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Porquê?

27 Outubro, 2010

Porque é que as empresas em Portugal estabelecem entre si, de forma tácita ou intencional, longos prazos de pagamento?
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Dito de outra forma, porque é os fornecedores aceitam prazos mais longos para conseguir preços mais altos quando poderiam ter prazos mais curtos se vendessem mais barato? E porque é que os compradores aceitam pagar mais caro em prazos mais longos quando poderiam comprar mais barato em prazos mais curtos?
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Muito provavelmente porque ambas as partes saem a ganhar com isso. Alguém consegue identificar o ganho para ambas as partes que resulta deste arranjo?

22 comentários leave one →
  1. Piscoiso's avatar
    27 Outubro, 2010 14:07

    Eu até gostava de identificar quem perde.

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  2. Eduardo's avatar
    27 Outubro, 2010 14:15

    Além de manter a empresa a funcionar, o que é bastante importante, há hipotéticos ganhos financeiros nessas operações: enquanto fornecedor é como se tivesse um depósito a prazo a uma taxa de juro mais atractiva que a bancária; enquanto cliente é como se pedisse emprestado a uma taxa de juro mais atractiva do que a bancária. Pode ter a ver com o diferencial efectivo entre taxas de juro bancárias activas e passivas.

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  3. A C da Silveira's avatar
    A C da Silveira permalink
    27 Outubro, 2010 14:27

    Desculpem-me a pergunta: quem de entre os que andam aqui a comentar estes assuntos são empresarios, ou se trabalham numa empresa tem sob a sua responsabilidade a tesouraria. Quer dizer: ter que inventar o carcanhol para pagar ao estado, aos bancos, aos empregados, e por fim, é verdade estes ficam sempre para o fim , aos fornecedores.
    É que teorizar sobre estes assuntos, sem os viver no dia a dia, normalmente dá asneira. É falar do que não se conhece.

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  4. será's avatar
    será permalink
    27 Outubro, 2010 14:29

    até dou razão às críticas do CDS à supervisão bancária…

    O professor Cavaco Silva alguma vez falhou? Alguma vez falhou?” A frase era lançada pelo então secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Oliveira e Costa, para a multidão que, em êxtase, gritava: “Não! Não!” Corria a. Primavera de 1991 e o PSD preparava-se para enfrentar mais uma batalha eleitoral. Oliveira e Costa, que dominava a distrital de Aveiro com mão de ferro, desmultiplicava-se em comícios e sessões de esclarecimento na propagação da palavra de apoio ao líder e primeiro-ministro Cavaco Silva mas, também, em defesa da sua própria pessoa.
    Por essa altura, o já famoso “Zeca Diabo”, como era chamado pelos funcionários do Fisco, enfrentava um dos maiores desafios da sua vida política: o perdão fiscal de 500 mil contos à Cerâmica Campos. Uma investigação do “Expresso”, feita pelo então jornalista e actual bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, denunciou o caso que envolveu Oliveira e Costa num dos mais fortes escândalos do Cavaquismo, acabando numa comissão parlamentar de inquérito. A maioria social-democrata jogou no seu próprio interesse e ilibou o secretário de Estado mas não conseguiu esconder as fragilidades de todo o processo.
    O relatório final fala de um despacho “pouco claro” e de fraca sustentação jurídica e deixa claro que a esmagadora maioria dos factos imputados a Oliveira e Costa se confirmou, desde logo a reunião com os administradores da Campos e da Caima, que ia comprar esta desde que a situação fiscal ficasse limpa.
    Para trás ficava o longo percurso de um caso que mostrou todas as fragilidades do político e futuro banqueiro. Tudo começou a 4 de Outubro de 1988, quando o Tribunal de Instrução Criminal de Aveiro e a Polícia Judiciária enviaram um documento, extraído do processo “Aveiro-Conecttion”, para as Finanças. Era aí pedida a “urgente averiguação” de um eventual delito fiscal na distribuição de dividendos da Campos. Os investigadores da PJ de Aveiro, então liderada por Teófilo Santiago, chegaram à Campos através de um dos principais arguidos no caso de contrabando, o capitão Vasco Silva, que era também administrador da empresa. No interrogatório, quando perguntado sobre as somas avultadas encontradas nas suas contas e da mulher, invocou o que teria recebido da cerâmica.
    Os homens da inspecção tributária rapidamente apuraram que a empresa não só não distribuía dividendos como estava envolvida numa fraude. Mais de 40 por cento da sua produção era vendida à margem da contabilidade oficial e mais de meio milhão de contos foram distribuídos pelos administradores e por um grupo restrito de accionistas. Dois dos administradores foram presos mas libertados mediante o pagamento de cauções alguns dias depois. Um deles, anos mais tarde, apresentou uma versão dos factos e das circunstâncias do perdão à Campos na comissão parlamentar de inquérito arrasadora para Oliveira e Costa.
    A polémica criada com esta empresa desencadeou a denúncia de dezenas de casos de perdões fiscais evidenciando a existência de uma rede clientelar na Administração Fiscal com ligações ao financiamento partidário. Na zona Centro foram apontados indícios da existência de um grupo de advogados, ligados ao PSD, que recebia uma soma mais ou menos “tabelada” para arranjar reuniões com quem tinha o poder de negociar os perdões mediante o pagamento de uma contrapartida. Na altura, algumas destas situações, que poderiam configurar o crime de tráfico de influências, não foram investigadas por falta de previsão deste tipo de crime na legislação nacional.

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  5. Manuel F Santos's avatar
    Manuel F Santos permalink
    27 Outubro, 2010 14:32

    Tem a ver com a assimetria do processo.
    Quem paga/encomenda tem todo o poder do seu lado e se o fornecedor não aceitar e o adquirente for dominador no mercado então acaba com o fornecedor e impõe-lhe não só prazos de pagamento como de preços dos produtos.
    É ver que o Continete fez à indústria de bicicletas em Portugal. Só se safou uma e porque saiu a tempo de fornecedor do Continente.

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  6. Luis's avatar
    Luis permalink
    27 Outubro, 2010 14:38

    Não deveria ser necessário legislar, impôr prazos longos de pagamento para pequenos fornecedores é um erro estratégico caso não se esteja numa situação aflitiva, e não consta que os hipermercados estejam em sérias dificuldades em Portugal. Uma empresa bem sucedida é aquela que trata bem os clientes , fornecedores,, etc, todos são importantes.
    Foi com erros estratégicos desse calibre que por exemplo a Sonae Distribuição fracassou completamente no Brasil, falhando uma oportunidade de ouro de poder hoje estar bem instalada num país com uma economia pujante.

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  7. A C da Silveira's avatar
    A C da Silveira permalink
    27 Outubro, 2010 14:54

    SERÁ já houviu falar do Mario Lino, de José Socrates , de Armando Vara e de uma coisa chamada “Face Oculta”? O Oliveira e Costa já está na prisão sabe? então e os da Face Oculta? Quando é que os prendem?

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  8. MJRB's avatar
    27 Outubro, 2010 15:26

    Desde as 12h00 de hoje, nenhum político “socialista” defensor do “sentido de responsabilidade” pela “coisa pública”, foi suspenso, cabeça para baixo para ‘refrescar’ ideias, reequacionar conteúdos e rever “responsabilidades”, algures na Boca do Inferno ?

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  9. será's avatar
    será permalink
    27 Outubro, 2010 15:35

    a polícia está ora mui ocupada com o dias loureiro, o luís duque, o Isaltino morais, o teixeira pinto, o fernando seara, o carlos encarnação….o tavares moreira, o valentim loureiro….

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  10. Lionheart's avatar
    Lionheart permalink
    27 Outubro, 2010 15:38

    Será que alguém se deu ao trabalho de saber quanto perde? De certeza que não. O que interessa ao tuga é ter o dinheiro do lado de cá, nem se apercebendo que acaba por pagar mais por isso.

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  11. Carlos Dias's avatar
    Carlos Dias permalink
    27 Outubro, 2010 16:04

    Obrigado pelo post. Nunca tinha pensado nisso.
    Como vou comprar uma casa, vou aproveitar a ideia e pagá-la em cash sem recurso aos bancos, assim não pago juros, e ela fica mais barata.

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  12. PMP's avatar
    PMP permalink
    27 Outubro, 2010 16:09

    A questão da regulação do estado nos prazos de pagamento põe-se quando existem compradores e fornecedores de dimensões muito diferentes, e quando existem práticas correntes prejudiciais.

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  13. António Parente's avatar
    António Parente permalink
    27 Outubro, 2010 17:13

    Caro João Miranda
    Os fornecedores não aceitam prazos mais longos. Por favor, para perceber o que quero dizer com a frase anterior, siga o seguinte link:

    Click to access AdC-Relatorio_Preliminar_GrandeDistribuicao_Jan2010.pdf

    Veja a página 18 e depois a partir da página 89. Leia o estudo todo, permitir-lhe-à escrever posts melhores do que os actuais sobre este tema.

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  14. limpa's avatar
    limpa permalink
    27 Outubro, 2010 17:37

    É obvio que nunca na tua vida vendeste nada a uma grande superficie ..senão saberias !!
    Nem tu vendeste nem nenhum dos que escreve neste blog..

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  15. Luís Oliveira's avatar
    27 Outubro, 2010 17:53

    “porque é que os compradores aceitam pagar mais caro em prazos mais longos quando poderiam comprar mais barato em prazos mais curtos?”

    Comprarão a pronto se o valor realizado com o desconto financeiro obtido por pagar mais cedo compensar o que seria obtido com outras aplicações alternativas do capital. Além disso tem de haver fundo de maneio, claro… e um gestor financeiro… e tempo para andar a pensar nisto…

    É tudo uma questão de liquidez, de poder negocial relativo entre cliente e fornecedor e de FAZER AS CONTAS.

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  16. C. Medina Ribeiro's avatar
    27 Outubro, 2010 17:59

    1 – No que toca aos prazos de pagamento, atente-se no que sucede com as farmácias:
    O Estado demora uma eternidade a pagar as comparticipações, mas o credor (a Associação Nacional de Farmácias) não se preocupa, pois a dívida vence juros de mora. Ou seja: receber com atraso pode ser um bom investimento; tudo depende do valor do juro em causa.

    2 – Trabalhei durante muitos anos numa empresa que era má pagadora. Isso, normalmente, só preocupava os fornecedores ao princípio. Assim que sabiam “as normas da casa”, os preços eram ajustados em função do atraso. Desde que não ultrapassasse o tempo habitual (e que era bem conhecido por todos), não havia qualquer problema.

    3- Lewis Carrol, numa obra sua, tem um diálogo entre um credor e um devedor. Este dispõe-se a pagar a dívida de imediato, mas propõe ao credor pagar-lhe o dobro no ano seguinte.
    Vem-se a saber que esse jogo já durava há anos. A dívida já atingia valores fabulosos, mas o credor continuava a aceitar, satisfeito, o atraso no pagamento.

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  17. Luís Oliveira's avatar
    27 Outubro, 2010 18:24

    Depois de ver os outros posts já percebi onde é que o JM quer chegar.
    De acordo com a Teoria Económica Perfeita isso dos créditos é uma coisa muito má. Além de roto. Ora pagar antes é pagar “menos”. Logo está demonstrada a TEP (não que fosse necessário, claro, uma vez que esta é puro espírito) e aumenta a perplexidade do JM em relação a esta coisa do crédito.
    Sendo assim, e parafraseando o JM na forma como costuma interpelar os seus leitores, o que espera para abrir uma empresa que paga/recebe sempre a pronto, agora que está identificada esta falha gritante no mercado?

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  18. fado alexandrino's avatar
    27 Outubro, 2010 18:51

    Alguém consegue identificar o ganho para ambas as partes que resulta deste arranjo?
    Que pedantice, só lhe falta a régua.

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  19. Trinta e três's avatar
    27 Outubro, 2010 19:11

    Ó JoãoMiranda, levante a cabeçada secretária, vá para a rua e veja como funciona o mundo. A maioria dos fornecedores aceita esses prazos, porque não tem alternativa. A distribuição está totalmente controlada e quem não “jogar” pelas suas regras, está fora. Veja as áreas de investimento dos principais grupos económicos portugueses e depois faça poemas à quimera da “livre concorrência”.

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  20. Me's avatar
    27 Outubro, 2010 22:25

    tb há outra vantagem para os fornecedores por atacado que supera os custos da espera pelo pagamento : não precisam de vender porta a porta ( poupam nos vendedores , um vendedor custa muito , não é só o salário , é o carro , o gasoil e tal ) , dirigem-se ao centro de compras da cadeia , e se for um produto novo , que se for já conhecido , é a central que manda fax a comprar. suponho que é por isso tb que um produto não custa o mesmo para a mercearia da esquina e para o Continente , nem o merceeiro pode pagar a 6 meses.

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  21. José Barros's avatar
    José Barros permalink
    28 Outubro, 2010 19:49

    Óbvio: a dilação do prazo do pagamento gera um efeito de financiamento do comprador pelo vendedor, bem como um aumento do risco de insolvência do primeiro que o segundo corre. Esses dois efeitos são recompensados pelo aumento do preço que este último cobra.

    Inversamente, o pagamento a pronto constitui um encargo para o comprador que é compensado com a diminuição do preço, diminuição essa que também é correlato de um menor ou nulo risco de insolvência que compensa o vendedor.

    Hoje em dia, existem muitos negócios triangulares em que um consumidor compra a um vendedor e fica devedor da dívida de capital mais juros ao banco que, por sua vez, paga de imediato o preço de bem ao vendedor. Dessa forma, o vendedor recebe o preço de imediato sem correr o risco de insolvência do comprador. O banco alarga a sua clientela e corre o risco típico do seu negócio. O consumidor – normalmente falido – não paga e fica sem a casa.:)

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