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notícias das cortes

6 Outubro, 2010
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Ainda que em lugares distintos e de modos diferenciados, as duas Casas Reais Portuguesas – a de Bragança e a de Belém – fizeram questão de homenagear e ser homenageadas neste 5 de Outubro. D. Duarte foi vítima de uma «Proclamação de Lealdade» por parte dos seus fiéis, que decorreu no Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, enquanto D. Aníbal abriu ao povo os salões do seu Palácio de Belém, que massivamente respondeu ao seu generoso convite. Mas as afinidades entre os Chefes das duas Dinastias não se ficam pelo simbolismo, convergindo também nos sentimentos de ambos sobre a gravidade do momento nacional. Enquanto D. Aníbal apela à «coesão e à responsabilidade política», por outras palavras, à aprovação do orçamento de estado para 2011, D. Duarte declarou concordar com o anunciado aumento de impostos, ilustrando a sua concordância com alegorias acerca da vida doméstica. Estão bem um para o outro, não haja dúvida!

16 comentários leave one →
  1. Nuno Castelo-Branco's avatar
    6 Outubro, 2010 01:39

    Discurso de D. Duarte. Neste aspecto, o Blasfémias enganou-se: aliás, nem sequer o leu. Cá está.

    Portugueses

    5 de Outubro de 1143 é uma data fundadora para Portugal. Durante quase 800 anos a vontade e a determinação do povo, firmemente ancoradas na vontade e determinação dos seus Reis, conduziram os destinos desta comunidade de sonhos, a que chamamos pátria.

    Mas 5 de Outubro, agora de 1910, é também a data em que a invasão mental estrangeira ocupou Portugal.

    Hoje, como sempre, falarei para todos, sem acepção ou excepção alguma.
    Mas hoje, como nunca, serei a voz de todos pela boca de alguns.
    Nenhuma das palavras que Vos irei ler me pertence, porque todas já eram pertença de todos depois de escritas por alguns de Vós.
    Irei ler-Vos excertos de alguns dos nossos maiores escritores. Evocando Portugal, ou retratando a república.
    As suas assinaturas declaram os nomes de Camões, Ramalho Ortigão,  Fialho de Almeida,  Eça de Queiroz, Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Pe. António Vieira.
    Por isso em nome de todos a estes as agradeço.

    Portentosas foram antigamente aquelas façanhas, ó Portugueses, com que descobristes novos mares e novas terras, e destes a conhecer o Mundo ao mesmo Mundo. Naqueles ditosos tempos (mas menos ditosos que os futuros) nenhuma cousa se lia no Mundo senão as navegações e conquistas de Portugueses. Esta história era o silêncio de todas as histórias. Os inimigos liam nela suas ruínas, os émulos suas invejas e só Portugal suas glórias. Mas se a história das cousas passadas (a que os sábios chamaram mestra da vida) tem esta e tantas outras utilidades necessárias ao governo e bem comum do género humano e ao particular de todos os homens, e se como tal empregaram nela sua indústria tantos sujeitos em ciência, engenho e juízo eminentes, como foram os que em todos os tempos imortalizaram a memória deles com seus escritos; porque não será igualmente útil e proveitosa, e ainda com vantagem, esta nossa História do Futuro, quanto é mais poderosa e eficaz para mover os ânimos dos homens a esperança das cousas próprias, que a memória das alheias? PADRE ANTÓNIO VIEIRA

    O Partido Republicano em Portugal nunca apresentou um programa, nem verdadeiramente tem um programa. Mais ainda, nem o pode ter: porque todas as reformas que, como partido republicano, lhe cumpriria reclamar, já foram realizadas pelo liberalismo monárquico. EÇA DE QUEIROZ
    A república francesa que implantaram em Portugal, sem nenhuns pontos de contacto com quanto em nós seja português. Nenhuma reacção do espírito progressivo a instaurou; foi um fenómeno da nossa decadência, da nossa desnacionalização. FERNANDO PESSOA
    No dia 5 de Outubro, em Portugal, não havia despotismo, não havia opressão e não havia fome. Os princípios proclamados à custa de tanto sangue pela Revolução Francesa, há mais de um século, ninguém precisava de os tornar a proclamar na Avenida agora, precisamente no período histórico em que quase todos esses princípios se acham refutados pela crítica experimental e científica do nosso tempo. Os famosos princípios da Revolução Francesa, leit-motiv de toda a cantata revolucionária de [5 de] Outubro último, são, precisamente, os que vigoram em toda a política portuguesa, desde o advento da revolução liberal de 1834 até nossos dias. RAMALHO ORTIGÃO
    Os novos revolucionários de 1910, com excepção honrosa dos que não sabem ler, não tiveram por decuriões senão os seus predecessores revolucionários liberais de 34. E daí para trás — o que quer dizer daí para cima — nunca abriram um livro. Tal a razão porque os raros homens de letras, que a nossa República conseguiu mobilizar, dia a dia se desagregam da hoste refugiando-se no anacoretismo filosófico, enojados da crassa ignorância dos sarrafaçais a que o regime os emparelhou. RAMALHO ORTIGÃO

    É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira, não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na república não era possível, porque era perigoso, insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa. FERNANDO PESSOA
    Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos – de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regímen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República. FERNANDO PESSOA

    Este regímen é uma conspurcação espiritual. Os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. FERNANDO PESSOA

    Desde a proclamação da República que em Lisboa se não faz outra coisa se não pedir. FIALHO DE ALMEIDA

    É certo que nunca as classes dirigentes se divertiram tanto em excursões de recreio, nem se banquetearam tão repetidamente, como hoje em dia. Na casa, porém, de cada cidadão, nem o imposto diminuiu nem o passadio embarateceu.
    Enquanto à prometida barateza a que seriam reduzidos os víveres, ao proporcional aumento a que seriam elevados os salários, ao desenvolvimento que teria o ensino e à perfeição que atingiria a disciplina da sociedade, uma vez sacudido da cerviz do povo o inconfortável jugo ominoso do regime extinto, observa-se que nunca se comeu mais caro, nunca foi mais numerosa a legião dos operários sem trabalho, nunca […] tantas  propriedades foram impunemente assaltadas e destruídas como agora as redacções e as tipografias de cinco jornais. A República Portuguesa continua dando ao mundo o mais espantoso e inacreditável espectáculo: – existe! RAMALHO ORTIGÃO

     O predomínio incondicional exercido pelas sociedades secretas em quase todos os actos do governo, como por exemplo na escolha das cores da bandeira, deposição de funcionários antigos e com direitos adquiridos, e imposição d’outros sem mais competência do que as suas cumplicidades carbonárias; Corre que outras medidas de violência serão tomadas no sentido de desarmarem pelo terror as inumeráveis massas de cidadãos que não aderiram à República. FIALHO DE ALMEIDA

    Um país não pode ficar assim toda a vida, num pátio de comédia.
    Quebrámos estouvadamente o fio da nossa missão histórica. Desmoralizámo-nos, enxovalhámo-nos, desaportuguesámo-nos. RAMALHO ORTIGÃO

    Quem considerar o Reino de Portugal no tempo passado, no presente e no futuro, no passado o verá vencido, no presente ressuscitado e no futuro glorioso; e em todas estas três diferenças de tempos e estilos lhe revelou e mandou primeiro interpretar os favores e as mercês tão notáveis com que o determinava enobrecer: na primeira, fazendo-o, na segunda restituindo-o, na terceira, sublimando-o.
    Mas se a história das cousas passadas (a que os sábios chamaram mestra da vida) tem esta e tantas outras utilidades necessárias ao governo e bem comum do género humano e ao particular de todos os homens, e se como tal empregaram nela sua indústria tantos sujeitos em ciência, engenho e juízo eminentes, como foram os que em todos os tempos imortalizaram a memória deles com seus escritos; porque não será igualmente útil e proveitosa, e ainda com vantagem, esta nossa História do Futuro, quanto é mais poderosa e eficaz para mover os ânimos dos homens a esperança das cousas próprias, que a memória das alheias?
    Têm na memória que também antigamente pagavam, e que então era tributo do cativeiro o que hoje é preço da liberdade; sobretudo vêem a seu rei da sua Nação e da sua Língua, e que o têm consigo e junto a si para o requerimento da justiça, para o prémio do serviço, para o remédio da opressão, para o alívio da queixa; rei que os vê e se deixa ver; que os ouve e lhes responde; que os entende e o entendem; que os conhece e lhes sabe o nome. PADRE ANTÓNIO VIEIRA

    Dispensem todas as teorias passadistas! Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos! Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!  
    Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada. ALMADA NEGREIROS

    Portugueses

    Em 1928, Fernando Pessoa escreveu o poema NEVOEIRO, do qual vos vou ler a última estrofe:
    Ninguém sabe que coisa quer.
    Ninguém conhece que alma tem,
    Nem o que é mal nem o que é bem.
    (Que ânsia distante perto chora?)
    Tudo é incerto e derradeiro.
    Tudo é disperso, nada é inteiro.
    Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
    É a hora!

    Portugueses
    Saibamos fazer a hora. Restauremos a esperança na lusitana antiga liberdade.

    VIVA PORTUGAL!

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  2. Nuno Castelo-Branco's avatar
    6 Outubro, 2010 01:50

    O senhor Aníbal, chegou num carrão pago por nós, com a escolta do costume e foi juntar-se à restante malandragem que o aguardava. Proferiu as banalidades do costume, para eleitor ver e garantir-lhe as várias reformas, mais os 21 milhões de Euros por ano, etc. etc.

    O senhor D. Duarte chegou ao volante do SEU Volkswagen Sharan (matrícula de 200), conversou com as pessoas, proferiu as palavras que acima se podem ler e depois, de novo ao volante no SEU carro, regressou a Lisboa. Tal como faz todos os dias. Portanto, não invente, pois não existe termo de comparação possível. Acredite que se trata não de um outro mundo, mas sim de outra galáxia.

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  3. rui a.'s avatar
    rui a. permalink
    6 Outubro, 2010 01:50

    O discurso, na verdade, não tinha lido. Limitei-me às declarações que lhe escutei na SIC.

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  4. Nuno Castelo-Branco's avatar
    6 Outubro, 2010 01:51

    dizia, matrícula de 2006

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  5. rui a.'s avatar
    rui a. permalink
    6 Outubro, 2010 01:54

    «O senhor Aníbal, chegou num carrão pago por nós, com a escolta do costume e foi juntar-se à restante malandragem que o aguardava. Proferiu as banalidades do costume, para eleitor ver e garantir-lhe as várias reformas, mais os 21 milhões de Euros por ano, etc. etc.»
    É uma questão de regime, meu caro. Fossemos nós uma monarquia e as suas palavras aplicar-se-iam, com exactidão, ao chefe de estado em funções. Não é por aí que a crítica monárquica à república vai por bom caminho.

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  6. Insurrecto Meditativ's avatar
    6 Outubro, 2010 03:05

    Sendo o regime uma Monarquia ou uma República, ambos padecem de um mal que é comum a tudo o resto: o homem. A verdade é que, tendo eu de optar por um, a república é certamente a melhor escolha. O Rei não se vê obrigado a mentir para ficar no palácio, pois o regime é dele, pertence-lhe por direito divino; na República, o PM e o Presidente mentem para ficar no cargo, pois o cargo não é deles, é de quem os elege. Mas num país onde o mandante padece de falta de capacidade para escolher, é óbvio e expectável que o mandatário seja fraco, mesquinho.

    Portugal é assim.

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  7. Nuno's avatar
    Nuno permalink
    6 Outubro, 2010 03:18


    rui a.THE POST AUTHOR
    «Não é por aí que a crítica monárquica à república vai por bom caminho.»
    Vai certamente por bom caminho ao qual haverá muito, mesmo muito a acrescentar.
    Para não ir mais longe, sob o aspecto económico, em qualquer Monarquia o Estado é muito menos dispendioso. Porém, mais grave é a diferença da qualidade pessoal dos visados.
    Nuno

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  8. o sátiro's avatar
    6 Outubro, 2010 03:43

    Pequena correcção:
    D.Aníbal, o Presidente mais sério, estadista e verdadeiramente preocupado com o POVO desde 1910, abriu as portas do Palácio de BELÉM, e não de S.Bento.
    Aliás, foi o segundo melhor inquilino de S.Bento nesta terceira República.
    O melhor, obviamente, Francisco Sá Carneiro (tiveram que o matar…), apesar do pouco tempo que lá esteve.

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  9. rui a.'s avatar
    rui a. permalink
    6 Outubro, 2010 04:10

    Caro Sátiro,
    Obrigado pelo reparo. Não sei onde estava com a cabeça. Este género de erros têm sido reincidentes, o que me começa a preocupar. A terceira idade é tramada!

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  10. António Lemos Soares's avatar
    António Lemos Soares permalink
    6 Outubro, 2010 10:46

    Há cada vez mais Portugueses, que olham para a Monarquia como aquilo que é: uma hipótese de futuro para a manutenção histórica da Pátria.
    Ontem não pude, com grande pena, deslocar-me a Guimarães.
    Se lá tivesseido, não iria demonstrar lealdade a quem quer que fosse: iria manifestar a minha lealdade, sim, à unica entidade que o merece: Portugal.

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  11. Licas's avatar
    Licas permalink
    6 Outubro, 2010 13:09

    Insurrecto Meditativ
    Posted 6 Outubro, 2010 at 03:05 | Permalink
    Sendo o regime uma Monarquia ou uma República, ambos padecem de um mal que é comum a tudo o resto: o homem.
    ______
    Até aqui , tudo bem. O descalabro foi confundir uma Monarquia Constirucional
    em que o Rei é um afigura representativa do Estado e nada mais,
    (de que, como republicano não sou adepto) com a Monarquia Absoluta, da qual
    há um exemplo exemplar : o Vietname . NÃO É ASSIM Sr. BERNARDINO SOARES?
    Já agora inclua-se a Cuba dos manos de Castro . . .

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  12. Licas's avatar
    Licas permalink
    6 Outubro, 2010 13:10

    ________MONARQUIA CONSTITUCIONAL____

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  13. J. Alves's avatar
    J. Alves permalink
    6 Outubro, 2010 13:50

    Se a questão se resume aos meios de locomoção dos nossos “chefes máximos”, sempre se pode adiantar que Manuel de Arriaga se deslocava em veículo próprio, do qual não sei precisar a data de matricula … E pagava renda pelos aposentos institucionais que utilizava …

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  14. o sátiro's avatar
    7 Outubro, 2010 02:47

    Caro Rui A.
    Por acaso, apercebi-me do lapso.
    Tb me acontece, lá no kiosk.
    Se um dia me corrigir, agradeço.

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  15. PPA's avatar
    PPA permalink
    7 Outubro, 2010 11:10

    Já (re)frisado, mas cá vai:
    “D. Aníbal” (bem visto) – Comemorações sobre um centenário de uma república imposta de forma ignóbil aos portugueses…as quais pagas com dinheiro dos nossos bolsos.
    D. Duarte – Um Rei para muitos, muitos mais que se calhar se imagina. Comemorou-se 867 anos de Portugal. Nenhuma “logística subsidiada”, mas uma absoluta e verdadeira demonstração de lealdade a Portugal. Alegria sã e genuína com a FRP, nunca vista para os lados (presentes) de Belém…

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  16. ovotas's avatar
    ovotas permalink
    7 Outubro, 2010 12:02

    D. Duarte – o citador.

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