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Além e aquém da Troika.

20 Março, 2012
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A assinatura, em Maio de 2011, do “Memorando de entendimento…” teve lugar entre o anterior governo, da responsabilidade do PS, e um conjunto de entidades internacionais (vulgarmente conhecidas pela expressão “Troika”). O “Memorando” foi ratificado pelos dois partidos que viriam a formar governo na sequência das eleições de Junho de 2011 (PSD E CDS-PP). Tanto quanto seja do conhecimento público, o “Memorando” foi essencialmente preparado, pela parte portuguesa, pelo governo do PS. De facto, não é difícil encontrar no “Memorando” traços característicos do pensamento do anterior governo.

No que respeita à ação do atual governo, e salvo melhor opinião, as medidas tomadas podem corresponder ao que consta do “Memorando” – o programa da “Troika”- ou estar “para além da Troika”, significando esta última expressão o conjunto de medidas que não constam do dito memorando.

Ora, os eleitores que em 2011 votaram no PS estariam à espera, em síntese, da aplicação do “programa da Troika”, uma vez que este último havia sido preparado pelo anterior governo, socialista. Já os votantes no PSD ou no CDS/PP, com toda a probabilidade, não ficariam muito satisfeitos com a aplicação exclusiva do “programa da Troika” – se fosse esse o caso, então teriam votado no PS. O “programa da Troika” representa, na minha opinião, o PS (pelo menos, a sua anterior direção), enquanto que as medidas “para além da Troika” representam a eventual mais-valia das atuais cores governamentais (ou menos-valia, para os detratores do atual governo).

“Aquém da Troika” é uma expressão que poderá representar todo o status quo existente à data de Maio de 2011, tudo o que existia, o melhor e o pior, quando o anterior governo levou o país a ter que pedir ajuda externa, com o consequente impacto que é conhecido sobre o grau de soberania do país.

Se o atual governo e o PSD não controlam a comunicação social – e, acrescento eu, nunca controlaram, e ainda bem que assim é – o que se verifica é que qualquer medida fora do “Memorando” é imediatamente objeto de violentas críticas. Qualquer medida (ou qualquer rosto) que venha de novo é mal recebida, essa é a regra atual. Quanto mais medidas um dado governante tome “Além da Troika” e quanto mais mexer no status quo “Aquém da Troika”, mais críticas recebe – e as criticas centradas num único ministério, que presentemente se verificam, são bem uma demonstração clara desse fenómeno.

Pela minha parte, sou de opinião que, em numerosas áreas da governação, muitos eleitores que votaram pela mudança em 2011 esperam e exigem que possa vir a ter lugar uma nova visão – uma visão não socialista que não se limite a deixar grande parte das coisas “Aquém da Troika”, continuando a mudar a filosofia da governação do país. Em larga medida, libertando Portugal do peso excessivo do Estado e reformulando este último.

José Pedro Lopes Nunes

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