Saltar para o conteúdo

A idade conta*

4 Outubro, 2011

A revista New York fez recentemente uma capa com a fotografia de uma mulher grávida muito semelhante àquela que, em 1991, Demi Moore fez para a Vanity Fair. A diferença está na idade de ambas as mulheres: Demi Moore tinha 29 anos quando posou grávida para a Vanity Fair. Ann Maloney, capa da New York em 2011, teve um filho aos 50 e outro aos 52. No artigo da New York sobre a gravidez de Ann Maloney e doutras mulheres que tiveram gravidezes entre os 49 e os 54 anos não faltam os relatos sobre a preconceituosa sociedade que frequentemente as confunde com avós nem as descrições sobre a satisfação que experimentaram por ter conseguido esta vitória.
Confesso que não me entusiasma particularmente que as senhoras A ou B tenham conseguido ter filhos aos 50 anos. Aliás, neste caso, nem é o que realmente interessa, pois conseguirá haver sempre alguém que engravida mais tarde ainda, ou que tem mais gémeos ou que obtém qualquer um dos outros recordes em que a maternidade/paternidade se têm tornado, sobretudo nos meios artísticos ou com apreciável poder económico.
Já sei que se conhecem dezenas de histórias maravilhosas de crianças que foram filhas de homens e mulheres com idade para serem seus avós. E também não ignoro que hoje vivemos muito mais tempo e com mais saúde. Mas não só me parece um tremendo egoísmo esta perspectiva do filho como um atributo da realização pessoal dos adultos como acho profundamente leviano que se subestime o que pode representar para alguém com 25 anos confrontar-se com pais com idades próximas dos 80. Por outras palavras, os filhos destas mulheres vão pagar muito caro as opções das suas mães, pois quando eles estiverem a construir as suas carreiras, e quiçá a pensar ter filhos, não terão umas mães e uns pais a quem pedir ajuda. Em alguns casos, terão até de cuidar deles. E escrevo cuidar num sentido lato, que vai desde o acompanhamento nas consultas médicas até ao assumir de responsabilidades económicas no pagamento de lares e cuidados domiciliários.
A gravidez tardia não tem menos implicações nem menos riscos do que a gravidez adolescente (sendo que o nosso conceito de gravidez adolescente vai hoje para até à idade adulta: aos 19 anos, é-se mãe adolescente, mas adulta para tudo o mais). O que distingue a visão social e mediática sobre a gravidez adolescente daquela que impera sobre a gravidez tardia é que a primeira é apresentada como algo de risco e a combater enquanto a segunda nos surge como algo glamouroso, isento de problemas e que só é questionado por preconceito. Eu sei que se deve escrever que o que conta é a idade do espírito e não a do corpo, mas nestas coisas da maternidade a idade da mãe conta. E muito. Não tanto para as mães, mas sobretudo para os filhos.

*PÚBLICO

13 comentários leave one →
  1. jorge silva's avatar
    jorge silva permalink
    4 Outubro, 2011 10:17

    hoje não leio mais este blog, é a segunda vez que estou de acordo com helena matos

    Gostar

  2. Joaquim Mota's avatar
    Joaquim Mota permalink
    4 Outubro, 2011 10:41

    Concordo integralmente. Parece-me, contudo, que na linha do texto de que a paternidade / maternidade não deve ser vista, essencialmente, como fenómeno de realização pessoal do(s) mãe / pai mas na perspectiva dos direitos da criança, existe um fenómeno com ainda maior expressão que deve suscitar profunda preocupação: A reorientação, pretendida por vários movimentos, da inseminação artificial, como via de maternidade singular, plano em que a lei portuguesa vigente é equilibrada, mas sujeita a uma pressão de movimentos que, em larga medida estão desligados dos interesses e direitos das crianças sem que exista contraponto ético e racionalista na suposta sociedade civil portuguesa.

    Gostar

  3. certo's avatar
    certo permalink
    4 Outubro, 2011 11:06

    deixa que também
    já é ter vício, então agora
    são avós que parem netos
    por poupar as mães
    sem tempo ?

    Gostar

  4. silva's avatar
    silva permalink
    4 Outubro, 2011 11:46

    Exmºs Srs. (as) Deputados, eleitos penso eu que seja verdade, porque hoje em dia já ninguém sabe, quem é que defende os interesses de Portugal.
    Gostava que alguém me explicasse, que o cidadão ao deslocar – se ao tribunal de cascais para saber do caso do despedimento colectivo do Casino Estoril, assunto que já se arrasta à mais de um ano e meio, um dos funcionários do tribunal, respondendo à pergunta do cidadão.
    O informou que o caso está entregue ao juiz, mas que o melhor era o cidadão arranjar emprego.
    Isto ultrapassa a mais séria verdade da justiça em Portugal, será que o Casino Estoril que muita gente sabe desde a operação furacão à construção do Casino Lisboa, agora também manda no tribunal de cascais.
    É um absurdo um funcionário do tribunal, falar como falou para o cidadão, porque já não chega a injustiça dos organismos do estado que deram total cobertura a esta farsa do despedimento colectivo, ainda assim o tribunal sugere que o cidadão procure emprego.
    Afirmo que este assunto posso eu próprio garantir que até morrer, isto vai ser falado desde blogs, nos cafés, bem em tudo o que é lugar, porque a justiça devia ser o garante da liberdade do ser humano.
    Não é admissível, qualquer individuo porque exerce cargos cívicos ou de certa importância na economia do país, que tem o direito de despedir 112 trabalhadores em substituição de precários, e o estado dá apoio nesta decisão.
    Quem acredita que PORTUGAL sai da crise, com este tipo de gente no País.

    Gostar

  5. Piscoiso's avatar
    4 Outubro, 2011 11:55

    Seguidos os links do “risco” da gravidez adolescente, só é considerado socialmente, pelo facto dos adolescentes não terem, geralmente, meios de subsistência própria, o que não acontece em geral com quarentonas.
    Quero lá saber!

    Gostar

  6. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    4 Outubro, 2011 14:24

    Se não for as quarentonas portuguesa a dar o litro pela nação nesta hora difícil, temo que Portugal desapareça daqui a duas gerações.
    Daqui a 20 anos temos 6 milhões de velhos; 2 milhões de meia idade e 1,5 de jovens e crianças.

    Gostar

  7. jose.gcmonteiro's avatar
    jose.gcmonteiro permalink
    4 Outubro, 2011 15:15

    Bem observado.

    Gostar

  8. honni soit qui mal y pense's avatar
    honni soit qui mal y pense permalink
    4 Outubro, 2011 15:21

    selfishness

    Gostar

  9. eirinhas's avatar
    4 Outubro, 2011 17:13

    Belo artigo.Gostei imenso.Somos uma sociedade cheia de contradições.Gostamos muito de inverter a normalidade.Sempre muito atirados ao incorrecto mas que queremos à viva força que seja o politicamente correcto.Uma moça na flor da idade,na idade fértil,não,essa deve abortar porque não temos condições para ajudar a desenvolver a sua actividade.Uma senhora ou um senhor já com idade para se irem mentlizando a cuidar dos netos,não,esses é giro terem o seu bebé!

    Gostar

  10. leme's avatar
    leme permalink
    4 Outubro, 2011 17:13

    E o que é que esta “porcaria” nos interessa?

    Gostar

  11. Zebedeu Flautista's avatar
    Zebedeu Flautista permalink
    4 Outubro, 2011 19:59

    Esta interessante o texto mas que fazer?
    Vamos legislar na vida pessoal e intima de cada mulher?
    Instituir um plano como o do grande timoneiro Mao mas em vez de limitar um nascimento por casal obrigar toda a mulher a ter 3 filhos até aos 30 anos e no seu 31º aniversario recebe de presente uma laqueação das trompas?

    Gostar

  12. certo's avatar
    certo permalink
    4 Outubro, 2011 23:59

    a idade não conta,
    fui ver o link da Demi Moore
    a Vanity Fair e acho-a ainda perfeita,
    uma bela mulher, a idade não
    conta, como se 29 anos
    tivesse, não mais

    Gostar

  13. fado alexandrino's avatar
    5 Outubro, 2011 16:55

    A Duchess de Alba casou-je hoje com 85 anos. Avisou que a primeira noite não é passada com o noivo e é reservado à preparação. Pode ser que venha ai um mil-folhas.

    Gostar

Deixe uma resposta para honni soit qui mal y pense Cancelar resposta