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Quem será o nosso Monti? (III)

11 Julho, 2013
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Cavaco baralhou toda a gente, a começar pelos “comentadeiros” do regime. Daqui a algumas horas conheceremos as reacções que contam, quando os mercados abrirem. Para já, estão os partidos a lamber as feridas e o cidadão comum, saturado deles e a não querer ouvir falar de eleições, receptivo a um governo presidencial que, no limite, poderá ir até 2015 e definir o rumo pós-Troika.

Jogada de alto risco? Sem dúvida, mas é pouco crível que não tenha o respaldo de Bruxelas e do FMI, que já devem há muito estar inundados de relatórios da Troika repletos de cepticismo quanto à capacidade do actual governo cumprir com os cortes de 4,7 bi e com a prometida reforma do Estado. Sem essas medidas drásticas que provocarão dores lancinantes, poderemos estar condenados ao mal maior, o default e a saída do Euro, já que o 2º resgate pode não recolher o apoio dos parlamentos europeus, como Cavaco alertou. Daí que os nossos credores já terão interiorizado a necessidade de um governo de tecnocratas como a derradeira hipótese de se cumprir o programa de ajustamento, mesmo com todos os reajustamentos já incorporados.

Politicamente exequível? Em Portugal, em condições normais, jamais seria. Mas os partidos estão assaz debilitados, descredibilizados, incapazes de implementarem por si as medidas previstas no memorando e sem engenho e arte para contraporem quaisquer políticas alternativas. Sem dinheiro nem crédito e não tendo descoberto petróleo, a sua impotência é total e estão condenados a viabilizar no parlamento orçamentos super restritivos, para serem executados de forma implacável por tecnocratas. O cheque pendente de cada avaliação, será o cutelo sempre ameaçador ao tradicional laxismo tuga.

Estabelecer o consenso nesta base entre os partidos do “arco da governação” não revestirá efectivamente grande “complexidade técnica“. E Cavaco já terá seguramente a “personalidade de reconhecido prestígio” para o “negociar” com os partidos e quiçá para liderar o “seu” governo. Carlos Costa encaixa como uma luva no perfil exigível: hábil negociador, totalmente fora da partidocracia, com uma extensa rede de contactos internacionais, tão ou mais conhecido e respeitado em Bruxelas, no BCE e no FMI do que Vítor Gaspar e totalmente inteirado dos dossiers e dos números da economia e finanças portuguesas. Fluentíssimo no “economês”, o que lhe facilita a comunicação com a Troika, consegue traduzi-lo na perfeição para o português mais queirosiano e dialogar com a inumeracia reinante. Letrado ainda em História para diagnosticar de forma (im)pertinente as imperfeições do nosso sistema político e propor ao Parlamento as reformas que há muito urgem. Se aceitar ser indigitado, Vítor Gaspar será o seu mais provável sucessor no Banco de Portugal, o que lhe garantirá um canal permanentemente aberto com o BCE.

Para quem andava a “suspirar” por um Monti, não consegue em Portugal melhor escolha. E sem o “cadastro” de ter pertencido à Goldman Sachs…

9 comentários leave one →
  1. Monti's avatar
    Monti permalink
    11 Julho, 2013 07:45

    Da improvável reforma do Estado.
    a) AR e sistema eleitoral: com o SE totalmente renovado, deixado de ter como cabeça de lista por Faro, um qq membro de um pp (João Soares, PS, por ex);
    Redução de deputados para metade, com % X a tempo inteiro, Y podendo acumular com actividades liberais;
    menos juristas, mais engenheiros.
    b) PR deixa de ser servido por uma côrte medieval: meia centena de assessores a configurar um governo sombra;
    côrte que permite ter ali ex-apoiantes eleitorais e uma reserva de emprego partidário.
    Que seja um PR tipo francês, ou italiano.
    c) O território administrado, gerido e governado conforme a geografia física, humana e económica;
    Autarquias reduzidas a metade, poderes concretos de modo a libertar órgãos centrais/ministérios
    d) Novo sistema escolar: toda a liberdade, ou quase, a directores ou reitores de escolas ou universidades – contratação de pessoal incluída. públicas.
    PS: de uma improvável economia pública,
    correcção dos desmandos ‘democráticos’ – cessar todas as formas de pensões do pessoal político, salvo na condição de carenciados (caso da Leonor Beleza).
    Passo.

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  2. JDGF's avatar
    JDGF permalink
    11 Julho, 2013 08:07

    Uma boa tese a favor da promoção (sacrifício?) de Carlos Costa. Que terá sido no meio do ‘regabofe político’ da última semana a única (conhecida) personalidade chamada a Belém e que provavelmente ‘ajudou’ a elaborar a solução de ‘salvação nacional’. Uma solução que não recolhe da parte dos partidos – como provavelmente o indigitado ‘Monti português’ – o mínimo ‘consenso político’. Ontem, foi possível constatar que o ritual de audição das forças políticas e sociais em Belém pode facilmente gerar aberrações. A principal delas será o fazer perigar a ‘estabilidade institucional’ em favor de efémeras e arrojadas ‘construções governativas’ . Isto é, suspender o regular funcionamento das instituições (que Belém tem de garantir) em favor de ‘arranjos de circunstância’, limitados e a prazo, assente em enviesada fundamentação económica e financeira, mas sem qualquer bojo ou consistência política.
    Mais uma vez se desliza para um equívoco. Vamos aceitar que Carlos Costa conhece meandros financeiros europeus e mundiais mas como se ‘movimentará’ no ambiente político nacional? Tem experiência política ou essa vertente deixou de contar?
    Os clamorosos erros do PSD e do CDS que esta última semana evidenciou geraram uma ‘punição’ cega e generalizada do sistema político-partidário nacional que pode fazer perigar o regime?
    A ‘solução Costa’ – decalcada do caso Monti – não será o irrecuperável ‘modelo Gaspar’ numa versão soft?
    Ninguém quer analisar as repercussões da governação Monti no sistema político italiano?

    Uma outra questão aparece à margem desta comunicação ao País.
    Porque razão o presidente não sentiu necessidade de convocar o Conselho de Estado antes de avançar com uma proposta tão grave e perigosa?

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    • Ricardo's avatar
      Ricardo permalink
      11 Julho, 2013 08:22

      Porque o Presidente nao confia no Conselho de Estado. Alias, ja varias vezes as personalidades presentes fizeram questao de demonstrar nao ser da mais pequena confianca…

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      • piscoiso's avatar
        piscoiso permalink
        11 Julho, 2013 08:54

        O Conselho de Estado tem 19 membros.
        O PR designou 6 membros da sua confiança.
        Os restantes 13 membros são da confiança dos órgão que representam.
        Cavaco não é um Reizinho e o Conselho de Estado não é a sua corte.

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      • PiErre's avatar
        PiErre permalink
        11 Julho, 2013 09:12

        Portanto, em 19 membros, 13 não são da confiança do PR.
        Logo, não vale a pena convocar o Conselho de Estado.

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  3. murphy's avatar
    murphy permalink
    11 Julho, 2013 10:28

    O melhor da noite de ontem, foi observar o ar assarapantado de alguns dirigentes políticos e comentadores que, face à aguardada benção presidencial à solução que saiu do cisma Pedro & Paulo, já tinham um discurso de reacção “engatilhado” – “business as usual”, pensavam eles…

    Sobre Cavaco, recordar o que dele se escreveu há 1 semana atrás..
    http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/07/cavaco-silva-vs-ex-pr-socialistas.html

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    • manuel's avatar
      manuel permalink
      11 Julho, 2013 10:44

      Só o director da T.S.F. é que já adivinhava qualquer coisa. Uma jornalista da TVI 24, passadas duas horas quando entrevistava a dra Helena não tinha percebido o que se passava , a Dra helena estava com uma paciência!

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  4. A.Lobo's avatar
    A.Lobo permalink
    11 Julho, 2013 11:17

    Para mim o Monti cá do sítio vai ser um jogador da sueca, habituado a estar sentado horas e horas a ouvir falar, falar falar os parceiros sociais. Tem de ser um verdadeiro penedo ou o peneda.

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  1. Jogada de alto risco | O Insurgente

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