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sobre vetos

1 Março, 2011
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A 11 de Novembro de 1791, em pleno furor revolucionário, Luís XVI, já muito condicionado na sua acção e uma pálida sombra do que poderia ter sido um rei absoluto, vetou um decreto da Assembleia Legislativa Francesa que atacava os emigrés (os aristocratas e demais pessoal político do Ancien Régime fugido para o estrangeiro e suspeito de conspirar conta a Revolução), que determinava o seguinte: «Se não regressarem a 1 de Janeiro de 1792, serão culpados de conjuração, perseguidos, punidos com a morte.». Alegou, o Rei, na sua fundamentação, que os artigos do decreto lhe pareciam «não poder compadecer-se com os usos da nação e os princípios duma constituição livre». Tinha razão, como é evidente. A 29 de Novembro do mesmo ano, Luís XVI recebeu novo diploma legislativo da Assembleia, que ostensivamente chocava com a sua consciência moral e religiosa. Tratava-se do juramento cívico imposto aos padres católicos, que, na prática, os passava a considerar funcionários do Estado francês, em vez de permanecerem dependentes de Roma e do Papa. O Rei exerceu o seu direito de veto (que a Constituição de 91, após longo debate na Assembleia que a elaborou, lhe concedera) sobre esse diploma, em 19 de Dezembro seguinte. A 11 de Junho do ano de 1792, dois novos vetos do Rei a outros tantos diplomas da Assembleia sobre os padres refractários. A 20 de Junho, a populaça invade as Tulherias, ameaça fisicamente o Rei, e exige-lhe a supressão dos vetos anteriores. Luís XVI não cedeu. A 10 de Agosto é destituído e guilhotinado a 21 de Janeiro de 93, após um vergonhoso «processo judicial», no qual não teve sequer direito a apresentar testemunhas de defesa. Em face destes episódios, Luís XVI, que a História quase unanimemente considera um rei frouxo, ficou conhecido por «Monsieur Veto». Michelet, um dos grandes historiadores da Revolução de França, considera o momento dos dois vetos do final do ano de 91 o ponto em que se consumou definitivamente o divórcio entre Luís XVI e o povo. Em face disso, o Rei perdeu o trono e, logo em seguida, a cabeça. Mas não perdeu a dignidade, com a qual, de resto, viveu muito bem os seus últimos momentos a caminho da guilhotina

7 comentários leave one →
  1. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    1 Março, 2011 22:01

    O Rei Balduíno da Bélgica abdicou do trono por um dia para não ter que assinar e promulgar a lei do aborto naquele país, em obedicência à sua fé religiosa e à Igreja de Roma.
    Não compreendo como alguém promulga leis e depois as vem desvalorizar na praça pública.
    E depois admiram-se dos cidadãos comuns não cumprirem as leis e terem reserva moral ou técnica em relação à aplicação das mesmas!

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  2. Karocha's avatar
    Karocha permalink
    1 Março, 2011 22:12

    Pois!!!

    http://infamias-karocha.blogspot.com/

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  3. João Lisboa's avatar
  4. Piscoiso's avatar
    2 Março, 2011 00:45

    Pois, mas Cavaco não foi eleito para concordar com os diplomas que promulga.

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  5. O SÁTIRO's avatar
    2 Março, 2011 01:37

    Felizmente, há quem escreva as verdades sobre as mentiras repetidas milhões de vezes.
    É que a Revolução da “Liberté; Égalité; fraternité” foi uma fraude, uma máquina de massacres sem escrúpulos, um verdadeiro embuste.
    AS filas de espera para cortar pescoços eram tão grandes que tiveram que inventar a guilhotina….para dar andamento ao rolar das cabeças.
    Hj é festejada como uma data Histórica cheia de qualidades….

    como se as matanças e os massacres merecessem cantar vitória.

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  6. Leme's avatar
    Leme permalink
    2 Março, 2011 03:13

    Não tão importante de um ponto de vista internacional, o 25 de Abril que nos tocou em sorte foi igualmente um embuste que destroçou um povo de cerca de nove séculos. E o curioso é que ainda há idiotas, apesar de toda a miséria que nos podeia, que acreditam na bondade daquela traição demoníaca.

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  7. pedro's avatar
    pedro permalink
    2 Março, 2011 21:31

    Completa e totalmente de acordo com o comentário de O Sátiro.

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