Notícias Sábado, Tiro ao Alvo, 13 de Agosto de 2011
«O Governo pediu à Procuradoria para investigar a fuga de informações nas secretas. O pedido é formalmente irrepreensível mas materialmente absurdo. Pedir a qualquer coisa que dependa de Pinto Monteiro para fazer o que deve possui uma eficácia concreta afim à de uma petição dirigida à providência divina – para um incréu, bem entendido.»
A funesta constância de Constâncio
Jean-Claude Trichet deu uma conferência de imprensa, a enésima tentativa europeia de acalmar os mercados sem que qualquer decisão seja tomada. Mal terminou, os juros subiram em toda a parte e o pânico instalou-se. Revi a prosa de Trichet: nada exprimiu de especial. Só quando observei as imagens percebi que o discurso só podia acarretar infortúnios: é que o homem ostentava Vítor Constâncio mesmo ao seu lado!
Enquanto ensaiava uma imagem de rigor e de combate sem tréguas à crise, o presidente do BCE não enxergou a dimensão azarenta do «gato preto» que o ladeava – Constâncio, que nada avistou no desperdício descomunal de Guterres, que amparou e vibrou quase até ao fim com os despautérios de Sócrates, o homem da gávea financeira que nem de binóculos emprestados pelo Parlamento conseguiu contemplar alguma coisa mal embrulhada no BPN, no BPP e na tomada de assalto do BCP. Constâncio, talvez o português cuja cegueira volitiva e direccionada mais milhões custou ao erário público, estava ombro a ombro com o infeliz Trichet enquanto este assegurava estar a controlar a crise.
Como diriam os brasileiros, não se pode tentar ganhar um jogo importante com um «pé frio» daquele calibre sentado no banco…
Exportações embaraçosas
O Governo diz, e bem, que o aumento das exportações é uma das chaves da nossa reabilitação. Contudo, há uma categoria de exportações cujo desenlace me parece assaz misterioso: falo dos quadros políticos.
Guterres foi um dos piores primeiros-ministros da nossa história constitucional – o que não o impediu de ir açoitar com a sua proverbial irresolução a organização mais solenemente inútil que a humanidade concebeu, a ONU. Barroso foi uma desilusão em quase tudo o que prometia – mal surgiu o ensejo, revelando um sentido patriótico que a história registará (os seus contemporâneos nem por isso), tratou da sua vidinha, mandou às malvas os assuntos indígenas e foi pregar para freguesias bem mais providas.
Devo confessar que sempre me pareceu uma enorme injustiça cometida contra Santana Lopes (mais uma a acrescer às que o próprio tanto se queixa) nunca ter sido alçado a um posto engrandecido na FIFA – a entidade internacional que melhor poderia fruir dos seus dotes epistemológicos.
De Sócrates, após o inequívoco êxito do seu doutoramento parisiense em filosofia, seria conveniente exportá-lo para lugares bem longínquos onde os seus talentos pudessem resplandecer – embora suspeite que a tentação de regressar antes mesmo de terminar os seus altos estudos seja irrefreável. De Vítor Constâncio, já antes elucidei.
Temo bem o surgimento de uma acentuada baixa nas nossas exportações caso os mercados que importam os produtos nacionais fizerem uma analogia de qualidade com os ex-políticos com que os temos mimoseado.
Investigação de faz-de-conta
O Governo pediu à Procuradoria para investigar a fuga de informações nas secretas. O pedido é formalmente irrepreensível mas materialmente absurdo. Pedir a qualquer coisa que dependa de Pinto Monteiro para fazer o que deve possui uma eficácia concreta afim à de uma petição dirigida à providência divina – para um incréu, bem entendido.
Das duas, uma: ou o Governo não quer que se saiba a verdade – assim sendo, tomou o caminho certo; ou o Governo deseja conhecer a investigação circunstanciadamente, através de fugas para os jornais de todos os pormenores acerca da outra fuga para os jornais, em relatos e títulos garrafais quotidianos que, no fim de tudo, redundarão em inexistências processuais e prazos excedidos – e julgou não existir meio mais adequado do que a entidade (ainda) chefiada por Pinto Monteiro e suas duquesas.

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