Associação “Escolha” sem escolha

Em pleno século XXI, a sociedade dita “progressista”, que brada aos quatro ventos sermos mais livres do que no tempo do Estado Novo, graças às conquistas de Abril de 1974, é a mesma que censura, cancela e persegue quem ousa ter uma opinião divergente. É a mesma que doutrina, formata e impõe um pensamento único, acrítico, como única forma correcta de pensar e estar. Quem se opõe é imediatamente rotulado de extremista. Isto não é democracia; é uma forma subtil de fascismo. E, ironicamente, acusa os outros daquilo que pratica diariamente.
Descobrimos esta semana que promover um vídeo onde se agradece a uma mãe pelo milagre da vida é, segundo alguns, “um crime contra a liberdade”. A associação “Escolha” — que ironia no nome — que promove a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) desde meninas até à idade adulta, não admite outras escolhas. Ou se é a favor da IVG sem restrições, ou então é banido da esfera pública sob acusações de “discurso de ódio” e outras expressões vazias.
Num comunicado de imprensa, a Associação Escolha queixou-se à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) sobre o vídeo anti-aborto de Miguel Milhão e pediu à empresa proprietária da TVI para suspender a sua divulgação. Segundo a fundadora: “O vídeo, através de um contexto falso em torno do procedimento da IVG, faz apologia clara ao “Não” ao aborto — um assunto de cariz político — e que representa um ataque à liberdade individual de cada mulher e “pessoa gestante”(??).”
A Associação Escolha alegou ainda que a exibição do vídeo viola a Lei nº 27/2007 (Lei da Televisão), especialmente os artigos 27º e 34º, por não respeitar a dignidade da pessoa humana e os direitos de crianças e jovens.
A advogada Leonor Caldeira explicou à revista SÁBADO que, embora a queixa tenha dado entrada na ERC e não no Ministério Público, o vídeo dificilmente viola a Lei da Televisão. Segundo ela, só casos muito extremos justificariam censura por parte da ERC, o que não se aplica aqui. Contudo, critica o vídeo, afirmando que este retrata a IVG como “um acto hospitalar super violento, desumano e humilhante, o que não é verdade na maioria das vezes”. Acrescenta que há um apelo directo para as mulheres não abortarem, o que considera legal, mas propagandístico.
Reponhamos a verdade sobre o que é dito por esta advogada acerca do vídeo:
- Afirma que “a IVG é retratada como um acto hospitalar super violento” — FALSO. O vídeo retrata, infelizmente, a realidade. O procedimento é de facto cruel para o feto (há abundante documentação sobre isso) e desumanizante para a mulher. O Estado é de facto uma entidade abstracta que é representada por um grupo de profissionais que meramente dão seguimento à “vontade” da paciente usando os meios necessários para a sua concretização.
- Afirma que “há recurso a desinformação” — FALSO. O vídeo não só informa como convida à reflexão e ao consentimento informado. Não é um apelo directo ao “não-aborto”.
- Afirma que “é propaganda político-ideológica” — FALSO. A propaganda ideológica está, precisamente, do lado de quem impõe o silêncio e uma visão única do tema. Em democracia todos temos o direito à nossa opinião informada sem condicionamentos.
A cantora do vídeo, Joelisa Campos, reagiu nas redes sociais: “Quero deixar claro que não estou a falar contra o aborto ou os direitos das mulheres. Acredito que essas decisões são profundamente pessoais. A canção não é política, é humana. É sobre valorizar a vida sem ditar como alguém deve viver a sua. Temos de aprender a coexistir com perspetivas diferentes sem recorrer ao ódio.” Há alguém com coragem para contestar o que é afirmado por esta jovem?
Mas afinal, do que têm medo estes activistas da causa pró-aborto? Simples: têm pavor do consentimento informado. Sabem melhor que ninguém que as mulheres devidamente informadas rejeitariam o recurso fácil a este procedimento. Que o consentimento informado provocaria a redução drástica do número de intervenções. E isso não lhes interessa.
Se vivemos numa democracia com liberdade de expressão e direitos fundamentais consagrados, com que autoridade alguém se arroga o direito de silenciar quem pensa diferente? Isto é uma ditadura disfarçada.
Miguel Milhão, com um vídeo de mensagem forte mas bela, celebrou a maternidade. Qual o problema? Nenhum. Os que se escandalizam são os mesmos que impõem, sem qualquer pudor, a ideologia “LGBTQ+não sei o quê” nas escolas, nos media, no cinema, nas empresas e até nas igrejas. Onde está a liberdade de escolha quando se tenta doutrinar toda a sociedade?
Já escrevi sobre o tema falando da minha experiência como jovem mãe. Tinha 18 anos quando engravidei (leia aqui e aqui). Quem nunca passou pela maternidade não sabe o que é. Não sabe que mudamos de percepção assim que sentimos vida dentro de nós. É o amor incondicional materno a nascer. É instinto protector. É a magia da vida a crescer dentro de nós. Não faz desaparecer o medo, a insegurança, a incerteza, mas é para isso que o dito progresso civilizacional existe: para apresentar à jovem mãe todas as opções ao seu dispor e não apenas uma.


A IGV não é o que nos vendem. Trata-se efectivamente de um processo cruel de desmembramento do pequeno ser dentro do útero a que chamam de feto para parecer menos humano e assim, livrar pesos na consciência. Mas a verdade é outra. Veja aqui o que é um feto e como ficam depois dos procedimentos. Além, disso, há, embora o neguem, um negócio que vive à custa desta triste realidade (leia o meu artigo aqui) e por isso, interessa não só promover, como aumentar em número, as mães aderentes. Se tem dúvidas sobre o que acabo de afirmar, analise os dados de alguns países:
Evolução do Número de Abortos em Portugal (2007–2022)
| Ano | Número de IVG |
|---|---|
| 2007 | 6.107 |
| 2008 | 18.014 |
| 2009 | 19.222 |
| 2010 | 19.560 |
| 2011 | 19.921 |
| 2012 | 18.615 |
| 2013 | 17.807 |
| 2014 | 16.379 |
| 2015 | 16.223 |
| 2016 | 15.881 |
| 2017 | 15.098 |
| 2018 | 14.337 |
| 2019 | 14.709 |
| 2020 | 14.321 |
| 2021 | 13.782 |
| 2022 | 15.870 |
Fonte: Direção-Geral da Saúde (DGS), compilado por Renascença e PÚBLICO.publico.pt+5rr.pt+5rr.sapo.pt+5
Observações:
- Pico em 2011: O número de IVG atingiu o máximo de 19.921 procedimentos.
- Tendência de queda: Desde 2011, observou-se uma redução gradual no número de abortos, alcançando o menor valor em 2021, com 13.782 IVG.
- Aumento em 2022: Houve um aumento para 15.870 IVG, possivelmente influenciado por fatores como a recuperação dos serviços de saúde após restrições pandémicas.noticias.uol.com.br+5rr.sapo.pt+5rr.pt+5
Evolução do Número de Abortos na Alemanha (1996–2023)
| Ano | Número de IVG |
|---|---|
| 1996 | 130.899 |
| 2001 | 134.964 |
| 2006 | 119.710 |
| 2011 | 108.867 |
| 2012 | 106.815 |
| 2013 | 102.802 |
| 2014 | 99.715 |
| 2015 | 99.237 |
| 2016 | 98.721 |
| 2017 | 101.209 |
| 2018 | 100.986 |
| 2019 | 100.893 |
| 2020 | 99.948 |
| 2021 | 94.596 |
| 2022 | 104.000 |
| 2023 | 106.000 |
Fonte: Statistisches Bundesamt (Destatis), Wikipedia.destatis.de+3destatis.de+3destatis.de+3
Observações:
- Tendência de queda: Entre 1996 e 2016, observou-se uma redução gradual no número de abortos, passando de aproximadamente 130.000 para cerca de 98.000 casos anuais.
- Estabilização: De 2016 a 2020, os números mantiveram-se relativamente estáveis, oscilando entre 99.000 e 101.000 abortos por ano.
- Aumento recente: Em 2022, houve um aumento de 9,9% no número de abortos em relação ao ano anterior, totalizando cerca de 104.000 casos. Em 2023, o número subiu para aproximadamente 106.000, representando o valor mais alto desde 2012. destatis.de+2destatis.de+2sexualaufklaerung.de+2
Evolução do Número de Abortos em Espanha (2003–2023
| Ano | Número de IVG |
|---|---|
| 2003 | 79.788 |
| 2004 | 84.985 |
| 2009 | 111.482 |
| 2016 | 93.131 |
| 2021 | 90.189 |
| 2022 | 98.316 |
| 2023 | 103.097 |
Fontes: El País, Genero e Número, Gazeta do Povo.gazetadopovo.com.br+1gazetadopovo.com.br+1
Observações:
- Tendência de crescimento: Entre 2003 e 2009, observou-se um aumento significativo no número de abortos, atingindo o pico de 111.482 em 2009.generonumero.media
- Redução e estabilização: Após 2009, os números diminuíram, mantendo-se relativamente estáveis entre 2016 e 2021.
- Aumento recente: Em 2023, registaram-se 103.097 abortos, representando um aumento de 4,8% em relação a 2022 e a cifra mais alta da última década .huffingtonpost.es+4cadenaser.com+4gazetadopovo.com.br+4
- Distribuição por idade: Em 2023, houve um aumento notável nos abortos entre mulheres menores de 20 anos, com 10.934 casos registados .huffingtonpost.es+1cadenaser.com+1
- Locais de realização: A maioria dos procedimentos (81,45%) foi realizada em centros privados, apesar das políticas que priorizam a rede pública .huffingtonpost.es+1elpais.com+1
- Métodos utilizados: O método cirúrgico continua predominante, embora o uso do método farmacológico tenha aumentado em algumas regiões .elpais.com+1huffingtonpost.es+1
Evolução do Número de Abortos na França (1976–2023)
| Ano | Número de IVG |
|---|---|
| 1976 | 246.000 |
| 1981 | 245.000 |
| 1986 | 221.000 |
| 1991 | 206.000 |
| 1996 | 207.000 |
| 2001 | 206.000 |
| 2006 | 215.390 |
| 2011 | 209.291 |
| 2016 | 197.777 |
| 2021 | 208.248 |
| 2022 | 234.300 |
| 2023 | 243.623 |
Fonte: INED, DREES, Wikipedia.drees.solidarites-sante.gouv.fr+5fr.wikipedia.org+5ined.fr+5
Observações:
- Estabilidade nas últimas décadas: Desde a década de 1980, o número de IVG na França manteve-se relativamente estável, oscilando entre 200.000 e 220.000 por ano.
- Aumento recente: Em 2022, registraram-se 234.300 IVG, o número mais alto desde 1990. Esse aumento pode ser atribuído a vários fatores, incluindo mudanças nas políticas de saúde e acesso aos serviços de aborto.drees.solidarites-sante.gouv.fr+3tf1info.fr+3lemonde.fr+3
- Dados de 2023: Em 2023, o número de IVG aumentou para 243.623, representando um acréscimo de 3,7% em relação ao ano anterior. vie-publique.fr
Uma pergunta que se impõe: se a IGV não veio substituir a contracepção, por que razão, agora, com um sistema de saúde onde há planeamento familiar, recursos gratuitos à pílula contraceptiva, à pílula do dia seguinte (que é uma excelente ferramenta quando há descuidos), e aos preservativos, as IGV não foram com o passar dos anos diminuindo para um valor residual, mas pelo contrário, não só se mantiveram como ainda aumentaram?
Esta pergunta é retórica, porque todos, ao analisarmos com seriedade os dados estatísticos, sabemos a resposta. A sociedade dita moderna regrediu nos valores e passou a promover agendas disfarçadas de humanismo, quando, na verdade, pouco se importam com a vida humana. O que se construiu foi uma sociedade que se tornou sensível ao sofrimento e à morte animal, que abomina a eutanásia ou o aborto em cães e gatos, mas os exige nos humanos como um direito. Esta inversão de valores é assustadora. Por outro lado, se os abortos, antes da legalização da IGV, eram clandestinos — logo, sem registo — como podem afirmar que houve diminuição com a legalização? Não precisam de responder a isto. É por demais óbvio.
A lei actual já permite que, numa fase ainda muito precoce, a mulher possa decidir sobre o seu corpo. Existe, como já referi, planeamento familiar no SNS; acesso à pílula contraceptiva, aos preservativos, à pílula do dia seguinte e à IGV até à 10.ª semana. Qual é, afinal, o problema? Ter liberdade para decidir até ao final da gravidez — e, quiçá, também até ao nascimento? Isso tem outro nome. Não podemos, de todo, seguir por esse caminho. Enquanto sociedade civilizada, devemos educar para decisões conscientes e bem informadas. Devemos apoiar mães — jovens, vulneráveis, em risco — e criar soluções como, entre outras, a adopção. Há casais inférteis que dariam tudo por uma criança.
Por outro lado, choca-me profundamente que ninguém fale sobre as consequências físicas e psicológicas da IVG. Romantiza-se um procedimento que é cruel e que deixa lesões no corpo da mulher. As imagens do vídeo de Miguel Milhão pecam por escassas: a realidade é ainda mais dura. Quando se sai à rua e questiona-se a população feminina sobre o aborto mostrando vídeos reais que retratam a realidade deste procedimento, as reacções são outras.
Curiosamente, pouco se fala sobre o lado positivo da maternidade: o amor incondicional que nasce com a chegada de um filho, as experiências únicas partilhadas, as memórias inesquecíveis, o enriquecimento emocional e social — e, acima de tudo, o contributo para um futuro colectivo melhor. Todos os que lêem este texto são filhos de mulheres que optaram pela vida. Que sociedade verdadeiramente evoluída escolhe a morte em detrimento da vida? Que futuro pode ter uma civilização em declínio populacional? E onde estaria o mundo sem os grandes génios a quem não foi negado o direito de nascer? Já parou para reflectir sobre isso?”
As mulheres têm, sim, opções — basta assumirem a responsabilidade e utilizarem, com consciência, os diversos meios hoje disponíveis para decidir sobre o próprio corpo. A responsabilidade deve ser incutida desde cedo, no seio da família e reforçada na escola. É uma das ferramentas mais valiosas da educação, um bem precioso que nos guia em todas as áreas da vida. Mais do que nunca, é urgente cultivá-la e colocá-la em prática.”
A actual luta não é sobre liberdade, é sobre controlo. Não se quer informar, quer-se formatar. E isso, sim, é o verdadeiro atentado à liberdade de escolha.

5,4 milhões de euros por 18000 abortos fica 300 euros por aborto. Não é muito caro: uma ressonância magnética custa mais ou menos o mesmo.
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Obrigado por ter a coragem de publicar este artigo. Obrigado por ter sido mãe. Na nossa “democracia” defender bebés com menos de 10 semanas é crime. É ir contra a liberdade das mulheres puderem ou não matar o ser humano que tem dentro. E com o argumento eslavagista que não se trata de um ser humano. A hipocrisia diz com 10 semanas e um dia já é crime.
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«…é uma forma subtil de fascismo»
Onde está a subtileza?
O que distingue o fascismo do totalitarismo que a inspira?
A que propósito um acto voluntário não deve ser pago, ainda que contemplando a situação económica de quem o pratica?
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«…é uma forma subtil de fascismo»
Onde está a subtileza?
O que distingue o fascismo do totalitarismo que a inspira?
A que propósito um acto voluntário não deve ser pago, ainda que contemplando a situação económica de quem o pratica?
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«…é uma forma subtil de fascismo»
Onde está a subtileza?
O que distingue o fascismo do totalitarismo que a inspira?
A que propósito um acto voluntário não deve ser pago, ainda que contemplando a situação económica de quem o pratica?
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Desde o momento que o coração bate… já devia ser proibido.
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Sobre o SNS….. para que conste…..
Bom dia, peço permissão para adiantar alguns dados sobre o assunto, na convicção de que o governo pode atuar no sentido de obter esclarecimentos que estejam ao seu alcance e considerados de alguma utilidade..
1-Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto / Meu processo nº 16002047
Na sequência de uma exposição dirigida à ERS recebo do Gabinete do Cidadão ULS SÃO JOSÉ, exposição 1443/2025 a informação via e-mail que passo a citar, “Na presente data 02 Abri2025 segue pedido de audição interna ao serviço visado” Sendo o utente desconhecedor do respetivo resultado, creio ser do maior interesse que o mesmo seja solicitado para conhecimento do governo sem prejuízo de o mesmo poder vir a ser facultado ao doente.
2- Hospital Setúbal / Meu processo nº 24112173
Tinha recebido carta a marcar consulta de Gastreterologia Geral para 11 Junho 2025 pelas 09.45. Acontece que durante a manhã de segunda feira dia 09 tentei algumas vezes estabelecer contacto telefónico para o numero disponibilizado 265549000 sem sucesso. pelo que recorri ao meu e-mail das15:40 que transcrevo:
-Em relação a esta consulta marcada agradeço me informem com alguma antecedência quem vai efetuar o transporte a fim de eu poder contactar para saber a que horas devo estar pronto para a deslocação-.
Do e-mail não recebi noticia de que foi lido nem obtive qualquer resposta.
Se situações desta natureza acontecem com demasiada frequência acredito que este relato merecerá a atenção do governo.
Muito obrigado,
Aarão Marques
—– Mensagem de noreply@portugal.gov.pt ———
Data: 10 Jun 2025 16:13:51 +0100
De: noreply@portugal.gov.pt
Assunto: Portal do Governo: Unidades de Saúde, atendimento e humanidade com utentes a merecer atenção
Para: aarmar@sapo.pt
—– Fim da mensagem de noreply@portugal.gov.pt —–
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