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O Arquipélago do Gulag no Parlamento

5 Agosto, 2008

A 31 de Julho de 1975, o deputado (e co-tradutor da obra) José Augusto Seabra (PSD) apresentou no Parlamento um estranho requerimento (link actualizado), que terminava assim:

1.º Que me seja dado um esclarecimento sobre a situação exacta em que se encontra a edição do volume I do Arquipélago do Gulag;
2.º Que me seja dado conhecimento das declarações do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, [Melo Antunes] para assegurar a publicação efectiva do referido livro;
3.º Que me seja indicado como pensa o Governo assegurar a liberdade de edição e expressão em Portugal
.”

As respostas, se as houve, não aparecem nos diários da sessões. O Homem que não gostava de Soljenitsin era capaz de saber alguma coisa sobre o assunto.

16 comentários leave one →
  1. 5 Agosto, 2008 20:21

    E há sectores ideológicos k s reclamam da cultura! É preciso ter lata!!! Basta dar uma vista d olhos por certos comentadores e blogues para ver o nervoso miudinho e incómodo k esse nome provoca. E como foi sistematicamente esquecido, ao contrário d outros, heróis do marketing, mas pequenos no carácter.Comparando os grandes jornais europeus (até o Libération, inspiração dum triste stalinista como Sartre) com os portugueses -à excepção do público- nota-se logo a mediocridade cultural k por aqui anda. Ah! E não foi esse Ernesto k defendeu o PCP no 25 Nov.?

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  2. José permalink
    5 Agosto, 2008 20:22

    Em 1975, a coisa esteve preta, neste aspecto. A Censura do Estado Novo, tinha terminado há poucos meses, mas já outra nova se apresentava a substituir, com maior eficácia.

    Vasco Gonçalves, no Verão Quente, foi à televisão vituperar os “pasquins” reaccionários que publicavam notícias que não lhe agradavam. Eram eles- e o então PM nomeou-os que eu bem ouvi e vi- o Expresso, o Jornal Novo e outro que não recordo, mas talvez o República (!) um órgão oficioso do PS com o velho jacobino Raul Rego, à frente.

    Em 1978, o panorama já era outro e maçónico Lyon de Castro, publicou OS Russos, livro que me instruiu bem no argumentário para com os colegas de partido de António Vilarigues.

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  3. 5 Agosto, 2008 21:00

    Certamente Melo Antunes não se opôs nem moveu influências diplomáticas e políticas para que o livro não circulasse livremente.

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  4. 5 Agosto, 2008 21:30

    O livro esteve ‘censurado’ durante o consulado de Vasco Gonçalves.

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  5. eduardo correia permalink
    5 Agosto, 2008 21:54

    Satiro,

    durante a tarde de hoje, numa conversa de café e após ter adquirido o Público (excelente capa com foto magnânime) referi exactamente isso, da “mediocridade cultural k por aqui anda”.

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  6. john permalink
    5 Agosto, 2008 22:39

    Sim?

    E olha quantos soljenitsins há aí que têm honras desse morto, a exemplo de um Noham Shomsky, por cá.

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  7. Aquilino permalink
    5 Agosto, 2008 23:28

    Tenho o livro na minha frente: publicado em Setembro de 1975 pela
    Bertrand (a edição original é de Setembro de 1973)com tradução directa do russo de Francisco A. Ferreira, Mario M. LListó e José A. Seabra.
    Considerar que houve censura na sua publicação (dois anos depois do original e com 7 meses de ditadura pelo meio (ah! essa não conta pois o fascismo, perdão, o exame prévio, até concordava com o seu teor, vá-se lá saber porquê) é estreiteza de vistas. De mais a mais, pouca gente em Portugal conhecia o Alexandre Soljenitsine (é assim que se escreve) até à sua morte. Paz à sua alma. Amén.

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  8. José permalink
    5 Agosto, 2008 23:37

    POuca gente em Portugal conhecia o Soljenitsine até à sua morte?!!

    Calma aí! Nos anos setenta, antes do 25 de Abril, escrevia-se muito sobre Soljenitsine. O Diário de Lisaboa até publicou excertos do Arquipélago de Gulag. E a Europa América publicou Um dia na vida de Ivam Denisovitch em livro de bolso.

    Calma aí. Que haja quem não se lembre ou não saiba por ser demasiado novo, é uma coisa. Outra, bem diferente, a realidade.

    É ler aqui, quem quiser: http://www.grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/

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  9. 6 Agosto, 2008 00:22

    Não posso quantificar quantos portugueses conheciam a obra de Soljenitsine antes de 25 de Abril, mas muitos sabiam quem era e o que escreveu. E obviamente bastantes leram-no.

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  10. 6 Agosto, 2008 03:07

    Extraordinário escritor.
    Um nacionalista…ortodoxo.
    E muitíssimo contraditório.

    Apoiou Franco, Pinochet, desapoiou o 25 de Abril…
    …Aos massacres na Tchetchénia (e não só) disse “nada”…

    Mas “O Arquipélago de Gullag” foi, ao tempo da sua publicação, um “momento” para melhor entender o stalinismo, suas origens e repercussões no tempo de –e post– Brejnev.

    Amanhã, certamente serão impresionantes as cerimónias fúnebres em Moscovo.

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  11. Troll kalla mik permalink
    6 Agosto, 2008 04:16

    A minha pilinha e maior que a tua!

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  12. CMO permalink
    6 Agosto, 2008 09:02

    Parabéns pelo post.

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  13. José permalink
    6 Agosto, 2008 11:44

    Os requerimentos ao Governo, na AR, são muitas vezes mero exercício de retórica parlamentar, sem qualquer efeito útil.

    Era assim e continua a ser. Se não fosse, o requerimento de António Galamba do PS, há uns anos, no tempo do governo PSD/CDS, em que se pretendia esclarecimento sobre o montante dos honorários/avença, paga pela Parpública ao escritório de José Miguel Júdice e que o Público dizia serem de 1 milhão de dólares quinzenaimente, seria respondido. E não foi. Nunca foi.

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  14. 6 Agosto, 2008 13:53

    Enquanto consultava o link da AR fui notificada de que aquela página tinha um vírus. Será acaso ou, a censura a Soljenitsjne continua, por outros meios?

    Um requerimento muito interessante e (im)pertinente para a época.
    Também eu li o Arquipélago (I) com 16 ou 17 anos. É uma leitura penosa. Que desafiou os meus dotes de incansável devoradora de livros. Mas valeu a pena.

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  15. Bucéfalo permalink
    7 Agosto, 2008 13:19

    Aquilino diz:
    Tenho o livro na minha frente: publicado em Setembro de 1975 pela
    Bertrand (a edição original é de Setembro de 1973)com tradução directa do russo de Francisco A. Ferreira, Mario M. LListó e José A. Seabra.

     Francisco Augusto Ferreira , também conhecido por Chico da Cuf
    Mais um elemento do PCP ( já falecido) que de grande camarada e antifascista passou a “ TRAIDOR “.
    Escreveu “ 26 anos na União Soviética “

    Aquilino diz:
    De mais a mais, pouca gente em Portugal conhecia o Alexandre Soljenitsine (é assim que se escreve) até à sua morte. Paz à sua alma. Amén.

     Aleksandr Solzhenitsyn – Prémio Nobel da Literatura em 1970
     Andrei Sakharov – Prémio Nobel da Paz em 1975
     Lev Nikoláievich Tolstói – «Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas.»

    Caro Aquilino,o seu aviso de “ (é assim que se escreve) “ é de realçar, para que se perceba bem o conteúdo e a forma do mesmo em relação ao contexto do que aqui se comenta. Não fora o aviso e continuaríamos todos aqui num quiproquó em relação ao bem escrever o nome do dito cujo.
    Mas,como eu sou daqueles que tenho acesso às novas tecnologias achei por bem dar um toque mais Wikipédiano ao assunto, até para tentar, se me permite, ajudar o senhor a melhor esclarecer alguns leigos que por aqui possam andar.
    Além do mais, como pode constatar, não só conheço O, como também os Outros e ainda mais Aquele.
    Mas, e, já agora, pelo facto de se apresentar como AQUILINO, não queira fazer dos OUTROS que aqui lêem e postam “ TÓINOS ”.

    SPACIBA TOVARICH AQUILINO

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  16. Rita Ferreira permalink
    8 Junho, 2010 23:21

    Só mais uma correcção. Outro co-tradutor foi Maria Llistó, esposa de Francisco Ferreira, e não Mário Llistó.

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