Devagar, devagarinho
São estas pequenas tretas que me tiram verdadeiramente do sério. As coisas minúsculas, micro-aberrações locais que nada parecem dizer sobre o mundo mas cujas repetições sistemáticas originam a assimilação de nova normalidade progressivamente desabrigada numa gélida transmutação de humanos em máquinas de uma moral padronizada na ausência de livre arbítrio.
“The Curious Incident of the Dog in the Night-Time”, um livro da chamada nova vaga de literatura YAN (Young Adults Novels), uma etiqueta que serve para caracterizar histórias com pés e cabeça que não necessitam do cinismo adulto de anos de convivência com partidos políticos para ser compreendidas, foi retirado da lista de leitura de uma escola na Flórida, EUA. O problema parece ser o uso de alguns palavrões, linguagem pouco adequada para crianças, mesmo que proferida no livro por uma criança. A parte perturbadora desta história é ninguém se ter queixado do abandono de uma criança autista pela mãe ou desta ter sido agredida pelo pai; ninguém parece queixar-se de um animal poder ter sido maltratado até à morte: o que importa são uns palavrões em determinadas cenas associados a um discurso que questiona a existência de Deus.
A superficialidade com que o politicamente correcto aborda a sua auto-imposta censura traduz-se na vontade de passar pelo mundo ignorando-o, criando um casulo tendencialmente crescente de imbecis dispostos a julgar algo pela forma mais rapidamente que pelo conteúdo.
Podia fazer agora um paralelo com o fascínio português pelos socialistas do discurso aparvalhado, mas não vale a pena: devagar, devagarinho, lá chegaremos à total obliteração da vontade própria e do pensamento próprio fora da rede neuronal do preceito papista da muy artolas ética republicana de grande superfície comercial. Nada como o serviço estatal, o emprego estatal, a gestão estatal, o pensamento estatal.
Christopher, a personagem principal do livro, diz, a um dado ponto, quando lhe explicam o significado do nome, que não quer ter um nome que signifique algo, quer um nome que signifique ele próprio. Quem não quer? Só a turba.
Adenda: Haveria algum problema se, em vez de um livro sobre uma criança autista, a diferença fosse esta ser um bissexual de 12 anos a preparar a mudança de sexo?

a ‘isquerda’ usa sempre a contrafação
a direita desapareceu
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Um post bem centrado na linha editorial do blog: A Blasfémia é a melhor defesa contra o estado geral de bovinidade.
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Os causadores disto:
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Muito bem.
O politicamente correcto é do pior que há.
Cpts.
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O Politicamente Correcto é a Sharia da Esquerda, o Newspeak do Orwell https://en.wikipedia.org/wiki/Newspeak.
Existe para as pessoas se censurarem a elas próprias e só poderem pensarem de uma maneira.
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“a diferença fosse esta ser um bissexual de 12 anos a preparar a mudança de sexo”
Não encontra cá dessas porcarias nas escolas. nem com 12 anos, nem com 50 anos.
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Sobre a pergunta da adenda, os problemas seriam imensos. Em muitas escolas americanas, nem sequer são admitidos livros que retratem casais gay, quanto mais.
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os americanos sao doidos. no sindrome de asperger ( a doença do narrador) dizer involuntariamente palavroes eh tipico . nao conseguem controlar o q dizem , os q sofrem de asperger.
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qualquer livro q ande ah volta de asperger tem de ter palavroes , obvio.
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Isso é a Sindrome de tourette, que não tem nada a ver com asperger
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Atendendo ao que parece ser o motivo da reclamação ( “the f-word is written 28 times, the s-word 18 times, and the c-word makes one appearance – in Britain that word is less charged than it is in the US,” reported the paper. “A few characters also express atheistic beliefs, taking God’s name in vain on nine occasions.”), acho que haveria problemas se fosse uma criança bissexual (e provavelmente as pessoas que se queixaram da “isquerda”, do Saul Alinsky e da “sharia da esquerda” fizeram figura de parvos – isto tem todo o ar de ser o “politicamente correto tradicional”, conservador e cristão, não o “novo politicamente correto” progressista)
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