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Tiro ao Alvo, Notícias Sábado, 27.VIII.2011

29 Agosto, 2011
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«… o Estado emprestou centenas de milhões ao Estado para que o Estado compre ao Estado imóveis do Estado possibilitando ao Estado reconduzir as receitas para as contas do Estado com o propósito de suavizar o défice do mesmo Estado!!!»

 

 

Ele não sabia de nada

O caso João Rendeiro simboliza muito do pior que Portugal exibe. Aí se amalgama a quase imprescindibilidade de se dominarem as boas influências políticas para a consecução das melhores negociatas que o regime tem para ofertar. Nele se percebe a falência dos mecanismos de fiscalização, financeiros ou outros, talvez o nosso pior e mais relaxado drama administrativo. Suspeito, ainda, que o futuro nos desvendará mais algumas incapacidades da Justiça à medida que o processo do BPP e dos seus ex-administradores se for desenrolando.

João Rendeiro, agora, defende-se afirmando que não possuía quaisquer poderes de decisão no banco desde 2005 – folheio o seu livro, Testemunho de um Banqueiro, publicado em Novembro de 2008, ironicamente, a poucos dias de os factos o refutarem. Tudo o que lá está transborda uma pungente prosa de culto a si mesmo: ele fez, ele idealizou, ele conquistou! Ali surgem os seus pretensamente avisados conselhos aos investidores, a glorificação das suas resoluções, sempre audazes e triunfantes. Afinal, depreende-se das actuais palavras do seu autor, o livro era uma mentira embrulhada numa patranha, as estratégias e as decisões eram de outros e o próprio não fazia a mais pálida ideia do que se passava…

Rendeiro conseguiu imiscuir-se nos interstícios do sistema que domina o país. Foi amparado por Cavaco Silva, por ele medalhado e patrocinado como presidente da EPIS – Empresários pela Inclusão Social. O seu livro, excessivamente incauto, ostenta um inenarrável prefácio de João Cravinho, o mesmo que alguma imprensa desprevenida gosta de declarar como um profeta mediaticamente ungido contra a cultura do tráfico de influências e da corrupção.

A vida pública portuguesa persiste num jogo de sombras em que mal se distingue o bem público do seu contrário.

 

 

O Estado que ainda temos

A Estamo é uma empresa da Parpública que comprou mais de 200 imóveis ao Estado por cerca de 360 milhões de euros – receitas extraordinárias que acobertaram o défice público de 2010. Contudo, essas aquisições foram suportadas por empréstimos da Sagestamo, uma sub-holding da Parpública.

No meio de este labirinto dolosamente confuso e inextrincável, percebe-se o seguinte: o Estado emprestou centenas de milhões ao Estado para que o Estado compre ao Estado imóveis do Estado possibilitando ao Estado reconduzir as receitas para as contas do Estado com o propósito de suavizar o défice do mesmo Estado!!!

Se não percebeu os ardis de todo este imbróglio, outros dirão a sofisticação patente de engenharia financeira e de contabilidade públicas, então dificilmente alcançará algumas das razões que motivam a defesa tão perene do actual modelo de Estado, que é como quem diz, da lógica do «tudo como dantes», por tanta e variada gente nas últimas três décadas. E, nesse caso, também nunca adivinhará porque é que é tão difícil ser liberal em Portugal.

 

 

Logros já fora de moda (espero bem)

Uma companhia de aviação low cost acabou de fazer uma promoção de cerca de mil rotas europeias a um custo de 9,99 euros. O facto, irremediavelmente, conduz-me aos inúmeros estudos comissionados que juravam não sei quantos milhões de passageiros ao TGV, o tal acelerado e obrigatório meio de transporte que nos iria, garantiam, abrir as portas à Europa, ao Mundo, quiçá até aos confins do Universo…

 

 

Ainda faltam alguns

No momento em que escrevo, já é certo que expiraram os 42 anos de tirania de Khadafi embora ainda não conheça o seu destino pessoal. Para quem ama a Liberdade, é sempre bonito o dia em que um tirano é apeado.

Mas não nos esqueçamos que, ainda há pouco tempo, aquele ditador deplorável foi recebido com honras e simpatia inusitadas pelo (des)Governo português…

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