um abril vitorioso

Éh pá, estás mesmo vidrado. Sabes, e isto é apenas para te dar que pensar, é possível que na tua vida nunca tenhas sido obrigado a passar 4 anos de tropa obrigatória quando tinhas 20 anos, acabadinho de os fazeres, sem poderes iniciar tua vida profissional mesmo com um curso acabado e quando havia empregos até bem remunerados, sem poderes sair do país a não ser com autorização oficial e se tivesses as condições que achavam que tinhas, para além do dinheiro para tal. Também talvez nunca tenhas tido o “azar” de, mesmo na adolescência ou mais tarde, não poderes falar ou escutar, ler e cultivares-te sobre o que te ia na alma num país cinzento onde nada, ou quase nada, acontecia ou mudava. Muitos e muitos talvezes possa enumerar, quem como eu, foi obrigado a viver numa sociedade onde a sombra do medo era constante, onde não havia escolhas, onde a denuncia aberta de alguém teu vizinho que por cargo obtido te podia humilhar era o caminho para te cortarem as pernas, mesmo que já não andasses. Por isso e muito mais eu, contrário a ti, comemoro o 25 de Abril, mesmo partilhando tudo o que dizes. E essa data que eu comemoro hoje e sempre nada tem a ver com a tristeza de viver numa sociedade que sempre foi podre, fraca e aberrante ao ponto de permitir e alimentar o pior dessa mesma sociedade, que tendo todas as condições para poder tornar-se a partir desse Abril uma sociedade justa, fraterna e humana, se deixou cair nas mãos de políticos desonestos, de homens de justiça que a usam para seu único usufruto, de donos deste país que apenas actuam no aumento desse poder de serem cada vez mais donos, alimentando os “padrinhos” das mafias oficializadas que tudo controlam e decidem. Contráriamente, a data que eu comemoro tem a ver com a unica janela que se abriu na história recente desta sociedade para um futuro melhor, mas sejam os que apareceram Carneiros, Gonçalves, Mários, Almeidas, Eanes, Pintassilgos, Alvaros, Patos, Freitas, Sousas, Barrosos, Santanas, Guterres, Balsemões, Silvas, Passos, Portas, Ulriches, Espíritos e tantos outros e ainda mais os que irão aparecer, o que me faz tristeza é saber que vivo rodeado de imbecis que a esses se curvam, sem se aperceberem nem quererem saber que cada vez que se curvam mais humilhados são. Chama esquerdismo, fascismo, comunismo ou outro qualquer ismo a isto ou outra coisa qualquer que eu, contrariamente a ti, sempre irei comemorar o 25 de Abril, mesmo que tenha de juntar um pouco de wisky ao frasco de soro quando e se tiver de o comemorar na cama de um hospital…ih..ih..ih. É que eu, tal como tu, também sou filho de boa gente. E só por tacanhês ou falta de inteligência é que eu, contráriamente a ti, ainda ando por aqui a aturar esta pouca vergonha.”

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