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Desde que a indústria cervejeira deixou de estar nacionalizada

12 Junho, 2015

que não se vivia um dia tão triste em Portugal como este em que foi decididida a venda da TAP.

A TAP é a última gesta de um país que não se vende, que não verga e em que a realidade não passa de um tigre de papel face à nossa vontade. E a nossa vontade é que Portugal seja o nosso Portugalzinho, com a nossa TAP, a nossa CIMPOR, as nossas cidades cheias de mercearias, drogarias e lojas de roupa que fecham à hora do almoço, o nosso Metro que não é o de Moscovo mas que gostava de ser e o nosso Grupo Espírito Santo que a bem dizer nem se distinguia do regime.

Este nosso Portugalzinho aconchegadinho onde todas as empresas têm o seu amparosinho não é socialista, nem comunista, nem social-democrata. É simplesmente o filho do mais português de todos decretos, essa espécie de Malhoa legislativo, o 474/75, emanado pelo Ministério da Indústria e Tecnologia que a 30 de Agosto de 1975 nacionalizou a indústria cervejeira em nome “de uma política económica posta ao serviço das classes trabalhadoras e das camadas mais desfavorecidas da população”.

Em 1975, os portugueses bebiam cerveja sem qualquer problema, a cerveja era produzida sem qualquer dificuldade, o sector, no dizer do texto do decreto, era “altamente lucrativo” mas no Portugalzinho de 1975, tal como no de 2015, um negócio não se legitima simplesmente por correr bem. Em 1975 nacionalizava-se. Em 2014 não se nacionaliza mas é-se contra as privatizações. E em 1975 como em 2015 qualquer actividade económica tem de estar social e ideologicamente contextualizada. Em primeiro lugar seja o que for tem de dizer estar ao serviço das camadas mais desfavorecidas (esta visão bolo de bolacha da sociedade faz-me alguma confusão mas é o que há e garante logo vários milhões em benefícios fiscais).

Tem de servir para alavancar a economia nacional (aqui vão mais outros milhões e uma PPP). Tem de integrar uma visão estratégica para o país (frase que ao certo ninguém sabe o que quer dizer mas que é obrigatória em todo e qualquer projecto). Tem de promover uma abordagem dinamizadora da lusofonia (aqui o negócio está garantido mesmo que não se produza nem um alfinete)… Enfim das cervejas em 1975 à TAP em 2015 no Portugalzinho uma empresa até pode não fazer nada, anunciar uma greve para uma época em que compromete os interesses de milhares de portugueses. Desde que cumpra todos os outros requisitos sociais, ideológicos e culturais tem o invejável estatuto de bem de interesse nacional. Com as suas petições e os seus notáveis que infelizmente só sabem usar a sua notabilidade para nos dizer que temos de pagar isto e aquilo e nunca por nunca por ser abrem os cordões às suas bolsinhas e compram ou simplesmente utilizam aquilo que nos mandam pagar. Em nome da pátria deles. O Portugalzinho.

O que não entendo é como dormem descansados os notáveis sabendo que outros sectores estratégicos para a nossa soberania estão entregues à cupidez e desordem do capital sem que ninguém se inquiete com isso. Por exemplo, já pensaram nos riscos para as nossas vidas decorrentes da total entrega ao sector privado das agências funerárias? Não é aceitável que um sector tão importante (em boa verdade o único serviço de que garantidamente vamos precisar na vida porque mesmo nascer pode acontecer em qualquer lugar) esteja nas mãos de privados. A vida de uma pessoa não tem preço e a morte também não devia ter. Um serviço público mortuário, além de acabar com esse simbolismo do preço da morte permitiria desenvolver novas valências, como o acompanhamento psicológico obrigatório para os familiares do defunto.

E os supermercados? Só uma sociedade completamente alienada permite que o abastecimento das populações esteja nas mãos de privados. Por exemplo, se o senhor Belmiro mais o senhor Soares dos Santos resolverem que não nos vendem mais arroz carolino porque acham que devemos é comer salada de rúcula com queijo de cabra? Aliás esta entrega do comércio alimentar aos grupos económicos é também responsável pelos desequilíbrios alimentares: já viram a localização estratégica dos expositores de bolachas? O Estado deve rapidamente recuperar o modelo das cooperativas e dos postos da Junta Nacional das Frutas e garantir aos cidadãos que, seja em que circunstâncias for, não estão dependentes dos caprichos dos grupos financeiros para conseguirem ter macarrão na mesa.

Temos também as livrarias. Como é possível que as livrarias portuguesas tenham de enfrentar a concorrência dos grandes grupos internacionais e até da Amazon? Enfim é que se a TAP enquanto empresa pública é vital para defender a língua portuguesa o que dizer das livrarias portuguesas? E naturalmente não podemos esquecer o calçado pois não só a possibilidade de andarmos com sandálias alemãs é uma coisa capaz de reduzir para níveis irrecuperáveis a nossa taxa de natalidade como temos de ter em conta que um sector que entregue a si mesmo cresceu com a crise é demasiado importante para ser deixado ao livre arbítrio dos empresários.

Depois da TAP outras lutas se seguirão. Que o Portugalzinho não pode esperar.

28 comentários leave one →
  1. licas permalink
    12 Junho, 2015 17:50

    Um ror de disparates
    Senhora Helena Matos

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    • holonist permalink
      12 Junho, 2015 17:54

      Licas , tu calado es um poeta!

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      • licas permalink
        12 Junho, 2015 18:23

        E tu a “falares” és um asno.

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      • 13 Junho, 2015 14:04

        Tu a falar és um asno
        lá dizia o velho herodes
        ler o holonist, fico pasmo
        Mas a licas é que se fode…

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    • jaquinzinho permalink
      12 Junho, 2015 18:02

      Ai liquinhas…que enfiaste, todinha, a carapuça deste genial texto a gozar com os pobrezinhos de espírito como tu…

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  2. anti-comuna permalink
    12 Junho, 2015 17:57

    Estimada Helena, a grande diferença entre o coveiro e a TAP é a de que, os nossos comunas-caviar, gostam de se passear na TAP, em executiva, com o dinheiro dos nossos impostos. Comunada ou neo-comunas tipo Edite Estrela, que faz gala de viajar como os ricos mas à nossa pala.

    E quando esta comunada morre, como já não poderão gabar-se da forma como viajam para a cova, tantos lhes faz que seja o Luís Armador ou o John Coveer a enviar a dita cuja comunada para as minas da panasqueira, para partirem tijolo. 🙂

    Excelente texto, como é seu timbre.

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  3. manuel branco permalink
    12 Junho, 2015 17:58

    E a antena 1 com o seu minuto verde, às segundas, dizem

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  4. insider permalink
    12 Junho, 2015 18:28

    aquela cervejola de vialonga nunca mais foi a mesma desde que os columbianos compraram a coisa…
    e ainda se tornou uma bebida mais intragável depois das sucessivas mudanças de donos…

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  5. jorge permalink
    12 Junho, 2015 18:38

    não lhes dê ideias que eles ainda nacionalizam os jornais outra vez….

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  6. Procópio permalink
    12 Junho, 2015 18:53

    Helena, li com prazer. Muito me preocupa que possa estar a ser influenciada por estes ventos de direita que assolam o continente.
    Isso é perigoso. O iscte, os obervatórios, as universidades, a aula magna, a intersindical, os homens da noite, certos escritórios de advogados, os maquinistas da refer, a câncio, a constança, a menina joana a dias, a filha daquele senhor moreira, a do leite, as tvs, a tsf, o capuchinho rosa, o pacheco, fino como um alho, todos asseveram que é perigoso.
    Se assim pensam, deve ser. Quem sou eu para pensar o contrário?
    O caso é que de há algum tempo para cá, acontece-me passar na rua e as pessoas que antigamente me cumprimentavam virarem a cara, entrar no café e o empregado macambúzio nunca mais me trazer o café, subir para o autocarro e ser empurrado, dar o lugar às senhoras e elas recusarem com acinte, pedir o jornal a um barbudo no dentista e ele tirar-mo da frente com repulsa, comprar o jornal preferido e receber a resposta fria: “Só temos o público”. Vou a noutro, só temos o JN, outro só temos o i.
    À minha volta são olhares oblíquos, esgares esquisitos, gestos bruscos.
    Fui ter com o padre da freguesia, pessoa respeitada por quase todos, e perguntei-lhe:
    “Ó sr. padre, porque será que as pessoas das redondezas me olham com azedume?”
    Ele chamou-me para a sacristia, aproximou-se do meu ouvido direito e sussurrou:
    “Filho, não sabes…consta que és de direita!”. “Sabes, até nós cá na paróquia nos deixámos disso! Temos que estar com o povo. Não ouves a rádio renascença?”
    Em resumos, sinto que estou em maus lençóis.
    Lembro-me daquelas decapitações dos infiéis e fico a pensar.
    Sou um ser frágil, inocente, ainda jovem, cheio de projectos para o futuro, comprometido irrevogavelmente com o “nosso povo”, porra (A Helena desculpe), deixem-me viver!
    E o que vai acontecer à minha candidatura a PR? É uma questão que me atormenta.
    Não queria de modo algum que lhe passasse por uma experiência como esta.

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  7. anti-comuna permalink
    12 Junho, 2015 18:56

    ““Filho, não sabes…consta que és de direita!”. “Sabes, até nós cá na paróquia nos deixámos disso! Temos que estar com o povo. Não ouves a rádio renascença?””

    Com o povo ou com a maçonaria? 😉

    Grande texto. Dá gosto ler tamanha ironia mas desconfio que perderá votos assim. 🙂

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  8. Procópio permalink
    12 Junho, 2015 18:58

    Quanto à TAP, quem quiser ficar esclarecido, vá ao Insurgente e leia:
    “Vergonha, vergonha” de Rodrigo Adão da Fonseca, Posted on Junho 12, 2015

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  9. Procópio permalink
    12 Junho, 2015 19:17

    caro anti-comuna,
    perca ou não perca votos,
    se chegar ao limite de perder a eleição,
    direi apenas:
    “A esperança é a última a morrer!”.
    Não me peçam mais chavões, estou no Procópio a beber uma Sagres.
    Aquela bebida muito portuguesa etc e tal…
    Se perder, não esperem de mim réstea de ressentimento, acinte ou azedume.
    Sou muito novo e esta não será a última eleição para PR.
    Ou melhor pode até ser a última, ou uma das últimas para a tugolândia, mas sempre há-de vir mais qualquer forma de fazer mais uma eleiçãozinha.
    A meio do mês, em interalpen, eles saberão cozinhar a paparoca.

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  10. licas permalink
    12 Junho, 2015 19:53

    Allô, allô . . .

    O rei Felipe : Allô?
    Mana, julgas qu´és Duquesa?
    Deponho-te meu “amô”:
    Aguenta com firmeza.

    Eu tenho bem a certeza,
    Qu´os nossos republicanos,
    Acham que sou uma presa
    De espingarda de dois canos.

    Papá anda “amuletado”
    A Mamã sem remissão,
    E eu chefe de Estado
    Mas sem ter opinião. . .

    Tu vê em que me meteram,
    Voltas que dá o Império:
    Porque raio me escolheram
    Digam lá se é critério?

    E me vão a coroar
    (Coisa que até detesto)
    Inda se fosse a brincar
    Como é todo o resto.

    É que pode dar azar:
    A “cabeça coroada”
    Em terra de tourear,
    Logo salta a gargalhada.
    ______________________________

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    • 13 Junho, 2015 14:07

      Logo salta a gargalhada
      Nesta terra de um só olho
      Onde o rei mesmo á patada
      Encharca o povo em repolho

      Um jantar para 300 manfios á pala do povão??? O paulinho não faz a coisa por menos

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  11. PiErre permalink
    12 Junho, 2015 22:24

    Licas para o Panteão, JÁ!

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  12. 13 Junho, 2015 12:04

    Como é possível que as livrarias portuguesas tenham de enfrentar a concorrência dos grandes grupos internacionais e até da Amazon?

    Pois não podem, e fecham.
    Disso se tem dado notícia nos jornais, algumas até centenárias.
    Acho que o exemplo não foi lá muito bem escolhido.

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  13. Bigdog permalink
    13 Junho, 2015 14:17

    Não acho que a generalidade dos portugueses pense dessa forma. Eu e, imagino, a maioria é a favor da economia privada.

    Acho que o estado deve-se intrometer o mínimo possível.

    O que eu NÃO APOIO é a economia PRIVADA paga com OS MEUS IMPOSTOS. Se é para ser privado, acho muito bem, mas cada um QUE PAGUE o que usufruir! Tal como acontece nos supermercados e, esperemos, venha a acontecer na TAP!

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  14. 13 Junho, 2015 19:40

    Helena Matos, mais um artigo brilhante mas que de certeza não entra na cabecinha de muitos ” donos do País “

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  15. licas permalink
    13 Junho, 2015 20:28

    Como o povo é quem guia
    Consulta nesta tirada:
    Pública Economia,
    Ou então esta Privada.

    Para que Bolota fique
    De uma vez convencido
    Que o M-L se aplique
    Ou está de todo “morrido”.

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  16. licas permalink
    13 Junho, 2015 20:50

    Se não fosse tão tapado
    E enfrascado na Doutrina,
    Já devia ter notado
    Que não é como imagina.

    O Cunhal era drogado
    No Marxismo-Leninismo;
    Foi um tempo já passado
    Dinossauros no abismo.

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  17. licas permalink
    13 Junho, 2015 21:27

    A “senhora virtuosa”
    Que te deu à luz, Bolota
    Deve estar bem desgostosa
    Do que lhe saiu na lota.

    Podia ter sido um cego,
    Ou até um bom maneta
    Eu ali não meti prego
    Tu o que queres é “Chupeta”

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  18. licas permalink
    13 Junho, 2015 23:18

    Bolota já ninguém escuta,
    Revolução Comunista;
    Meu grande filho da puta
    Nem se quer, nem se avista.

    Andas cá feito prior
    Dessa podre ladainha
    Que sempre meteu fedor:
    Está morta a pobrezinha.

    Só os pategos das berças,
    Seguem essa Confissão:.
    Sempre que cá apareças
    Levas trepa de bordão.

    Bordoada forte e feia
    Merecem nossos Vermelhos,
    Porque eles, volta e meia,
    Mordem os nossos artelhos.

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  19. licas permalink
    13 Junho, 2015 23:56

    Do PREC-rebaldaria,
    Só vos restam os cartazes;
    Muita raiva e distonia :
    Seus imundos arganazes.

    Já andaram feitos mestres
    No ensino ao Povo estulto
    (Cambada de cafajestes)
    Do Estalinismo, o culto.

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  20. Pedro permalink
    14 Junho, 2015 02:52

    Gostava de saber onde o autor deste post está quando os privados andam a especular e rebentar com os bancos, países e a economia mundial.

    Debaixo da cama ?

    Se calhar a crise do mundial do subprime ou as roubalheiras no BES, BCP, BPN, etc etc etc também são culpa do MRPP ?

    Se o ridículo pagasse imposto a dívida mundial estava paga.

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