso são raciocínios muito simplistas para um economista CSI. Na economia do João, quanto mais altos são os impostos, mais gente quer pagar…

Mas o que tem mais piada nesta crónica é o que vem mais à frente:

“…sabe-se que aumentar ainda mais a precariedade é uma das melhores formas de reduzir salários”… e, umas linhas depois… “Isto ainda é pior porque as médias enganam num dos países mais desiguais da Europa, onde os 10% mais bem pagos ganham 5,3 vezes mais do que os 10% menos bem pagos (na competitiva Dinamarca a diferença é de 2,3 vezes).”

Claro que a primeira frase é uma palermice – é como dizer que um telemóvel desbloqueado é mais barato que um agarrado a uma operadora, ou que um contrato mensal renovável é mais barato que um contrato anual – e é tão básico que até nos pode fazer duvidar se não foi o primo do João, que deve ser pedreiro, dentista ou sociólogo mas nunca economista, que escreveu a crónica. Mas a comparação com a Dinamarca é de gargalhada. O bom exemplo do João é um pais em que a precariedade é absoluta – uma vez que o despedimento é livre. Ou seja, comparam-se dois países, o que tem o mercado de trabalho mais liberal da Europa com o que apresenta maior rigidez – e apresenta-se um resultado que é absolutamente o oposto daquilo que se quer provar.

Cada vez que leio as crónicas do João, também faço sempre uma dedução: Que me perdoem os outros economistas lá da casa, mas com este nível de argumentação, o João deve ser economista do ISCTE. Até porque ISCTE ao contrário acaba com as letras CSI. Isto não deve ser coincidência. Da Nova é que não é certamente – passei por lá há muitos anos, e na altura, já ensinavam economia.

42 comentários leave one →
  1. manuelli's avatar
    manuelli permalink
    9 Agosto, 2010 13:44

    O Jão é dos poucos que por aí se vê a pensar por si, de forma inteligente. Isso há que dizê-lo, jcd, já se agrada ou desagrada, parece-me, lá irá mais da perspectiva.

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  2. José's avatar
    José permalink
    9 Agosto, 2010 13:56

    Eu não comprava um carro usado a esse João Rodrigues. E seria precisamente por causa do ar sério que ostenta.

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  3. José's avatar
    José permalink
    9 Agosto, 2010 13:57

    Falta-lhe lastro cultural, parece-me. Um economista que só percebe de Economia nem de economia entende.

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  4. Trinta e três's avatar
    9 Agosto, 2010 14:18

    Essa de defender que os impostos não devem aumentar (em quem os pode e deve pagar) porque (entre outras coisas) aumenta a tendência para fugir ao fisco, é um raciocínio de primeiríssima água. Que tal eliminar o código da estrada para evitar que seja transgredido?

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  5. e-ko's avatar
    e-ko permalink
    9 Agosto, 2010 14:19

    “Genial. Como temos 64% de empresas que

    a) estão desactivadas
    b) dão prejuízo
    c) estão em vias de estoirar
    d) já estoiraram
    e) conseguem aldrabar o fisco” JCD

    ó JCD, acha normal, num país normal, estarem 64% de empresas em estado de coma alimentadas, sob que forma for, pelas perfusões do ESTADO? que raio de economia e livre empresa é esta? sem contar com os 20 a 30% de economia informal…

    conheci, através de familiares, amigos ou conhecidos casos de empresas que até davam bastante rendimento aos seus gestores, que pagavam bem aos seus contabilistas, para reduzir os lucros ao mínimo ou a zero, para não pagarem impostos e ainda tinham alguns empregados que nunca ficavam muito tempo e por quem não pagavam encargos salariais…

    as empresas de construção e bares-restaurantes e não só, são uma praga!…

    portanto, se há falácia, é a sua!…

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  6. Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
    Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    9 Agosto, 2010 14:21

    O João Rodrigues, que só conheço do que ele escreve, quer por o Comité Central do BE a dirigir a economia do país.

    A mim o que me espanta, é ver capitalistas que vivem muito bem encostados ao Orçamento do Estado, como é o caso do dono da Impresa e dos donos do I, terem como referencias os cerebros priveligiados do BE, João Rodrigues e Daniel Oliveira, a cronicarem as maiores barbaridades, e de uma maneira geral estribando-se numa enorme desonestidade intelectual, como é patente no artigo aqui postado.

    Apesar de JR ser doutor em economia, a proposito do trabalho de Pedro Reis, ele usa apenas argumentos idiologicos, e faz comparações parvas como JCD bem demonstrou.

    Os responsaveis politicos deste pais, deviam meditar bem no trabalho de Pedro Reis. Para evitar males maiores.

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  7. anonimo's avatar
    9 Agosto, 2010 14:51

    Obama retira benefícios fiscais aos mais ricos
    Tesouro vai aumentar impostos em 2011, mas classe média será poupada.
    .
    Ainda bem que por cá temos uma Esquerda Moderna e que não vai cá nesses chavões antigos de que quanto mais ganham, mais devem pagar…
    Leitura essencial para as férias, para compreender muitas destas coisas paradoxais: Por que mão houve Socialismo na América? de Seymour Lipset e Gary Marks (edição nacional de 2001 da Quetzal, acessível em saldos de fim de colecção a 3 euros!)
    http://www.educar.wordpress.com/2010/08/09/este-tipo-deve-ser-comuna/

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  8. LMR's avatar
    9 Agosto, 2010 14:54

    Ó Trinta e Três, mas quem é que disse isso?

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  9. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    9 Agosto, 2010 15:21

    o pessoal do “menos Estado” não gosta de ser tratado como ultra-neoliberal 🙂

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  10. Tarzan's avatar
    9 Agosto, 2010 15:22

    JCD,

    não se está mesmo a ver que é do ISEG?

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  11. Tiradentes's avatar
    Tiradentes permalink
    9 Agosto, 2010 15:24

    Verdade Portela……até porque a maior parte do pessoal não sabe sequer o que é liberalismo quanto mais o significado de ultra e neo.
    Mas é assim também com o pessoal do “mais estado” que podem ser designados como marxistas leninistas retrógrados.

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  12. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    9 Agosto, 2010 15:29

    “o João deve ser economista do ISCTE. Até porque ISCTE ao contrário acaba com as letras CSI. Isto não deve ser coincidência. Da Nova é que não é certamente – passei por lá há muitos anos, e na altura, já ensinavam economia”

    sim senhor, e o pessoal de esquerda é que é arrogante!
    uma palermice de argumento.

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  13. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    9 Agosto, 2010 15:44

    “A mim o que me espanta, é ver capitalistas que vivem muito bem encostados ao Orçamento do Estado, como é o caso do dono da Impresa e dos donos do I, terem como referencias os cerebros priveligiados do BE, João Rodrigues e Daniel Oliveira, a cronicarem as maiores barbaridades, e de uma maneira geral estribando-se numa enorme desonestidade intelectual, como é patente no artigo aqui postado.”

    Não sei porque é que o espanta, é por causa disso mesmo. Em Portugal os capitalistas mesmo os não encostados precisam sempre para a sua sobrevivência de ter contactos na Esquerda e pagar a dizima.

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  14. Luis's avatar
    Luis permalink
    9 Agosto, 2010 15:47

    Isto de chamarem à Economia uma ciência deixa-me muitas dúvidas….
    Está demasiada impregenada de ideologia.

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  15. Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
    Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    9 Agosto, 2010 16:07

    No tempo do PREC, quando aqui no Alentejo se incensavam as glorias do comunismo sovietico, havia mesmo quem acreditasse que aquilo era o “sol da terra” como dizia o Cunhal de má memória; nós os que tivemos que lutar contra eles nas ruas e nos campos, costumavamos dizer-lhes: porque é que não emigram para lá? se aquilo é tão bom, vão para la viver com as vossas familias. É claro que não foi para lá nenhum. Alguns ainda mandaram para lá estudar os filhos, mas arrependeram-se amargamente.
    Vem isto a proposito do que alguns chicoespertos andam a defender para este pobre país: uma economia planificada, em que a iniciativa privada, as pequenas e medias empresas, devem desaparecer, atraves do estrangulamento fiscal que pessoas como o João Rodrigues andam a defender. E quem ousa opor-se, é logo chamado de perigoso neoliberal! Que grande ofensa.
    Evidentemente que essas pessoas não sabem o que é por a cabeça no cepo, e ter que andar para a frente com o seu parco patrimonio pessoal, a habitação por exemplo, para poder honrar os compromissos fiscais e outros, como fazem muitos, senão a maior parte dos pequenos e medios empresarios que são os maiores criadores de emprego, e os maiores criadores de riqueza deste país.
    As teorias que João Rodrigues e alguns mais defendem, não passam de conversa fiada, porque eles sabem muito bem que estão errados; mas convem-lhes apostar no quanto pior, melhor, para ver se conseguem lograr o objectivo que andam a perseguir de há uns tempos para cá: o Poder. E o tragico da historia, é que há cada vez mais gente no PS a acarinhar a ideia de um contracto PS/BE, sendo Manuel Alegre o intermediario. Para acabar com o resto.

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  16. ricardo's avatar
    ricardo permalink
    9 Agosto, 2010 16:20

    Este senhor Rodrigues não fala de economia, e se se intitula economista deveria saber que a religião que professa nada tem que ver com nenhuma espécie de teoria económica.
    O que se trata aqui é de política panfletária de baixa qualidade, o que mais uma vez demonstra a fraca qualidade intelectual do autor.

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  17. JP Ribeiro's avatar
    JP Ribeiro permalink
    9 Agosto, 2010 16:34

    #13, Alexandre Carvalho Da Silveira,

    e o mais porco ainda é o terrorismo intelectual que esta gente inflige num povo apático e embrutecido por trinta anos de socialismo e escolaridade mínima, quando lhes metem medo com a chegada dos perigosos neo-liberais, ultra neo-liberais, e demais defensores do capitalismo, como se estes lhes fossem comer o pouco que ainda sobra no fim do mês.

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  18. Adalberto Gomes's avatar
    Adalberto Gomes permalink
    9 Agosto, 2010 18:19

    Ando trite – não falam do Freepot.

    Nem janto

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  19. Trinta e três's avatar
    9 Agosto, 2010 18:27

    LMR:

    “Claro que se eles fossem mais altos, haveria mais empresas a fechar, a dar prejuízo, a estoirar e a tentar aldrabar o fisco”. Salvo erro, 10º parágrafo.

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  20. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    9 Agosto, 2010 19:12

    isto está a ficar bom, tendo em conta com os “argumentos” da claque de jcd:

    – deve ser economista do ISCTE.
    – quer por o Comité Central do BE a dirigir a economia do país.
    – ele usa apenas argumentos idiologicos (sic!)

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  21. Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
    Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    9 Agosto, 2010 19:14

    #17 Adalberto Gomes Vá ler o post de CAA no Albergue Espanhol, com o titulo ” A ‘tactica Calimero’ falhou”. Vai ver que vai gostar. O Galamba, o Miguel Abrantes, o João Magalhães e todos os Jugulares, Camaras Corporativas etc. e tal que andaram dois dias a festejar, e a exigir desculpas ao Socrates tambem vão gostar.

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  22. bruno's avatar
    bruno permalink
    9 Agosto, 2010 19:57

    estudei gestão no ISCTE e tenho que concordar com o JCD, aquilo é muito pobre em Economia e sobretudo muito vermelho…

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  23. Daniel Marques's avatar
    Daniel Marques permalink
    9 Agosto, 2010 21:47

    Caro JCD,

    A falta de razao do Joao Rodrigues nao implica que o Pedro Reis tenha razao. É pena que nao tenha ocupado uma parte do seu tempo a criticar o que o Pedro Reis diz que é de uma falta de creatividade gritante e que sinceramente nao vem trazer nada de novo. Nao se pode chamar pensamento neo-liberal a um chavao repetido pela brigada do reumatico e pela banda de agarrados ao estado que é a nata do empresariado portugues. Quanto aos impostos nao há se nao dar-lhe razao – quanto menos melhor. Alias se baixamos os impostos uns 15% os custos salariais baixarao um pouco – toda a gente ganha e nao é um exercicio sobrenatural poupar o equivalente em despesa publica. Nao sei donde vem o 15% no entanto – nao conhecendo estudos deve ser algo cabalistico.

    Quanto aos salarios… Senhor me perdoe…Sempre a mesma porcaria. Obviamente que ja nao se arranjam criadas de servir como dantes mas o tempo que os senhores perdem com a lida da casa nao justifica tanta preguica intelectual. O que o Pedro Reis escreve simplesmente é mentira. Os salarios medios em Portugal inferiores a muitos paises Europeus. Por outro lado há estudos que mostram que as empresas estrangeiras em Portugal(IDE) pagam por norma e em media acima das de capital portugueses o que tambem mostra a fragilidade do argumento.

    O que pode ser verdade é que: considerando a porcaria de gestores que temos há que reduzir os custos salariais em 15% para compensar a incompetencia. Sendo assim o pensamento nao é neo-liberal, é neo-realista de direita (para contrabalancar com os liberais de esquerda)…

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  24. o baralho's avatar
    9 Agosto, 2010 22:57

    Pensei que a «pancada» fosse coisa do passado , mas pelos vistos não.

    Para certos esquerdalhas, o dono do café da esquina ainda continua a ser um FDP dum ultra-neoliberal, capitalista, fascista… porque lhes vende a bica a 60 centímos.

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  25. Licas's avatar
    9 Agosto, 2010 23:01

    SÓ ELES . . .

    Naomi Campbell: começou por dizer que recebeu
    um pacote com umas poucas pedras pequenas e sujas,
    Mia Farrell ouviu dizer que seria um enorme diamante, provindo do Ex-Presidente da Libéria Charles Taylor (agora indiciado num Julgamento por Crimes de Guerra),
    Naomi Campbell afirma que encarregou alguém de remetê –lo (s) ao ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela.

    ACHO QUE ESTE EMBRÓGLIO SÓ PODERÁ SER RESOLVIDO SE O TRIBUNAL SOLICIAR, A TÍTULO EXTRAODNÁRIO, A COLABORAÇÃO DO NOSSO GENIAL H´RCULES POIROT QUE DÁ PELO NOME DE PINTO MONTEIRO, E A SUA CADELA FAREJADORA CÂNDIDA ALMEIDA.

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  26. Licas's avatar
    9 Agosto, 2010 23:10

    EXTRAORDINÁRIO
    HÉRCULES

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  27. Tonibler's avatar
    10 Agosto, 2010 01:14

    Doutor em Economia, disseste bem. Esperavas o quê? Ciência?

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  28. anonimo's avatar
    10 Agosto, 2010 02:24

    Adam Smith não era “economicista”

    Traduzo e cito Karl Polanyi:

    ‘Adam Smith, é verdade, tratou a riqueza material como um campo de estudo isolado; o facto de ter feito isto com um grande sentido de realismo fez dele o fundador duma nova ciência, a economia. Apesar disso, a riqueza era para ele meramente um aspecto da vida em comunidade, aos propósitos da qual continuava subordinada; era um instrumento utilizado pelas nações na sua luta pela sobrevivência na História e não podia ser dissociada delas. No seu entender, um dos conjuntos de condições que governavam a riqueza das nações derivava do estado de progresso, estagnação ou declínio do país no seu todo; outro conjunto derivava da supremacia da segurança e da previsibilidade, assim como das necessidades atinentes ao equilíbrio do poder; ainda outro era proporcionado pelas políticas do governo que favoreciam o campo ou a cidade, a indústria ou a agricultura; era portanto apenas no contexto de um dado quadro político que ele entendia possível formular a questão da riqueza, pela qual entendia o bem-estar material da “grande maioria do povo”. Não há nenhuma sugestão na sua obra de que os interesses económicos dos capitalistas devam determinar as leis da sociedade; nenhuma sugestão de que eles sejam os porta-vozes seculares duma providência divina que governa o mundo económico como uma entidade separada. A esfera económica, com ele, ainda não está sujeita a leis próprias que nos forneçam um critério do bem e do mal.’

    Polanyi, Karl. The Great Transformation: The Political and Economic Origins of our Time. 1944. Boston: Beacon Press, 2001
    http://www.legoergosum.blogspot.com/2010/02/adam-smith-nao-foi-um-economicista.html

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  29. anonimo's avatar
    10 Agosto, 2010 02:30

    Os economistas não são o problema

    Nenhum economista acredita, por mais impecáveis que sejam as suas credenciais neoclássicas, que a “mão invisível” de Adam Smith seja mais que uma metáfora. Nenhum economista acredita que o mercado seja uma pessoa real, dotada de volição, cujos objectivos transcendentes prevalecem sobre os objectivos egoistas dos meros seres humanos. Nenhum economista (com a possível excepção de João César da Neves) acredita que o Mercado seja Deus. Nenhum economista acredita que a riqueza se “crie”: todos sabem que se produz. Nenhum economista acredita que a criação de lucro sem produção de riqueza possa ser um jogo de soma positiva. E poucos acreditarão que “mercado livre” é sinónimo de “democracia”.

    Quem acredita nestas inanidades, e noutras piores, são os chamados gurus da chamada Nova Economia (cujas teorias, publicadas entre os anos trinta e 1999, são minuciosamente dissecadas por Thomas Frank em One Mrket Under God). Ou, se não acreditam, pelo menos fazem tudo para que nós acreditemos. Não vou tentar referir todos os chavões que eles empregam: abordarei apenas o conceito de cool que utilizam para definir os termos duma luta de classes reinventada: de um lado da barricada, o do “Povo”, estão as empresas cool, aliadas às tribos urbanas, ao cidadão comum sem pretensões e de um modo geral a tudo o que é moderno; e no lado oposto, o das “elites”, estão as empresas da “velha economia”, que ainda acreditam na produção de bens e serviços e onde ainda se usa gravata, juntamente com os sindicatos, o Estado, os professores, os snobs, os académicos, os cépticos, os “cínicos”, os intelectuais e de um modo geral todos os que acreditam, impiamente, que o mercado está sujeito a exame como outra coisa qualquer e pode ser objecto de crítica racional.

    Ser economista, nos tempos que correm, não deve ser fácil: o economista está sempre, como o teólogo, a meio caminho de se tornar herege. Mais vale ser profeta ou guru.

    Talvez seja esta a razão porque os economistas mediáticos tiram os seus chapéus de economista quando abandonam os seus gabinetes nas universidades ou nas empresas e põem o chapéu de guru quando entram num estúdio de televisão. E então é vê-los sacar dos chavões: a excelência, o empreendorismo, a mudança (nunca o progresso), a flexibilidade, a inevitabilidade de termos todos (ou quase todos) de trabalhar cada vez mais em empregos cada vez mais precários e em troca de salários cada vez mais baixos. E tudo isto, pasme-se, não apesar do progresso tecnológico, mas sim precisamente por causa dele e do enorme aumento de produtividade que ele tem proporcionado.

    Credo quia absurdum é a atitude que nos exigem. Podemos obedecer ou não a esta exigência, mas em todo o caso ficamos a saber o que é um neoliberal: é a criatura que surge na transição do economista neoclássico para o guru da Nova Economia.
    http://www.legoergosum.blogspot.com/2010/01/os-economistas-nao-sao-o-problema.html

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  30. Joao Fernandes's avatar
    Joao Fernandes permalink
    10 Agosto, 2010 09:10

    eh eh eh …

    JR diz coisas sem sentido nenhum.
    Então essa de ser fã da Dinamarca está demais (não é de lá que vem a flexigurança?).

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  31. anonimo's avatar
    10 Agosto, 2010 10:07

    Empresas declaram prejuízos só para fugir ao Fisco

    Um terço das empresas portuguesas declara prejuízos que ocorrem independentemente do ciclo económico. São indiciadores de crescente evasão fiscal por parte do mundo empresarial
    Mais de um terço das empresas portuguesas declararam prejuízos entre os anos de 1997 e 2007, o que representa cerca de cem mil milhões de euros, de acordo com as últimas estatísticas oficiais do IRC.

    Os prejuízos acontecem independentemente do ciclo económico, o que significa que para fugir ao fisco uma grande parte das empresas terá anulado os resultados, carregando nos custos ou aliviando as facturas, escreve o jornal «Público» esta segunda-feira.
    http://www.agenciafinanceira.iol.pt/empresas/prejuizos-irc-fisco-empresas-devedores-agencia-financeira/1183388-1728.html

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  32. Sérgio's avatar
    Sérgio permalink
    10 Agosto, 2010 12:53

    Sim, mas já se informaram bem sobre o limite de tempo para o subsídio de desemprego na Dinamarca? E já se informaram quanto tempo em média demora um litígio laboral nos tribunais de lá?

    E caro JCD, o Sócrates é tão neoliberal como é socialista. E nós vivemos num Estado Liberal tanto quanto vivemos num Estado Social. Não percebo como pode criticar tanto os outros por usarem espantalhos quando você e os seus fazem precisamente a mesma coisa…

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  33. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    10 Agosto, 2010 14:48

    ( … ) Talvez seja esta a razão porque os economistas mediáticos tiram os seus chapéus de economista quando abandonam os seus gabinetes nas universidades ou nas empresas e põem o chapéu de guru quando entram num estúdio de televisão. E então é vê-los sacar dos chavões: a excelência, o empreendorismo, a mudança (nunca o progresso), a flexibilidade, a inevitabilidade de termos todos (ou quase todos) de trabalhar cada vez mais em empregos cada vez mais precários e em troca de salários cada vez mais baixos. E tudo isto, pasme-se, não apesar do progresso tecnológico, mas sim precisamente por causa dele e do enorme aumento de produtividade que ele tem proporcionado (…)

    é leitura minha ou isto aplica-se aos amigos dos jcd’s?

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  34. The Studio's avatar
    10 Agosto, 2010 15:12

    “onde os 10% mais bem pagos ganham 5,3 vezes mais do que os 10% menos bem pagos (na competitiva Dinamarca a diferença é de 2,3 vezes).”

    Eu concordo com o João Rodrigues. Na Dinamarca as empresas têm os trabalhadores que precisam, se necessitam de mais empregados contratam mais, se não precisam de tantos empregados dispensam os que estão em excesso. Em Portugal, as empresas com excesso de empregados são obrigadas a pagar-lhes o salário para eles lerem “A Bola” e as empresas com falta de empregados têm que se aguentar pois não podem correr o risco de assumir encargos vitalícios. Evidentemente a Dinamarca é muito mais competitiva que nós, o que resulta em mais emprego e maior qualidade de vida.

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  35. The Studio's avatar
    10 Agosto, 2010 15:23

    “onde os 10% mais bem pagos ganham 5,3 vezes mais do que os 10% menos bem pagos (na competitiva Dinamarca a diferença é de 2,3 vezes).”

    Acrescente-se que na Dinamarca as regras são iguais para todos, logo as desigualdades são pequenas.
    E o inconveniente da “facilidade em despedir” é amplamente compensado pela “facilidade em empregar”. Em Portugal temos os filhos e os enteados. Temos trabalhadores com todos os direitos e mais algum e temos os precários sem direitos nenhuns. E evidentemente os precários dificilmente conseguem transitar para o “estatuto de todos os direitos” pois a sociedade não consegue suportar tantos direitos para toda a gente. Logo, as desigualdades só podem ser grandes.

    Enquanto na Dinamarca em um mês se arranjam vários empregos, aqui são precisos anos para se arranjar um emprego, e sem cunha ou sem um bom curso só se arranjam empregos precários e muito mal pagos.

    Tem razão o João Rodrigues. O nosso problema é a nossa lei laboral e as “conquistas de Abril” que estão ajustadas ao início do século passado.

    O BE é um partido caricato. Em direitos dos gays, transgénicos, abortos e essas coisas fracturantes vivem no sec XXII ou XXIII. Em matéria laboral e de emprego vivem no sec. XVII ou XVIII.

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  36. Sérgio's avatar
    Sérgio permalink
    11 Agosto, 2010 10:09

    JCD, volte lá ao arrastão que parece-me que acabou de levar um baile.

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  37. Sérgio's avatar
    Sérgio permalink
    11 Agosto, 2010 10:10

    “Em matéria laboral e de emprego vivem no sec. XVII ou XVIII.”

    Nope, isso é para onde você e os da sua barricada nos querem atirar…
    Neoliberalismo é errado. Neofeudalismo é mais correcto.

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  38. honni soit qui mal y pense's avatar
    honni soit qui mal y pense permalink
    11 Agosto, 2010 15:42

    Sobre o Jornal I

    Comecei a comprar o I aos sabados , achava piada ao conceito de jornal maneirinho …

    ao ler comecei a achar tudo um pouco esquisito … artigos pequenos misturados com coisas dignas de videos jogos… exoterico…e a index revista da coisa de teor muito Xuxaurbanight… fui ver a ficha , bom … grupo Lena mmmmmmmmmmmmm próxuxa , ana sá lopes !!! super xuxa

    uma xuxaria pois … só faltava o politogo da tvi o tal que levava porrada do villaverde cabral e do rui ramos … ahhhhhhhh já sei o Adão e Silva

    sabado não há mais I para mim

    mas o 12 é que tem razão

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  39. Fernando Mendes's avatar
    Fernando Mendes permalink
    11 Agosto, 2010 18:49

    “o João deve ser economista do ISCTE.”
    Licenciado no ISEG, a concluir o doutoramento na Universidade de Manchester e a anos luz da sua capacidade intelectual, caro jcd. Não se limita a repetir a sebenta da moda. Uma coisa que não duvido: fosse jcd mais novo e teria sido marxista. Há quem vá sempre, para não ter que pensar, com o ar do tempo.

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  40. Fernando Mendes's avatar
    Fernando Mendes permalink
    11 Agosto, 2010 18:53

    “fosse jcd mais VELHO e teria sido marxista”

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  41. s's avatar
    19 Agosto, 2010 02:11

    É verdade que na Dinamarca é fácil despedir e fácil empregar, mas também o é nos EUA ou na Somália, e os resultados das disparidades sociais são muito diferentes. Também com esforço pode-se encontrar países em que o mercado é pouco flexível e as disparidades são baixas/altas e o país é pobre/rico.

    Agora o que se sabe é que em países com mercados duais: uns trabalhadores num mercado rígido e outros num flexível (recibos verdes), os segundos ficam a perder, pelos mais variados motivos, nomeadamente porque os empregadores têm um conjunto de trabalhadores fixos constantes e usam os segundos para fazer face a flutuações, ora, estes não tendo acesso a outro tipo de emprego mais duradouro aceitam tudo o que lhes aparece. Por outro lado os que estão num mercado rígido fazem tudo para aumentar os seus salários, reduzir o dos outros e impedir a entrada (clássica teoria dos insider-outsider).

    Assim sendo só há duas soluções, ou todos passam para um mercado mais rígido, ou todos para um mercado flexível.

    Agora será que num mercado flexível teremos mais crescimento e melhores salários. Na verdade depende como os empregadores encararem os recursos humanos: se os valorizarem, derem perspectivas de futuro, os trabalhadores por experiência + formação tornar-se-ão mais produtivos logo outras empresas quererão “roubar” os trabalhadores e os salários aumentam.
    Mas e se os patrões não valorizam os recursos humanos e acham que tudo é carne para canhão: então os trabalhadores rodarão rapidamente dentro e fora, não ganham experiência e a produtividade não aumenta, no fim a empresa falirá.
    Isto para dizer o quê? Tenho medo dos nossos industriais, pensam que a flexibilidade resolverá tudo, pois bem, sem uma atitude diferente de valorização dos recursos humanos a flexibilização fará o país mais próximo da Somália do que da Dinamarca.

    Post Scriptum: Todo o economista por mais liberal que seja sabe que qualquer mercado tem falhas: externalidades, insuficiência de informação, comportamento predador, etc. Sabe também que para o mercado funcionar bem tudo tem de funcionar numa base de concorrência atomista, i.e, sem oligopólios e monopólios. Ser-se economista liberal é dizer: flexibilizem o mercado de trabalho e acabem com/(regulem fortemente) os monopólios da EDP, Galp, … e os oligopólios das empresas de distribuição, do sector financeiro, etc. (Todo o Economista Liberal? Não, os da Nova não estudam estas partes

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