Economia de uma revista de ideias
A maior parte da população não lê revistas acima de um determinado nível de sofisticação. Logo, o mercado potencial de uma revista de ideias fica reduzido a pouco mais que os actuais leitores do Público e do DN somados. Isso deve dar uns 100 mil leitores por edição. Devemos esperar que este público tenha as suas próprias ideias. De acordo com a teoria memética, estas pessoas têm os seus próprios complexos meméticos. Ainda de acordo com a teoria memética, as ideias funcionam como vírus e os complexos meméticos como sistemas imunitários. Complexos meméticos estáveis desenvolveram mecanismos de defesa contra ideias hostis. Dado que o objectivo de uma revista de ideias é lançar ideias pouco representadas, é natural que vá enfrentar um público que não valoriza ideias que contrariam os respectivos complexos meméticos. Logo, a maior parte do público relevante (os tais 100 mil) valoriza de forma negativa uma revista de ideias que não represente as ideias maioritárias. Uma revista de ideias maioritárias é redundante. Uma revista com novas ideias terá um público muito reduzido em qualquer lugar do mundo. Ninguém está interessado em ser infectado por viroses hostis. Dado que o valor de uma revista de ideias para o potencial leitor é negativo, o leitor não pode ser o cliente da revista de ideias. Os promotores das revistas de ideias têm que recorrer a outras estratégias. E normalmente há duas disponíveis. Uma passa por aumentar o valor do produto para o leitor convertendo a revista de ideias numa revista de informação (ou entretenimento) e ideias. Neste caso o público compra a informação (ou entretenimento) e as ideias seguem de borla. A segunda estratégia passa por, em vez de procurar clientes que queiram ler a revista para mudar de ideias, procurar um cliente que queira mudar as ideias dos outros e esteja disposto a pagar por isso. Neste caso, o leitor e o cliente são pessoas diferentes. Na verdade, o cliente é hostil ao leitor, mas o leitor não se pode aperceber disso.
É de facto sempre um grande prazer lê-lo, a sua clareza e síntese neste post são excelentes. Parabéns (por este e por (quase provavelmente) os outros posts).
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Não me diga que lhe encomendaram um estudo de mercado?
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Consultadoria de borla para a Atlântico. E não só. E está muito bem esgalhado. E funciona.
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João Miranda é um exemplo paradigmático de que a teoria memética é bem verdadeira.
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Bom post, Miranda. Mas há sempre a hipótese da revista de ideias trazer duas gajas nuas em poses amorosas. E, aí, o cliente e o leitor estão ambos de acordo.
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Tonibler:
Ou brindes! A terceira estratégia é oferecer brindes!
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À teoria memética em linguagem vulgar dá-se o nome de facciosismo.
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Prontos.
Temos o problema da “Atlântico” resolvido.
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Confesso que cheguei a ler umas três linhas e desisti de ler o post.O poder de sintese , como já referido pelo PGil, desincentiva á leitura a qualquer um .
Afinal as revistas de ideias não sobrevivem a não ser …como agora…alguma gaja tire a roupa em meia dúzia de paginas.Afinal coisa já muito habitual por cá com as miúdas que querem é vida fácil e dinheiro no bolso.
Mais umas coisas sobre os ginásios de engate , e comida bio e marcha tudo até uma caterfa de estudos de epistemologia e critica hegeliana.
A Atlântico que contrate a Claudia Vieira.Um gajo tem de ter muita concentração para por estes dias não espatifar a viatura, numa das paragens de autocarro com publicidade da lingerie da Triumpf.
E para si , associe uma babe ao post sff .Assim não dá .
machista !!! moi ?
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honni soit qui mal y pense Diz:
10 Abril, 2008 às 3:44 pm
Esteja tranquilo que isso ainda não chega para levar com o selo do “machismo”. É cabeça de homem, o que se há-de fazer?
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Em linguagem económica poderemos dizer que a “revista” fechou porque não é estúpida. Foi o mercado …
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O mercado é um saloio memético.
Valha-o Deus, João Miranda! V, às vezes parece não entender nada.
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A Focus, anda agora a recorrer ao antídoto anti-memético. Coloca em capa, temas fracturantes ligados ao sexo. Sex sells!- Devem pensar os gajos da revista, a reboque de uns milhares, antes deles que pensaram o mesmo.
Hugh Hefner, americano, nos anos cinquenta pensou no assunto. Só que nessa altura, o mercado memético das pulposas pin-ups, estava entregue à bicharada da mafiosiade rasca.
E Hefner teve uma ideia: fazer um produto de luxo com material pin up. Explico: material pin up, são imagens para pendurar ( ou guardar longe da vista), em local de agrado, por exemplo cabinas de camiões Tir.
E resultou. Mas, no meu entender por um motivo. Captou o interesse dos que compravam as revistas pulposas vendidas pelas mafiosidades e acrescentou gente interessada e que lia a New Yorker e a Atlantic. Com um belíssimo pretexto: for the articles!
Get it?
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A estética é meio caminho andado para vender ideias éticas.
Até os comunistas sabem disso, agora. A economia de mercado, demonstrou-lhes! Ahahahah!
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É o mercado.
Deviam convidar um teórico do futebol para escrever um artigo cietífico de elite sobre o tema em cada revista.
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Mas com isto ficamos a saber que os leitores da Atlântico (+-2 200) são os potenciais aderentes ás ideias vinculadas por aquela revista.O que explica por si só o insucesso da mesma.
O mercado mais uma vez tem razão!
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Para terem êxito, as revistas de ideias terão de incluir uma secção futebolística com várias páginas profusamente ilustradas.
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A revista Atlântico deve consultar urgentemente o Professor Bambo.
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Está enganado.Para terem êxito é preciso serem boas.De outra forma os leitores não se tornam clientes e estes não trazem leitores!
É assim e sempre será assim!E nos jornais desportivos,que não leio,tambem é assim.Fazem tiragens de muitas dezenas de milhares porque correspondem ao interesse do mercado.
Mas se forem maus, embora havendo mercado, não vendem!
Acredita que no país só há 2 200 leitores interessados nas ideias da Atlântico?
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Há mais um factor a ter em conta: nem toda a gente está disposta a comprar uma revista que tem as mesmas ideias que o leitor tem na cabeça, pode ser uma perda de tempo, por outro lado ler ideias diferentes pode ser desconfortável e o leitor não lhes quer dar dinheiro, protegendo as suas ideias. A melhor forma de evitar isto é arranjar ideias sobre as quais os clientes não têm opinião formada, não só é mais cativante para eles como é mais fácil de propagar essas ideias.
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estamos a falar de revistas?
estou sempre à espera que a primeira página do Blasfémias traga umas gajas na capa
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Brilhante post. Na mouche…
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quais ideias minoritárias? qual público reduzido? Do universo da blogosfera os blogs de direita são os mais lidos e representativos. Quanto ás ideias “minoritárias”, se estiver a referir-se a conceitos “liberais” da economia, têm sido a tendencia dominante. E quanto aos jornais? na sua boa maioria de direita.. Detecto um bocado de vitimização precipitada a pretexto do fecho de uma revista.
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Então, ó Ferro, porque é que a Atlântico finou ?
Não tinha ideias minoritárias.
Não tinha público reduzido.
Será que tinha alguém da esquerda, infiltrado ?
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… que sabotou !
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se calhar era aborrecida. Ou então tem mais a ver com o nível intelectual do que a orientação ideológica. Ou então porque era um folhetim de propaganda sem debate. Ou porque cobria assuntos já largamente discutidos nos jornais (que na sua maioria são de direita). lembro-me que varios colaboradores da atlantico colaboram com outras publicações que não acabam. Ou porque era uma publicação onanista para amigos. Ocorrem-me várias teses sem ser a fantasmagórica e recorrente “toda a gente é comunista”
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Há um problema adicional que o post do JM não foca.
A Atlântico é desinteressante para muitos dos seus potenciais leitores, porque não se afasta suficientemente dos blogues (e respectivos autores) que estiveram na sua origem. Quem seja leitor regular dos blogues liberais dificilmente estará disposto a gastar 4 Euros para ler “mais do mesmo”. Para quê pagar pelo que se pode ter à borla? Eis mais um tema sobre o qual o JM poderia dissertar: que sentido faz haver revistas de ideias quando essas mesmas ideias já foram mais do que divulgadas e discutidas na Internet?
Dito isto, para quem encaixe no perfil que o JM traça e não seja simultaneamente leitor de blogues, a Atlântico até podia ser uma revista interessantíssima. O problema é encontrar esse leitor mágico que mais parece uma contradição nos próprios termos…
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