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Qual foi a causa da crise de 2008?

23 Dezembro, 2014

A crise de 2008 é conhecida nos países anglo-saxónicos como Great Recession, por analogia com a Long Depression de 1873 e a Great Depression de 1930. Só isto devia dar que pensar.

O CAA atribui a crise de 2008 ao excesso de liberdade dos banqueiros, na linha da esquerda, que a atribui à falta de regulação financeira. Há quem atribua a crise aos empréstimos sub-prime e/ou à emissão monetária dos bancos centrais. Há mesmo quem responsabilize a crise por um único evento, a falência do Lehman Brothers.

O modelo subjacente a estas análises é o de que o capitalismo é um sistema em estado estacionário, ocasionalmente perturbado por erros humanos, que é necessário corrigir e regular. Mas esse modelo não faz qualquer sentido. O capitalismo é um mecanismo de descoberta de formas de produção mais eficientes, que torna as formas anteriores de produção obsoletas.

O que nos leva à verdadeira causa da crise de 2008: a crise de 2008 deveu-se ao sucesso do capitalismo em revolucionar os processos de produção nos 30 anos anteriores, tornando obsoletos uma grande variedade de meios de produção, de actividades económicas e de produção. Tudo o resto é circunstancial, e poderá ter retardado a transição para um novo sistema económico, tornando inevitável uma transição abrupta. Por exemplo, baixas taxas de juro impostas pelos bancos centrais são uma tentativa de manter rentáveis processos de produção obsoletos. Essas baixas taxas de juro prolongam artificialmente a vida de projectos que deviam ser desmantelados e abandonados para assegurar uma transição suave. Mas não foram os bancos centrais que tornaram o fax, o CD, a máquina fotográfica ou a livraria obsoletos. Foi o capitalismo.

14 comentários leave one →
  1. Álvaro permalink
    23 Dezembro, 2014 11:39

    E, já agora, também está a tornar os cidadãos obsoletos.

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  2. anónimo permalink
    23 Dezembro, 2014 11:52

    É tudo verdade o que escreve. Nas será a verdade toda ?
    O capitalismo não transporta em si próprio o gene da sua própria auto-destruição, na medida em visa, sempre, a eliminação da concorrência para potenciar eficácias de escala ?
    Como garantimos, sem ser pela Força do Estado (qualquer Estado), as condições de concorrência que são pressuposto do funcionamento do capitalismo ?
    É não me interessa um capitalismo a funcionar aos repelões, com falencias e miséria em massa, cada vez que os mercados se aconchegam, tipo deslizamento das placas tectónicas e tsunami de 30 metros. Tem que haver uma forma mais suave de ajustamento, sob pena de todos passarmos a guardar barras de ouro debaixo do colchão com uma caçadeira de canos serrados, porque a qualquer momento os mercados podem explodir para o desconhecido e para a novidade totais.

    É certo que do ponto de vista estritamente filosófico, seria a ética capitalista a auto-regular a concorrência. Mas essa vale tanto como a republicana e as outras. Ou até, do ponto de vista meramente pragmático, entender-se que o capitalismo teria como auto-limite a manutenção de uma concorrência mínima como condição de sobrevivência recíproca.
    E temos que assumir que os agentes no mercado não têm todos a mesma informação pertinente, seja por deficiência subjectiva, seja por ocultação dos outros agentes. E como se pode concorrer quando a informação não é partilhada em igualdade ? (Ok. aqui aceito que o acesso à informação integre o conceito de concorrência, pelo que ninguém se pode queixar de a não ter. Se bem que a questão da informação errada intencionalmente divulgada não permita sossego teórico).
    É certo que o capitalismo, como bem refere, é um sistema de descoberta contínua de formas de produção, cada vez mais audazes, irreverentes e eficazes. Mas isso também é a conversa dos que estão a caminho do socialismo. É que os PREC’s e os PCEC’s, no fundo, tendem a justificar todas as diatribes do itinerário, face ao benefício ulterior.E se eu condeno os processos utilitaristas do socialista assassino não consigo desculpabilizar coisas muito parecidas (quanto às consequências práticas) no capitalismo puro e duro.
    Não sou daqueles que reclama, “as pessoas, primeiro”. Mas, pelo menos, “as pessoas, também”.

    Olhe, quanto mais velho estou na idade menos certezas tenho quanto a estas coisas que em tempos eram para mim tão óbvias. É por isso que gosto de ler os seus textos. Fazem-me pensar. Desculpe os pontapés na doutrina, que não foram por mal.

    Não só pelo texto de hoje, mas pelos outros todos que aqui partilhou durante o ano, obrigado e Boas Festas.

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  3. 23 Dezembro, 2014 13:59

    enfim
    não sou economist “diplomado”

    nem prémio Nobel.

    mas creio que se deve ter uma visão MULTIDISCIPLINAR dos acontecimentos no mundo

    a principal causa chama-se:

    CHINA

    exato

    CHINA

    invadiu o Ocidente..e o mundo…….com produtos super baratos ( qualidade questionável)

    os consumidores preferiam produtos chineses

    as fábricas ocidentais perderam lucros e faliram

    os seus empregados perderam $$$$–deixaram de pagar dívidas–hipotecas;

    as propriedades desvalorizaram

    formou-se um castelo de neve

    os bancos com ativos tóxicos tremeram

    ou faliram

    ou precisaram de ajuda Estatal.

    depois, espalhou-se em catadupa por outros países

    tudo por causa

    DA EXPLORAÇÃO SELVAGEM DOS TRABALHADORES CHINESES PELO REGIME

    COMUNISTA CHINÊS

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  4. Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    23 Dezembro, 2014 14:02

    Não há sistema politico que resista à realidade do mundo em que vivemos. Como dizia o Álvaro às 11:39 as pessoas também se estão a tornar obsoletas. Ontem mesmo vi num canal internacional especializado em economia, uma fábrica de automóveis inaugurada há poucos meses nos States: custou mil milhões de dólares e tem lá a trabalhar 400 robots. Operários nem um; uma dúzia ou duas de engenheiros para manter o sistema a funcionar, são mais do que suficientes.
    O problema maior que os países actualmente enfrentam não é o desemprego, é o emprego. Quando umas poucas centenas de máquinas substituem uns milhares de pessoas, essas pessoas vão fazer o quê?

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    • lucklucky permalink
      23 Dezembro, 2014 17:49

      Fábricas dessas já existem há algum tempo.

      Alguém teve de construir os robots.

      É também uma das consequências de não se aceitar a voluntariedade nas relações economicas entre pessoas.

      Só quando os robots construirem os robots. Já não falta assim tanto.

      Depois teremos claro o caso do quem é uma pessoa em que várias das suas partes serão fabricadas, basta o cérebro? e se o cérebro tiver ajudas? memória extra, computação extra?

      E depois dos robots se construirem temos a IA.

      http://en.wikipedia.org/wiki/Technological_singularity

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      • lucklucky permalink
        23 Dezembro, 2014 19:00

        http://www.wired.com/2014/11/skylar-tibbits/

        Mainstream adoption will require refinement and eventually approval from standards organizations and the like. But even more importantly, Tibbits says, is getting engineers to change their mindset about what programmability means.

        “I think the biggest barrier is a super outdated mentality of what robots are,” he says. That said, the designer has been able to convince some forward-looking companies, including Carbitex, Autodesk, Airbus, and Briggs Automotive Company, to experiment with his materials and help fund their development.

        “We can listen to materials and use them as a programmable material. We can program biology,” he says. “Computing isn’t in computers anymore; computing is everything.”

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  5. manuel branco permalink
    23 Dezembro, 2014 15:31

    Pode ser…quem vai negar o papel da tecnologia. E também é verdade que os modelos keynesianos do pós-guerra foram incapazes de responder à crise dos anos setenta. Mas também anda por aí quem diga que por a grande depressão ser coisa já longínqua voltaram a repetir-se muitos dos erros daquela época, sobretudo na zona euro. Já os ingleses e os americanos estiveram-se borrifando para cartilhas e fizeram aquilo que tinham a fazer.

    Em todo o caso há um pontinho que talvez seja bom ter presente. Falar de ideologia a um anglo-saxão é muito mau. Ideologia é coisa mal vista, negativa. Por cá é o ponto de partida e a batuta de muito do que se faz. Por isso não há nada de mais ideológico, de mais acantonado, que a malta militante de um certo liberalismo, esquecendo-se que uma visto ideológica e escatológica da vida é ela própria negação do espírito liberal.

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  6. manuel branco permalink
    23 Dezembro, 2014 19:06

    Não, não elogio nada, digo apenas que anda por aí alguma gente, prosélitos de Hayek e companhia, que os devem ter lido tanto quanto eu, que são verdadeiros marxistas-leninistas às avessas (estes também não liam o capital). Só digo isso. Quando se vê o mundo por uma cartilha qualquer dá sempre mau resultado. Eles têm razão quando dizem que o keynesianismo, ou pelo menos a vulgata, está ultrapassada. O que não conseguem ver é que a vulgata deles também já foi chão que deu uvas. Qual o remédio? Desconfio que ainda andam à procura.

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  7. JCA permalink
    23 Dezembro, 2014 20:54

    .
    Dinheiro, outra entre várias perspetivas:
    .

    THINKING OUTSIDE THE BOX:
    HOW A BANKRUPT GERMANY SOLVED ITS
    INFRASTRUCTURE PROBLEMS
    .
    Lincoln, who funded the American Civil War with government-issued paper money called “Greenbacks.”
    .
    Projects earmarked for funding included flood control, repair of public buildings and private residences, and construction of new buildings, roads, bridges, canals, and port facilities. The projected cost of the various programs was fixed at one billion units of the national currency. One billion non-inflationary bills of exchange, called Labor Treasury Certificates, were then issued against this cost.
    .
    Within two years, the unemployment problem had been solved and the country was back on its feet. It had a solid, stable currency, no debt, and no inflation, at a time when millions of people in the United States and other Western countries were still out of work and living on welfare. Germany even managed to restore foreign trade, although it was denied foreign credit and was faced with an economic boycott abroad. It did this by using a barter system: equipment and commodities were exchanged directly with other countries, circumventing the international banks. This system of direct exchange occurred without debt and without trade deficits. Germany’s economic experiment, like Lincoln’s, was short-lived; but it left some lasting monuments to its success, including the famous Autobahn, the world’s first extensive superhighway.1
    .
    Hjalmar Schacht, who was then head of the German central bank, is quoted in a bit of wit that sums up the German version of the “Greenback” miracle. An American banker had commented, “Dr. Schacht, you should come to America. We’ve lots of money and that’s real banking.” Schacht replied, “You should come to Berlin. We don’t have money. That’s real banking.”2
    .
    Germany issued debt-free and interest-free money from 1935 and on, accounting for its startling rise from the depression to a world power in 5 years. Germany financed its entire government and war operation from 1935 to 1945 without gold and without debt, and it took the whole Capitalist and Communist world to destroy the German power over Europe and bring Europe back under the heel of the Bankers. Such history of money does not even appear in the textbooks of public (government) schools today.
    .
    Schacht revealed that it was the privately-owned Reichsbank, not the German government, that was pumping new currency into the economy. Like the U.S. Federal Reserve, the Reichsbank was overseen by appointed government officials but was operated for private gain. What drove the wartime inflation into hyperinflation was speculation by foreign investors, who would sell the mark short, betting on its decreasing value.
    .
    In the manipulative device known as the short sale, speculators borrow something they don’t own, sell it, then “cover” by buying it back at the lower price.
    .
    Speculation in the German mark was made possible because the Reichsbank made massive amounts of currency available for borrowing, marks that were created with accounting entries on the bank’s books and lent at a profitable interest. When the Reichsbank could not keep up with the voracious demand for marks, other private banks were allowed to create them out of nothing and lend them at interest as well.7
    .
    According to Schacht, then, not only did the government not cause the Weimar hyperinflation, but it was the government that got it under control. The Reichsbank was put under strict government regulation, and prompt corrective measures were taken to eliminate foreign speculation, by eliminating easy access to loans of bank-created money.
    .
    In this he agreed with John Maynard Keynes: when the resources were available to increase productivity, adding new money to the economy did not increase prices; it increased goods and services. Supply and demand increased together, leaving prices unaffected
    .
    http://www.webofdebt.com/articles/bankrupt-germany.php
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  8. manuel branco permalink
    23 Dezembro, 2014 21:06

    Lincoln e a Guerra civil, meados do século xix, o ministro da economia de Hitler, regime do mais democrático que houve até hoje – deixo para outros com Estaline e mão – só falta falar do sucessor deste, Goering. Coitados de Lincoln e de Keynes, ao que sei um liberal inglês, aqui metidos.

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    • JCA permalink
      24 Dezembro, 2014 01:04

      .
      Estimado,
      .
      salvo melhor opinião, em termos de blogar não cabem formulas acabadas, apenas temas para reflexão para cada um formar opinião como entender. Formulas acabadas, ou palha para burros, é mais da Comunicação Social, jornais, radios e TV’s.

      Especialmente neste blog ninguém segue nenhuma formula acabada (ou melhor ‘cassetes”, palha para burro comer, seja de que ventos suões forem) dada a alta qualidade inteletual de quem por aqui anda independentemente donde sopram. Creio ser mais para o debate acima do vulgar. Senão mais vale perder tempo a ler jornais, ouvir radios ou ver televisoes, não perder tempo a pensar donde os blogs seriam desnecessários ou mesmo prejudiciais.
      .
      No meu entender o que importa é o valor particular deste blog, que tem convencido ser muito acima dalgumas pinceladas de tinta preta para apagar o que não se consegue contrariar (ou derrubar) pela força da razão ou da palavra, mas desculpaveis no frenesim excessivo ncapaz do auto controle do calor de certas temas, desculpavel e compreensivel.
      .
      E no caso tanto vale esta minha como a sua supra. Terceiros é que são arbitros do golo. Contrarie sempre, Também o farei mesmo pelo mais incomodo. Pois desses contributos é que nasce a oporunidade de alcançar a Razão e a Lógica sem implantação da rotura total sem apelo nem agravo.
      .

      .

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  9. trovoadas permalink
    26 Dezembro, 2014 19:47

    Parece-me tão pernicioso pensar que todos os males do mundo foram causados pelo Capitalismo como achar que este nada teve que ver com a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
    Se o capitalista procura melhorar as condições de produção, tal deve-se ao facto de procurar o preço mais económico para colocar o seu produto no mercado, em virtude de viver num mundo de concorrência.

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  10. JCA permalink
    29 Dezembro, 2014 18:41

    .
    Exemplo sobre supra “THINKING OUTSIDE THE BOX” versus “THINKING INSIDE THE BOX” como é este caso surpreendente:
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    Bielorrussia troca Rublo por Euro e Dollar
    http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=1&did=173146
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    Sobre ‘box’ da Grecia vamos lá ver se será ‘outside’ ou ‘inside’ ….
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