O estado das artes
Foi já há algum tempo que a história veio a lume, mas não queria deixar de comentar o inesperado encerramento de um dos mais importantes e frequentados espaços culturais de Lisboa. Também foi notícia, mais ou menos na mesma altura, a decisão de Luís Miguel Cintra em acabar com o Teatro da Cornucópia, mas o fecho do Elefante Branco parece-me um assunto de maior gravidade e, por isso, mais merecedor de pormenorizada análise socioeconómica.
Há nestes dois encerramentos um facto intrigante que devemos sublinhar: quer a Cornucópia quer o Elefante resistiram à austeridade e filistinismo cultural do governo de Passos Coelho mas não às mãos-largas e gosto pelas artes do governo das esquerdas. Como não quero acreditar que as tão anunciadas reposições, de rendimentos e do Ministério da Cultura, tenham sido meras operações de propaganda, só posso concluir que foram os homens do FMI destacados em Lisboa durante o período do resgate que asseguraram a sobrevivência dos dois estabelecimentos nos últimos anos. Os grandes marotos, traumatizados pelo estado calamitoso das nossas finanças públicas, andaram a afogar as mágoas em champagne e Gil Vicente.
Estranhamente, talvez por julgar não conseguir acrescentar afectos a um lugar que por eles se tornou famoso, Marcelo Rebelo de Sousa não foi visto na pista de dança do “Trombinhas” no estertor do estabelecimento. E fica assim a dúvida se não teria sido possível, com essa mediação presidencial, ultrapassar os constrangimentos que prejudicaram o normal desenrolar da actividade. Esta ausência torna-se ainda mais estranha quando fomos testemunhas de toda a atenção que o Palácio de Belém prestou à candidatura de António Guterres à liderança da ONU. É que, com a sua clientela de políticos, governantes e diplomatas, e com a forte presença de trabalhadoras de várias nacionalidades, da América Latina à Europa de Leste, o Elefante Branco era, sem dúvida, o local português mais parecido com a Assembleia Geral das Nações Unidas. E, tal como no edifício nova-iorquino, muitas guerras tiveram nas suas mesas o seu prólogo. Guerras conjugais, principalmente. Mas nem por isso menos atrozes e arrepiantes. E muito mais palavrosas, para horror do beligerante masculino.
É também curioso que num país repleto de “elefantes brancos” sem qualquer utilização, se tenha optado por fechar aquele que ainda registava alguma procura. E não me venham falar de custos de manutenção. Por muita cowboyada que se fizesse no paquiderme lisboeta – e não faço a menor ideia do que lá se passava, uma vez que, à semelhança de todos os restantes homens do planeta, nunca lá fui –, não acredito que desse tanto trabalho a limpar como as 23 mil cadeiras vazias do Estádio de Leiria ou os 6 quilómetros de pistas abandonadas do Aeroporto de Beja.
Dois Espaços que fecharam.
Cornucópia onde todos iam e que estava sempre vazio.
Elefante Branco onde ninguém ia e estava sempre cheio.
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Se nunca lá foste, não sabes o que perdeste…era a única prova verdadeira pelo empenho humano na globalização! Mas não perdes pela demora. Nestes assuntos não há espaços vazios.
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Um ingrato este presidente Marcelo!
Tanto empenho para evitar o fecho da Cornucópia e sobre um dos maiores ícones da cultura Lisboeta, quiçá Ibérica, nem uma palavrita, nem uma selfie desfocada.
Se querem avaliar o carácter de um homem (ou a falta dele), deem-lhe poder…
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É bem verdade! Duas instituiçoes onde se puderam ver diariamente excelentes representacões por actrizes e actores de enorme categoria! Não entendo de facto porque é que a Cornucopia teve direito a Presidente e a Ministro e o Elefante Branco nem sequer um chefe de repartiçao! Ou mesmo o jovem Medina que está em todas! A cultura está de rastos… E o país nao será o mesmo sem aquelas duas casas…
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Qualquer instituição cultural que feche, é uma lágrima na face da minha tia Dulce Mello. O problema é o financiamento. O Estado financiador, de acordo com quem lá está, tem as suas prioridades eleitoralistas; e quando a Arte se vende ao Estado, é a arte do Estado.
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O PR nunca mais comenta o preço das botijas de gás!
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Deve estar a preparar uma comunicação sobre o subsídio da lavagem de carros.
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Se o Estado tem ajudado negociantes e banqueiros corruptos porque não apoiar a cultura e até mesmo as artes circenses?
Onde está o vosso liberalismo?
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Se Portugal é uma imensa casa de putas a céu aberto, para quê o Elefante Branco?!
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A Cornucópia proporcionou muito do melhor teatro (com memoráveis actores e autores) feito em Portugal. Companhia de nível internacional. Lamento o encerramento.
Pelo Elefante Branco passaram muitos e bons corpos (femininos, nada de confusões) e mamocas inesquecíveis. Alguns, também de nível internacional, ó se eram… A mim, não faz falta.
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Salvem o Elefante !!!
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Je suis elefante…
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