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CONFUSÃO!*

1 Junho, 2013
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É aquilo que existe no panorama político nacional. Não é só no domínio governamental que a confusão política – ou, por vezes, a ausência de política, geradora, inevitavelmente, de confusões – se faz notar. A oposição tem sido, ela própria, uma grande confusão. Veja-se, por exemplo, o pormenor da conferência promovida por Mário Soares, ontem (anteontem), em Lisboa e subordinada ao tema “anti austeridade”. A iniciativa pretendeu mesmo voluntaristicamente celebrar o nascimento de uma frente de esquerda. Já agora, acrescente-se, com aquele tom grandiloquente que sempre marca este tipo de iniciativas com aspirações “históricas”. Com efeito, não foi uma iniciativa qualquer: tratou-se de um “apelo patriótico”, nas palavras dos seus organizadores. Pretendeu juntar toda a esquerda, ou seja, PCP, BE e PS, para “Libertar Portugal da Austeridade”.

Acontece que, nessa frente comum que teve, inclusivamente, o apoio (pelo menos, noticiado na imprensa) do sempre crítico (principalmente do Governo atual) Pacheco Pereira, o Secretário Geral do PS, embora elogiando a iniciativa, anunciou, desde logo, a sua ausência. Carlos Zorrinho, até ao momento em que escrevo estas linhas, também preferiu um não comprometedor “nim”: condicionou a sua presença, a eventuais imperativos de agenda. Ou seja, o PS – o único partido de poder, desse projetado “arco-anti-austeridade” – não quis ser desagradável, mas também não se quis comprometer. E compreende-se, sobretudo, depois de ouvidas as declarações impunemente despreocupadas de Mário Soares. É sempre bonito ouvir dizer “que se lixe a troika”, ou reagirmos contra o facto de Portugal estar numa situação de protetorado financeiro dos nossos credores. É simpático berrar contra tudo e todos que tenham a responsabilidade de pagar (bem ou mal) as contas que outros nos deixaram. No entanto, quem quer ser poder, tem que nos mostrar um rumo, tem que ter uma política. Enfim, importa ser uma alternativa credível, razoável e operativa; ter uma política que, sem ser um berreiro (desabafo) inconsequente, possa ser algo diferente, no essencial, daquilo contra o que se berra. E Seguro ainda procura, afanosa e erraticamente, esse mapa do seu (e do nosso) tesouro.

Mas a “mãe” de todas as confusões em que se tem enredado a oposição (com responsabilidades de governação), reside, precisamente, na narrativa contra a “política de austeridade”. Não percebeu que a austeridade passará a ser, doravante e inelutavelmente, a regra. Não há margem para regressos ao passado da não austeridade pública e do crescimento nulo. O que faltará, porventura, é mesmo uma austeridade com política. Uma política (boa) de austeridade.

* Grande Porto, sexta feira, 31.05.13

11 comentários leave one →
  1. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    1 Junho, 2013 11:59

    nem se percebe como, sendo a iniciativa de pouca importância, lhe dedicam tanto espaço nos últimos dias no Blasfémias; deve ser aquela coisa estranha de se ser oposição à oposição, uma vez que defender o governo – obrigação dos situacionistas – já se tornou … insustentável!

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  2. Piscoiso's avatar
    1 Junho, 2013 12:15

    O próximo post vai ser sobre a confusão no Governo… por culpa da confusão na oposição.

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  3. licas's avatar
    licas permalink
    1 Junho, 2013 12:27

    Parece-me que . . .
    O próximo será quais os *apaniguados* Piscoisicos (os que andam ao pão dos patrões), que na vigência no futuro Governo (de esquerda, claro está), estarão na fila de espera na sede dos ratos do Largo . . .

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  4. Sebastião Coelho's avatar
    Sebastião Coelho permalink
    1 Junho, 2013 15:49

    Esta conferência não foi para promover a fusão da esquerda, mas para aumentar o ego do Mário, como grande figura portuguesa. Que quando é necessário meteu o socialismo na gaveta!

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  5. A C da Silveira's avatar
    A C da Silveira permalink
    1 Junho, 2013 16:30

    A conferência antitroika que aconteceu na Aula Magna, não passou de um comicio cuja cabeça de cartaz era Mário Soares, que anda a desbaratar o que lhe resta do pouco prestigio que ainda tem junto dos portugueses, nestas palhaçadas.
    Não precisavam de organizar aquilo para dizer o que lá disseram o Soares, o Pacheco Pereira, os representantes do PS, do PCP e do BE, e para fechar o espectáculo o Reitor da Universidade de Lisboa, que merecia outra pessoa, com um perfil cientifico e intelectual muito mais sólido, a dirigir-lhe os destinos, porque é o que eles dizem todos os dias de cada vez que lhes põem uma camara de tv e um microfone, à frente dos narizes.
    A resposta dos portugueses, que estão em grande numero a passar por grandes sacrificios, aos que andam a explorar politicamente de uma forma miseravel as suas dificuldades, está a ser dada esta tarde: as manifs anti-troika estão às moscas: só lá estão os do costume.

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    • Portela Menos 1's avatar
      Portela Menos 1 permalink
      1 Junho, 2013 17:32

      Falta incluirem o Provedor de Justiça como mais um inimigo…

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      • A C da Silveira's avatar
        A C da Silveira permalink
        1 Junho, 2013 18:24

        O Provedor de Justiça mostrou de que massa é feito. Agora também é comentador politico.
        Se tivesse coluna vertebral, antes de se por a dar entrevistas à sempre solicita Flor Pedroso, demitia-se do cargo.

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      • Portela Menos 1's avatar
        Portela Menos 1 permalink
        2 Junho, 2013 00:26

        demitia-se do cargo e nomeavam o Valentim Loureiro 🙂

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  6. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    1 Junho, 2013 17:02

    Gosto destas luzinhas no Blasfémias. Subscrevo a lucidez do texto. Mas também aprecio os grupos em causa e as suas lutas, dentro das normas de uma sociedade democrática. E não aprecio nada as virgens ofendidas porque sorrateiramente alguns grupos fazem pequenas partidas a governantes, com aquela de rirem uns segundos numa apresentação de Gaspar.
    ———-
    Mas gosto não porque concordo com tudo, mas sim porque a um extremismo governativo deve corresponder uma resposta na outra ponta da corda.

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  7. murphy's avatar
    murphy permalink
    1 Junho, 2013 21:20

    A “confusão” é o ambiente desejado por aqueles que tentam resistir a qualquer mudança do status quo…

    Eis o desafio da próxima década: será possível implementar as mudanças que Portugal precisa, as quais passam inevitavelmente pelo corte nos recursos que sustentaram nas últimas décadas o modelo de riqueza das “elites” da capital, quando será precisamente esse grupo – que domina completamente a opinião pública e a agenda mediática – o mais prejudicado por essas medidas?
    http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/05/do-portugal-silencioso.html

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  8. Trinta e três's avatar
    Trinta e três permalink
    2 Junho, 2013 17:23

    Todas estas iniciativas são positivas e pena é que, à direita, ainda haja algum preconceito e se confunda crítica a este governo, com apoio à esquerda. Desde que o tom começou a subir e, “lá fora”, começaram a perceber que, por cá, até havia quem defendesse a saída do euro, o discurso começou a mudar. Agora, até a senhora alemã já atira as culpas para a falta de habilidade do Durão…

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