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“O Estado tem de sair da frente!” *

29 Maio, 2011
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«Nunca conheci um empresário que não se lastimasse do infindável labirinto da burocracia que é necessário superar para se conseguir qualquer realização entre nós. Os que ainda almejam serem empreendedores são fustigados com regras confusas e contraditórias, exigências incompatíveis com o fim pretendido e, quase sempre, tragicamente desfasadas da realidade. Em todos os níveis da Administração, sobretudo no Estado Central, vigora uma máxima absoluta que ensina que «se podes complicar, deves fazê-lo o mais possível». E a lógica placidamente instalada no Estado é mesmo essa: complicar, obstruir, engendrar embaraços, estorvar, até que, por fim, o putativo candidato a empreendedor desista. Ou, melhor ainda, se converta ao Evangelho do socialismo e se torne em mais um subsídio-dependente, que integre um dos milhares programas de suposto incentivo público, daqueles que deixam tudo no marasmo que já está mas que possuem a indesmentível serventia de agradar às estatísticas europeias

Muito se tem falado de «empreendedorismo» – a palavra entrou de rompante na moda, tornando-se um chavão mediático constantemente repisado ao qual todos asseguram a conveniência sem, contudo, na maioria das vezes, lhe imaginar o real significado. Dos vários quadrantes políticos surgem apelos ao dito, sobretudo por parte de pequenas e médias empresas que se mostrem capazes de originar oportunidades e propagar empregos.

Ouço dizer que o português é naturalmente inovador e arrojado.

Acontece que muitas de essas histórias não costumam entrar em linha de conta com o factor mais desencorajador de qualquer laivo de iniciativa que os portugueses consigam almejar: o Estado.

Em Portugal, o Estado parece ter como missão estratégica a perpétua e constante vontade de atrapalhar o desembaraço dos cidadãos e, logo depois, afogá-los em impostos – entretanto, prega lições esvaziadas de «empreendedorismo» aos mesmos a quem inabilitou de lançarem actividades próprias…

Nunca conheci um empresário que não se lastimasse do infindável labirinto da burocracia que é necessário superar para se conseguir qualquer realização entre nós. Os que ainda almejam serem empreendedores são fustigados com regras confusas e contraditórias, exigências incompatíveis com o fim pretendido e, quase sempre, tragicamente desfasadas da realidade. Em todos os níveis da Administração, sobretudo no Estado Central, vigora uma máxima absoluta que ensina que «se podes complicar, deves fazê-lo o mais possível». E a lógica placidamente instalada no Estado é mesmo essa: complicar, obstruir, engendrar embaraços, estorvar, até que, por fim, o putativo candidato a empreendedor desista. Ou, melhor ainda, se converta ao Evangelho do socialismo e se torne em mais um subsídio-dependente, que integre um dos milhares programas de suposto incentivo público, daqueles que deixam tudo no marasmo que já está mas que possuem a indesmentível serventia de agradar às estatísticas europeias.

A protecção estatal da agricultura

Há dias, o presidente da República almoçou com trinta jovens agricultores para alentar a «prioridade ao sector agrícola». Fê-lo no Palácio de Belém, lugar sobejamente adequado para se dissertar acerca do tema. Conheço muitos jovens (e outros que já o são menos) que tentam, quase quixotescamente, aguentar a sua actividade agrícola contra as contínuas intempéries da inépcia estatal.

Por exemplo, na produção vinícola. Em Outubro de 2008, o Governo de Sócrates deu à luz o DL n.º 209/2008 que rege a actividade industrial – consiste em mais uma chusma de regras vertidas de cima para baixo, sem qualquer consonância com o País que somos.

Na prática, aquele diploma impede que muitos pequenos e médios produtores vinícolas possam comercializar o vinho que foi trabalhado em adegas existentes nas casas onde os seus proprietários habitam (art. 41.º). No Minho, no Douro, de Norte a Sul, resistem inúmeros agricultores que estão nessas condições que são as tradicionais nas regiões de pequenas propriedades. O Governo, que só se preocupa com as multinacionais, desprezou essa providencial diferença da nossa agricultura, foi cego e surdo a todos os apelos lançados e, hoje, a esmagadora maioria das nossas adegas familiares estão em situação ilegal, à espera que a ASAE ou outra autoridade com zelo burocrático exacerbado as venha castigar.

Ou seja, o mesmo Estado que transborda «empreendedorismo» nos discursos parece apostado em varrer do mapa milhares de pequenas empresas que ainda mantêm o Alvarinho e outras marcas de excelência como parte do melhor que ainda se consegue fazer neste País – apesar do triste Estado que temos e em que ainda estamos.

Carlos Abreu Amorim

Candidato a deputado independente nas listas do PSD

* Ontem, revista Notícias Sábado (sem link directo)

10 comentários leave one →
  1. Gonçalo's avatar
  2. JoséB's avatar
    JoséB permalink
    29 Maio, 2011 09:46

    Isto, esta aberração controleira, ou pior, protectora dos grandes comerciantes,
    da ignorância ou da preguiça instalada nos gabinetes,
    sucede com empreendedores e com particulares,
    no interior e nas cidades.
    Uma grossa cortina de papel, desceu sobre o povo da Dinamarca lusitana.

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  3. JoséB's avatar
    JoséB permalink
    29 Maio, 2011 09:48

    Acabo ler o post do Gonçalo.
    Mesmo na diagonal, excelente (diz este antigo socialista, eleitor)
    Cpts

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  4. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    29 Maio, 2011 09:57

    O que acontece é que os «empresários» portugueses gostam muito de mamar. E de preferência com as duas mãos.
    Se recorrem a programas e a incentivos é por que querem. Ninguém os obriga.
    Conheço muito empresário que só paga impostos e não pedem nada nem andam a cramar nas televisões.
    Mas há muitos – principalmente os grandes! – que acham que os cofres públicos são deles e que ainda fazem favor à sociedade quando «criam» alguns postos de trabalho.
    Todos nós sabemos como eles «criam» valor a partir do ar.
    Os hiper-merceeiros recebem mais do Estado e dos contribuintes do que pagam impostos. Isto já está provado.
    Quem quiser ser empresário, arriscar, trabalhar e empreender, pode muito bem mandar os politicos para a puta que os pariu.
    Mas quem quiser continuar a mamar, vai dizer que a culpa é do Sócrates, como antes era do Santana, como mais tarde vai ser do Portas!
    Eu conheço bem a fauna dos «liberais» e «empreendedores» tugas!

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  5. silva's avatar
    silva permalink
    29 Maio, 2011 10:01

    A DGERT tem por missão apoiar a concepção das políticas relativas ao emprego e formação profissional e às relações profissionais, incluindo as condições de trabalho e de segurança saúde e bem-estar no trabalho, cabendo-lhe ainda o acompanhamento e fomento da contratação colectiva e da prevenção de conflitos colectivos de trabalho e promover a acreditação das entidades formadoras.

    Tudo uma grande mentira, as provas são dadas com o despedimento colectivo de 112 pessoas do CASINO ESTORIL
    “Para Os Trabalhadores da empresa casino estoril no final se fará justiça, reconhecendo a insustentabilidade de um despedimento Colectivo oportunista promovido por uma empresa que, para além do incumprimento de diversas disposições legais, apresenta elevados lucros e que declara querer substituir os trabalhadores que despede por outros contratados em regime de outsoursing”.

    Quem Investiga esta Corrupção! Os bares das salas de jogo foram concessionados a um Director da empresa, que colocou um testa de ferro(EX EMPREGADO DA EMPRESA) a geri-los.
    O Tamariz e a discoteca Jézebel foram entregues á companheira do sr Dr Assis. O Du art Louge, vai brevemente passar para as mãos do genro do sr Dr Assis, mas como o genro é assessor da Administração, vai mais um “testa de Ferro” (desta vez é um cunhado do Dr Assis) gerir o espaço. Depois anda por lá um ex secretário de estado a receber um vencimento na ordem dos 18 mil euros mês, a fazer algo que ninguem ainda entendeu, chamam-lhe director Geral… lol. O Casino Estoril transformou-se num Cartel. O pudor e a vergonha desapareceram, aquilo é um espaço a saque. A BANDIDAGEM E A GATUNAGEM por ali é pura e dura. Investigar? Toda a gente sabe o que se passa. Vivemos é num País de faz de conta, onde se despedem 112 pessoas honestas e cumpridoras, para que estes parasitas continuem o seu saque.

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  6. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    29 Maio, 2011 10:06

    O Sócrates também tem culpa do que se passa no Tamariz e na Jezebel!
    De facto, isto é uma pouca vergonha!

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  7. exiladopt's avatar
    Exilado permalink
    29 Maio, 2011 10:14

    Como qualquer pessoa que já tenha posto os “pés no mercado” sabe as duas principais dificuldades de qualquer potencial empresário são:
    – conseguir um empréstimo de uma banca que não quer dar um cêntimo para algo que não seja crédito ao consumo ou para habitação.
    – mercados pouco transparentes e concorrenciais.

    Ou seja: os principais responsáveis pela falta de dinamismo empresarial em Portugal são os próprios agentes económicos privados.

    Mas o evangelho do comunismo bancário chama a esta realidade blasfémia por isso os devotos camaradas dedicam-se à colecção de bodes expiatórios.

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  8. Ecotretas's avatar
    29 Maio, 2011 10:59

    Para quem quer compreender a burocracia, o filme de 3 minutos que acabei de colocar em

    http://ecotretas.blogspot.com/2011/05/burocracia.html

    é imperdível!

    Ecotretas

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  9. SR's avatar
    29 Maio, 2011 11:00

    O” empresário” Fernanda Arlindo Câncio não tem razões de queixa.
    O empreendedorismo dele é exactamente o inverso da sua inteligência.
    Mas tudo bem, desde que “exporte” tremoços, a nossa economia avança como o seu amado deseja.

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  10. J. Madeira's avatar
    J. Madeira permalink
    29 Maio, 2011 22:38

    Contráriamente ao que quer dar a entender, a culpa da situação não está no lado do Governo!
    As dificuldades sentidas por esses produtores, são da inteira responsabilidade dos deputados
    dos seus distritos eleitorais, que mamam do vinho, especialmente, o Alvarinho e, não mexem
    uma palha para resolver os problemas! Coisa que o candidato liberal C.A.Amorim tem a obri-
    gação de saber, espera-se que quando lá chegar o problema seja de imediato resolvido!!!

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