Preferia não ter razão (I)*
Não há evento desportivo na neve em que não apareça uma abnegada alma provinda de terras mais ou menos tropicais. Em geral o lugar que conseguem é inversamente proporcional à simpatia que despertam. Há anos um destes participantes tropicais demorou tanto tempo a fazer a prova de esqui que foram à procura dele, não se desse o caso de se ter perdido.
Também não faltam detalhes sobre as dificuldades que estes atletas passam para financiar essa sua obstinação – um queniano terá vendido não sei quantas vacas para ir a uma destas competições – mais as descrições sobre os treinos de esqui na terra e no alcatrão a que se submetem antes de chegarem à neve propriamente dita. Pois acho que é tempo de nos deixarmos de sobrancerias e risinhos perante estes habitantes dos trópicos que perante a neve se imaginam austríacos, pois muito mais bizarra que a existência de uma Federação de Esqui na Etiópia é a mania que nos deu de há alguns anos a esta parte para organizarmos desfiles de Carnaval como se estivéssemos no Brasil. Na verdade, nem a Etiópia nem o Quénia se propõem organizar campeonatos de esqui. Simplesmente alguns dos seus cidadãos vão para destinos onde a neve existe. Já nós fazemos precisamente o inverso: comportamo-nos como se tivéssemos o clima do Rio de Janeiro e usamos dinheiros públicos para custear uns corsos carnavalescos cujos adereços condenam à pneumonia qualquer um dos participantes.
Para acabar com esses tristes desfiles de gente enregelada e devidamente patrocinada pelas autarquias para fazerem de conta que são foliões, talvez não fosse má ideia libertar o Carnaval do poder político, esconjurar de vez essa estranha religião que tem como dogma a crença na Primavera eterna e sobretudo perceber que o Carnaval não nasceu no Brasil e que durante séculos e séculos foi festejado por gente tão animada quanto agasalhada.
*TEXTO ESCRITO NO CARNAVAL DE 2010 MAS QUE PODERIA TER SIDO ESCRITO EEM 2008, 2007… E COMO SE VÊ ACTUAL EM 2011

Concordo em tudo menos em três coisas:
– Pode-se esquiar na neve tanto no Quénia como na Etiópia.
– Pode-se esquiar sem neve: há competições no Verão e nem todas são em glaciares.
– Austríaco tem acento.
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E também se pode sambar.
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perceber que o Carnaval não nasceu no Brasil e que durante séculos e séculos foi festejado por gente tão animada quanto agasalhada
Nem mais. Permita-me a complementação (embora o assunto seja de lana caprina):
http://www.douronet.pt/default.asp?id=59&mnu=59
http://caretosdepodence.no.sapo.pt/
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Bem um homenzinho começou por desenhar estrebarias e agora sente-se sozinho a puxar por Portugal.
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Muito bem. Escreveu tudo o que eu penso sobre o tema. Perfeito.
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Apoiado.
Muito bem.
Faz favor.
Muito obrigado.
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Subscrevo e assino por baixo.
É por demais deprimente…
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Boa reportagem hoje editada pelo Público sobre os caretos transmontanos.
—-
Para além de algumas autarquias que apoiam carnavais abrasileirados e outros irrelevantes, há também as direcções regionais de turismo.
Muita gente que está nas autarquias e nessas regiões de turismo, têm uma cultura formatada não só no facilitismo, mas também nas doses-e-mais-doses anuais de programas televisivos anestesiantes. E daí não saem nem querem sair.
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muito bem,apoiado,bis,bis!
mas vá lá faça um sorriso mulher! ou tem receio de deixar de parecer inteligente?!
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Esperem aí. Pára tudo !!
Mas onde é que ficam “os mercados” ? Então as pessoas não podem ser livres de escolher carnavais abrasileirados, de que eu também não gosto ? É obrigatório ver caretos ?
Onde fica a liberdade individual?
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Sr. Coiso:
O seu comentário das 14h43m é alguma indirecta ao meu comentário elogioso das 14h07? É que não percebo nada do que escreve.
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Pior do que haver Carnaval à brasileira (com o coiro de fora) em Portugal, é haver em Portugal um Partido «Social-Democrata» que se afirma de «direita», que diz querer derrubar o governo actual, mas que faz tudo, mas tudo, para apoiar o actual Governo e o actual primeiro-ministro!
Há Carnaval mais interessante do que este?
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