O tio Quim está de volta
A vida era dura, naquele tempo. O tio Abel, perante todas as adversidades anteriores às alterações climáticas – naquela altura nevava sempre –, lá conseguia levar o rebanho a pastar no declive adjacente ao terreno do Morgado. O tio Quim, mais velho, ocupava-se da horta, das batatas e do combate ao flagelo do míldio. Por muito que se esforçasse, sem os pesticidas modernos, não havia colheita que agradasse à matriarca da família, uma mulher roliça de meia-idade que, apesar de viver a mais de mil quilómetros de homens, vivia deprimida entre assédios imaginários e a visão diária de um rabo a murchar como laranja azeda em Março. O tio Abel era o preferido dela. Feminista dos sete costados, fez-se acompanhar das cabras viçosas que enchiam de orgulho a mãe, e, maricas que chegue, dedicou-se ao comentário político (ou assim).
Farto de ser preterido pela mãe em favor do azeiteiro do irmão, que isto de ter cabras lindas à conta de lhe comerem as melhores batatas já há muito o enjoava, o tio Quim, enfurecido, matou o tio Abel. Foi triste. Enfim, até foi exagerado, que bastava matar-lhe uma ou outra cabra à paulada e coisa ficava por ali, sem violência desnecessária. Porém, o receio de acusações de racismo por matar bicho de outra raça falaram mais alto e a justiça social, a igualdade e as restantes lérias progressistas imperaram: “vais mesmo tu, meu querido irmãozinho”.
Isto tudo para dizer que, até ontem, nunca soube o que tinha acontecido ao tio Quim. Diz-se que fugiu para França ou para outro deserto qualquer, mas não posso confirmar. Foi com bastante surpresa que o vi então, ontem, a apresentar o projecto de um novo partido liberal. Força, tio Quim! A tua família apoia-te.
éramos tão pobres no tempo do Estado Novo que eu nasci nu.
actualmente somos muito mais pobres e endividados e não nasce ninguém
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« Con mal andan los asnos cuando el arriero da gracias a Dios.
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Quais liberais?
No sítio, o pior que pode acontecer são pessoas bem intencionadas.
O sítio não aguenta. A coisa poderia mesmo esquentar, eu sei lá, transformar-se num alepo. O putin e o trump não estão para aqui virados. Quando muito, o primeiro manda uns rublos para a catalunha, mas a moeda desvalorizou. O segundo não sabe sequer onde isso fica.
Esses liberais são trafulhas, ladrões, corruptos, mentirosos, vigaristas? Não parece.
Teem amigos, mãezinhas caridosas, conta aberta em offshores? Desconhece-se.
São do benfica, do porto ou do sporting, do oriental ao menos? Não se sabe.
Esqueçam. Os tugas são muitos e não estão para aí virados.
Estes é que estão de volta.
“Estima-se que nos próximos meses cheguem ao nosso país cerca de 20 mulheres e filhos de jihadistas que vivem em território controlado pelo Estado Islâmico” DN.
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Isto é que preocupa. O que é que os liberais podem fazer a isto?
“Governo e PS perdem força em toda a linha” JN
Agora que o meu avô estava à espera que lhe subissem a pensão em 15 cêntimos.
A ingratidão espreita pelo buraco. O buraco pode aumentar em qualquer momento.
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Muito boa história — lenda bíblica…
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É sempre saboroso degustar este tão suculento naco de prosa que com regularidade o Dr. Vitor Cunha nos brinda. Meus parabéns.
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