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‘Tiro ao Alvo’, Notícias Sábado, 5.III.2011 *

6 Março, 2011
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Regionalização, a última das promessas que se foi…

Estacionámos em tempos de pré-campanha eleitoral. Nesse contexto, o PS vai realizar o seu XVII Congresso – uma mera etapa do roteiro óbvio de engendrar mais um ajuntamento de dóceis beneficiários das prebendas estatais dos últimos seis anos para que estes, obedientemente, aclamem, em delírio aparelhado, José Sócrates. Não consigo deixar de pasmar com os públicos amanhados pela máquina socialista para ovacionar o actual primeiro-ministro. Estou mesmo persuadido que grande parte daquelas personagens está profissionalizada no aplauso e que brotam dos mesmos alfobres de que as televisões se vão valendo para preencherem as plateias nos seus inúmeros concursos. Julgo que estão ali apenas para bater palmas, maquinalmente, ostentando tautológicos sorrisos de felicidade inconsequente sem qualquer relação com a realidade, com os discursos ou com os protagonistas políticos circunstancialmente em exibição.

Os militantes do PS preparam-se para enaltecer Sócrates, porquê? Nestes últimos seis anos, Portugal abandonou o lugar estático em que permanecia desde 1995 e passou a andar aceleradamente para trás.

Pior, Sócrates especializou-se em incumprir compromissos. Não me consigo recordar de uma única promessa eleitoral que tivesse sido cumprida: agora, foi a vez da regionalização. Sócrates jurou fazê-la e estava no programa do Governo em 2005. No pífio esboço de reforma administrativa conhecido por PRACE, era garantido que se iriam concretizar as medidas que permitissem o seu avanço na legislatura seguinte. Nas eleições de 2009, Sócrates reiterou essa promessa e colocou-a no programa do Governo. Já depois disso voltou a sustentar a sua indispensabilidade para que terminassem as desigualdades entre as várias regiões do País – as mais dramáticas de qualquer nação europeia.

Agora, na moção que vai apresentar a um Congresso previamente domado, diz que não há condições para apostar na regionalização. Depois, avança com mais uma série de medidas avulsas, desconexas, algumas das quais o próprio PS já tinha atacado, com o intuito despudorado de embalar as consciências dos socialistas que ainda se dizem regionalistas.

Nem mesmo esse esforço débil valeria a pena – este PS já não tem regionalistas que se vejam. Aliás, já inexistem ideias políticas naquele agregado de apoiantes de Sócrates – em boa verdade, no PS já nem sequer há socialistas: apenas ‘socratistas’, ou seja um acervo de pessoas que largou todas as bandeiras políticas com que se destacaram em nome de uma paixão desvelada pelo poder. Os dirigentes do PS que está prescindiram de uma réstia de pensamento próprio em prol dos interesses tácticos e pessoais do líder.

Duvido mesmo muito que algum socialista que ainda dispõe de permissão vertical para se dizer regionalista venha a terreiro contradizer o chefe. Infelizmente, pelo contrário…

 

O Governo mais centralista desde o Estado Novo

 

Os fundos europeus foram gizados para corrigir os desequilíbrios entre as várias regiões dos Estados – os centralistas que nos têm governado viraram o bico ao prego, fazendo com que esse dinheiro acentue as desigualdades em nome de uma burla designada por «efeito difusor». Arvorando essa trapaça, o Governo já desviou cerca de 173 milhões para a região mais rica deste pobre País (que está proibida de receber fundos de coesão por ter excedido a média de riqueza europeia).

Entretanto, contrariando o mito, os números mostram que as autarquias passaram para um excedente de 81 milhões, diminuindo a despesa em 7,1% e aumentando a receita em 2,5%. Se o Estado central imitasse o poder local já tínhamos saído da fossa em que os maus Governos centralistas nos espetaram.

 

* ‘Tiro ao Alvo’, ontem na Notícias Sábado

12 comentários leave one →
  1. MJRB's avatar
    6 Março, 2011 23:36

    CAbreu Amorim,
    Embora eu tenha enormes (e penso que consubstanciadas) dúvidas sobre a Regionalização, este seu texto é óptimo !
    Sobre os “socialistas” tugas que aplaudem, que indefectivelmente apoiam, que defendem Sócrates e os governos desde 2005, se fossem tunisinos defenderiam Ben-Ali, se egípcios apoiariam Mubarak, se líbios ‘morreriam’ por Gaddafi.

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  2. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    7 Março, 2011 00:27

    E se fossem alarvios apoiavam Cavaco…..

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  3. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    7 Março, 2011 00:35

    Galliano é um artista e o seu dever é provocar as cabeças ocas e formatadas.
    O filho mais novo do Principe Carlos, herdeiro do trono da Grã-Bretanha, apareceu numa festa uniformizado à SS e com a suástica no braço esquerdo, e pelo que sabemos, nem o pai o deserdou nem o Parlamento britânico o repudiou.
    Nesta sociedade do «politicamente correcto» já não há lugar para os artistas que não alinhem com determinados lobbies mediáticos-politicos-industriais.

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  4. MJRB's avatar
    7 Março, 2011 00:35

    …E como são interesseiros ou indigentes, seguem qualquer “arlindo da costa” local ou regional.

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  5. MJRB's avatar
    7 Março, 2011 00:44

    Arlindo-das-oo:35,
    “ora”, “até que enfim”, um seu comentário que me merece apoio !
    (Galliano ‘pecou’ ao não incidir a provocação na actual política de Israel, dos judeus ortodoxos. ‘Recuou’ ao extermínio oredenado por Hitler, e aí, estragou tudo).

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  6. Leme's avatar
    Leme permalink
    7 Março, 2011 04:06

    Finalmente, um texto excelente do CAA.
    O resto é lixo dos que nem ratitos são e tanto queriam ser.
    Quando é que acaba o pessoal que não sabe dizer e só contribui para o estabelecimento cada vez mais perverso e idiota dos socialistas e da cambada socretina.
    Esta situação só acaba quando o Povo – mas, por este andar, qual povo? – se levantar e acabar com esta chungaria, pior, bando de ladrões.

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  7. Hawk's avatar
    Hawk permalink
    7 Março, 2011 05:19

    Parafraseando o Lenine, a política é o ópio dos povos. Ou, dito de outra maneira, a política é a verdadeira religião do nosso tempo.

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  8. Piscoiso's avatar
    7 Março, 2011 07:03

    A política é feita por políticos, com as suas liturgias próprias.
    Uns com missa aos sábados, outros com missa ao domingo.

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  9. AL's avatar
    7 Março, 2011 11:09

    Não é preciso ir à “missa” para ver que não se trata de “REGIONALIZAÇÃO”, mas, sim, de uma “ARREGIMENTAÇÃO”.
    Há que pensar no que deu o “descababro” económico provocado polas “autonomias espanholas”.

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  10. Motinha's avatar
    Motinha permalink
    7 Março, 2011 13:55

    Caro CAA, a regionalização dá muito trabalho. É preciso fazer as coisas de forma a garantir o poder. Por isso é que o PS está há tanto tempo a «estudar o assunto»…estudassem eles os doss

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  11. J. Madeira's avatar
    J. Madeira permalink
    7 Março, 2011 18:16

    O prof. C.A.Amorim até parece que ficou pasmado do pensamento, para evitar essa sensação
    incómoda, deveria aprofundar o seu conhecimento sobre o bom Povo português e, os seus
    lídimos representantes no tipo de democracia em que vamos vivendo…até quando ?
    Como muito bem evidência, a propósito dos municípios, em época de cortes e redução de
    despesas, Sócrates tomou a decisão acertada ao remeter para as calendas a regionalização cujo,
    efeito maior seria a criação de mais uns poleiros!

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  12. PMP's avatar
    PMP permalink
    7 Março, 2011 23:39

    Portugal deve continuar no seu caminho único na Europa e manter um estado centralista.
    .
    Só com o este centralismo esclarecido poderemos manter o elevado crescimento económico, a boa qualidade dos serviços de educação e saúde, o baixo deficit publico, a boa distribuição de rendimento entre a capital e o interior e a boa balança comercial.
    .
    A regionalização só trouxe a pobreza e o caos nos outros países europes. Nunca devemos passar pelo mesmo.

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