Desequilíbrios regionais a corrigirem?

Desde 1986, data da nossa entrada na então CEE, Portugal tem sido bafejado com centenas de milhões no âmbito dos diversos programas comunitários, muitos deles ao abrigo do FEDER, o Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional. Porém, fruto de um modelo económico perverso e de políticas atavicamente centralistas, que persistem para além das mudanças de regime, as disparidades regionais vêm-se acentuando ao longo do tempo, fazendo de Portugal um País dual, com um perfil bem mais terceiro-mundista que europeu.
Um bom indicador para aferir as disparidades regionais é o rendimento disponível das famílias, o líquido que lhes entra no bolso após impostos e subsídios. A sua evolução é bem visível nos gráficos acima, com a região mais rica (Lisboa) a descolar de forma consistente de todas as restantes e acentuando ao longo do tempo a divergência para a região mais pobre, o Norte. Mais bizarro e até chocante, é verificar que as regiões em que predomina a economia transaccionável e que mais têm contribuído ao longo do tempo para a atenuação do défice externo, apresentam sistematicamente um rendimento disponível abaixo da média nacional.
Esta evolução perversa terá começado aparentemente a corrigir em 2009 e estou curioso em ver os dados relativos a 2010 e 2011 que o INE ainda não disponibilizou. É sintomático que as únicas regiões que apresentaram uma quebra no rendimento disponível são precisamente aquelas em que predominam os sectores protegidos e rentistas, Lisboa e a Madeira. Admito que a correcção se terá intensificado nos 2 últimos anos e tal faz parte do ajustamento doloroso mas virtuoso que a economia portuguesa vem apresentando.
Naturalmente que um tal ajustamento gera resistências e não é por acaso que o mainstream se vem ultimamente alarmando tanto com o desemprego, agora que ele está a atingir em cheio os “colarinhos brancos”. São, no fundo, as dores do sector não transaccionável a manifestarem-se, com as “Troikas oposicionistas” como porta-vozes, que até apresentam aliados de peso a Norte.
As pressões sobre Vítor Gaspar serão intensas, permanentes e desgastantes. Tenha o homem a força hercúlea para resistir e manter firmemente o rumo traçado, e ficará na História.

Bom artigo, caro LR. Obrigado por chamar à atenção da pouca-vergonha portuguesa. E da provável correcção via emagrecimento do Estado e dos vários parasitismos existentes.
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Na altura votei favoravelmente a regionalização .Para meu grande desgosto a minha querida cidade do Porto votou contra .Uma coisa eu vos digo é para mim uma vergonha que a minha cidade seja a nº 1 no RSI
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Mais importante que Gaspar aguentar pressões, é o governo aguentar-se com o voto popular. Esse sim, é importante; e das duas uma, ou se governa a pensar no bem estar do povo ou povo escolhe outros que o façam. O problema é quando escolhem extremistas como parece estar a acontecer na Grécia.
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Há muitos caminhos para Roma. O caminho praticado e escolhido não é adequado. Compreendo-o sob ponto de vista de quem empresta a massa. Sacar o principal e juros o mais rápido possivel. É a lógica de banqueiro tradicional e não de banqueiro de Capital de Risco que tanto precisavamos.
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Enfim, espero que as exportações continuem a avançar e que possam daqui a 10 anos representar mais de 60% do PiB. Seria sinal de que o emprego estava a ser transferido sustentadamente e o desemprego absorvido. O que vejo é que, se esta politica se mantiver, no prazo desta legislatura não vai ser possivel dar bem estar ao povo. E povo insatifeito, governo na rua.
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Quando se faz um projecto de investimento, no excel, a coisa parece simples. Lucrativa. Matematica financeira. A realidade da implementação é sempre outra. Quando o prejecto chega ao mercado, isto é, à pessoas, a coisa deixa de ser matemática e passa a ser muitas outras coisas que tem sempre o ser humano e as suas motivações como elemnto chave ao sucesso.
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Assim, o facto das exportações estarem a crescer, mas a infelicidade das pessoas a aumentar exponencialmente, é uma combinação sem futuro. Neste sentido, aos governos pede-se equilibrio. A produção para consumo nacional á demasiado importante para se estar a brincar ao Monopolio. Importante porque absorve o desemprego e substituii importações. Substituir importações devia ser, isso sim, a grande prioridade das politicas economicas. Mas para isso é preciso pessoal no governo que perceba alguma coisinha das matérias. Que percebam e que tenham tomates. Estes, os actuais governantes, apenas percebem de contabilidade. O que é que a Cristas pode perceber de Agricultura ou pescas ou negócios do Mar. Vejo-os a todos preocupados com burocracias ligadas aos fundos europeus. Acho mesmo que devem ficar o dia todo no gabinete ao telefone com bruxelas a ver se sacam uns tostões para a seca e outros para as inundações. Não passa disso.
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Mas temos sorte. As vendas para o exterior é independente do mérito dos governos. Embora estes, se tivessem cabeça, pudessem ser uma boa ajuda. Principalmente se colocarem o projecto das embaixadas economicas a andar velozmente e com critérios sérios e eficazes que nos aproveitem. O principal critério é abrir mercados fora da europa. Não só nos Palops, porque estes até são bastante instaveis, mas sobretudo nas economias emergentes e as desenvolvidas fora da europa.
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Rb
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Alguem tem de gerar riqueza para pagar impostos para sustentar a mama da gente lá de baixo….e claro, depois fica depenada.
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Os desequilíbrios são evidentes, mas parece-me que a conclusão do LR tende para um otimismo sem justificação. Neste momento, todo o interior passa por um processo de encerramento de serviços e de dificuldades que irá provocar um agravar do despovoamento. Isso vai dar origem a uma (ainda) maior concentração das pessoas no litoral e a uma leva de emigração talvez comparável com a dos anos 60. Os equilíbrios que os gráficos mostram, talvez se devam, unicamente, ao “ataque” de que estão a ser vítima os funcionários públicos. Mas, cuidado. São os “colarinhos brancos” da feira de Carcavelos que estão a sentir na pele esse ataque. Os das camisas de marca mantêm-se intocados.
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33,
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Reparou que os gráficos terminam em 2009?
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Um texto muito interessante… até ao penúltimo parágrafo.
É pena. Mas se calhar a parte interessante do post foi trabalhada exatamente para a “conclusão” desse parágrafo.
Pelo menos, eu não vejo que o desemprego esteja a atingir as pessoas pela cor do colarinho. E muito menos pelas que “usam” colarinho branco. Essas são as que cada vez ficam com a maior parte da riqueza. A não ser que eu tenha um conceito diferente de “colarinho branco”, muito associado a determinado tipo de crimes.
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LR:
“Esta evolução perversa terá começado aparentemente a corrigir em 2009 e estou curioso em ver os dados relativos a 2010 e 2011 que o INE ainda não disponibilizou”.
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Era a isto que me referia.
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