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Revisão constitucional de Passos Coelho

15 Setembro, 2010

A revisão constitucional de Passos Coelho é uma mera adequação do texto constitucional à realidade.
Os co-pagamentos na saúde já existem. Chamam-se seguros de saúde. O sistema nacional de saúde já não é universal. Pelos mais diversos motivos, uma fracção significativa da população vê-se forçada a recorrer a prestadores privados de saúde pagando do seu próprio bolso, directamente ou através de seguros.

A rede de ensino básico e secundário já não responde às necessidades de toda a população, pelo que não faz sentido que a constituição diga que deve responder. Uma fracção significativa da população vê-se forçada a recorrer a escolas privadas. As públicas não respondem às necessidades nos casos em que as necessidades vão para alem da mera frequências de um estabelecimento de ensino. Se o objectivo for, por exemplo aprnder alguma coisa, é difícil encontrar uma escola pública que preste esse serviço. Em breve as universidades também deixarão de fazer aquilo que a constituição espera delas. Ou se financiam de outra forma ou deixam de ser instituições de ensino superior e passam a ser uma espécie de ensino secundário um bocadito mais avançado.

Os despedimento sem justa causa já se fazem há anos. É para isso que servem os contratos a prazo, os recibos verdes, os despedimentos colectivos, o trabalho informal, a externalização de serviços e as falências. Mas o melhor substituto para o despedimento sem justa causa é a não contratação. A não contratação permite ao empresário despedir antes mesmo de contratar.

8 comentários leave one →
  1. 15 Setembro, 2010 09:43

    Não me interessa muito discutir a questão de fundo, mas apenas a forma porque é disso que agora se trata.

    A mensagem que o PSD transmite, com esta proposta política, pode ser muito válida e realista e mesmo a tal “adequação da realidade à Constituição”.

    Não obstante, tudo isso para a ser de importância nula se essa mensagem for deturpada com sucesso demagógico. Explico:
    O PS pela voz do hirsuto Assis já declarou que o PSD quer acabar com o Estado Social. Isso é falso? Importa nada que o seja porque a mensagem que conta e que valerá votos é a ideia geral que tal transmite. Uma ideia politicamente assassina, mas eficaz.

    Pudera que haja habilidade política para desmontar estes atentados políticos correntes. Mas duvido.

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  2. 15 Setembro, 2010 10:03

    Sendo totalmente contra a ideia de legitimar o assassínio do SNS por parte do PSD sou também contra a mentira que o PS nos impinge… Mata-o mas dizendo que está a protegê-lo…

    Qual mãe que chora pela morte do filho que acabou de sufocar com a almofada…

    http://saudeeportugal.blogspot.com

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  3. António Carlos permalink
    15 Setembro, 2010 10:38

    A questão que se coloca é a seguinte (e não é original): Se a actual Constituição já permite esta realidade, e partindo do pressuposto que esta realidade se desenrola de forma legal, então porquê mudá-la, onde está o entrave? Penso que não deve ser esta a principal linha de defesa das mudanças na Constituição (com as quais genericamente concordo).

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  4. JoaoMiranda permalink*
    15 Setembro, 2010 10:54

    António Carlos,

    A constituição permite formas enviezadas de despedir, por exemplo. Mas não permite leis que tornem o mercado de trabalho simples, flexível, previsível e transparente. Precisamente porque se vive na ficção de que não é possível despedir, o que leva os agentes económicos a contornar a lei prejudicando toda a gente. Perante as dificuldades em despedir, os agentes económicos preferem não contratar ou contratar sob formas contratuais desadequadas às funções. E isso não é bom para ninguém.

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  5. Fernando Costa permalink
    15 Setembro, 2010 10:57

    Só mais uma achega sobre a saúde:
    A comparticipação diferenciada nas despesas da saúde também já existe há muito:
    Os utentes mais carenciados não pagam taxas moderadoras. Também não pagam medicamentos genéricos se tiverem um rendimento inferior a 500€ mensais.
    Claro que isto vai contra os princípios dos Drs Arnaut, Alegre & Cia, mas são objecto de uma amnésia selectiva uma vez que são iniciativa do PS.
    FC

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  6. gui permalink
    15 Setembro, 2010 11:45

    Para o PSD seria muito bom se Passos Coelho estivesse calado.
    Bem poderia seguir o exemplo eficaz do histórico líder do seu partido e dizer apenas coisas como “o presidente dum partido na oposição não se pronuncia”, “não concordo mas promulgo, digo, voto a favor”, “só falarei quando achar oprtuno” e assim por diante.
    Assim não. Quanto mais fala mais se enterra.

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  7. lucklucky permalink
    15 Setembro, 2010 11:48

    “…deixam de ser instituições de ensino superior e passam a ser uma espécie de ensino secundário um bocadito mais avançado…”

    Já o são, conheço pelo menos uma desde o fim do Séc.XX nessas condições.

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  8. José Sá permalink
    15 Setembro, 2010 22:00

    “Mas não permite leis que tornem o mercado de trabalho simples, flexível, previsível e transparente. ”

    Gostava de saber dois ou três motivos de despedimento que a actual constituição impede e que com a nova redacção de “razão atendivel” já permite?

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