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de um modo ou de outro, isto vai acabar mal

8 Julho, 2012
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Vão longe os tempos em que o líder da oposição Pedro Passos Coelho pedia desculpas aos portugueses por permitir que lhes fossem aos bolsos. Agora, na pele de um primeiro-ministro apoquentado pelos prejuízos incontroláveis da empresa que dirige, Pedro Passos Coelho não hesita em generalizar a todos os portugueses uma prepotência que cometeu sobre aqueles que desgraçadamente dependem do seu governo para viver. A bem de uma contabilidade cuja ruína é directamente proporcional ao aumento das receitas que a deveriam estabilizar. De permeio, as reformas estruturais – as “grandes reformas” cuja urgência o primeiro-ministro anda a reclamar desde os tempos em que era ainda o chefe “liberal” da oposição – tardam em aparecer, ou são ténues e envergonhadas, ou parecem não surtir qualquer efeito recuperador. Nem poderia ser de outro modo: o dinheiro que ele cobra cada vez mais abusivamente aos portugueses não serve para as financiar, o que tornaria o sacrifício compreensível e, apesar de tudo, aceitável, mas apenas para continuar a pagar as despesas sempre crescentes do governo. Ou seja, não serve para coisa nenhuma, a não ser para empobrecer as pessoas e para adiar e agravar o colapso anunciado.

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Nada de muito diferente, pois, do que foram os estados de alma dos seus antecessores, com o famoso «recuperador» das contas públicas José Sócrates, a quem, segundo os seus discípulos mais fiéis, a desdita da crise internacional impediu de fazer mais e melhor, ele que conseguira notáveis sucessos na maquilhagem, perdão, na contenção do défice nos primeiros dois anos do seu governo.. Ou de Durão Barroso, que nos anunciou solenemente e em primeira instância a “tanga” que nos cobria as partes púdicas, e que, verdadeiramente na tanga, entregou a suprema missão de devolver a racionalidade ao estado ao grande reformador e golfista profissional João de Deus Pinheiro.

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O que esta sucessão de governos «recuperadores» do défice e da economia nacional demonstra é que não será do governo que virá qualquer salvação dos portugueses e de um modo de vida que tem os seus dias mais do que contados. À esquerda ou à direita, as políticas macroeconómicas dos governos comprovaram a sua incapacidade para restabelecer a única economia que verdadeiramente interessa, que é a das pessoas, das suas famílias e das suas empresas. Neste ponto de não retorno, é o regime, na ordem e no modelo social estabelecidos, que toca a finados e tem o seu fim anunciado. Podem ainda vir buscar-nos mais um subsídio de férias, o 13º mês, mais rendimento sob o pretexto da necessidade de um ”último” sacrifício salvador, que só pela morte do “monstro” ele deixará de existir.

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De resto, se o estado português declarar bancarrota, isto é, se reconhecer perante todos – os de cá e os de fora – que não tem condições de honrar os seus compromissos, a dor que todos sentiremos será forte e imediata, é certo, mas permitirá que comecemos a viver, e o próprio estado também, com o que de facto temos, sem ilusões de que podemos viver com mais, ou à conta da «ajuda» do governo e do seu crédito internacional. Diremos adeus ao euro e ficaremos a uma distância razoável da União Europeia, seremos obrigados a uma compressão radical dos nossos gastos com um modelo social cada vez mais esquálido e irreconhecível, e que só ainda existe na imaginação de políticos preocupados com as próximas eleições, mas, em contrapartida, seremos obrigados a enfrentar a nossa realidade e a recomeçar com aquilo que somos e de que formos capazes. E deixaremos este caminho de progressivo e inexorável empobrecimento, em nome de uma ilusão – a de que os governos recuperam a economia -, que nos conduzirá ao mesmo destino, provavelmente muito mais pobres e ainda mais irrecuperáveis do que já estamos, quando fatalmente lá chegarmos.

23 comentários leave one →
  1. 8 Julho, 2012 22:19

    Impressionante é ver Passos Coelho enquanto 1º Ministro mostrar-se agastado por ter sido reposta a legalidade.
    Cavaco e Passos , enquanto figuras maximas do país sõ a negação disso mesmo. Comportam-se ao nivel dos dono da Bola.

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  2. aremandus permalink
    8 Julho, 2012 22:23

    Rui A.,não desespere.
    ainda não chegamos aos patamares da tributação da suécia….da noruega….
    Rui A., nalguma coisa teríamos que estar a morder os calcanhares dos melhores!

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  3. 8 Julho, 2012 22:35

    Esperem mais 70 anos e o assunto “Portugal” estará resolvido!
    Leiam e analisem as estatísticas e não se esqueçam que em Portugal houve nos últimos 200 anos uma “revolução” (em média) a cada 40 anos.

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  4. 8 Julho, 2012 22:42

    Mas Portugal já deixou de honrar os seus compromissos. Já houve default parcial nos contratos de trabalho do estado. O que há é uma tentativa de proteger do default os interesses que efectivamente controlam o governo.

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  5. 8 Julho, 2012 23:38

    Rui A.,
    Certeiro post.
    Os tugas que elegem secretários gerais e presidentes de partidos políticos, têm –se quiserem e se conseguirem discernir– de CONTRIBUIR para a evolução possível do país, anulando nas eleições internas, certas alimárias que, para tragédia máxima das pessoas, posicionam-se como candidatos e num caso e outro, conseguem ser primeiros-ministros. Rodeados por um cardápio de alguns ministros e secretários de estado incompetentes e eticamente desaconselháveis. Começa por aqui o mal tuga ! — eleições internas nos partidos.
    Despois…outro mal : os eleitores analfabetos(!), bovinizados(!) pelo partido ou pelo cacique local. Que, coitados(!), não pensam porque não querem ou não conseguem para além da anestesia e votam, elegem ou reelegem(!) festiva e alarvemente os seus carrascos.
    Portugal tem cada vez menos condições para ser um país atraente e “usável” — culpa de governantes (desde autarcas a PM’s) e de muitos patetas que os reelegem e veneram.
    De PPCoelho e do seu governo, eu esperava mais sinceridade, competência e humanismo. O mais esperto de todos os ministros é PPortas, que escolheu os ministérios mais convenientes em termos eleitorais e, “de mansinho”, já fala como um PM e

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  6. Portela Menos 1 permalink
    8 Julho, 2012 23:41

    quanto é que falta? 2.000 milhões para 2012 e outro tanto para 2013?
    quanto estamos a pagar de juros à troika? – JMiranda, que nos dá lições de álgebra, pode dar uma ajuda no cálculo.

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  7. andresilva permalink
    9 Julho, 2012 00:25

    Inevitavemente e inexoravelmente, as coisas vão acontecer tal como está descrito nos post. Voltámos à posição inicial: orgulhosamente sós.

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  8. JoaoMiranda permalink*
    9 Julho, 2012 00:30

    Portela Menos 1,
    .
    Grandes soluções que vocês inventam. Agora só têm que convencer a troika que não lhes vamos pagar.

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  9. simil permalink
    9 Julho, 2012 00:43

    Excelente post, rui a.
    E que desencanto é já a esta hora pensar a figura do nosso barítono, cheia de promessas, intenções e lata, quando ainda não governava, ante a arrogância, presunção, autismo, tão depressa manifestos, como uma desilusão chapada .

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  10. Joaquim Amado Lopes permalink
    9 Julho, 2012 01:04

    João Miranda,
    Os “inteligentes” como o “Portela Menos 1” vêm para o mundo à sua volta de forma selectiva. Queixam-se dos juros que pagamos à “troika” e “esquecem-se” de que esses juros são muito menos do que o dinheiro que todos os anos precisamos de pedir emprestado e que, recusando pagar os juros à “troika”, teremos que o ir pedir emprestado a quem exigirá juros bastante mais altos. Ou poderemos não o pedir emprestado a ninguém (o que seria o ideal), ficando-nos a “faltar” muito mais do que os tais 2.000 milhões de euros por ano.
    Enfim, “inteligentes” ao pé dos quais as pedras parecem génios.

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  11. Edgar permalink
    9 Julho, 2012 01:05

    Dizia-se de um ditador africano que a sua fortuna pessoal era igual à dívida do país. No nosso caso, não será de um só mas de alguns beneficiaram e continuam a beneficiar deste descalabro. A areia dos buracos foi de certeza para alguns aterros.
    Conhecendo-se a promiscuidade que tem sido denunciada e a que se suspeita estará ainda escondida, considero muito benevolente a sua afirmação sobre a incapacidade dos governos mas dou-lhe os parabéns pela frontalidade de denunciar que este caminho “nos conduzirá ao mesmo destino, provavelmente muito mais pobres e ainda mais irrecuperáveis do que já estamos, quando fatalmente lá chegarmos”.

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  12. Portela Menos 1 permalink
    9 Julho, 2012 01:10

    JoaoMiranda, Posted 9 Julho, 2012 at 00:30
    .
    e por que não baixar os juros? as soluções de mais austeridade em cima de miséria, que vocês defendem, está a dar o resultado que vamos conhecendo.

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  13. Portela Menos 1 permalink
    9 Julho, 2012 01:15

    Joaquim Amado Lopes,Posted 9 Julho, 2012 at 01:04
    .
    hoje ao sr Amado deu-lhe para escrever sobre inteligentes. não se preocupe que não quero fazer parte do seu grupo de espertos que acham que a Europa vai ser salva pela ex-ministra das finanças de frança.

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  14. Joaquim Amado Lopes permalink
    9 Julho, 2012 01:52

    Portela Menos 1 Posted 9 Julho, 2012 at 01:10
    (só?) Hoje o sr Menos deu-lhe para inventar intenções a quem não conhece e que não escreveu uma linha que fosse que o aproximasse dessas intenções.
    O Joaquim (não gosto de ser tratado por “sr” e, a ser, seria por “sr Amado Lopes”) não acha que a “ex ministra das Finanças de França” salve seja o que fôr. O Joaquim quer é que os “esturricadores do dinheiro dos outros” deixem de tirar dinheiro às famílias e às empresas para o deitar para a fogueira dos sintomas dos problemas, o que não apenas não resolve os problemas como os piora.

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  15. Portela Menos 1 permalink
    9 Julho, 2012 02:00

    Joaquim Amado Lopes,
    pois a mim pode tratar-me por Menos que o Portela não se importa.
    quanto ao dinheiro tirado às famílias e às empresas … está quase de acordo que baixem os juros da troika.

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  16. the lost horizon permalink
    9 Julho, 2012 06:28

    Então o jovem jotinha, não foi o chefe da jota pequena? Agora jotão, é o chefe da jota grande. Quem o lá pôs é que devia gramar com ele.
    .

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  17. Trinta e três permalink
    9 Julho, 2012 06:59

    Pelos vistos, este posto do Rui A. teve o mérito de encontrar o ponto em que todos estamos de acordo: basta de tirar dinheiro às famílias e às empresas. O que este governo (dececionante!) tem feito, é tentar aumentar a receita através dos impostos, e reduzir a despesa naquilo em que não o devia fazer: a qualidade dos serviços que o Estado deve prestar aos cidadãos. Não vimos acabar um único cargo inútil, dos tais que foram criados para alimentar clientelas; não vimos uma definição concreta das tais “gorduras” usadas na propaganda; não vimos inverter o caminho em relação a PPP, fundações, etc.; não vimos uma identificação clara do despesismo evitável em setores como a Saúde, Educação, autarquias locais; não vimos uma única ideia clara sobre a reforma da Segurança Social. Depois, mesmo em relação à coleta, continua-se a penalizar o processo de criação de riqueza, em vez de o fazermos em relação à riqueza parasitária. Assim sendo, não parece ser muito difícil encontrar o ponto de partida. Dificil talvez seja encontrar quem o queira aproveitar

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  18. desiludido permalink
    9 Julho, 2012 07:27

    Não obstante os sucessivos escândalos , tudo recheado de camufladas incompetências , é urgente prolongar a crise até às próximas eleições , enchendo o bolso e quem vier que se governe … Tudo perante a inconstitucional apatia(#) de Cavaco Silva !…
    (#) Mas que simpático termo !…

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  19. neotonto permalink
    9 Julho, 2012 07:42

    “Ou seja, não serve para coisa nenhuma, a não ser para empobrecer as pessoas e para adiar e agravar o colapso anunciado”.RUI A.

    Novidade no discurso? As cassandras Neox anunciando com as suas trombetas blogueiras o que quase todo o mundo havia intuido, pressentido ou afirmado(só que agora se está a confirmar) por ejem. pelo Professor Arroja aquí e noutros blogues faz uns anitos atrás?
    Agora vem esta gentinha reclamando com a sua diplomatura-de-vidente– adquirida- Deus sabe como em um cursinho aceleradode de microeconomia doméstica (tudo quanto antes só era Macro agora ficou incredivelmente Micro) em uma qualquer Universidade privada em Portugal?.
    Mais qual a novidade?
    O Egipto antigo botouse a perder com dez pragas enviadas por Deus. Alguem histororiu a historia de Egipto de esta forma. Para a historia uma das pragas (a oitava) consistitu em uma invasao de voraces langostas que devastou a regiao. Todo foi um equivoco. Se a historia de entao houvesse contado ja com um bom traductor de jeroglificos egipcios todo o mundo hoje saveria que a tal praga só foi uma invasao de voraces neoliberais que deixou sumido o pais em uns anitos de depressao economica e psicologica total.
    Voltando para o seculo XXI ,uns anitos que poderia dar em décadas de austeridade, dieta e superdieta Dukan -aplicada nos Estados e que vai deixar a Europa (perdao alguns paises Europeus o que nao é o mesmo ainda que parece que é o mesmo pois nao é) em umas décadas de magro e escaso crescimento, namentras os alemaes a pisar em certa europea do Sul e a claque Neox a aplaudir…Deus nos castiga, Deus nos castiga, por esbanjadores. Merecemos, Mercemos este castigo e mais.
    Entretanto todo esto ainda continua sendo peanuts, na situaçao que nos espera…
    Esperamos para esta semana umas palavaras da dona Merkel ja definitivamente iluminada e no bom caminho da Europa unida, igualitaria e solidadria para contrarestar os efeitos pesimistas da leitura destas cassandras-neox.
    Dama de Gelo, sff. Pronunciese. Estamos a espera de ouvir tao argentina , sonora e cantarina voz…

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  20. Monti permalink
    9 Julho, 2012 08:31

    «as reformas estruturais – as “grandes reformas”»
    A do Estado/RTP, que não f…nem sai de cima.
    A do Chief of Defense, que «lamenta não ter ainda implementado o desejo de há um ano: por meios da Força Aérea no combate aos fogos florestais»
    Why?
    Não manda? Não decide?
    Ou foi ‘alertado’ por alguns amigos com interesses particulares e negócios no métier?
    “Who is in charge?”

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  21. Joaquim Amado Lopes permalink
    9 Julho, 2012 21:54

    Portela Menos 1,
    “quanto ao dinheiro tirado às famílias e às empresas … está quase de acordo que baixem os juros da troika.”
    Mais uma vez, a colocar “na boca” de outros o que eles não disseram.
    .
    A “troika” emprestou-nos dinheiro porque nós lho pedimos. E pedimos-lhe porque as alternativas eram (1) pedir dinheiro emprestado ao mercado ou (2) o Estado entrar em colapso financeiro.
    A “troika” fez um acordo com o Estado português e, considerando as alternativas a esse acordo, foi um excelente acordo para nós. Emprestou-nos o dinheiro de que precisavamos em condições muito mais vantajosas do que o mercado. Assim, só temos três hipóteses que dependem de nós: (1) cumprimos o acordado na medida do possível, (2) devolvemos o dinheiro que nos foi emprestado e “amanhamo-nos” sem ele ou (3) recusamo-nos a pagar o acordado e ficamos com o dinheiro da “troika”. Não posso falar por si mas parece-me que a escolha é óbvia.
    .
    Alguns dirão que devemos renegociar o acordo com a “troika”. Bem, quanto melhor fôr o acordo que conseguirmos melhor para nós. Mas essa renegociação não depende só de nós (ao contrário de alguns, não tenho pretensões de dizer aos outros o que fazerem com o seu dinheiro) e não me parece que a “troika” se disponha a negociar com quem demonstre estar de má-fé e não pretender cumprir aquilo com que se compromete.

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  22. 10 Julho, 2012 08:31

    Muito Bom post.

    Realmente, este flagelo agrava em muito a situação do pessoal…

    Na esperança de poder ajudar,

    deixo alguma informação adicional sobre trabalho temporário… não é solução, mas pode contribuir para um começo diferente… As pessoas não podem é desanimar! Força aí!

    Trabalho e Empregos Temporários para os Jovens Encontra tudo sobre o trabalho temporário para jovens. Descobre onde, como e em que contexto esta poderá ser uma solução!
    http://www.trabalhoparajovens.blogspot.com/

    Força!

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