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Cheio de razão

5 Julho, 2013

Santana Lopes: Se há conversa que me enerva é a de que “por muito menos, Sampaio mandou embora o seu Governo” ou, no mesmo sentido, “comparar isto com o seu Governo…”. Ainda por cima, dizem isto à espera de que eu agradeça a generosidade.
E quando amigos mandam SMS informando que Ricardo Costa, ou alguém do meio, acabara de afirmar que me devia um pedido de desculpas como se levassem a sério essa retórica e como se me aquecesse ou arrefecesse essa retórica de circunstância.
Enerva-me por uma razão muito simples: não tem comparação. Pondo de lado quaisquer comparações de ordem pessoal, qualquer juízo sobre as capacidades dos diferentes protagonistas, objetivamente não existe comparação. Basta um motivo: em 2004 não houve qualquer dissonância, em expressões públicas, entre responsáveis e partidos da coligação. Uma única exceção: Paulo Portas não foi à sessão de encerramento de um Congresso do PSD porque alguns congressistas fizeram intervenções críticas para a coligação.
Em 2004, Jorge Sampaio dissolveu quando existia uma maioria coesa no Parlamento e quando não aconteceu qualquer diferença pública de opinião entre mim e o então Ministro de Estado e da Defesa, Paulo Portas. Agora, como se sabe, não tem sido assim. Não estou com isto a defender – porque seria contra – que existam razões para o Presidente tomar decisão idêntica. Mas, naturalmente, é mais fácil a um Presidente que queira convocar eleições ter divergências graves na maioria parlamentar do que não as ter. Na altura não existia propriamente crise, não havia troika, nada de greves gerais e quase nada de manifestações.
Compreenderão, pois, que deteste essa conversa, que é feita às vezes por amigos bem-intencionados e quase sempre por quem de amigo não tem nada. Para além do mais, o mal está feito. Mas chega dessa conversa. Em minha opinião, Cavaco Silva tem agido com toda a ponderação, com toda a serenidade, tentando salvaguardar aquilo que considera exigível pelo interesse nacional. É assim que deve agir um Chefe de Estado: não ceder ao rufar de tambores.

6 comentários leave one →
  1. balde-de-cal's avatar
    balde-de-cal permalink
    5 Julho, 2013 08:57

    os romanos tinham deuses para tudo. o deus das portas era Jano.
    este era inicialmente Bifronte. com o Imperador Domiciano passou a ser Quadifronte,
    ou seja, passou a ter 4 caras. as portas do seu templo no Forum fechavam-se em tempo de paz.
    por cá teremos paz podre em tempo de calor tropical, isto é,
    ‘segurem-me ou cometo uma desgraça’

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  2. YHWH's avatar
    YHWH permalink
    5 Julho, 2013 09:20

    Logo este governo acabou…

    Mas como a Helena deve ser contra o «desligar da máquina» por a máquina surgir como uma benesse e consentimento divino entre os cultores do pensamento mágico e sobrenatural, eis que tudo deve ficar como antes….

    Viva o quartel de «Abrantes»!…

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  3. O Autor's avatar
    5 Julho, 2013 11:05

    Cara Helena,

    Sem prejuízo das reservas que guardo para qualquer figura política (o track record desta gente não ajuda, de facto) tenho gostado das intervenções lúcidas de Pedro Santana Lopes. Sobre este tema, aproveito para partilhar uma pequena peça de ficção minha, também uma experiência em inglês, onde figuram personagens ficcionadas como Viktor Gus Par, Paul Entrance, Eddy Steel, Frank Asis e Helen Splendour.

    Aqui fica o “Mother will be so proud!”
    http://antologiadeideias.wordpress.com/2013/07/03/mother-will-be-so-proud/

    Espero que goste(m)!

    O Autor
    Antologia e Ideias
    blog: http://antologiadeideias.wordpress.com/
    facebook: https://www.facebook.com/antologiadeideias.wordpress
    e-mail: antologia.wordpress@gmail.com

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  4. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    5 Julho, 2013 11:33

    Como se pode concluir pelo texto de Santana Lopes, há infinitamente mais razões para demitir este governo de PPC do que o dele. Nem é só demitir, mas expulsar, empurrar, sei lá. Este governo merece ser expulso e Passos Coelho e Portas impedidos de exercer mais cargos públicos até ao fim da vida. Coisa que não penso de Santana Lopes. Nunca pensei que na minha vida veria tal coisa na administração do meu país.
    Digo há muito tempo que Passos Coelho e Portas iriam conseguir transformar Sócrates num super-herói e grande homem de Estado. Para meu profundo desgosto, conseguiram.
    O problema é que duvido que eleições antecipadas resolvam grande coisa, dado o estado da oposição.

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  5. lino's avatar
    5 Julho, 2013 12:29

    “há infinitamente mais razões para demitir este governo de PPC do que o dele” ? Também podemos ler de outro modo: havia infinitamente menos, ou nenhumas, razões para demitir o dele. Sobretudo sabendo nós agora o que veio a seguir.

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  6. @!@'s avatar
    5 Julho, 2013 13:26

    Vindo do “dandy” armado em “enfant terrible”, o tal da má moeda, isto faz lembrar que está a dar uns trocos para a sobrevivência do ….aliás não se pode demitir o presidente?

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