Novíssimas Cartas Portuguesas

Ilma. e Ex.ma Senhora Madonna Louise Ciccone
Mão amiga fez-me chegar aqui a Santa Comba Dão a sua última entrevista à Vogue italiana e não queria deixar passar a ocasião sem lhe dirigir algumas palavras. Sinto que há pontos em comum nas nossas mundividências, algo que talvez encontre explicação no facto de ambos termos nascido em terras pequenas da província antes de nos estabelecermos na grande capital do Império Português. E acho curiosa a relação que mantemos com esses sítios, Santa Comba, em Viseu, e Bay City, no Michigan: no meu caso, os locais querem construir coisas em minha homenagem e os restantes portugueses opõem-se; no seu, a generalidade dos americanos quer construir coisas em sua homenagem e são os locais que não deixam! Vá-se lá entender o povo.
Não sei se sabe mas eu sou, tal como a senhora, filho (embora adoptivo) de um italiano. Chamava-se Benito e também ficou conhecido pelas turnês, nomeadamente as que fez em território africano (o meu outro pai é o Afonso Costa, mas, aí, tratou-se de um acidente, uma gravidez não desejada, uma falha na contracepção, coisa muito normal na primeira metade do século XX). E embora tenha vivido numa altura em que não existiam redes sociais, geria a minha imagem à maneira da sua conta de Instagram: as pessoas só sabiam onde eu estava depois de eu já lá não estar. Como os jornais só diziam que o Presidente do Conselho esteve aqui ou acolá, deram-me a alcunha de “Esteves”. Peripécias de pop star a que os fãs nos obrigam.
Apesar de não ser minha a expressão dos 3 F´s – Fado, Futebol e Fátima –, sinto-me muito orgulhoso por ser do seu agrado. Pelo que vou vendo, muitas das pessoas que, cheias de moral, os usam para criticar a política do Estado Novo, andam simultaneamente a enriquecer à conta deles. A vida é assim, repleta de surpresas. Ainda agora, por causa de uma francesa de quem gosto (desde que passei férias com a Christine Garnier que tenho um fraquinho por mulheres do Hexágono), tivemos os meus maiores detractores agarrados ao conceito de liberdade de expressão que sempre defendi. Como a minha cara amiga já explicou devidamente, podemos perfeitamente sentir-nos like a virgin e dar boas cambalhotas ao mesmo tempo.
Antes de me despedir, permita-me uma sugestão: a dupla consoante do seu nome próprio denuncia uma origem estrangeira que não me parece compatível com o grau de portugalidade entretanto adquirido. Gosto de pensar em si, nos últimos tempos, como a herdeira ideológica que nunca tive, e seria uma grande honra para mim que deslocasse um dos “n”. Sugiro que o ponha entre o “a” e o “d”. Ficaria perfeito.
De V. Ex.a.
Sincero e recente admirador
António de Oliveira Salazar

Uma delícia de texto. Parabéns.
Maria
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Ainda gostava de distinguir Salazar de um outro presidente do conselho, mas não consigo encontrar as seis diferenças.
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Muito bom, SBCosta !
Continuo a desconfiar que ha uma ‘negociata’ (ha varias maneiras de pagar favores…) entre a Madona, o desgoverno, oTurismo de Portugal e a Camara, para promover Lisboa e Portugal.
Uma tipa viajadissima, mundana, conhecedora de cidades e de paises muito mais bonitas e apelativas do que Lisboa apaixonar-se assim…estranho.
Tambem e verdade que ela nao e muito culta e ve so o que quer, talvez por isso a comparacao com Cuba.
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A comparação com Cuba é um piscar de olhos ao BE, ao PCP e ao Galamba.
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E uma hipotese… E ao Socrates, coitado, anda tao ostracizado e arredio as lides publicas.
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Também acho que esta história está mal contada, um povo saloio como poucos, baba-se para a banca de jornais, enquanto a dita acha que está em África.
A geringonça já percebeu e vai de esticar a corda, a dita está a dar votos ao tó chamuça, e o povozeco desta naçãozinha a ir na conversa.
Temos o que merecemos.
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Quase tenho a certeza disto e Vc., JDomingos, registe se quiser: no periodo eleitoral para as legislativas, em 2019, numa noite e ‘por coincidencia’, a Madonna encontra-se com o AC-DC numa casa de fados. Ou, durante o dia num local publico, o tipo elogia-a e deseja-lhe boa estadia em Portugal (atencao, nao so em Lisboa…) e ela gaba Lisboa e Portugal. Coincidencia das coincidencias, uma TV estava perto, gravou e editou o ‘encontro’, que passarah noutras tv’s, radios e manchetes de jrnais e revistas do jet 3,5 tuga. Legislativas mais que ganhas.
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Se for para denunciar Portugal assim, Madonnas precisam-se!
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O que eu ri à custa deste texto. Muito bom. Muitos parabéns
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Muito bom.
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Só os muito ingénuos acreditam que a evocação repetida e a despropósito do Ditador é perfeitamente inócua.
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Tudo aquilo que vocês aqui glorificam 🙂 . O salazarismo e o atraso de vida de que Portugal sofreu com a direita mais estúpida e lerda da Europa! 🙂
Ainda vamos a tempo de ultrapassar Cuba! Queira António Costa!
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Estamos quase uma Venezuela, Arlindinho!
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Em mais de 40 anos a direita “fássista” estúpida e lerda não conseguiu fazer nem 1/10 das grandes conquistas civilizacionais do socialismo do século XXI bolivariano, dos Arlindos Costa na Venezuela e em Cuba como a sua eterna paixão Katryna Varoufakis e o Jerónimo Maduro pretendem.
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Madona tem razão. 10 – Dez – 10 estádios construídos em 2004 com os nossos impostos. Amália e Eusébio já estão no Panteão e os pastorinhos chegaram finalmente ao altar.
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