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1.O povo do meio – nova espécie identificada no ecossistema do Estado Social*

30 Julho, 2010

Todos os anos é a mesma coisa. Mas não me consigo habituar a tanta incompetência: 45 dias depois do fim das aulas, neste final de Julho, os alunos e as famílias não conhecem os horários do próximo ano lectivo, impedindo de atempadamente planearem transportes, tempos livres, actividades extracurriculares, enfim, planearem a sua vida. Como se tal não bastasse, a 5 dias do fim do mês, recebo carta a informar-me que o meu filho que vai iniciar o 7º ano afinal já não fica na escola onde se inscreveu. Criaram à pressa um novo agrupamento, juntaram as turmas todas desse ano noutra escola. Dizem que tenho cinco dias para me opor, mas nem sequer informam o que acontece se o fizer: fica na rua? Vai para outra escola ainda mais longe? Tá tudo maluco” escreveu Gabriel Silva. Ao contrário do que escreveu Gabriel Silva não está nada “tudo maluco”. Quem assim procede sabe muito bem o que está a fazer, pois, como diz o provérbio, manda quem pode, obedece quem deve. E nós portugueses devemos. Ou muitos de nós devem. Muito particularmente aqueles que gostam de se definir como classe média e que estão presos pela retórica, pelos impostos e pelas aparências a um Estado que se diz social. É o povo do meio. Para aqueles que vivem nas franjas, o problema naturalmente não se coloca. Ou colocam os filhos em colégios privados, de preferência estrangeiros para que as crianças fiquem a salvo de alguns desvarios pedagógicos nacionais e sobretudo aptas a triunfar em qualquer lugar do planeta, ou então gritam muito e invocam discriminações e traumas vários que lhes garantem a compreensão de muitas assistentes sociais e animadores culturais. Só quem está no meio precisa de saber em Julho os horários que os filhos vão ter em Setembro, pois os outros têm sempre quem resolva ou se preocupe por eles. Quem está no meio é que não tem saída. Quem garante que as crianças cujas famílias contestem não acabarão num agrupamento pior? Num horário que não dá jeito? Ou numa turma que se designa como problemática? E qual é a alternativa a não obedecer? Pedir ao agrupamento que entregue a cada família os 5 mil euros que lhe custa o aluno e usar esse dinheiro para pagar um colégio ou colocar o filho noutra escola pública? Não pode ser que isso, dizem, é a destruição do Estado social. Claro que seria sim a destruição do Estado deles. Daqueles para quem vários pais nesta espécie de jogo de sorte e azar telefonam para que o seu filho aparentemente calhe numa turma conveniente. Dos chefes deles. E dos chefes dos chefes deles. O jogo das influências, das cunhas e dos pedidos sempre fez parte da nossa relação com o Estado enquanto poder. Quando o Estado se passou a chamar social, a mobilidade social passou a depender cada vez mais da capacidade que tivermos para nos relacionar com a sua estrutura. O povo do meio para passar a ser povo de cima não tem de trabalhar mais. Tem de aprender a mexer-se melhor no labirinto estatal. E sobretudo não esquecer que a primeira regra para conviver com o Estado social é que este não se contesta. Influencia-se.

*PÚBLICO

23 comentários leave one →
  1. MSC permalink
    30 Julho, 2010 01:19

    É isso! O dedo na ferida.
    Testemunhei há uns anos várias dessas «démarches» para colocações em «turmas boas» das escolas «boas». Suponho que seja a mesma coisa agora.

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  2. 30 Julho, 2010 02:07

    Crise está a empurrar alunos do ensino privado para o público

    O director executivo da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo considera que a crise está a obrigar muitas famílias, sobretudo de classe média, a optar pelo ensino público.
    http://www.ocantinhodaeducacao.blogspot.com/2010/07/crise-esta-empurrar-alunos-do-ensino.html

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  3. 30 Julho, 2010 02:13

    Deveria(m) a tempo ter percebido que esta gentalha iria espremer a classe média perseguindo-a – as tais «corporações malévolas» – a bem do xicoespertismo pátrio que derramaria umas migalhas para todo o tipo de NO e de Rendimentos de Inserção e quejandos, com vista a comprarem os votozinhos.

    A helenafmatos e muitos outros foram enganados pela seita???!

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  4. 30 Julho, 2010 02:30

    A propósito do post do Gabriel …
    A constituição das turmas tem de ser superiormente aprovada. Ainda não foram. Um ou dois alunos a menos ou a mais transferidos, num único ano de escolaridade, pode significar turmas mais reduzidas ou turmas enormes. Por exemplo.

    As pessoas esquecem-se que uma Escola pode ter milhares de alunos a respeitar a multiplicar cada um por dois pais, cada um com o seu pedido à escola e aos professores. É um enorme quebra cabeças tentar atender satisfatoriamente tanto pedido e exigência, sem meios para tal.

    As Escolas não têm o mínimo dos mínimos de pessoal auxiliar, nem administrativo. Mas estas questões a que Gabriel se refere são sempre de ordem técnica com implicações directas no Ensino, logo Pedagógicas.

    São muitas as tarefas a cargo dos professores para lá das relacionadas com as de sala de aula (preparação das aulas, trabalho directo com os alunos e correcção/reflexão dos trabalhos e provas).

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  5. 30 Julho, 2010 02:59

    É… a classe média é vítima da generosidade comunitária para com os mais pobres. Esses da classe baixa, esses sim são uns privilegiados.
    Até tenho pena de não descer de classe, para saber o que é o bem bom, de me tornar não um desprotegido que vê atropelados os seus direitos como nos dizem os dados empíricos a que temos acesso, mas sim num desses que tudo consegue gritando e apelando a traumas que vive nas crónicas e na imaginação da Helena Matos.
    Só me falta empobrecer para viver à tripa farra.

    Em vez de uma sociedade solidária, alimentemos esses delírios, essa fantasia alienada das “welfare queens” por todo o lado, e vamos conseguir a mesma escassez, mas temperada com mais violência.

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  6. 30 Julho, 2010 02:59

    .

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  7. 30 Julho, 2010 03:38

    senti-me completamente representada como uma tótó do meio que anda a sustentar as franjas. se não for o mulherio a por ordem nas palermices de pensamentos abstratos de ” todos iguais , a contribuir igual ( ih , ih..)” isto não vai acabar bem.
    eu acho que não custa perceber a natureza humana , mas parece que há para aí alguns que ainda dão cartas – espero que não por muito mais tempo -que a mitificam. é evidente que ninguém quer trabalhar para que outro , por causa da redistribuição justa , fique com o fruto do seu trabalho , que ele há preguiçosos , há mesmo. não é homo economicus , é homo sensatus : queres ? trabalha tu !
    e claro , os melhores , vendo que não lucram nada em ser esforçados , deixam de se interessar . e a sociedade empobrece , evidente , né?
    ninguém gosta de trabalhar para aquecer. para aquecer outros que nem conhece. que a coisa a nível local talvez tivesse pernas para andar. dar a quem sabemos mesmo que merece. e que algum dia ainda vai poder / querer retribuir.

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  8. PauloQ permalink
    30 Julho, 2010 04:22

    Me disse
    ” senti-me completamente representada como uma tótó do meio que anda a sustentar as franjas. se não for o mulherio a por ordem nas palermices de pensamentos abstratos de ” todos iguais , a contribuir igual ( ih , ih..)” isto não vai acabar bem. ”

    Uma das coisas que me irrita, digamos, é continuar a usar o genero “professor” e “professores”, numa classe profissional, constituida sem exagero, por 90% de “mulherio”, como diz a comentadora.

    Ou seja, 90% de quem ensina nas escolas, já nem falo das creches, são professorAS.
    Não sao professores.
    Continuar a teimar o termo “professores”, é sem dúvida um abuso, e uma má utilização da lingua portuguesa.

    Usar o termo “masculino” no plural para defenir ambos os sexos, era quando viviamos numa sociedade patriarcal. Em que havia mais homens em lugares de poder, de relevo, de influencia.
    Hoje, nada disso acontece.
    A começar, ou pelo menos claramente, no Ensino.
    Até as ministrAS, e goste-se ou não, foram ministras e não ministros.

    Com as professoras, educadoras de infancia, etc, deve-se usar sempre ” o seu a seu dono”.

    Até para acabar com certos devaneios, que os homens fazem tudo mal, são maus, bla bla bla, merda para o assunto.

    Sejam as feministas radicais, os jornalistas, responsáveis, e passem a tratar justamente, e com clareza, a começar por dar o tratamento do genero adequado : professorAS e não professores.

    Nota final : o interesse de tanta professora é tanto, que é raro aparecer alguma a comentar. São geralmente, homens – professores que o fazem, e se tornam quer concordemos quer não, figuras até de certo relevo, como aquele do “umbigo”.

    Ainda não vi uma professora, apesar de serem 90% da classe, a ganhar alguma prepoderancia nisto. Fosse a favor, ou contra.

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  9. Nuno permalink
    30 Julho, 2010 04:47


    Creio que as loucuras e desvarios que resultaram do chamado 25 de abril – de má memória – deram cabo da lucidez do pagode e então, depois da vera instalação do socialismo, deu-se o aborto que, por acaso até já foi legalizado por estes pulhas.
    De facto, quem se afastou da barafunda que vivemos tem razões sérias para considerar que “está tudo doido” e afectando todos os estractos sociais. Em qualquer camada social, há muito boa gente que se recolheu e selecciona com muito cuidado onde vai e com quem se dá.
    O mínimo. Depois fica em casa, sem televisão, sem telefonis, sem jornais e, isso sim evidente, com muitos e bons livros.
    Não há que ter qualquer vergonha de ser chamado associal. Eu sou…

    tácito

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  10. Nuno permalink
    30 Julho, 2010 04:54


    8.Nuno disse
    30 Julho, 2010 às 4:47 am

    errata: *sem telefonia

    E, já agora, com telefone: atende-se só quando se quer e, por vezes, é mesmo necessário fazer uma chamada.

    tácito

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  11. Arlindo da Costa permalink
    30 Julho, 2010 08:37

    Acabar com este tipo de «estado social», ou seja um sistema que rouba a muitos para sustentar chulos, incompetentes e oportunistas, deverá se4r desígnio nacional de qualquer português honrado.

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  12. Pi-Erre permalink
    30 Julho, 2010 08:56

    Vamos a caminho da sovietização completa. Lenines, Estalines e Brejnevs é o que não falta no nosso leque político, de dedo em riste a indicar o caminho do “progresso”.
    Já só faltam as estátuas.

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  13. SonicGame permalink
    30 Julho, 2010 12:10

    A senhora faz um elogio do xico-espertismo de quem se movimenta bem nas cunhas sobe na vida, é um bom pensamento, mostra o modo como você funciona no dia a dia, nem parece que a senhora seja liberal e que acredita numa meritocracia.

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  14. 30 Julho, 2010 13:10

    Ah!
    Mas isto agora vai lá!

    Com mega-gestores, que de gestão percebem tanto como eu de lagares de azeite, a coisa muda, de certeza. Para muito pior, evidentemente.

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  15. PauloQ permalink
    30 Julho, 2010 17:58

    Me disse
    ” senti-me completamente representada como uma tótó do meio que anda a sustentar as franjas. se não for o mulherio a por ordem nas palermices de pensamentos abstratos de ” todos iguais , a contribuir igual ( ih , ih..)” isto não vai acabar bem. ”

    Note-se que nada tenho contra as mulheres em si. Mas quando vejo frases, que clamam por um matriarcado, ainda por cima SEM homens, COMEÇO A FICAR PREOCUPADO POR VOCES.
    Pelos vossos filhos.
    Não que me agradeçam, a maioria.
    Mas repito : um matriarcado, ainda por cima sem homens, pois. Sem os filhos, que as mamãs andam a criar.

    Só 30% dos alunos/as universitários , são rapazes.
    Se houvesse igualadade, deviam ser pelo menos, 50%. Já li até, que pela primeira vez na história, os rapazes , os homens, são pouco inteligentes.
    (mais uma razão para eu estranhar os poucos comentários aqui , de “mulherio”)

    As mulheres já ganham mais que os homens. E tem empregos de melhor qualidade (melhores horários, mais calmos, menos pesados, etc) – pensem nos vossos filhos.

    Os vossos filhos, não irão ter direito, em metade dos casos (pois metade vai-se separar ou divorciar) a ver os filhos. E vcs, os vossos netos.

    Pasme-se como tanto se queixam da educação, um dos lugares onde precisamente, o matriarcado sem homens, mais existe. No entanto, continuam as feministas radicais, e algumas gajas seguidoras, a pedir mais.

    Uma das razões, é que as feministas radicais , espalham, que os problemas do mundo (guerras, fomes, etc) se devem – leiam e prestem atenção) aos homens.
    Porque são os homens, que fazem as guerras.

    Por exemplo, no conflito israelo-palestiniano, dizem sempre que são tudo homens. Israelitas soldados, terroristas palestinianos – tudo homens.
    (obvio, que esquecem as mulheres bombistas suicidas, as que treinam os filhos para serem o mesmo, as que ensinam os jovens israelitas a irem um dia para o exercito, sei lá.)

    E mtos dos leitores e das leitoras, poderão achar “que maluquice”.
    Pois é.
    Pode ser.
    Mas as feministas radicais, acreditam e seguem este credo. Tal como comunistas seguem marx, tal como neo-liberais seguem hayek, etc.

    Note-se, que os dois, marx e hayek, são homens.

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  16. PauloQ permalink
    30 Julho, 2010 18:08

    Esse ultimo post, é dedicado aos pais, mas também às mães.

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  17. 31 Julho, 2010 02:20

    # 9

    Engano seu.

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  18. PauloQ permalink
    31 Julho, 2010 03:04

    anonimo/A disse
    ” São muitas as tarefas a cargo dos professores para lá das relacionadas com as de sala de aula ”

    Sério? Quais serão essas enormes tarefas que esta anonimA se refere, para dar aulas

    ” preparação das aulas, ”
    Bem, dar aulas sem preparação, seria um bocado, enfim…

    ” trabalho directo com os alunos ”

    Quê ?

    ” correcção/reflexão dos trabalhos e provas ”

    Ahhh, sim, sra professora, ficámos todos esclarecidos. Não quer corrigir os testes, nem os trabalhos, nem lidar directamente com eles, nem preparar as aulas.

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  19. PauloQ permalink
    31 Julho, 2010 03:05

    Teste

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  20. 31 Julho, 2010 12:55

    Basta ver a forma como se colocam as crianças nas zonas/escolas mais in de Lisboa (cidade), muitos nem cá vivem. E passa-se o mesmo na saúde. Quem ganha Mil Euros, ou os desgraçados que ganham menos que isso, é que pagam a educação e saúde que quem se desloca com grande facilidade e conveniência entre o sistema privado e público.

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  21. PauloQ permalink
    31 Julho, 2010 21:03

    A não ser que tanta mãe, queira um futuro onde os filhos terão menos hipoteses…

    Matriarcado sem homens, quer dizer isso mesmo.

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  22. Maquiavel permalink
    26 Outubro, 2010 17:05

    Nem sei como a D. Helena Matos näo vende todas as suas riquezas para poder viver como uma rainha!
    Aliás, é o que eu pergunto a todos os que clamam pela “boa vida” das famílias do RSI. Já disse a muitos “entäo, sempre te podes despedir e viver do RSI, se é assim täo bom como pintas”. Esquecem-se que por cada 1.000 famílias que levem nem que fossem 1.000 euros cada por mês existem umas 10 que roubam mais de 200.000 cada em impostos. Façam as contas! Os ricos roubam mais do dobro do que supostamente os pobres recolhem! Mas culpem os pobres e continuem a idolatrar os ricos, que isto só pode ir para pior… porque a classe média está a mingar, engrossando a dos pobres. E quando aí cair vai ver que mesmo com o RSI a “vida boa” é uma ilusäo propagada pelos ricos para atirar areia para os olhos da classe média enquanto lhes vai ao bolso!

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