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E porque não um referendo a todos* os orçamentos?

23 Outubro, 2012

O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Diogo Freitas do Amaral defendeu hoje, na Marinha Grande, que, no futuro, as leis do Orçamento do Estado tenham um visto prévio do Tribunal Constitucional. (Público)

O Governo e os deputados assumiram a obrigação de respeitar a constituição, mas, antes disso, assumiram compromissos com os eleitores. Em vez de um visto prévio do TC, seria mais eficaz para a paz social o visto prévio dos eleitores, através da aprovação ou ratificação referendária dos orçamentos de estado, tanto mais justificada quanto mais distantes estejam os orçamentos dos programas eleitorais e de governo.

De acordo com o Público, Freitas do Amaral defendeu a sua ideia dizendo que “é mau se o tribunal concluir que existem inconstitucionalidades meses depois“. Ora, a função do TC não é declarar a conformidade de uma determinada lei com a constituição, mas a sua desconformidade, tendo em conta determinados argumentos. A não declaração de inconstitucionalidade em sede de fiscalização preventiva não implica que a lei seja, em absoluto, constitucional e não impede que, num outro processo e por outras razões, a mesma norma seja declarada inconstitucional.

Além disso, o TC não aprecia a (in)constitucionalidade de leis em bloco mas apenas a das normas concretas cuja eventual inconstitucionalidade lhe seja expressamente suscitada (pelo PR ou por qualquer outra entidade com legitimidade para o requerer). Por isso, a fiscalização prévia da constitucionalidade do OE só serviria para evitar futuros processos de inconstitucionalidade quanto às concretas normas relativamente às quais o PR manifestasse dúvidas fundadas. E nem isto é totalmente verdade, pois a constituição tem muitos artigos, a violação de qualquer deles pode ser fundamento de inconstitucionalidade e o PR não pode pedir (ou não costuma pedir) ao TC que averigúe a conformidade de uma norma com todos os artigos da constituição (problema de resposta impossível em tempo útil).

Imagine-se que o PR pede ao TC que aprecie a eventual inconstitucionalidade da diminuição dos escalões do IRS por violação do princípio da progressividade dos impostos ou a do aumento do IMI por violar o artigo 104.º, n.º 4 da CRP. O TC diz que não, que aquelas normas do OE não violam aqueles princípios e normas constitucionais. Mas haverá certamente algum jurista (e alguém com disponibilidade para pagar as taxas de justiça dos recursos de constitucionalidade) capaz de argumentar que quer o escalão máximo do IRS quer o IMI violam o artigo 62.º n.º 1. E se o TC vier a dizer que, afinal, os novos escalões do IRS ou que o o aumento do IMI são inconstitucionais (por estas diferentes razões) nem sequer entrará em contradição (nem será a primeira vez que o faz).

*Como o referendo tem custos, poder-se-ia dispensar o orçamento rectificativo que não alterasse, por si só ou em acumulação com os anteriores, 5% da despesa ou receita previstas.

17 comentários leave one →
  1. André's avatar
    André permalink
    24 Outubro, 2012 05:52

    Tem toda a razão, um referendo é certamente a melhor opção. Para mais, teríamos uma aproximação da democracia à população. Mas será que isso não era um referendo à própria austeridade, que a Troika quer evitar a todo o custo? Para mais, um referendo em Portugal corre sérios riscos de não surtir efeito porque muitas pessoas não se dignam a ir votar. É dificil querer uma aproximação à democracia quando somos uma minoria que quer essa aproximação.

    P.S. Acho ainda que devia haver outra matéria referendada, qualquer alteração à Constituição deveria ser referendada pela população. Com isso, o governo não alteraria a Constituição da maneira que queria.

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  2. Hawk's avatar
    Hawk permalink
    24 Outubro, 2012 06:50

    Poderá existir uma democracia sem democratas?

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  3. Carlos's avatar
    Carlos permalink
    24 Outubro, 2012 08:15

    “Não é necessário! Tive uma ideia melhor! E se eu baixasse 10% aos ricos e poderosos que auferem o valor mínimo do subsídio de desemprego?”
    Pedro Mota Soares

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  4. Marão's avatar
    Marão permalink
    24 Outubro, 2012 08:16

    Já agora proponho que Freitas ponha a referendo as reformas que acumula e rendimentos de actividades que exerce.

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  5. Wall Streeter's avatar
    Wall Streeter permalink
    24 Outubro, 2012 08:18

    Vá lá, haja paciência, afinal Portugal não é um país nórdico…
    Até se estranharia a ausência de banzé…

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  6. trill's avatar
    trill permalink
    24 Outubro, 2012 08:51

    porque não convém que se ponham em causa as fnats, inateis, fundações e outros que tais, e as “entidades” reguladoras que só regulam a favor de um ou de outro dos lóbis, logo mais valia não existirem. Para não falar do elefante dentro da sala que é a “alta” (nos honorários) autoridade para a com social, constituída por ex rtp’s e rdps! Aberração! Tuga aberração! E o srs deputados não se sentem com capacidade, e remuneração, para regularem?

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  7. trill's avatar
    trill permalink
    24 Outubro, 2012 08:53

    não adianta, nada adianta comentar aqui. Os “reguladores” riem-se dos nossos comentários e a UE é uma impotente farsa que vai estourar. Só já os militares têm o poder de convencer “de facto”.

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  8. trill's avatar
    trill permalink
    24 Outubro, 2012 08:55

    mas quando entrarem em cena, se entrarem, não se esqueçam da corrupção interna, dos generais dos subs, dos helis e por aí fora. Só se atacarem o cancro dentro da própria instituição ganharão legitimidade e serão amplamente apoiados e louvados.

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  9. Grunho's avatar
    Grunho permalink
    24 Outubro, 2012 08:58

    Primeiro, é claro, vão pedir um visto à Merkel e “sus muchachos”

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  10. Pardal's avatar
    Pardal permalink
    24 Outubro, 2012 09:01

    Afinal em que ficamos, Freitas?
    Não adianta nada, não é?
    O arranjinho está feito a favor dos mesmos,não é?

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  11. fralves's avatar
    24 Outubro, 2012 09:03

    E também deveria ser obrigatório o Tribunal Constitucional aprovar previamente a ida do Sr. Professor à casa de banho.
    O principal problema de Portugal são os tribunais ou, mais precisamente, o seu péssimo funcionamento.
    Seria extraordinário que os Senhores juízes se focassem em garantir um muito melhor funcionamento dos tribunais e deixassem a governação para os representantes do povo.
    Estes podem não ser “grande cousa”, mas ao menos são eleitos por nós.

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  12. piscoiso's avatar
    piscoiso permalink
    24 Outubro, 2012 09:06

    O referendo ao orçamento seria muito instrutivo.
    Eu por exemplo, nunca li um orçamento na vida e teria de me debruçar pela primeira vez sobre um orçamento para poder votar em consciência.
    Nem sei se conseguiria ler o orçamento até ao fim, se a sua leitura não for apelativa.
    A não ser que me pagassem para o ler.
    .
    Mas afinal para que porra é que os deputados foram eleitos, com as mordomias que têm?

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  13. trill's avatar
    trill permalink
    24 Outubro, 2012 09:10

    “Mas afinal para que porra é que os deputados foram eleitos, com as mordomias que têm?”
    .
    para fazerem as imensas negociatas dos grupos económicos e escritórios de advogados que lá estão a representar.

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  14. trill's avatar
    trill permalink
    24 Outubro, 2012 09:12

    “Grunho
    Posted 24 Outubro, 2012 at 08:58
    Primeiro, é claro, vão pedir um visto à Merkel e “sus muchachos””

    .
    vejo que anda atento…

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  15. pedro's avatar
    pedro permalink
    24 Outubro, 2012 10:35

    mas o tribunal constitucional não devia ser extinto. Isto é conversa para boi sentado, dos senhores como este ,que levaram portugal ao lindo estado em que está. Eu,penso que vamos ter mais cem anos para pagar a dívida, se até lá este país não for provincia de angola ou brasil .Chegamos ao fim da linha ,até o sócrates volta a mandar bocas .Vou deixar de comentar e desejar que a rua ponha no devido lugar as elites corruptas que nos têm governado.

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  16. Hawk's avatar
    Hawk permalink
    24 Outubro, 2012 11:10

    Pedro,
    provincia de Angola, do Brasil ou… de Espanha.

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  17. alsameiro's avatar
    alsameiro permalink
    24 Outubro, 2012 15:12

    E SE A ASSEMBLEIA NO INICIO DO NOVO ANO FISCALIZASSE O DESEMPENHO DO ORÇAMENTO ANTERIOR!

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