Saltar para o conteúdo

Pequenos (e naturais) tiques centralistas!

28 Dezembro, 2009
by

É claro que a “causa Red Bull” é ilusória (como refere aqui – e bem – o LR). Não faz, seguramente, parte das “boas causas” e já sabemos que “os seus efeitos são efémeros, esgotam-se em dois dias“.

Nem tão pouco sei se realmente merece, de facto, tanto alarido. Sem dúvida que existem questões estruturantes, verdadeiras causas com efeitos catalisadores de desenvolvimento sustentado – como a da gestão do Aeroporto Sá Carneiro – que nos devem preocupar e mobilizar a todos. Tal como a questão (eterna) da conclusão definitiva e em termos adequados, da VCI (no que diz respeito ao Porto e às respectivas acessibilidades rodoviárias), ou a da linha ferroviária do Minho, cujo melhoramento  é, em termos estratégicos, fundamental e, desde há muito,  esquecida   (não faz sentido o tormento que ainda é ir e vir de comboio a Braga, Viana e à Galiza, sobretudo quando o Governo e grande parte do país está embriagado com a questão do TGV).

Agora, se não nos conseguimos mobilizar e impor em causas menores (desde que minimamente razoáveis e/ou justas), como é que poderemos aspirar a contrariar, em benefício do país, a tendência macrocéfala, centralista que intervém em tudo o que são as “boas causas”?

Pegando no caso da historieta da Red Bull, é claro que se “não há condições”  logísticas e de segurança para realizar as acrobacias nas margens do Douro, a um preço significativamente menor (não percebo como é que nos últimos dois anos essas mesmas margens tiveram capacidade para juntar mais de 1 milhão de pessoas!), então, será, também, natural que não existam condições  para que uma qualquer cimeira internacional  possa realizar-se fora da capital, por exemplo, em Chaves,  Braga, Guimarães ou no Porto.

Será, igualmente, natural que a visita de um chefe de Estado estrangeiro não inclua, no seu roteiro, mais nenhuma cidade que não seja Lisboa. Naturalmente, será também expectável que as únicas Scuts novamente pagas (ultrapassando, agora, o facto de, em tempos, ter existido uma opção discutível pela sua gratuitidade) serem precisamente aquelas que se afiguram como mais insubstituíveis e que servem  regiões mais deprimidas.

Ainda muito naturalmente, como é que não devemos estranhar que alguma vez, por hipótese e mesmo no caso de estar em causa um provável desperdício de dinheiro público, a linha do TGV Porto – Vigo tenha sido considerada prioritária (nomeadamente, para servir uma grande parte dos utentes do Aeroporto Sá Carneiro)?!  Ou uma linha Aveiro – Vilar Formoso (para escoar grande parte das nossas exportações)!?  Só por engano.

Um dos tiques do centralismo macrocéfalo que nos é natural, consiste no facto de pensarmos que, superiormente, só nos devemos interessar por aquilo que é racionalmente mais importante, estruturante, objectivamente justificável e proveitoso…. Em breve, teremos a ilusão de óptica (aquilo que os franceses denominam trompe – l-‘oeil)  de que quase nada é digno do nosso interesse. E o pior é que acabaremos realmente a acreditar nisso mesmo!

11 comentários leave one →
  1. Marafado de Buliquei-me permalink
    28 Dezembro, 2009 15:25

    Pra que querem melhores comboios , se anda tudo de automóvel ?

    Isso é o que eu apelido de desperdício de dinheiro !

    Gostar

  2. 28 Dezembro, 2009 16:02

    Diria mesmo um TGV Coimbra-Santiago de Compostela.

    Gostar

  3. Rastaparta permalink
    28 Dezembro, 2009 16:05

    Por falar em centralismo. E, centralismo não é só colocar as partes de Portugal no marco geodésico que marca o centro de Portugal, que se situa logo a seguir a Vila de Rei, no sentido V. de Rei-Sertã, a localização é +/- é 39°41’40.55″N, 8°07’49.52″W

    Pode ser também o esquema usado pelos psd´s de Lisboa (que fazem a mesma tramoia por todo o país e também tentam ter sucesso nas eleições nacionais. Ora leiam se faz favor:

    PSD: Esquema das secções para conquistar mais influência
    Dezenas de militantes com a mesma morada
    São sete, todos militantes do PSD, e dão a mesma morada na rua 4 do Bairro da Boavista, em Benfica. O certo é que a morada é um T1. Trata-se de um esquema para conquistar poder: quanto mais militantes inscritos uma secção tiver mais delegados leva a um congresso ou a uma assembleia distrital.

    Muitos são os militantes do PSD da distrital de Lisboa que surgem nos cadernos eleitorais com a mesma morada. Na secção A, a que regista mais militantes inscritos da distrital, e à qual pertencem sociais-democratas como António Preto ou Sérgio Lipari, há mais 21 inscritos em apenas três moradas.

    Segundo uma listagem a que o CM teve acesso , na mesma secção, há ainda mais dois grupos de cinco pessoas e um outro de seis que estão inscritos em apenas três moradas. José Bacelar Gouveia, o candidato que perdeu a liderança da distrital de Lisboa para Carlos Carreiras no dia 3 de Dezembro, alertou para este facto, considerando a situação irregular. Em declarações ao CM, lamentou o facto. ‘Quem de direito, a secretaria-geral e o conselho de jurisdição do partido, deveriam intervir porque não é possível tantos militantes viverem na mesma casa’, disse, referindo que a refiliação seria ‘uma medida extrema, mas, pelos vistos, necessária.’

    Helena Lopes da Costa, apoiante de Bacelar Gouveia, concorda: ‘Compactuar com isto é distorcer qualquer acto eleitoral. Antes das directas deveria fazer-se uma refiliação como a que se fez com Rui Rio’, sublinhou. Morais Sarmento, o presidente do conselho de jurisdição, não quis comentar.

    PRETO ACUSADO DE COMPRAR VOTOS

    A notícia da alegada compra de votos a militantes, divulgada pela revista ‘Sábado’ em Setembro deste ano, foi denunciada por militantes e ex-militantes do PSD, que trabalharam com António Preto e Helena Lopes da Costa. Na altura, a revista explicava que, ‘em termos estatísticos, comprova-se que as principais secções do PSD na distrital de Lisboa duplicaram de militantes com quotas pagas entre 2002 e 2008. Irene Lopes – militante desde o início dos anos 80 na secção H em Benfica – garantiu que viu pagar 25 a 30 euros, em dia de eleições para a distrital e para presidente do partido, nas secções H e Oriental. Preto negou as acusações e, ao CM, Helena Lopes da Costa disse que ela é que foi vítima de um esquema destes.

    ‘Quando fui candidata à secção de Algés verifiquei coisas tão estranhas como estarem 24 pessoas numa casa em Queijas ou militantes inscritos numa morada de uma casa em ruínas.’

    DAR A VOLTA AOS ESTATUTOS PARA TER MAIS PODER

    fonte ligada à secção de Benfica e que prefere manter o anonimato denuncia este ‘esquema’ como uma forma de dar a volta aos estatutos e conquistar mais poder. ‘Através deste esquema, os caciques fazem militantes pessoas que pelos estatutos não podem estar inscritas numa secção por não terem uma conexão, obrigatória pelos estatutos, com essa secção, ou seja, pessoas que não trabalham ou não têm residência na área dessa secção, inscrevendo-os como residentes na sua própria casa’, revela. Segundo a mesma fonte, ‘desta forma retiram poder às secções vizinhas (o número de delegados de cada secção é calculado com o número de militantes que cada uma tem), fortalecendo-se ao mesmo tempo a nível distrital. Quantos mais inscritos maior é o poder.

    APONTAMENTOS

    REFILIAÇÃO

    A última foi feita com a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa. fonte partidária explica que com ela o Porto se tornou na maior distrital do País.

    BENFICA É A MAIOR

    A distrital de Lisboa tem 25 secções. Só a secção de Benfica tem inscritos 1191 militantes, seguida de Cascais com 735, Algés com 713, H com 601, Amadora com 590 e Oeiras com 538.

    77 MIL MILITANTES

    Em 2008 o universo eleito-ral do PSD era de 77 088 militantes.

    Com a devida vénia a Sónia Trigueirão

    Gostar

  4. Portela Menos 1 permalink
    28 Dezembro, 2009 16:28

    Blasfémias um dia destes vai fazer um post sobre “O centralismo do Porto e a luta pela regionalização de Braga, Guimarães, Viana, Chaves…” enfim, é só fazer as contas.

    Gostar

  5. 28 Dezembro, 2009 18:13

    Claro que a causa é menor e é também ridícula.

    E quanto à questão, há muitas coisas dignas do interesse das pessoas do Norte. Comecem por não perder tempo com “aviãozinhos” e outras coisinhas e aprendam a concentrarem-se no que é importante.

    Por exemplo: que alternativas para a indústria de mão de obra intensiva (texteis, calçado) e para a agricultura de minifúndio, que criavam muito emprego mas de fraca qualificação e que, entretanto, entraram em crise irreversível?

    E quando souberem apertem, consequentemente, com os Governantes e convençam-nos que a solução não passa por multiplicar o número de pessoas que beneficiam do rendimento mínimo nem das reformas antecipadas.

    As pessoas do Norte são determinadas, honestas e trabalhadoras, o pior que lhes pode acontecer é acabarem por descobrir que é possível viver sem trabalhar.

    E, já agora, vejam se conseguem fazer com que Rui Rio, Luís Filipe Menezes, Valentim Loureiro, etc., deixem de se armar em bimbos.

    É capaz de ser o mais difícil!

    Gostar

  6. Marafado de Buliquei-me permalink
    28 Dezembro, 2009 18:32

    E, já agora, vejam se conseguem fazer com que Rui Rio, Luís Filipe Menezes, Valentim Loureiro, etc., deixem de se armar em bimbos.

    Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita !

    Gostar

  7. 28 Dezembro, 2009 20:23

    De acordo Pedro, as pequenas coisas são importantes, tal como é (muito) importante combater o pequeno delito para assim melhor prevenir o grande. Mas mesmo nas “miudezas” como o RBAR há que saber combater eficazmente o centralismo. Ao contestar a actuação do TP da forma que a CMP o fez, aceitando implicitamente o princípio da subsidiação de qualquer “circo”, está-se apenas a eternizá-lo.

    Gostar

  8. ҈ɒsnoɟ əp oʇuıd҈ permalink
    28 Dezembro, 2009 21:37

    Enquanto a capital não for o Porto – por que não Gaia, que é muito maior? – há que lutar pela regionalização, contra o centralismo de Lisboa.

    Gostar

  9. 28 Dezembro, 2009 23:29

    Tal como a questão (eterna) da conclusão definitiva e em termos adequados, da VCI

    Encoste aqui a cabecinha e chore.
    Nós temos aqui a CRIL que anda há trinta anos para ser acabada e ninguém garente que o vai ser em 2010.

    Gostar

  10. anti-liberal permalink
    29 Dezembro, 2009 03:34

    Ainda há algumas famílias a habitar casas próprias – casarões – que conservaram ao longo do tempo. Passam de pais para filhos que, normalmente, continuam a procriação.
    Sei de vários com famílias de mais de dez pessoas e muitos com a habitação em grande parte desabitada.
    São situações em nada comparáveis aos T’s (o meu T-8 e vivemos cá cinco).
    Agora é de notar que toda a gente que referi e na minha própria casa… ninguém vota…

    Nuno

    Gostar

Trackbacks

  1. Falta muita coisa no combate ao centralismo… (2) « O Insurgente

Indigne-se aqui.