Os jovens e a política [e a geração do 25 de Abril]*
*Publicado no DN a 3 de Maio de 2008
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A geração que fez o 25 de Abril politizou todos os aspectos da vida social e económica. Viu em cada decreto-lei, em cada greve e em cada novo direito social uma conquista e um progresso. Os membros desta geração não foram capazes de compreender que a luta política é, na melhor das hipóteses, um jogo de soma nula em que cada direito conquistado por uma parte da sociedade é obtido à custa do sacrifício de outra parte da sociedade ou das gerações futuras.
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Grande parte do progresso económico e social atingido ao longo dos últimos 30 anos é artificial. Foi conseguido através da progressiva atribuição, por decreto, de direitos sociais à geração que fez o 25 de Abril. Esta geração beneficiou, como nenhuma outra antes ou depois, de empregos vitalícios, salários acima das respectivas qualificações e pensões de reforma muito acima das respectivas contribuições. Os membros desta geração de privilegiados chegaram sem mérito nem trabalho a posições que nunca teriam alcançado se a vida pública não tivesse sido politizada pela revolução. Os chamados “direitos adquiridos” da geração do 25 de Abril estão a ser pagos pelas novas gerações. Os jovens não têm emprego vitalício nem reforma garantida, mas são forçados a trabalhar para sustentar os privilégios das gerações mais velhas.
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A intervenção do Presidente da República nas comemorações do 25 de Abril criou a ideia de que os jovens não se interessam pela política partidária. Este alegado desinteresse incomodou a geração de políticos que fez o 25 de Abril. A cultura revolucionária destes políticos impede-os de perceber que a excessiva politização da vida pública não é um valor a promover mas um vício a evitar. As sociedades politizadas premeiam a habilidade política e as demonstrações de força na rua. As sociedades despolitizadas premeiam o mérito individual, o trabalho e a iniciativa empresarial. O eventual desinteresse dos jovens pela política partidária é um bom sinal. É um sinal de que a sociedade falhada construída pela geração do 25 de Abril pode ter os dias contados.

Uma pena que o João não escreva mais no DN. Este artigo sobressai pelo conhecimento e visão que demonstra, ao contrário da maioria dos artigos que não passam de meras opiniões, tal como conversa de donas-de-casa.
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Já Arthur Clarke dizia que a religião e a políticas são coisas obsoletas.
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Uma coisa eu não percebo nesta luta. Não acredito que haja tantos viver dos recibos verdes, como eu, e que se queixem repetidamente é da precaridade? Como é possível que aguentem a “canga” de cerca de 74% de impostos e taxas?! Fogem aos impostos ou não sabem matemática. Pior: não dão valor ao dinheiro que ganham com esforço. Ou melhor: não precisam.
Para ter disponíveis 740 euros líquidos mês tenho de trabalhar 1740 euros. E acreditem para um freelancer é muito difícil acumular as horas de trabalho e ainda mais encontrar clientes dispostos a pagar. São 740 euros por mês mesmo, não os 14 meses que tantos têm como garantidos :
• Da factura 1740€ , 400,2€ são IVA 23%. Ou seja 1339,8€ são (quase) seus.
• Dos 1339,8€ ficam retidos na fonte 288,057€ (IRS 21,5%): levo para casa 1051,74
• Dos 1051,74€ com que fico, pago 311€ à Segurança Social (SS, 29,6% sobre 70% rendimentos)= 740€.
Fico com 740€ finalmente meus, todinhos, para viver. Do lado do Estado ficaram 1000€ limpinhos. Claro que se fizer compras terei de pagar cerca de 20% impostos em tudo o que consumir. E guardar algum para pagar o IMI, imposto automóvel, … mas não me apetece pensar nisso agora.
*23% IVA – Se factura partir de 10.000 ano, ou seja desde que facture 833 euro mês. E é mês mesmo, um de 12 meses, não os 14 meses com que muitos contam.
*21,5 % IRS retido na fonte. Valor mínimo de retenção: só pode subir.
*29,6% -Taxa contributiva SS sobre 70% dos rendimentos, ou seja sobre mais do que resta após reter o IRS
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O seu artigo é assertivo qdo os previligiados que desmontaram o Estado Novo e se montaram no Novo Estado : os filhos e netos das elites salazaristas ( O PARTIDO SOCIALISTA ) + a organização que tudo controla a nível do Aparelho de Estado, Justiça e Finanças ( A MAÇONARIA ) .
Mas não é certo que estes tais “revolucionários” se sintam desconfortáveis com a manif dos “árasca” , afinal saudosistas de um tempo que já lá vai … e a falta de vergonha é muita …
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Sobre a entrada de João Miranda:
Seria necessário fazer-se (já devia ter sido há muito) a revisão do cálculo das pensões atribuídas, conhecendo-se as trafulhices que foram “legalmente” feitas! Para além dessa injustiça, há uma injustiça maior: quando se determina o corte “cego” das pensões, ficam a perder muito todos os que têm (tinham) as suas pensões correctamente calculadas, enquanto que muitos outros perdem parte daquilo a que já não tinham direito. Essa revisão não é uma tarefa difícil, mas poderá ser impossível por mexer com inúmeros interesses instalados, a todos os níveis. Creio que não haverá coragem para tanto. Uma coisa é certa: enquanto isso não se fizer, cada vez mais se cava o fosso das desigualdades e injustiças.
Sobre o comentário de Je:
A realidade dos números apresentados mostra a voracidade de um Estado que só pretende sobreviver à custa de quem trabalha, mesmo tendo-o na pior das condições. Há um exagero desmedido nas percentagens impostas pelo Estado (com que retorno?), o que o torna num “patrão” explorador, e o trabalhador num escravo.
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Correcção: a segurança social sobre 70% do rendimento dá 277. Ou seja, fico com 774 euros líquidos. Estava a roubar uma refeição ao estado, que fica assim com 966 do meu esforço.
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Pois Manuel Figueiredo, ou seja mesmo a recibo verde, acabo sendo mas é um trabalhador do estado pois é para ele que mais trabalho…
Glup!
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óh god é tudo tão verdade neste post.
medo
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Genial post. Certeiro, simples e sem rodeio.
Parabéns!
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“Correcção: a segurança social sobre 70% do rendimento dá 277. Ou seja, fico com 774 euros líquidos.”
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não deveria ser antes 1051,74 x29,6×0,7 = 217,9 euros, o que ainda é uma batelada em segurança social, 20% do rendimento!
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Tem razão Tina, é o que dá a raiva e fazer contas à pressa:
Para conseguir dispor de 833€ líquidos num mês tenho de (conseguir) passar recibos no valor de 1740 € .
906,181€ são entregues ao estado e fico com a diferença (833€ )
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” Os jovens não têm emprego vitalício nem reforma garantida, mas são forçados a trabalhar para sustentar os privilégios das gerações mais velhas”.
Pois é, o que os miudos ganham hoje quando começam a trabalhar é metade do que nós ganhávamos em 1990 e têm o dobro dos impostos.
Há dias, conheci um antigo funcionário de uma Câmara Municipal, agora com 60 anos, com o 9º ano, que tinha uma reforma líquida mensal de €. 1.600,00. Em 2005, a Caixa Geral de Depósitos estava a contratar Gestores de Empresas já com 2/3 anos de experiência após o estágio por €. 850,00/mês. De quanto jovens precisamos, a fazer descontos mensais sobre €. 850,00, para pagar a pensão de reforma líquida do ex-funcionário da Câmara?
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Brilhante! Obrigado, João Miranda, pela clareza e assertividade. As suas palavras abrem um espaço de discurso muito saudável e necessário – o do direito à não politização, o do direito a ser livre dos decretos de quem acontece apoderar-se do “mecanismo do poder”.
Surge a pergunta, como é que a parte não-partidária da sociedade se livra da coerção socialista (esquerda ou direita, não interessa.)?
Uma coisa é certa: gostaria muito, e apoiaria da forma que pudesse, quem (mais)publicamente (ou politicamente) afirmasse o que afirmou… e propusesse uma redução do Estado e dos privilégios.
Mais uma vez agradeço a luz nas suas palavras… Continue a escrever!
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Numa Junta de Freguesia onde presto serviços, no sector onde vou (informação ao público), há 5 funcionárias e uma chefe. Destas, apenas duas é que efectivamente trabalham, e não é em stress. Digamos que atendem 10 pessoas por dia, as duas. As outras “arrastam literalmente o cú pelas paredes”, usam os telefones para questões pessoais, folheiam jornais, vêm revistas, saem para café. Nenhuma destas senhoras ganha menos de €. 800,00/€. 900,00 líquidos, 14 vezes por ano. São perfeitamente desnecessárias à Autarquia e ao Estado
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Por política deve entender-se não a defesa de interesses de grupos/partidos, mas sim o debate em torno da gestão da coisa pública. É isto que cada vez mais gente reclama, fugindo das lógicas aparelhistas e afirmando-se como os melhores representantes dos seus próprios interesses. “Sociedades despolitizadas” é coisa que não existe. O que existem é sociedades que permitem uma maior participação dos cidadãos e sociedades que não permitem ou manipulam. A nossa está neste último caso.
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Ana,
No meu caso não sou jovem -entrei nos enta. E desde jovem que sinto que as palmadinhas nas costas, o cartãozito jovem e a atençãozinha “aos problemas dos jovens” foi, e é, o maior engodo para menorizar as questões dos adultos assim epitetados. Que acham graça ao título mas não percebem quasnto estão a ser toureados.
Portanto metam os “jovem” onde quiserem. Estou a falar de facturar, receber dinheiro em troca de trabalho. Da essência da liberdade e do tão falado empreendedorismo que dizem desejar mas que é assim tão sufocado.
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…Enquanto ao lado acontece isto http://publico.pt/1484695
“Edifício do Estado guardado pelo Exército está a ser vandalizado e roubado em Queluz
14.03.2011 – 12:03
O imóvel, construído de raiz e inaugurado em 2007 para acolher serviços da ex-JAE, custou 1,5 milhões de euros e foi abandonado há dois anos. Assalto era esperado desde o Verão passado.”
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Os que protestam, a maioria deles quer a continuação do soci@lismo, Aristocrata de preferência .
Basta ouvir declarações inacreditáveis como “somos a geração mais instruída”.
Poucos são como o Je acima.
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Muito bom.
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O Presidente Cavaco, também ele, foi um priveligiado da geração do 25 de Abril.
Também ele tem usufruido duma boa «porrada» de «direitos adquiridos», a começar pelas boas reformas que o establishente lhe concedeu e concede…
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Certamente que o foram (ainda são) demasiados os previligiados em resultado do 25 de Abril, mas daí até enfiar uma geração inteira no mesmo saco, calma lá… O autor do texto, talvez por desconhecimento prático e abrangente das coisas que escreve, acaba por ser cruel com muita gente. Eu que era um jovem militar (obrigatório) no 25 de Abril, nunca tive qualquer previlégio em Portugal, nem uma consulta médica. Tenho sido emigrante uma vida inteira, Portugal a mim nunca me deu nada, bem antes pelo contrário, eu dou. Geração do 25 o quê? Corrige a mira para os politicos profissionais e outros que tais… Falam e/ou escrevem muito, mas com fraca pontaria.
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