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continua a ser pouco

4 Março, 2011
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António Nogueira Leite é, certamente, a pessoa mais sensata e politicamente equilibrada de todas quantas acompanham o novo líder do PSD. Hoje, no Diário Económico, disse o óbvio, embora o óbvio seja quase sempre difícil de dizer em política: que o PSD não pode ter como estratégia de poder o esgotamento do governo do PS, e que o partido tarda em apresentar «uma verdadeira alternativa de políticas para Portugal». Se concordo plenamente com a primeira premissa, tenho enormes reservas sobre a segunda. Apenas por uma razão: porque tudo o que o PSD possa prometer aos eleitores será sempre insuficiente para aquilo de que o país verdadeiramente necessita. Por outras palavras: a dimensão do que há a fazer não pode ser obra apenas de um partido e das suas «políticas», mas terá de comprometer toda a margem alternativa do regime, a margem direita, se é que ela existe. E, dada a gravidade da situação em que estamos, é bom que exista.

 

 De facto, o estado em que Portugal se encontra é o de verdadeiro fim de regime. Isto afigura-se pelo descalabro económico e social em que estamos, pela inexistência de instituições credíveis na área do poder público, e, sobretudo, pela sensação dominante de que andamos, há décadas, a experimentar sempre o mesmo, sem verdadeiras alternativas ao que falhou e às políticas que conduziram o país ao estado em que está. A descrença dos portugueses baseia-se na fatalidade do que lhes tem acontecido nas últimas décadas: com ligeiríssimas variações e nuances difíceis de vislumbrar, os políticos e os governos fazem sempre o mesmo; e dizem-lhes que não há outro modo de fazer as coisas.

 

 

O que explica este estado de coisas, em que esquerda e direita se confundem e apenas se distinguem por protagonistas diferentes de políticas iguais, é que o regime tem sido, desde a sua entronização constitucional em 1976, governado à esquerda, de acordo com os seus padigmas e as suas convicções e utopias. A saber e entre outras, o estado social, a justiça distributiva, o interesse público e o predomínio do colectivo sobre os direitos individuais, a «liberdade» vista como concessão do estado e do governo e não como direito natural dos indivíduos e fundamental dos cidadãos, a tolerância pela propriedade privada, o rendimento mínimo, a educação gratuíta, a saúde gratuíta, a tributação elevada, a desconfiança pelo sucesso empresarial, a rigidez laboral, a subsidiodependência, e, mais recentemente, as causas fracturantes transformadas em políticas do governo, como o aborto praticado no Serviço Nacional de Saúde, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, entre outros.

 

Nestes trinta e cinco anos de regime, a esquerda dominou e impôs os seus paradigmas políticos, de tal modo que, nos poucos momentos em que a direita esteve no poder, praticamente os não questionou, aceitando-os como se fossem património consolidado e intocável do regime. Com Sá Carneiro, por falta de tempo e por tudo estar ainda no começo; com Cavaco, porque era necessário cuidar de preparar o país para entrar e se aguentar na CEE; e com Durão Barroso, por manifesta falta de preparação política para governar.

 

O que ocorre neste momento é que ou o regime consegue reformar-se, oferecendo uma alternativa de fundo ao que tem sido nestes trinta e cinco anos, ou desaparecerá, como, aliás, está já a desaparecer pelo desmoronamento involuntário, caótico, mas inevitável, do estado social. Nessa medida, o PSD é insuficiente para oferecer, por si só e com o seu pessoal político, uma alternativa de regime, dentro do próprio regime. Ela tem de vir de toda a outra margem do regime – da margem direita – que nunca governou o país fora dos ditâmes impostos pela esquerda.

 

O que Passos Coelho precisa de fazer – se para tanto tiver capacidade e talento – é apresentar ao país uma verdadeira alternativa de direita ao modelo de esquerda que se apropriou do regime, uma alternativa que englobe toda a direita – os seus partidos, as suas pessoas, as instituições da sociedade civil que lhe pertencem, as suas ideias e convicções – e que se apresente como uma alternativa radical e de fundo àquilo que eles têm conhecido e lhes tem sido imposto como paradigma político único. Note-se bem, que isto é muito distinto de se sentar à mesa com Paulo Portas e mais uns tantos rapazes e começar a fazer contas de mercearia para ver quem vai ficar com o quê no day after do socratismo. Esse percurso só serviria para afundar os dois partidos e acelerar mais ainda o enterro do regime. Como ambos se afundarão – e com eles o regime também – se não forem capazes de entender que têm de apresentar ao país uma verdadeira alternativa de direita ao modelo político de esquerda em que vivemos. Foi isto que Francisco Sá Carneiro fez com a Aliança Democrática, e menos do que isto será insuficiente para tirar o país e os portugueses do sério sarilho em que se encontram, e que até já preocupa veneranda figura do ex-presidente Sampaio. 

20 comentários leave one →
  1. Gabriel Silva's avatar
    Gabriel Silva permalink*
    4 Março, 2011 15:30

    tirando a primeira frase, excelente texto.

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  2. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    4 Março, 2011 15:34

    Lembro muito bem desse senhor no Governo do cristianíssimo Guterres!

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  3. campos de minas's avatar
    campos de minas permalink
    4 Março, 2011 15:39

    realmente a 1ª frase é deprimente….

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  4. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    4 Março, 2011 16:47

    É impossível o País mudar sem muita dor.
    Os Portugueses apoiam uma mistura de proteccionismo e corporativismo à la Estado Novo com gostos incontrolados a la Democracia-Estado Social.
    Ou seja o Pior de dois mundos.
    A que adicionamos o elogio do desleixo que vem com a cultura de esquerda.
    Se o Estado Novo se tivesse endividado para despejar dinheiro como a Democracia o faz nunca teria havido 25 de Abril.

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  5. Pi-Erre's avatar
    Pi-Erre permalink
    4 Março, 2011 16:50

    Tal como o PS, o PSD é um partido estatista e portanto não constitui alternativa nenhuma ao modelo político existente. A fachada seria pintada com outra cor, mas a tinta é do mesmo tipo.
    Para agravar a situação, trata-de de um partido cheio de medo de governar. Não sabe e por isso não quer.
    E como diz Vasco Pulido Valente, “O Medo mete Medo”.
    Tiremos, pois o sentido do PSD (e dos outros, claro) para solucionar o problema.
    Não há mesmo solução.
    Ao fim de 400 anos de decadência, só por milagre.

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  6. JP's avatar
    4 Março, 2011 16:55

    Rui Rio disse uma vez que só avançava antes de terminar a presidência da CMP se o país ou partido estivessem a arder. É melhor avançar depressa porque as labaredas são enormes.

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  7. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    4 Março, 2011 17:45

    A melhor maneira para acabar com o PSD é pôr lá o grunho do R.Rio.
    Ao menos, o Santana e o Catroga, já andam nas listas de candidatura aos corpos sociais do Sporting Club de Portugal.
    Certamente vêm mais futuro no Sporting do que no PSD….
    Ou estarei errado?

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  8. MJRB's avatar
    4 Março, 2011 17:55

    Porra: PPCoelho apresenta ao país, ao eleitorado, SÓ António Nogueira Leite como “a pessoa mais sensata e politicamente equilibrada de todas quantas acompanham o novo líder do PSD” ?
    Combateu (com LFilipe Menezes) Manuela Ferreira Leite, para apresentar “certamente”(?) SÓ 1 “companheiro” como o mais lúcido e fiável ? Não há mais ? Para quem quer estar o mais depressa possível em S.Bento, afinal ‘votamos’ e PPCoelho ou em ANLeite ?
    Ao fim de 1 ano como presidente do partido da oposição mais votado (e por isso usado e não temido por Sócrates), ainda é considerado (por Rui A.) como “novo líder” ?
    Este PSD-de-PPCoelho-de-ANLeite-de-MRelvas-de-ACorreia, se continuar a fazer oposição como até aqui (parcimoniosa, hesitante, inócua, tacitamente expectante, “com sentido de responsabilidade”), se vencer as legislativas, tal facto deve-se muito mais à recusa do eleitorado em manter Sócrates, do que na “fé” em PPCoelho como PM.

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  9. Rio D'Oiro's avatar
  10. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    4 Março, 2011 18:08

    O «Fiel Inimigo» faz uma pergunta estúpida. O que separa o PS do BE e do PCP? Tudo!
    A pergunta a fazer deveria ser a seguinte: o que separa o PSD do BE e do PCP? Nada.
    Já houve um estudo que conclui que o PSD tem mais comunistas que o PCP, já para não falar dos orfãos do PREC português e dos que não foram à tropa e tiveram passagens administrativas e que estavam acantonados no MRPP, na FEC-ML, na AOC, na UDP, na LCI, no MDP e até oriundos do PRP-BR!
    Já para não falar da geração rasca – que agora assumiu o contrôle do PSD – e que mostraram o rabinho ao Ministro da Educação no tempo do Dr.Cavaco.
    Já ninguém se lembra que o então jovem líder da JSD, Sr.Passos, foi solidário com a «luta dos estudantes» de então.
    Não é por acaso que estamos agora todos à rasca…

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  11. MJRB's avatar
    4 Março, 2011 18:42

    A propósito: PPCoelho já disse qualquer coisinha sobre os resultados da ida de Sócrates ao regaço de Merkel ?

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  12. JS's avatar
    4 Março, 2011 18:49

    “O que Passos Coelho precisa de fazer – se para tanto tiver capacidade e talento –…”
    Não tem. Como não teve capacidade para galvanizar este eleitorado F. Leite e todos os (excelentes) bem intencionados que a precederam. Apenas mais do mesmo. Indiferênça institucionalizada, a mais de 50%.
    Não será tempo de abjurar a fórmula sebastiânica e experimentar um pouco de República?

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  13. JoseB's avatar
    JoseB permalink
    4 Março, 2011 19:07

    ««uma verdadeira alternativa de políticas para Portugal»
    ALTERnativa???
    GALVanizar o eleitorado?
    Com o Sítio em banca rota?
    Algum dos “blsfemos” acredita em ALTERnativas?
    A quem, à China?

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  14. NS's avatar
    4 Março, 2011 21:03

    Na sondagem divulgada hoje na SIC o partido que subiu mais foi… o PS. Parece que ainda há muita gente que não quer mudar nada.

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  15. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    4 Março, 2011 21:46

    O quê?
    Mudar para pior?
    Tá quieto, preto!

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  16. vmpn's avatar
    vmpn permalink
    5 Março, 2011 00:05

    O drama dos portugueses vai ser ter de escolher entre PPC e Sócrates ?Nada os diferencia,há um factor que os une “a incompetência”.Não há na politica portuguesa ninguém ao nivel de politicos como Sá Carneiro,Mário Soares,Alvaro Cunhal ,Amaro da Costa e Freitas do Amaral.Estes senhores tinham ideais,estivessemos ou não de acordo com eles,agora estes pelintras são sempre uns yes-man,do poder que verdadeiramente manda,”o poder economico”.O resto é conversa.

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  17. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    5 Março, 2011 07:44

    “Não há na politica portuguesa ninguém ao nivel de politicos como Sá Carneiro,Mário Soares,Alvaro Cunhal ,Amaro da Costa e Freitas do Amaral.Estes senhores tinham ideais,estivessemos ou não de acordo com eles,agora estes pelintras são sempre uns yes-man,do poder que verdadeiramente manda,”o poder economico”.”
    .
    Um texto típico da ignorância tuga. Se o poder económico é que manda a que é que se deve a dívida e a falência do País?
    Que tal ir ver onde o Estado gasta o dinheiro. É em idealismos.

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  18. NS's avatar
    5 Março, 2011 09:48

    Respostas típicas de quem não quer mudar nada.

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  19. PMP's avatar
    PMP permalink
    5 Março, 2011 12:09

    Este PSD não consegue apresentar uma alternativa ao PS porque a sua direcção politica não percebe como funciona a economia.
    .
    Sem crescimento económico o país não é viável e o PSD não tem ideia de como colocar a economia a crescer.

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