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Os ausentes

12 Abril, 2014

Vejo frequentemente dados estatísticos serem usados para concluir o contrário daquilo que eles significam. Este parece ser um caso.

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Este gráfico mostra as pessoas que têm emprego e que ganham o salário mínimo. O que é que este gráfico não mostra? Não mostra as pessoas excluídas do mercado de trabalho por não conseguirem produzir acima do salário mínimo. E com essas os defensores do salário mínimo nunca se preocupam. A presença de adultos e licenciados entre os que ganham salário mínimo sugere que a linha de exclusão do salário mínimo já é demasiado elevada e que há não só adolescentes mas também adultos sem qualificações que são excluídos do mercado de trabalho.

Note-se a desproporção entre homens e mulheres. Esta desproporção sugere que um aumento do salário mínimo levará muito mais mulheres que homens para o desemprego.

PS. Falácia lógica que toma os sobreviventes de um processo como representativos da população original: Survivorship bias

9 comentários leave one →
  1. ax solo's avatar
    ax solo permalink
    12 Abril, 2014 14:00

    É mesmo isso. Já ouvi, aliás, várias vezes o argumento de defesa do SMN ser “quem trabalha não pode receber menos das necessidades básicas” ou “quem trabalha não pode ser pobre” deixando implícito que não se preocupam que haja mais pobres, uma vez que o desemprego aumenta e os desempregados já podem ser pobres.

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  2. JorgeGabinete's avatar
    JorgeGabinete permalink
    12 Abril, 2014 14:55

    Mais uma vez em desacordo. Os gráficos que plasma não demonstram grande coisa, basta ver que não se considera a distribuição estatística total por nível de educação ou distribuição etária e de género. Logo estes dados são tão irrelevantes para provar o que aqui contesta (e bem) como o são para poder inferir o seu argumento ” A presença de adultos e licenciados entre os que ganham salário mínimo sugere que a linha de exclusão do salário mínimo já é demasiado elevada e que há não só adolescentes mas também adultos sem qualificações que são excluídos do mercado de trabalho.”. Acresce, no meu ponto de vista, que o nível educacional (nomeadamente os mais escolarizados) é tanto mais irrelevante quanto a natureza das suas funções distam da formação que detêm, não elencando a inutilidade prática de muitos desses conteúdos formativos.
    Aliás, esta discussão do SMN na blogosfera tem sido das mais decepcionantes para mim, se por um lado os argumentos pelo SMN e sua subida são e como de costume capciosos e provêem de interessados na natureza conflitual do tema e não na sua resolução, por outro lado tenho lido opiniões (incluindo de economistas bloggers) que fogem da realidade social e política que temos para análises teóricas estritamente económicas e mesmo aí discutíveis. A meu ver, e sem pedigree economicus, o mercado de trabalho abarca:
    -mecanismos de oferta e procura mas não atinge pontos de equilíbrio em função de níveis salariais, estritamente (primeira falácia),
    -por outro lado não existe para os níveis salariais próximos do SMN uma dinâmica de procura/oferta específica (ao contrário do que 99% dos argumentos de todos afirmam) e ainda aí os determinantes para o equilíbrio são mais que o nível salarial em si (segunda falácia)
    -por último existem varáveis externas ao mercado que determinam e sempre determinarão a inelasticidade da procura abaixo de um limiar de salário, pelo facto que existe o IAS e RMG para além de pensão mínima que inutilizam o suposto postulado que salários abaixo do SMN actual resolveriam problemas de emprego.

    Termino reafirmando que sou por princípio contra o SMN mas não compro a argumentária actual de quem assume posição idêntica. Criticando todos (mais uma vez pondo-me a jeito) não vejo um único comentador e blogger a reflectir sobre a inutilidade de criação de emprego com baixos níveis salariais: as políticas salariais estatais, a existirem, não devem procurar/promover a criação de emprego mas sim a evolução da qualidade desse emprego, As empresas criadoras de emprego devem ser apoiadas quando apostam num modelo de competitividade que não assente no custo do trabalho, se tentamos competir apenas pelo preço estamos condenados (porquê?não será óbvio). As discussões actuais têm no geral implícito um modelo de desenvolvimento/crescimento esgotado e que nos trouxe a este buraco. Como patrão não quereria ter funções pouco qualificadas e sub-remuneradas na minha estrutura produtiva porque significam falta de optimização, não quereria uma restrição salarial para funções produtivas porque estaria a desperdiçar recursos e pessoas que formava e ajudava a crescer para, na primeira oportunidade, saírem para outras empresas mais inteligentes que pagam mais para assegurar pessoas que são um activo valorizável e de grande potencial se permanecem nessa mesma estrutura. Não existe uma única função que não possa ser valorizada e optimizada e mesmo os menos qualificados são um activo potencial.

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  3. YHWH's avatar
    YHWH permalink
    12 Abril, 2014 16:13

    De Economia não alcança muito longe, mas em Lógica é uma nulidade.

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  4. apolo's avatar
    12 Abril, 2014 18:29

    Aconselho-o a mandar estes gráficos para o primeiro-ministro…

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  5. um judeusito's avatar
    um judeusito permalink
    12 Abril, 2014 18:53

    “A presença de adultos e licenciados entre os que ganham salário mínimo sugere que a linha de exclusão do salário mínimo já é demasiado elevada ”

    Foi Keynes quem mais ajudou a explicar sesta situação que descreve , de haver cada vez mais licenciados (naquele tempo trabalhadores qualificados) a ganhar cada vez menos. Ao contrário do instinto que existe, para baixar ainda mais os salários , ele defendeu que racionalmente o que havia a fazer era instituir um Salário Mínimo Nacional, para passar a haver poder de compra. E com isso, salvar empresas também.

    Keynes conseguiu isso quando Roosevelt foi eleito em 1932/33 , e logo no ano seguinte o desemprego baixou, e o PIB subiu. Vitória em ambos os lados.

    E o Ordenado Mínimo nessa altura, era muito baixo, devido a pressões várias habituais… cerca de 1,50 dólares à hora, a números de hoje ! O que quer dizer que se pagava menos que isso.
    Faz lembrar um país qualquer

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    • JorgeGabinete's avatar
      JorgeGabinete permalink
      12 Abril, 2014 19:05

      O seu raciocínio ignora um detalhe, mero detalhe: o ponto de partida da aplicação da fórmula New Deal não tem paralelo em qualquer momento da história e menos ainda o terá com o momento actual em Portugal. Subir a Produção e baixar o desemprego no cenário de então não diz nada: neste momento o PIB sobe e o desemprego baixa com práticas opostas: desinvestimento público e restrição salarial e de prestações. Paradoxal q.b. não acha?

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      • um judeusito's avatar
        um judeusito permalink
        12 Abril, 2014 22:41

        Bem me parecia que havia um problema qualquer com Keynes… esse período não tem relação com mais nada, nunca, na história. Nem nas décadas seguintes dos EUA, sequer.
        Nem tem relação com os países nórdicos, a Inglaterra, e tantos que seguiram Keynes.

        Quanto a defender a posição da Troika e ou Neo-Liberal, como parece defender (desinvestimento público, restrição Salarial, e restrição de prestações ), vou evitar falar de Portugal, porque dispenso partidarismos de qualquer espécie, mas sim debate de ideias

        Falo assim, dos resultados da Grécia (desemprego monstro, descida do PIB em 25%).
        E para mais resultados das politicas neo-liberais impostos pela Troika , FMI, etc, remeto para o livro “Globalização” de Joseph Stiglitz.

        Stiglitz foi vice-presidente do Banco Mundial, e como tal perfeito conhecedor dos resultados que as politicas neo-liberais do FMI etc, tiveram pelo mundo.
        Acho mesmo que a par de outros livros, este devia ser lido por muitas mais pessoas, para se antever os resultados económicos que nos querem impor.

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      • JorgeGabinete's avatar
        JorgeGabinete permalink
        12 Abril, 2014 23:00

        Não vê no que escrevi a defesa de coisa alguma mas ainda assim sacou da parafernália para adjectivar os meus dogmas ainda que eu não os tenha dado a entender. Não quis ver que apenas ponho em causa o seu raciocínio, nem sequer estou a questionar John Maynard ou Franklin Delano mas o seu paralelo entre uma época única, numa economia única, e qualquer outro mercado ou ciclo recessivo, se calhar por isso é que se chama a Graaande Depressão e se calhar por isso é que o New Deal deu resultados jamais replicados. Se acha que a eficácia do New Deal se mede por aumentar o Produto e diminuir o desemprego, então pergunto-lhe pelo paradoxo que tal implica, é capaz de responder sem lateralizar? Não encontra no meu comentário uma única afirmação sobre o que defendo porque me limito a apontar a incoerência do seu comentário, Sorry

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  6. JDGF's avatar
    JDGF permalink
    12 Abril, 2014 19:03

    De facto, os gráficos passam ao lado dos ‘mini-jobs‘…uma praga que infesta o mercado de trabalho, mas isso são contas de outro rosário…

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