Saltar para o conteúdo

“Euro virtudes” da crise.*

17 Julho, 2011
by

As responsabilidades pela crise financeira (e, no caso português, também económica) actual, poderão ser repartidas entre uma excessiva financeirização da economia e um desadequado modelo de funcionamento dos Estados.
Claro está que, por outro lado e ajudando, ainda, à (triste) “festa”, surgem as más opções políticas nacionais e as más governações (de que Portugal, infelizmente, tem uma sólida tradição). Estas más opções de governo acabam por individualizar, ao nível de cada país, os efeitos da crise global, acentuando-os, ou, ao invés, atenuando-os.

A descontrolada e má regulada financeirização da economia, provocou – percebemo-lo, hoje em dia – a criação de uma espécie de economia virtual, totalmente desligada da realidade, da produção e da criação efectiva de riqueza. Uma lógica, de facto, especulativa que, ao “rebentar”, arrastou, em rede, a economia real, aquela que deveria sustentar a vida quotidiana dos Estados e dos cidadãos. Por outro lado – e não considerando, por agora, os desvarios de governo de que alguns, como nós, padecemos – a velha questão da insistência na lógica do “Estado providência” ou “cegamente assistencialista”, da segunda metade do século XX, tem vindo a piorar as coisas, tornando-nos inelutavelmente dependentes da dívida pública. Esta lógica – que, agora, teremos que modificar à pressa, porque faltou-nos a vontade e a coragem, sob o ponto de vista político, para a reformar atempadamente – tem vindo, entre outras coisas, a ignorar o primeiro problema com que esse “Estado providência”
(não reformado) se debate: a questão demográfica. Não há hipótese de sustentabilidade para um Estado (erroneamente dito) “social” que vê a sua população activa e contributiva, diminuir significativamente.

É neste quadro que se torna urgente assumir o “projecto europeu”, sem tibiezas! Não há volta dar: por exemplo, por mais que se faça e por melhor que se cumpra o plano da “troika”, já não dependemos só de nós, mas também das soluções encontradas e implementadas pela União Europeia. Como, por exemplo, a emissão de obrigações e títulos da dívida europeus (os Eurobonds), implicando, correspectivamente, a capacidade de a União criar receitas próprias (impostos), alternativas
e substitutivas das dos Estados-membros, cobrindo essa assunção colectiva da dívida pública europeia.

Talvez, no futuro, se possa dizer que um dos efeitos positivos desta crise foi o aprofundamento da integração. Talvez… e, sobretudo, se, agora, não forem apenas os denominados “PIGS” a sentir o fogo à porta.

* Grande Porto, Opinião, Ed. 15-7-11.

29 comentários leave one →
  1. A. C. da Silveira's avatar
    A. C. da Silveira permalink
    17 Julho, 2011 13:26

    Ernani Lopes poucos meses antes de morrer, disse para quem o quis ouvir que Portugal tinha que passar por um processo de empobrecimento, falou num corte de 20-30%, para depois poder recomeçar um processo de desenvolvimento economico e social sustentado que lhe permitisse convergir com os paises mais desenvolvidos.
    Perdemos desde 2008 tres anos preciosos para realizarmos esse trabalho tão doloroso quanto necessario. Os acordos com a troika são uteis, mas não são só por si a solução para os nossos problemas. É necessario muito mais, e se o governo tiver a coragem de cortar 20% nas despesas correntes do estado, e simultaneamente fechar ou juntar centenas de instituições do estado que só servem para fazer o pão caro, como parece que se está a preparar, e conseguir resistir a uma campanha sordida que já começou nos media liderada pelo director do Expresso, e seguida de perto pela TVI, talvez tenhamos sorte.
    P.S. Fazer o balanço da actividade de um governo com um mes de vida, os secretarios de estado nem isso, é de uma baixeza sem limites, e o prenuncio do que espera este governo em termos de comunicação social. Por isso, RTP1 privatizada já, a ver se a Impresa rebenta de vez.

    Gostar

  2. PMP's avatar
    PMP permalink
    17 Julho, 2011 14:02

    É preciso reduzir os custos também nas universidades públicas.
    .
    Têm professores a mais e ordenados demasiado elevados para os resultados obtidos.
    .
    Acho que 30% de redução nas universidades e politécnicos é fácil de atingir .

    Gostar

  3. tric's avatar
    17 Julho, 2011 14:04

    “Como, por exemplo, a emissão de obrigações e títulos da dívida europeus (os Eurobonds), implicando, correspectivamente, a capacidade de a União criar receitas próprias (impostos), alternativas”

    mais impostos!!?? já não batam os Portugueses agora querem tambem acrescentar um Imposto Europeu!

    Gostar

  4. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Julho, 2011 14:13

    Um louco no Blasfemias!

    Gostar

  5. Fredo's avatar
    Fredo permalink
    17 Julho, 2011 14:22

    Um? Mais um!

    Gostar

  6. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Julho, 2011 14:45

    nah este é um louco que diz que devemos continuar a gastar mais do que produzimos.
    E que vêm aí uns eurobonds maravilhosos que nos vão deixar continuar a fazê-lo.

    Gostar

  7. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Julho, 2011 14:46

    Para não falar do assassínio da Europa ao querer mais integração…

    Gostar

  8. João Lisboa's avatar
    17 Julho, 2011 14:49

    Mas a Europa continua a ser um belo cenário…
    http://lishbuna.blogspot.com/2011/07/ouve-bem-luis-foto-tem-de-parecer-coisa.html

    Gostar

  9. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    17 Julho, 2011 16:18

    Um post de PMF muito razoável. Não digo muito bom por fazer intuir que um Estado só pode contribuir para o bem-estar de todos os cidadãos se for rico. Ora, a história contraria essa ideia: todos os Estados que estão noutro patamar civilizacional preocuparam-se com os cidadãos antes de serem ricos. Pelo contrário, os EUA sendo ricos nunca se preocuparam com os cidadãos.

    Gostar

  10. castanheira's avatar
    castanheira permalink
    17 Julho, 2011 18:34

    Conclusão : Portugal (governo português ) vive acima das suas possibilidades gastando todos os anos cerca de 15 000 milhões a mais do que aquilo que tem ;
    Solução : Eurobonds e impostos europeus para continuar a deriva despesista ;
    Possivelmente não irá funcionar porque :
    1º Os alemães podem não querer sustentar os mendigos do sul ;
    2º Os organismos estatais parasitários e outros esquemas de saque de riqueza produzida serão hostilizados ou abandonados pelos produtores da mesma;
    3º A culpa não é do euro , nem da financeirização , nem da Merkel , é de quem gastou e deixou gastar tudo o que havia mais aquilo que não havia e pretende continuar na mesma ;

    Gostar

  11. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    17 Julho, 2011 18:47

    A cada dia que passa os nossos pretendentes a liberais ( do PS ao CDS, passando pelo PSD e académicos ditos independentes, não esquecendo Belém) vão-se aproximando do que a Esquerda já disse ontem, anteontem, há um mês, há um ano …. É um processo de aproximação que, para algumas figuras, é um bocado sofrido mas sem vergonha!
    .
    Este meu comentário seria, também, para CAA, que não participa neste processo de abertura da caixa de comentários …

    Gostar

  12. Helena Ferro de Gouveia's avatar
    17 Julho, 2011 18:58

    Apenas uma pequena nota ao link “Helmut Kohl diz o que muitos pensam”: o ex-chanceler desmentiu com todas as letras a Der Spiegel ( que anda numa cavalgada desenfreada para apear a chanceler Angela Merkel) afirmando que o semanário “inventou”.
    O link para o desmentido de Kohl é o seguinte:
    http://www.bild.de/politik/inland/helmut-kohl/bericht-ueber-kritik-an-merkel-frei-erfunden-18905338.bild.html

    Seria bom que em Portugal se lesse a imprensa germânica em geral e nao apenas a que está traduzida para inglês.

    Gostar

  13. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    17 Julho, 2011 19:16

    A única imprensa germânica que o ilustre Prof.Dr.CAA lê , deve ser o boletim do Schalk 04.
    Uma coisa que ninguém diz – e muito menos o ilustre CAA de lá de cima – é que a actual Europa está a ser governada pela «direita» ou seja por governos e partidos filiados no PPE – Partido Popular Europeu.
    Não é de admirar que a Europa esteja em cacos.
    Alguns – os que têm um maior «desvio» na massa craniana – ainda vão dizer que a culpa é do Sócrates!…

    Gostar

  14. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    17 Julho, 2011 20:06

    “… os nossos pretendentes a liberais… vão-se aproximando do que a Esquerda já disse ontem, anteontem, há um mês, há um ano… É um processo de aproximação que, para algumas figuras, é um bocado sofrido mas sem vergonha!”
    O neoliberalismo é mesmo isso: não ver, nem prever. É assim como que mais a olho, tipo “os mercados resolvem”.

    “Uma coisa que ninguém diz – e muito menos o ilustre CAA de lá de cima – é que a actual Europa está a ser governada pela «direita» ou seja por governos e partidos filiados no PPE – Partido Popular Europeu.”
    Pois, não! Não dizem porque custa a engolir. A direita ficou nas mãos com um menino de que não sabe cuidar e é demasiado leviana para aprender.

    Gostar

  15. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Julho, 2011 20:17

    Well.. parece que o CAA também entra no clube dos Loucos.
    Faz birra contra a Alemanha porque ainda não tem eurobonds para gastar…
    O Estado ter défice é parte do ADN desta gente. Pobres de espírito, não conseguem conceber um país sem défice.

    Gostar

  16. castanheira's avatar
    castanheira permalink
    17 Julho, 2011 20:36

    Os efeitos combatem-se , combatendo as causas .
    A causa da dívida soberana é o acto de gastar demasiado ( mais do que se produz).
    O remédio é gastar menos e não eurobonds , “esmolas” alemãs ou outras “especiarias”.

    Gostar

  17. PMF's avatar
    17 Julho, 2011 20:47

    Tric, supra:

    convém ler tudo (ou transcrever tudo o que leu):

    …alternativas e substitutivas das dos Estados-membros (as tais novas – alternativas e substitutivas – receitas da União)!
    De resto, com essa compressão, seria a forma mais directa de reduzir (à força do corte nas receitas) as derrapagens da despesa pública de certos Estados-membros (digo eu).

    Gostar

  18. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    17 Julho, 2011 22:01

    Rebentar com a «esta» Europa devia ser o objectivo de qualquer europeísta que se preze, que não é meu caso.
    Como é que uma «União» pode ter sucesso e importância no Mundo, com dirigentes e governantes do timbre dos actuais (alguns até doentes mentais e com um QI inferior à média), como um Berlusconni, Sarkozy. Merkel. Barroso, Rompuy, o Camarão das Ilhas Britânicas, e já não falo dos gregos e dos ibéricos que não contem para nada?

    Gostar

  19. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Julho, 2011 22:40

    “De resto, com essa compressão, seria a forma mais directa de reduzir (à força do corte nas receitas) as derrapagens da despesa pública de certos Estados-membros (digo eu).”
    .
    Curioso… Eu que pensava que os cortes se fariam sentido a dor pelas consequências da sua falta.
    Ou seja deixar o mercado funcionar.
    É aliás curioso que espere que reduzindo o mercado político espere melhorias de alguma espécie. O afunilamento unionista só dará menos mercado e em consequência menos redundância.
    Todos de mão dada para irem todos ao fundo ao mesmo tempo.

    Gostar

  20. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Julho, 2011 22:53

    O super ministério europeu e integrações unionistas e outras maravilhas vêm de gente que acredita que gente iluminada vai estar lá sempre a velar. Um Sócrates nunca chegará ao poder na União pensam eles. Como estão enganados!
    Hoje basta olhar como o BCE viola todas as suas regras a cada dia que passa para se perceber que
    tudo vale na União, é a discricionariedade total.
    Além de acreditarem nessa bizarria de que gente competente vai estar a mandar e assim a salvá-los dos Sócrates dos seus países, ainda acreditam que as circunstâncias serão sempre claras e que os competentes todos poderosos decidirão sempre certo para 350 milhões de habitantes.

    Gostar

  21. trill's avatar
    trill permalink
    17 Julho, 2011 23:05

    £258,000 por um croissant (q não comeu…)
    psicanalises.blogspot.com

    (porque será q o CAA n permite comments? porque será…)

    Gostar

  22. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    17 Julho, 2011 23:11

    Espero que José Sócrates seja o próximo Presidente da União Europeia.
    Seria um ponto de viragem a nível da Europa.

    Gostar

  23. trill's avatar
    trill permalink
    18 Julho, 2011 00:20

    “Espero que José Sócrates seja o próximo Presidente da União Europeia.”
    tenho a certeza q conseguiria levar a Alemanha à falência como fez conosco. Nesse aspecto é um caso de sucesso…

    Gostar

  24. trill's avatar
    trill permalink
    18 Julho, 2011 00:21

    “Espero que José Sócrates seja o próximo Presidente da União Europeia.”
    seria uma enchente de Covas da Beira e Freeports, à grande e à europeia…

    Gostar

  25. trill's avatar
    trill permalink
    18 Julho, 2011 00:24

    “Espero que José Sócrates seja o próximo Presidente da União Europeia.”

    e haveria um diploma universitário para cada europeu, imigrantes com turbante incluídos (isso do falar ou não um idioma europeu é uma mesquinhice … há q pensar em grande…. )

    Gostar

  26. trill's avatar
    trill permalink
    18 Julho, 2011 00:27

    “Berlusconni, Sarkozy. Merkel. Barroso, Rompuy, o Camarão das Ilhas Britânicas”

    vendo e pensando melhor… o José, o ex-pm, até lá entrava… a Europa é que não…

    Gostar

  27. trill's avatar
    trill permalink
    18 Julho, 2011 00:32

    “Seria bom que em Portugal se lesse a imprensa germânica em geral e nao apenas a que está traduzida para inglês.”

    é q nem todos somos cultivados como a senhora. Era isto q estava à espera de ouvir, n era?

    Gostar

  28. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    18 Julho, 2011 19:41

    O Sócrates tuga já se foi, os Americanos ainda têm lá o seu Sócrates e os Unionistas Europeus estão no caminho para terem o seu.

    Gostar

  29. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    18 Julho, 2011 20:05

    Espero que Sócrates seja o próximo Presidente da União Europeia ou então o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros.
    A baronesa anglo- feiosa e o Tintim Rompuy só dão má publicidade à União Europeia.
    Sócrates está disponível e conhece muito bem os «grandes» deste mundo de Deus!
    Atendendo à bandeira europeia, seria ouro sobre azul!

    Gostar

Deixe uma resposta para PMF Cancelar resposta