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Eu faço e aconteço

9 Abril, 2015

Uma das grandes alegrias de ser português reside no espectacular destaque dado pelos habitantes da vila mediática à eleição do busto, tão mais espectacular quanto os habitantes do resto do país ignoram este destaque. O Presidente, figura meramente decorativa a que se exige apenas um mínimo de decoro – por exemplo, não partilhar selfies em biquini às bolinhas rosa no Instagram – e inteligência mediana de típico embaixador em país amigo, detentor de um cargo não-executivo, é a figura que vai a cimeiras sempre iguais sobre os mesmos temas que não atam nem desatam – graças a Deus – e que, em casa, repete com afinco “eu estou atento” sem pensar perante toda e qualquer insignificância que atraia a atenção da população da vila mediática. É um prémio carreira ou, visto de um prisma cínico, um talhão no Panteão sem ter que saber jogar à bola.

É admirável que, para um cargo não-executivo, tanta gente se apresente disponível com frases como “o que eu faria”. Não farias nada, pá; e ainda bem. Sendo uma eleição a que qualquer um com mais de 35 anos pode concorrer (o que exclui, à partida, o potencial para um concorrente daquelas causas loucas como o veganismo por já ter batido as botas com défice proteico), é terreno livre para derrotados à partida, que conseguem na campanha atenção para a sua causa de eleição, como o elevador que não funciona no condomínio ou o alargamento da época de caça à perdiz; estes são os candidatos compreensíveis: os que aparecem durante dois meses, entram para o cânone crescente de tresloucados com ideias para o país e eclipsam-se, de regresso ao taxi mas agora com uma conta no Twitter do tipo @RodovaldoFagundes_PR2016 e uma bandeira made in China cheia de vincos.

No entanto, que apareça tanta gente disponível sem diagnóstico confirmado de maluco e que afirme ter ideias para o país é algo me preocupa. Digo-o com toda a sinceridade. Não me recordo sequer de campanhas anteriores com um candidato ideal, alguém que se limita a prometer usar uma tesoura do distrito de Portalegre para cortar fitas ou filigrana de Gondomar na lapela para o entediante discurso do 25 de Abril perante a multidão geriátrica à rasquinha da próstata. Seria pedir demais aos candidatos para limitarem as promessas ao que realmente interessa que é, tão somente, “eu vou parecer um Presidente”?

11 comentários leave one →
  1. Incauto's avatar
    Incauto permalink
    9 Abril, 2015 13:43

    Já um Rei tería, ao menos, alguma “patine”…

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  2. Incauto's avatar
    Incauto permalink
    9 Abril, 2015 13:43

    Teria, e não “tería”…

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  3. insider's avatar
    insider permalink
    9 Abril, 2015 13:47

    felizmente a múmia não se pode re-candidatar…
    encaixa perfeitamente no retrato traçado…

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  4. Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
    Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    9 Abril, 2015 14:14

    Já o Costa não diz que faz nem que acontece, mas adverte e avisa, que é uma coisa muito mais útil, bem preparada e inteligente!

    http://economico.sapo.pt/noticias/costa-avisa-que-proximo-governo-nao-pode-depender-da-vontade-do-presidente-da-republica_215674.html.

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    • Chopin's avatar
      Chopin permalink
      9 Abril, 2015 14:39

      Depois de pedir a demissão deste governo e convocação de eleições antecipadas, pede que o próximo, que ele presume vir a presidir, não dependa do PR, uma vez que será eleito pelo povo. Presume-se que o actual governo foi eleito por marcianos.
      Vai ter que alterar a CRP ou eleger um molusco.

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  5. Piscoiso's avatar
    9 Abril, 2015 14:35

    O presidente da república é assim a modos que um farrapo como a bandeira, que aparece em dias de festa à varanda ou num pau. O curioso é que o maior divulgador da bandeira foi um brasileiro, de nome Scolari, Já divulgar o presidente, nem com penaltis.

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    • MJRB's avatar
      9 Abril, 2015 15:33

      Bom comentário.
      Só não “percebo” porque é que os partidos querem tanto um “farrapo” dos seus em Belém…

      Infelizmente a maioria dos tugas têm no cérebro futebol mais futebol e pouco mais do que futebol. E por ele manifestam o seu “nacionalismo” e amor à Pátria. Talvez porque também JSampaio-PR afirmou que o Euro 2004 era “um desígnio nacional”…

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  6. licas's avatar
    licas permalink
    9 Abril, 2015 14:48

    Para divulgadores de bandeiras há um campeão, mas não é Português.
    Chama-se (Comandante) Maduro, natural da Venezuela, e um espanto de
    clone do também Comandante Hugo Chávez.
    Acrescento, também de O.Salazar com o seu Deus, Pátria, Família. Uma delícia
    saborear os seus imensos discursos à maneira de Fidel de Castro.

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  7. MJRB's avatar
    9 Abril, 2015 15:26

    Bom post.

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  8. Nuno's avatar
    Nuno permalink
    9 Abril, 2015 15:34

    Não seja assim, ó Vítor.

    O presidente ainda tem um ou dois poderes discricionários, a saber: demitir o governo se considerar que as instituições andam irregulares; e, dissolver a assembleia de seis em seis meses, se acordar do lado errado da cama.

    Podíamos começar por perguntar aos candidatos se acham que o Cavaco fez bem em não demitir nem Sócrates, nem Passos, e se fez bem em só disolver a assembleia depois de PS e PSD terem jurado que não conseguiam arranjar um governo que passasse na assembleia.

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  9. António C. Mendes's avatar
    António C. Mendes permalink
    9 Abril, 2015 17:31

    Eu aviso já: se aparecer o Rodovaldo Fagundes, o meu voto é dele (na primeira volta).

    PORTUGAL não te afundes
    VOTA RODOVALDO FAGUNDES.

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