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Grupos de risco versus comportamentos de risco

17 Junho, 2008

Escreve Pedro Morgado:

A tese da importância dos “grupos de risco” na transmissão do VIH é um enorme equívoco que que assenta numa visão conservadora e higienista da sociedade.

A segmentação de uma população em “grupos de risco” tem tanto de ideológico ou conservador como a segmentação do mercado das cervejas ou dos vinhos. Em epidemiologia, existem razões técnicas para segmentar populações quando o objectivo é fazer uma dada intervenção nessa população.

A tentativa de amontoar as pessoas em “grupos de risco” baseia-se na crença de que, em ciências sociais, é útil segregar as pessoas (não necessariamente no sentido pejorativo) de acordo com características físicas ou psicológicas, independemente dos seus méritos e comportamentos.

É óbvio que é útil segregar (se tal for entendido como segmentação) uma população quando se pretende fazer uma dada intervenção. Se eu tenho um milhão de euros para fazer uma campanha contra a SIDA, interessa-me segmentar a população para saber em quem esse milhão de euros pode ser melhor aplicado. Se eu não fizer a segmentação tenho que fazer uma campanha generalista dirigida a toda a gente, incluindo a quem tem baixa probabilidade de ter comportamentos de risco.

A população tem que ser segmentar em grupos de risco e não em comportamentos de risco pela simples razão que é muito mais identificar as pessoas de um dado grupo de risco do que as pessoas com um dado comportamento de risco.

Esta atitude é avessa aos princípios liberais, encerrando enormes perversidades, a maior de todas assenta na indução de conclusões erradas que instilam o preconceito e multiplicam a ingorância.

Não há nada de iliberal na segmentação de uma população para atingir determinados objectivos de saúde pública. E se alguém tirar conclusões erradas dessa segmentação, isso não torna a segmentação numa má estratégia.

É universalmente aceite que o VIH se transmite através de comportamentos de risco e não pelo facto do indivíduo A ou B ser considerado membro deste ou daquele grupo.

Isso é totalmente irrelevante. Não sendo possível segmentar a população de acordo com os comportamentos, é necessário usar um proxy desses comportamentos. E o melhor proxy que existe é a pertença a grupos de risco.

Como depressa se compreende, o membro de um grupo de risco que não tenha comportamentos de risco tem uma probabilidade igual a zero de contrair a doença

O Pedro fala como se fosse possível estimar probabilidades objectivas individuais em epidemiologia. O que interessa para as autoridades públicas é a probabilidade subjectiva de um indivíduo contrair a doença (a probabilidade subjectiva não mede a probabilidade concreta de um indivíduo ter ou contrair a doença, mas o grau de ingorância das autoridades públicas em relação a esse indivíduo ). Como as autoridades públicas não têm informação sobre quem tem comportamentos de risco, então a probabilidade subjectiva tem que ser estimada com base na pertença aos grupos de risco. Se as autoridades soubessem quem tem comportamentos de risco e quem não tem, não haveria qualquer necessidade de recorrer ao conceito de grupos de risco. Mas dado que não é possível saber quem tem comportamentos de risco, as autoridades têm que se basear na pertença a grupos de risco.

enquanto que, pelo contrário, um indíviduo que não pertença a nenhum grupo considerado de risco mas que pratique comportamentos de risco apresenta uma grande probabilidade de a contrair.

Os indivíduos que têm comportamentos de risco mas não pertencem a grupos de risco são muito poucos e difíceis de identificar e localizar. Encontram-se de tal forma dispersos pela população que a despesa em camapanhas de informação e de combate à doença seriam pouco eficientes. A estratégia de focar o combate à doença em grupos de risco é muito mais vantajosa em termos de custo/benefício.

O risco só não é independente dos grupos na exacta medida em que os elementos dos grupos praticam determinados comportamentos. Este é um dado que não se pode ignorar. Por tudo isto, parece óbvio que a análise dos comportamentos de risco é muito mais significativa, informativa e precisa do que a mera classificação das pessoas em grupos.

O Pedro não chegou a explicar como é que as autoridades públicas segmentam a população com base em comportamentos que são privados sem recorrer ao conceito de grupos de risco.

48 comentários leave one →
  1. 17 Junho, 2008 02:07

    O João Miranda tem noção que a Patrícia Lança acabou de “segmentar” um continente inteiro não tem? Nesta nova tese, os homossexuais são um grupo perfeitamente irrelevante, comparado com um continente inteiro. Foi feita uma delimitação territorial bem concreta… A grande ameaça ao great white hunter, puro, macho e muito hetero, pois claro, de repente tem uma origem que não é difusa.

    «O Pedro não chegou a explicar como é que as autoridades públicas segmentam a população com base em comportamentos que são privados sem recorrer ao conceito de grupos de risco.»

    De modo a que, nesta ideia da Patrícia, que o João parece subscrever, seria relativamente fácil, caso alguma autoridade pública (“deus nos livre”) adopte tais concepções. Se a Patrícia Lança tivesse algum poder na UE ocorreria, simplesmente, a expulsão de qualquer indivíduo de raça negra, o bloqueio à imigração, quarentena para quem se deslocasse a “esse” continente, etc, etc. Não pretenda escamotear o que foi dito.

    De qualquer forma, o João Miranda certamente compreenderá que a utilização do termo comportamentos de risco será inequívoca no universo de todas as DSTs. A propaganda “tenebrosa”, “diabólica” das empresas que vendem preservativos e das autoridades públicas não pretende prevenir o HIV/SIDA exclusivamente, mas uma panóplia de DSTs cujos dados estatísticos não corresponderão, com toda a certeza, a esses que apresentam como verdade quanto ao HIV/SIDA. “Tenebrosa” e “diabólica” é a propaganda, sobretudo com origem na Igreja Católica, contra o uso de preservativo nesses tais países africanos. Parece que, sem os preservativos, a coisa se alastra e é verdadeiramente epidémica. Parece!

    Claro que se se impõe o uso do termo “comportamentos de risco” para combatar as DSTs no geral, certamente compreenderá que, para mero deleite, preconceito ou fobia de alguns, não seja adequado, nem útil, aplicar o termo “grupos de risco” para nos referirmos a uma das muitas DSTs. Não seja por mais nenhuma razão, a experiência africana afastará, por completo, a ideia de “grupo” e afirma, definitiva e inequivocamente a ideia de “comportamento”.

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  2. JoaoMiranda permalink*
    17 Junho, 2008 02:12

    ««O João Miranda tem noção que a Patrícia Lança acabou de “segmentar” um continente inteiro não tem? »»

    Os dados confirmam o que a Patrícia Lança diz sobre o assunto. A SIDA na África sub-sariana afecta indiscriminadamente todos os sectores da população em proporções muito elevadas. No resto do mundo não é assim.

    ««Se a Patrícia Lança tivesse algum poder na UE ocorreria, simplesmente, a expulsão de qualquer indivíduo de raça negra, o bloqueio à imigração, quarentena para quem se deslocasse a “esse” continente, etc, etc.»»

    Importa-se de explicar como foi capaz de prever com tanto detalhe o que Patrícia Lança faria se tivesse poder?

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  3. 17 Junho, 2008 02:40

    Risco é um conceito estatistico. Existem grupos de risco. Existem comportamentos e risco. A pessoa A saudável tem uma relação não protegida com a pessoa B infectada em estadio de SIDA. Nunca se pode dizer que se infectou. Pode-se dizer que tem um risco X de se ter infectado. É possivel identificar um grupo de risco denominado “homossexuais”. Por muito que doa aos que se vêm como bem pensantes a doença é mais frequente – DÉCADAS APÓS O SEU INÍCIO – fora de África, nos homossexuais que nos heterossexuais.

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  4. 17 Junho, 2008 02:42

    JLS

    distinga a sua propaganda dos factos.

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  5. 17 Junho, 2008 02:47

    JLS

    será que em média os grupos de risco terão maior incidência de comportamentos de risco? Será que a fúria dos seus argumentos não advém de querer, para servir os seus valores, silenciar factos (para além de combater valores)? Quue valores são esses que se sentem tão ameaçados com os factos?

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  6. 17 Junho, 2008 02:57

    «A SIDA na África sub-sariana afecta indiscriminadamente todos os sectores da população em proporções muito elevadas. No resto do mundo não é assim.»

    Para a Patrícia, os dados também comprovam que os preservativos são uma conspiração diabólica. Claro que os dados também provarão que não é assim, precisamente pelas proporções que a epidemia tomou em África. O que Patrícia diz dos dados, é o que lhe convém, em nome da sua própria teoria e agenda.

    No resto do mundo não é assim, diz você. Pois não, não é. Porque será?

    O que os dados dizem é que não existem grupos de risco. Existem comportamentos de risco, pois a não ser que ser preto seja uma fatalidade, os homossexuais e os grupos de risco pouco ou absolutamente nada têm a ver com isto. Ou será que os pretos são todos homossexuais? Será isso que a Patrícia “leu” nos dados (ou terá sido no tarot)? Será por isso que o HIV/SIDA tomou as proporções epidémicas em África? Santa prevenção. Santo laicismo que, mais do que uma característica do Estado, afasta os crentes de bovinação católica. Que a Patrícia não perceba que o estado das coisas em África é uma completa e total negação da ideia de “grupo de risco” eu compreendo. Agora que você não compreenda e insista na tecla… não percebo, confesso.

    «Importa-se de explicar como foi capaz de prever com tanto detalhe o que Patrícia Lança faria se tivesse poder?»

    Não é o que a Patrícia faria. É o que quem tem fobias num estado tão medonhamente avançado tem feito, quando chega ao poder. A História vai nos dando umas lições nos intervalos da bola.

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  7. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 02:58

    «« A população tem que ser segmentar em grupos de risco e não em comportamentos de risco pela simples razão que é muito mais [fácil?] identificar as pessoas de um dado grupo de risco do que as pessoas com um dado comportamento de risco. »»

    Isso não é óbvio, pelo menos para mim que não percebo nada de estratégias de combate à SIDA. Em que circunstâncias é que é fácil identificar membros de grupos de risco? Se for uma campanha nacional, em televisão e jornais, é muito melhor alertar para os comportamentos de risco. Se quiser fazer uma campanha local, dificilmente poderá cobrir todo um grupo de risco. Terá de identificar as zonas onde seja mais provável chegar às populações que tenham comportamentos de risco, e até pode haver uma mistura da identificação de grupos e comportamentos de risco. Por exemplo, pode escolher bares de homossexuais, mas se for possível tentará escolher aqueles onde seja mais provável haver comportamentos de risco. Se for fazer campanha para o Casal Ventoso (ou equivalente moderno), ou para bordéis de heterossexuais, está a seleccionar um comportamento de risco e não um grupo de risco.

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  8. 17 Junho, 2008 03:01

    «será que em média os grupos de risco terão maior incidência de comportamentos de risco? Será que a fúria dos seus argumentos não advém de querer, para servir os seus valores, silenciar factos (para além de combater valores)?»

    A “fúria dos meus argumentos” 🙂 Os factos? Simples. De repente, 30 anos depois, os africanos transformam-se num “grupo de risco”. De recordar que, antigamente, o “grupo de risco” eram os homossexuais. Como se chegou a esse ponto em África? Através de comportamentos de risco ou de grupos de risco? A resposta parece-me óbvia e francamente simples.

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  9. 17 Junho, 2008 03:14

    «distinga a sua propaganda dos factos.»

    Sinceramente não percebi bem. “Minha propaganda”? Compreendo que diga isso sobre algumas coisas que escrevi, mas apenas as escrevi no contexto de posts anteriores, daqui do Blasfémias e do Insurgente (alguns até já são velhitos… é um tema recorrente).

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  10. 17 Junho, 2008 03:16

    A pessoa A saúdável tem um comportamento de risco (com por exemplo 0,3 – 30% de risco) com uma pessoa desconhecida de um grupo de menor risco – por exemplo um negro heterossexual europeu. Este grupo (heterossexuais europeus) tem imaginemos uma taxa de incidência de HIV/SIDA de 0,001.

    0,2 x 0,001 = 0,0002 – ou seja um risco de se ter infectado de 2 para dez mil. É necessário ter 5.000 relações sexuais não protegidas para se infectar.

    Agora tem uma relação com um negro africano, grupo com uma prevalência, imaginemos, de 10%.

    0,2 x 0,1 = 0,02. Basta ter 50 relações dessas para se infectar.

    Factos. É chato – factos.

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  11. 17 Junho, 2008 03:17

    Queria obviamente dizer na primeira frase 0,2 – 20%.

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  12. 17 Junho, 2008 03:27

    JLS

    alguns dos seus valores (não aceitar discriminação contra pessoas homossexuais ou de ascendência fenotípica africana) são, na minha opinião, positivos. Outros – o anticlericalismo primário – negativos. Os últimos não são particularmente perigosos.

    Agora o que é perigoso é o que o bom Miranda denuncia : o negacionismo da realidade como necessidade de se vencerem debates a qualquer custo. A OMS avisa : conheçam a vossa epidemia. Nunca disse – deturpem a vossa epidemia!

    A confusão entre factos e valores leva ao empobrecimento A falsificação dos factos

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  13. 17 Junho, 2008 03:37

    Sim, neste momento. Mas chegou-se a esse ponto:

    «0,2 x 0,1 = 0,02. Basta ter 50 relações dessas para se infectar.»

    Como? Através de comportamentos ou de grupos? É evidente que se poderão formar grupos. Mas serão uma coincidência (ou uma fatalidade, que se formem), não serão a causa a atacar. A causa a atacar são os próprios comportamentos.

    Aliás, a ideia de “grupos” é geralmente utilizada, quanto a este assunto, não para nos referirmos a nações ou continentes, mas antes a orientações sexuais e prostituição. Não sei se está a ser bem perceptível que estão a considerar como “grupo”, qualquer coisa como um 1 bilião de pessoas. Se queremos “segmentar a população”, parece-me até que a utilização desse termo como técnica de análise e abordagem ao assunto perde, assim, toda a seu interesse e potencial eficácia.

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  14. 17 Junho, 2008 03:43

    «Outros – o anticlericalismo primário – negativos.»

    O meu “anticlericalismo”, neste questão resume-se à posição que a Igreja Católica assumiu em relação à utilização dos preservativos em África. Sabe que tem uma posição influente e decisiva. Prefere ajudar tratando (e isso faz, efectivamente) mas rejeita a prevenção e a promoção da utilização do preservativo, mantendo-se fiel aos seus dogmas. Curiosamente, alguns clérigos vão “contra”… mesmo não dizendo que sim, ao menos não dizendo que não. Sim, censura-a enormemente por isso. As minhas achegas católicas relacionam-se exclusivamente com isso, pois não me chateia muito, a católica ou outra qualquer religião.

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  15. Cfe permalink
    17 Junho, 2008 05:45

    “mas rejeita a prevenção e a promoção da utilização do preservativo, mantendo-se fiel aos seus dogmas.”

    É realmente a Igreja deve estar errada…

    O único país da África que conseguiu dominar a explosão da SIDA foi o Uganda, onde a política oficial foi o incentivo a um comportamento mais casto, com fidelidade ao parceiro/a e responsabilização do comportamento individual.

    http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2007/01/laxismo-do-ltex-e-escolha-individual.html

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  16. balde-de-cal permalink
    17 Junho, 2008 05:57

    a isto pode chamar-se o “sexo dos anjos” com ou sem camisa.
    sou peronista (“descamizado”)
    mas não meto a “pixa” em qualquer lado

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  17. 17 Junho, 2008 07:41

    Pois…
    E o que é preciso é segregar todos os paneleiros já que são eles que estão na origem da desgraçada SIDA.
    Os siderados podem ser tratados em campos de concentração juntamente com os maricas que se apanharem.
    Mesmo assim, se quiserem continuar a enrabar-se uns aos outros e sem aceitar os tratamentos, caríssimos, indicados, devem ser retidos em campos de concentração prisionais.
    Essa maralha tem que ser afastada da sociedade dita normal.
    Por que não?

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  18. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 08:49

    Santo laicismo que, mais do que uma característica do Estado, afasta os crentes de bovinação católica.

    Com a Igreja ja topamos de novo. E assim pelos séculos dos séculos. Fica tudo dito…

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  19. Filipe permalink
    17 Junho, 2008 08:57

    Se o papel da igreja fosse decisivo haveria uma maior incidência de sida entre os católicos que outras nas religiões ou nos ateus. Por acaso tenho uma dúvida sincera, e a prevalência da sida em países de forte presença islâmica?

    JLS, da separação da população em grupos de risco não se tiram conclusões individuais. Se quiseres pensar noutro tema, por exemplo a violência doméstica, se se concluir que os homens são em média mais violentos, isso nada diz sobre o meu ou o teu comportamento.

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  20. Filipe permalink
    17 Junho, 2008 08:58

    errata: outras nas = nas outras (dislexia 🙂 )

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  21. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 09:15

    Ainda andam a discutir esta coisa mais de dezenas de anos depois. É um atraso de vida. Há pessoas que martelam na mesma tecla e nao saem do lugar. Séculos de atraso a discutir o que está mais que discutido.

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  22. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 10:50

    ««Se a Patrícia Lança tivesse algum poder na UE ocorreria, simplesmente, a expulsão de qualquer indivíduo de raça negra, o bloqueio à imigração, quarentena para quem se deslocasse a “esse” continente, etc, etc.»»

    O CARAMELO QUE ISTO DIZ LÁ SABE O QUE DE FACTO ANDA A ACONTECER.
    TODO O MUNDO POLITICAMENTE CORRECTO NOS DIZ QUE OS IMIGRANTES AFRICANOS NOS “ENRIQUECEM”, MAS NÃO O PROVAM.
    O QUE SEI É QUE A MAIORIA DOS PORTUGUESES NÃO ADERE Á “DOUTRINA” DAS PSEUDO-ELITES QUE NOS GOVERNAM E QUE É CRIADA NAS CATACUMBAS DA ESQUERDA QUE CONTA.
    COM CENTENAS DE MILHAR DE AFRICANOS POBRES CÁ NO BURGO A PRECISAR DE CASA SOCIAL, RENDIMENTOS MÍNIMOS E TRATAMENTOS DE 2000 EUROS POR MÊS PARA ONDE JULGAM QUE VÃO?

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  23. Red Snnaper permalink
    17 Junho, 2008 11:16

    Acho que ninguém duvida que Patrícia Lança tem um ódio visceral aos homossexuais. É óbvio demais. Claro que isso é razão mais do que suficiente para todo o debate ficar inquinado logo à partida. Com efeito, facilmente se percebe que por detrás da cientificidade dos factos apresentados, reside uma irrefreável fobia aos homossexuais e todo um programa ideológico.

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  24. Red Snnaper permalink
    17 Junho, 2008 11:19

    No entanto há que dizer que uma relação anal entre um homem e uma mulher tem muito menos risco que entre dois homens. Mesmo usando preservativo, este rompe mais facilmente na relação homossexual. Por essa razão faz sentido falar em grupos de risco.

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  25. 17 Junho, 2008 12:06

    É uma tese de discriminação sexista.
    A SIDA é apenas um pretexto, como podia ser o uso de saias.

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  26. 17 Junho, 2008 13:13

    jls dixit:

    “O que os dados dizem é que não existem grupos de risco.”

    EUA, 2006

    Novos casos de sida, homens:

    Male-to-male sexual contact 16,001
    Injection drug use 4,410
    Male-to-male sexual contact and injection drug use 1,803
    High-risk heterosexual contact* 4,558
    Other** 217

    *Heterosexual contact with a person known to have, or to be at high risk for, HIV infection.
    ** Includes hemophilia, blood transfusion, perinatal exposure, and risk not reported or not identified.

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  27. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 14:22

    ok, concordo que fiquei surpreendido pelas estatísticas nacionais, penso que a predominância da reunião toxicodependência/prostituição, enviesa bastante a estatística portuguesa….

    Também penso que pelo facto de os homossexuais sempre terem sido encarados como um grupo de risco os levou a ter mais receio e como tal a ser mais cuidadosos, daí este surpreendente resultado nacional (quando comparados com resultados de outros países). Chegamos à conclusão então que será necessário redireccionar os recursos utilizados em campanhas para este grupo especifico (os frequentadores de prostituas)de forma a conseguir combater esta doença…

    PS – Engraçado é que o movimento do politicamente correcto (tão típico de sociedades pseudo como a portuguesa) até a estatística gosta de atacar…. 🙂

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  28. mariana permalink
    17 Junho, 2008 14:33

    red snapper:

    só me pergunto: como é que sabe??????

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  29. 17 Junho, 2008 14:37

    Não vêem que isto é só para o João Miranda propor a educação de apenas uma parte da população? Isto faz-se assim: confirma-se através dos dados que uma parte da população é menos inteligente que outra. Como será bom de ver, a parte da população que é menos inteligente será aquela que é mais pobre (efeito de bola de neve). Como tal, em vez de se educar toda a gente, segmenta-se a população entre aqueles que terão mais probabilidades de singrar com a educação e aqueles que terão menos probabilidades de o fazer. Na impossibilidade de fazer testes de QI a todos, diz-se simplesmente que os pobres não vão ser educados e que os ricos o serão. Assim consegue-se optimizar o dinheiro gasto na educação.

    A lógica é semelhante. Não parece ocorrer ao João Miranda que todo o continente africano está em risco precisamente porque não se fizeram distinções entre comportamentos e grupos de risco. Os heterossexuais começaram, por exemplo, a ter sexo não protegido com prostitutas (só elas é que tinham SIDA, não é verdade?, ainda por cima são africanas) e de repente a infecção começou a ganhar terreno. Só alguém muito torcido na sua cabecinha não compreende isto. A Patrícia Lança nunca o compreenderá. O João Miranda compreende provavelmente, que de burro não tem anda. Apenas não quer admitir.

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  30. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 14:48

    Portanto temos que paneleiros, drogados e putas são o reservatório eleito pelo vírus da SIDA e com direito ao n! caso se tratem de africanos subsarianos.
    Solução do politicamente correcto:criminalizar os frequentadores da prostituição…

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  31. 17 Junho, 2008 14:52

    João Miranda, corrija a gralha aqui:

    «A população tem que ser segmenta[da] em grupos de risco e não em comportamentos de risco pela simples razão [de] que é muito mais [FÁCIL] identificar as pessoas de um dado grupo de risco do que as pessoas com um dado comportamento de risco.»

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  32. PLus permalink
    17 Junho, 2008 14:55

    Se tivéssemos a falar, não de saúde pública, mas sim de segurança pública, e concluíssemos que existem grupos de risco, nomeadamente relativos à raça e à nacionalidade essa informação seria útil ?
    E mais importante: seria legitimo -tendo em vista a tal segurança pública- acções (fundamentadas a priori) que discriminassem um determinado individuo ao acaso mediante a sua pertença a essa raça/nacionalidade ?

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  33. 17 Junho, 2008 15:11

    “Se tivéssemos a falar, não de saúde pública, mas sim de segurança pública, e concluíssemos que existem grupos de risco, nomeadamente relativos à raça e à nacionalidade essa informação seria útil ?”

    Como pensa que trabalha o SEF? Por que razão a polícia concentra as rondas em algumas zonas urbanas? Podem não dizer, mas praticam.

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  34. PLus permalink
    17 Junho, 2008 15:27

    “Como pensa que trabalha o SEF? Por que razão a polícia concentra as rondas em algumas zonas urbanas? Podem não dizer, mas praticam. ”

    O que eu queria saber é o que pensa o jcd(e restantes) sobre isso?
    É útil? e sendo útil é legitimo ou até que limite isso aceitável?

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  35. Red Snapper permalink
    17 Junho, 2008 15:34

    Mariana,

    Já experimentei as duas versões ( Os homens têm essa vantagem em relação às mulheres: podem fazer o teste). Depois de se experimentar dissipam-se todas as dúvidas.

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  36. 17 Junho, 2008 17:37

    Mesmo que, por hipótese, o João Miranda tivesse razão, nunca a poderia ter; nestas matérias, está sempre condenado a não ter razão, mesmo que saibamos que a expectativa média de vida actual de um homossexual equivale à de um cidadão do princípio do século 20. Os factos não contam; conta só a ideia dos factos que se quer fazer crer e prevalecer. Estamos em presença de uma espécie de religião.

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  37. Roídodefundo permalink
    17 Junho, 2008 17:51

    Cfe Diz:
    17 Junho, 2008 às 5:45 am
    “mas rejeita a prevenção e a promoção da utilização do preservativo, mantendo-se fiel aos seus dogmas.”

    É realmente a Igreja deve estar errada…

    O único país da África que conseguiu dominar a explosão da SIDA foi o Uganda, onde a política oficial foi o incentivo a um comportamento mais casto, com fidelidade ao parceiro/a e responsabilização do comportamento individual.

    Se a Igreja está errada ou não é uma questão que nós não decidiremos, você acreditará e seguirá os seus mandamentos, porque tem fé, eu não os sigo nem acredito num desígnio superior, pelo motivo oposto.
    No Uganda , crendo no que diz, o que se modificaram de forma a obter resultados positivos, foram comportamentos.
    È indesmentível que a Igreja, e não só em África, tem um papel importante no tratamento da SIDA bem como outras doenças.
    A minha discordância com as posições da Igreja, estão na forma como esta encara as relações sexuais, o que para ela é apenas a forma de procriar, para mim além disso é uma função que me faz viver a vida com mais plenitude, que não é exclusiva de uma relação conjugal, nem de pessoas de sexos diferentes.
    Ao condenar o uso de preservativo por ser um método anticoncepcional a Igreja também influência o uso do mesmo como protecção contra doenças sexualmente transmissíveis.

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  38. 17 Junho, 2008 18:24

    Gosto desta frase: “análise dos comportamentos de risco é muito mais significativa, informativa e precisa do que a mera classificação das pessoas em grupos”

    Quer dizer que os operacionais no Iraque ou Afeganistão não são um grupo de risco (mesmo dependendo do comportamento individual dos seus elementos).

    Só se com a Sida as coisas são diferentes porque sim

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  39. cfe permalink
    17 Junho, 2008 19:31

    Caro Roídodefundo,

    A Igreja Católica é contra os governos interferirem num assunto claramente do meio familiar dando ênfase ao uso da camisinha.

    Ou seja: ao invés a tônica num autocontrolo e incentivar a responsabilidade individual,os governos incentivam o contrário. Mas quem não deseja ter esse tipo de comportamento deve ter em conta os riscos e proteger-se; eu já vi até um Bispo dizer isso.

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  40. Ricardo Brito permalink
    17 Junho, 2008 20:06

    Caro João,

    Confesso que tem muita razão no que diz. Mas não se esqueça que a verdadeira causa de tranmissão das doenças infecciosas são os comportamentos de risco. Claro que é mais fácil segmentar a população em grupos, por isso penso que as campanhas publicitárias se devem centrar no Grupo populacional que tem esses comportamentos (que é em si também um grupo), identificando tais comportamentos claramente. Se formos falar em grupos homossexuais, ou toxicodependentes ou de prostituição as campanhas levam a que nestes determinados grupos decrescam o numero de infecções, mas não combate a verdadeira causa, aumentando noutros grupos que não foram visados. Quando diz que seria muito dificil ás campanhas visar as pessoas que têm comportamentos de risco isto não me parece correcto, já que para que as campanhas tenham efeito tem que existir uma identificação do individuo a esse grupo. E da mesma maneira como alguem se identifica como homossexual, toxicodependente ou prostituta, da mesma maneira identifica se tem ou não comportamentos de risco e se faz ou não parte deste grupo. Deste modo visamos a verdadeira causa do problema focalizando como disse e bem as campanhas a um determinado grupo, mas o verdadeiramente causador do problema, o grupo das pessoas com comportamentos de risco. Quando diz que “Não sendo possível segmentar a população de acordo com os comportamentos” gostaria de lhe perguntar como identifica um homossexual, ou um toxicodependente se não pelos comportamentos. Parece-me que se contradiz na sua exposição. Uma campanha só surtirá resultado se as pessoas identificarem o grupo de risco, que é o grupo de pessoas com comportamentos de risco e evitarem fazer parte desse grupo, doutro modo as coisas não resultam. Nesse caso será isso sim deitar dinheiro ao lixo já que andamos a mobilizar as doenças de um grupo para outro.

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  41. 17 Junho, 2008 20:41

    Caro João,

    Peço desculpa por não poder, por agora, dar uma resposta mais completa ao seu interessante post, mas estou em trabalho intensivo no biotério. Apenas acrescento alguns tópicos à discussão.

    «O Pedro não chegou a explicar como é que as autoridades públicas segmentam a população com base em comportamentos que são privados sem recorrer ao conceito de grupos de risco.»
    As autoridades públicas não precisam de segmentar a população. A sua missão é promover a adopção de comportamentos mais seguros no conjunto global da população. O que está por demonstrar e o João ainda não conseguiu fazê-lo é que a análise dos comportamentos de risco não seja muito mais significativa, informativa e precisa do que a mera classificação das pessoas em grupos.

    «A segmentação de uma população em “grupos de risco” tem tanto de ideológico ou conservador como a segmentação do mercado das cervejas ou dos vinhos.»
    A segmentação da população, ao contrário do que sucede com cervejas ou vinhos, tem consequências sociológicas como a segregação ou o convite à sua eliminação da sociedade. Além disso, cria-se a ideia artificial de que os elementos não pertencentes aos grupos de risco estão imunes à doença. Ao promovermos a evicção dos comportamentos de risco estamos a utilizar a arma mais poderosa e eficaz no combate à disseminação de uma epidemia.

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  42. Anónimo permalink
    17 Junho, 2008 22:06

    «« Por que razão a polícia concentra as rondas em algumas zonas urbanas? »»

    Talvez porque nessas zonas hajam focos de criminalidade? Esse exemplo ainda é pior do que o da SIDA. Acha mesmo que é mais fácil a polícia andar a ver onde moram os pretos (grupo de risco), do que descobrir as zonas onde há, ou onde tem origem, mais violência e criminalidade (comportamento de risco)?

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  43. Anónimo permalink
    18 Junho, 2008 00:18

    “Talvez porque nessas zonas hajam focos de criminalidade? Esse exemplo ainda é pior do que o da SIDA. Acha mesmo que é mais fácil a polícia andar a ver onde moram os pretos (grupo de risco), do que descobrir as zonas onde há, ou onde tem origem, mais violência e criminalidade (comportamento de risco)?”

    A polícia não vai a todo o lado com a mesma frequência embora possam acontecer crimes em todo o lado. Simplesmente, para ser mais efectiva, concentra-se em zonas onde espera encontrar maior concentração de criminosos.

    O que será mais eficiente, fazer rondas aleatórias ou concentrar as rondas em locais específicos?
    O que será mais efectivo, gastar o dinheiro no combate à Sida aleatoriamente ou concentrar em grupos de risco?
    O que será mais efectivo, vacinar toda a gente contra a meningite ou concentrar a vacinação nas crianças em idade escolar?
    Se a ASAE andar à procura de contrafacção de marcas, onde se espera que tenha mais sucesso, na feira de Carcavelos ou no Colombo?

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  44. permalink
    19 Junho, 2008 15:22

    “Por tudo isto, parece óbvio que a análise dos comportamentos de risco é muito mais significativa, informativa e precisa do que a mera classificação das pessoas em grupos.”

    E decorrente dessa “análise” provavelmente ir-se-a definir uma série de comportamentos de risco que apesar de atravessarem todo o espectro de uma sociedade são mais frequentes em grupos com estas ou aquelas características. Mas não são grupos de risco. *rolls eyes*

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  45. Anónimo permalink
    13 Agosto, 2009 18:19

    Parvos. Confundem ciência com todo o resto.
    Desde quando os pretos constituem grupos de risco no caso sida? Nem em Africa, nem na Europa. Abaixo as generalizações ok?
    Pensem que estão a descriminar além da própria descriminação. Vejam bem a origem do vírus, e como os africanos na generalidade se comportam. Nada tem a ver com muita coisa. Investiguem primeiro, não colham apenas dos jornais e jornalecos.

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