Saltar para o conteúdo

uma tragédia grega

28 Junho, 2011
by

Quando, aí há uns dias, citei Mises, lembrando que ele dizia que “Um estadista que se oponha à opinião pública está condenado ao fracasso” e acrescentei ser esse “o problema” da governação em Portugal, estava naturalmente a imaginar que o programa do novo governo do PSD e do CDS não andaria muito distante da lógica proteccionista que paira maioritariamente na mentalidade nacional. Na verdade, nada legitimaria supor que a queda do governo de Sócrates e a sua subsituição pelo PSD de Passos Coelho tivessem subjacentes a saturação dos portugueses com a omnipresença do estado e do governo nas suas vidas, mas tão só e apenas a sua desilusão com o fracasso do estado governado por Sócrates. E que queixas têm eles do antigo primeiro-ministro que elegeram por duas vezes consecutivas? Que ele não lhes deu emprego, estabilidade, crescimento económico, desenvolvimento e progresso, ao contrário do que lhes prometera e eles consideravam ser sua obrigação. Os portugueses continuam maioritariamente convencidos que essas são as atribuições principais de um estado e do governo, e queixam-se de Sócrates por não lhes ter facultado esses seus “direitos”. Os portugueses querem, em suma, mais estado e mais governo e não o contrário, e, por conseguinte, o programa do novo governo muito dificilmente contrariaria essas expectativas. Assim, a não ser que Passos – e só Passos, porque apenas ele poderá liderar uma verdadeira reforma do país – se venha a demonstrar um excepcional e preclaro governante, daqui por um ano estaremos como a Grécia, ou pior, já que seremos o segundo da fila e o dinheiro para mais empréstimos é capaz de já não existir nessa altura.

21 comentários leave one →
  1. trill's avatar
    trill permalink
    28 Junho, 2011 21:59

    O estado tem de planear e regular. o estado tem de educar e aplicar a justiça. o estado tem de policiar para evitar que uns desbaratem a riqueza de todos.

    Gostar

  2. trill's avatar
    trill permalink
    28 Junho, 2011 22:08

    O estado pode ser empresário – em momentos excepcionais – desde que esses empremdimentos criem riqueza e bem estar colectivo. Actualmente o Estado tem de ser o exterminador que vai acabar com o polvo, ou parte dele, que suga a riqueza que não temos. Não é justo pagar-se para a RTP que não vêmos. Não é justo pagar-se para institutos e fundações que pouco ou nada aportam ao bem estar geral. É injusto manterem-se PPP´s e concessões que só beneficiam os privados que foram escolhidos para investir com lucros e sem riscos. A TAP deve ser privatizada, não podemos permitir que a TAP subverta a competitividade nos transportes aéros que só tem favorecido os consumidores. O mercado das telecomunicações tem de ser totalmente desmonopolizado: estamos a pagar mais que todos os europeus para estarmos aqui a escever na internet. http://psicanalises.blogspot.com/

    Gostar

  3. tiago's avatar
    tiago permalink
    28 Junho, 2011 22:09

    planear o que?a sua vida? a educação dos seus filhos? a sua comida? os cafés? os restaurantes? as empresas tecnológicas? as casas? os filmes que vai ver? quem sabe melhor onde investir do que as pessoas dentro da área, com dinheiro delas mesmo, e não dinheiro retirado do trabalho das outras pessoas? porque se continua a acreditar que um planeamento centralizado é melhor que um planeamento disperso? porque se continua a acreditar que se deve retirar grandes quantidades de dinheiros de uma área e apostar noutra área e que no final vai tudo correr como o previsto? a economia é como a metereologia. não é previsível! não se conseguem criar empregos do nada só porque se é bom a matemática! querem ser responsáveis pelo vosso dinheiro e pelo vosso trabalho, ou preferem entregar o dinheiro a políticos e burocratas para eles aplicarem no que naquela altura acham melhor? não vêm que é isso que nos trouxe aqui? planeamenteo centralizado de politicos e dos grandes interesses ligados à politica?quando é que vão aprender?

    Gostar

  4. rui a.'s avatar
    rui a. permalink
    28 Junho, 2011 22:12

    “porque se continua a acreditar que um planeamento centralizado é melhor que um planeamento disperso?”
    Esse é, na verdade, o grande enigma. Eu acho que a maior parte das pessoas não acredita nisso. Só espera que lhes tratem da vida. Obrigado pelo comentário.

    Gostar

  5. Piscoiso's avatar
    28 Junho, 2011 22:24

    “Os portugueses isto”
    “Os portugueses aquilo”
    De onde raio lhe vem a legitimidade?

    Gostar

  6. Pável Rodrigues's avatar
    Pável Rodrigues permalink
    28 Junho, 2011 22:25

    Concordo. Excelente post. E premonitório. “A construção da linha de alta velocidade Lisboa-Madrid é apenas suspensa”. Como se temia, o governo Passos Coelho não teve coragem (ou zona de manobra) para dar um tiro definitivo neste elefante branco.
    Mais tarde ou mais cedo alguém voltará a ressuscitar o velho paquiderme, para gáudio da Sr. Merkel e dos cofres alemães. É por estas e por outras que o melhor seria, julgo eu, começar desde já a preparar a nossa saída do Euro, antes que os do “Clube dos Ricos” nos corram a pontapé.

    Gostar

  7. rui a.'s avatar
    rui a. permalink
    28 Junho, 2011 22:32

    Caro Piscoiso,
    Já algumas vezes vc. se saiu com essa da “legitimidade”. A palavra, e o conceito que lhe subjaz, está mal empregue, porque ela, em política, se refere à forma como se adquire e exerce um cargo público, quando eu, por aqui – pobre de mim! -, longe dessas ansiedades, me limito a comentar o que me parece estar a ver, exactamente como você também faz por estas caixas de comentários. Logo, para se dizer que os portugueses são maioritariamente isto ou aquilo, não é necessário ter legitimidade para nada. Talvez seja necessário demonstrar o que se diz, o que no caso das afirmações em causa não é particularmente difícil, tendo em vista os resultados das eleições legislativas dos últimos anos e, já agora, as declarações dos políticos que nos governam e as políticas que têm posto em causa. Para concluir que são maioritariamente socialistas e intervencionistas, não é necessário mais nada.
    Cumps.,

    Gostar

  8. trill's avatar
    trill permalink
    28 Junho, 2011 22:33

    ” quem sabe melhor onde investir do que as pessoas dentro da área, com dinheiro delas mesmo”
    E então o Estado nem sequer deve regular, n é? Mas depois, se as coisas derem para o torto, é religiosa obrigação do estado salvar as empresas dessas pessoas que sabiam tão bem como tudo fazer, n é isso?

    Gostar

  9. trill's avatar
    trill permalink
    28 Junho, 2011 22:38

    “porque se continua a acreditar que um planeamento centralizado é melhor que um planeamento disperso?”

    A que planeamento se deve que 80 por cent (ou mais) dos empresários (até me custa chamar-lhes mepresários mas de facto são-o) portugueses dedicam-se á “indústria” do comes e bebes…

    Gostar

  10. Pine Tree's avatar
    Pine Tree permalink
    28 Junho, 2011 22:38

    “porque se continua a acreditar que um planeamento centralizado é melhor que um planeamento disperso?”
    Porque se está à espera da redistribuição que dá de comer a Paulo aquilo que Pedro produz. Mesmo os que são produtores líquidos acreditam na ideia. Carneiro amigo, andamos todos ao mesmo…

    Gostar

  11. trill's avatar
    trill permalink
    28 Junho, 2011 22:42

    como pode o tal planeamento paradisíaco funcionar com empresários como o grosso dos empresários portugueses?

    Por acaso acho que o PPC tem toda a razão ao favorecer as empresas exportadoras que são aquelas que fogem ao rame-rame do comes e bebes, do comerciantezinho, do proprietário que vive de rendas e toda essa inutilidade improdutiva dos empresários portugueses de serviços.

    Gostar

  12. tiago's avatar
    tiago permalink
    28 Junho, 2011 23:16

    “Mas depois, se as coisas derem para o torto, é religiosa obrigação do estado salvar as empresas dessas pessoas que sabiam tão bem como tudo fazer, n é isso?”

    não.

    “Porque se está à espera da redistribuição que dá de comer a Paulo aquilo que Pedro produz. Mesmo os que são produtores líquidos acreditam na ideia. Carneiro amigo, andamos todos ao mesmo…”

    O estado é a grande ficção em que todos esperam viver às custas de alguém

    “como pode o tal planeamento paradisíaco funcionar com empresários como o grosso dos empresários portugueses?”

    não existe um gene português que torna os empresários diferentes. os empresários adaptam-se ao sistema em que vivem. se o sistema prejudica a livre iniciativa, a livre competição, o dinamismo e não cria a responsabilidade, obviamente essas não serão as características mais fortes da generalidade dos empresários. mas pensar só em termos de empresários é já por si uma simplificação do problema.

    Rui é sem dúvida o grande enigma. cumprimentos

    Gostar

  13. tiago's avatar
    tiago permalink
    28 Junho, 2011 23:18

    “O estado é a grande ficção em que todos esperam viver às custas de alguém”

    esta citação obviamente não é minha

    Gostar

  14. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    28 Junho, 2011 23:25

    O Estado quer sempre mais poder.
    Como se vê aliás já a começar pela subida de IVA.
    Repetir as receitas desastrosas do passado. PSD e CDS não aprendem.

    Gostar

  15. Pine Tree's avatar
    Pine Tree permalink
    28 Junho, 2011 23:31

    “A que planeamento se deve que 80 por cent (ou mais) dos empresários (até me custa chamar-lhes mepresários mas de facto são-o) portugueses dedicam-se á “indústria” do comes e bebes…”
    — Se calhar é por que há quem queira comer do bom e beber do fino…
    ***
    ” do proprietário que vive de rendas ”
    — Após 100 anos de congelamento não deve haver assim muitos… E o parasita do reformado que vive da reforma? Grande malandro. E Zé que vive de um dinheirito que tem no banco? Rua com ele! Isto aqui, isto aqui, só se admitem indústrias a sério, aeronáutica, automóvel, circuitos integrados. O resto é parasitagem e rua com eles.

    Gostar

  16. PMP's avatar
    PMP permalink
    29 Junho, 2011 01:36

    A tragédia grega que se apercebe neste programa de governo sem conteúdo é a falta de quantificação e calendarização na redução nas centenas de entidades publicas que por aí andam, e especialmente o adiamento da privatização da RTP que gasta 300 milhões de euros por ano, ao mesmo tempo que se mantêm reformas de 250 euros congeladas.

    Gostar

  17. Carla Simões's avatar
  18. Paulo's avatar
    Paulo permalink
    29 Junho, 2011 07:13

    A ideia que deve ser o Governo a cuidar da nossa vida está subjacente a esta notícia do Jornal de Negócios, ou pelo menos na forma como é apresentada: “Incentivo à poupança fora do programa do Governo – O apelo à necessidade de um aumento da poupança das famílias deixado pelo primeiro-ministro no discurso de tomada de posse não tem eco no programa de Governo ontem entregue na Assembleia da República”. Ou seja, como o português, coitadinho, não sabe poupar, tem que ser o Governo a “incentivar”…

    Gostar

  19. Pine Tree's avatar
    Pine Tree permalink
    29 Junho, 2011 09:39

    “Ou seja, como o português, coitadinho, não sabe poupar, tem que ser o Governo a “incentivar”…”
    — Bastava que não combatesse a poupança. Pois é, mas toda a gente sabe que o consumo é base do crescimento económico porque fomenta a produção, faz movimentar o cacau, cria emprego altamente qualificado nos shoppings, gera IVA, etc. Toda a gente sabe isso. Depois, quando arrebimba o malho já é tarde.

    Gostar

  20. Ricciardi's avatar
    Ricciardi permalink
    29 Junho, 2011 12:02

    «…porque apenas ele poderá liderar uma verdadeira reforma do país »rui.a
    .
    A verdadeira reforma do país não será obtida através de cortes salariais, aumento de impostos, tam-pouco da privatização das Aguas de Portugal, ou dos CTT, ou da REN, ou da EDP… ao contrario da CGD, da RTP/LUSA e TAP.
    .
    A verdadeira reforma do país situa-se no outro lado da equação, na geração de riqueza. A inaptidão em gerar riqueza e a inabilidade dos governantes em gerar uma dinámica empreendedora nos portugueses é assutadora.
    .
    Mas agora, meus caros, não há nada a fazer. Não há medida que resulte. Kaput. Não há, porque para haver empreendedorismo é preciso haver duas coisas fundamentais: DINHEIRO e CONFIANÇA.
    .
    Ora, nem uma coisa nem outra existem.
    -Dinheiro ou Crédito é coisa rara e ainda mais no futuro. Como querem empreender sem recursos?
    -A Confiança anda pelas ruas da amargura. Ninguém com bom senso investe o que quer que seja. Os impostos são tão elevados, o crédito tão inacessessivel, o bolso dos portugueses tão vazios que só mesmo um louco investe aí em Portugal.
    .
    Da minha parte, Jamé, não obstante os apelos do sr. Presidente da Republica para o fazer.
    .
    Mas, a conselho das mentes liberalizantes, o governo prepara-se para fazer pior. O governo (já nem falo do anterior) prepara-se para cortar definitivamente a mão invisivel. Pois é, aquela mãozinha que tendo confiança e recursos é capaz de gerar riqueza, vai ser castrada liminarmente. E portanto, se já não podiamos contar com o Credito para o futuro, agora aquele pouco que restava nos bolsos dos Portugueses vai ser vilipendiado à força da lei e dos acordos da da troika.
    .
    Ele é mais impostos, mais cortes salariais… the sky is the limit.
    .
    A juntar à festa, aquele pouco Crédito que ainda vamos tendo, vai ser utilizado para promover o negócio fantástico dos bens Não Transacionaveis. Pois é. Por cada privatização que se fizer em sectores como a SAUDE ou EDUCACAO, nesta altura do campeonato, é desperdiçar recursos para NOVAMENTE promover geração de negócios sem qualquer interesse sob o ponto de vista da criação de riqueza e da balança de pagamentos.
    .
    Não tenho complexos ideológicos de qualquer espécie. E portanto até podia concordar com a privatização desses sectores. No entanto, como em tudo na vida, o timming é o factor mais importante para conferir mérito às medidas. Sendo pois o timming absolutamente inadequado à situação financeira e crediticia deste pais estas medidas não só vão agravar a economia, como não trarão beneficios práticos à população. Pelo contrario.
    .
    Assim sendo, nem direi que existe uma probabilidade de exito para Portugal. Não existe essa probabilidade a continuarmos com estas medidas da troika, por um lado, a continuarmos no sistema que deu origem à criação da moeda mais socializante que há memória, e por fim a continuarmos sem proteger a nossa industria nacional.
    .
    Está visto, para quem quer ver. A adesão ao EURO não aproximou Portugal em termos de COMPETITIVIDADE, relativamente à alemanha. Para mim era obvio, menos para os liberais que achavam que não. As provas estão aí, depois de 15 anos com a moeda SOCIALISTA denominada EURO, a competitividade com os alemães é a mesma. A competitividade com os Emergentes degradou-se. O resultado foi o que foi. Falencias às paletes, desemprego, endividamento.
    .
    .
    Rb

    Gostar

  21. PLus's avatar
    PLus permalink
    29 Junho, 2011 15:15

    Bom post.

    “Assim, a não ser que Passos – e só Passos, porque apenas ele poderá liderar uma verdadeira reforma do país – se venha a demonstrar um excepcional e preclaro governante, ”

    Plenamente de acordo.Embora existam vários ministros (e nos sectores mais importantes), que fugindo ao mainstream , permitem acalentar alguma esperança.
    O PPC precisa arrumar o psd . O PPC precisa arrumar o Portas.

    Gostar

Deixe uma resposta para lucklucky Cancelar resposta