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Dez mitos sobre a Segurança Social

31 Maio, 2015

Em 1970, quando Marcello Caetano lançou as bases do Estado Social, os pensionistas eram 260.807, em 2012 chegaram aos 3.584.902. Em 1970 por cada idoso (indivíduo com 65 e mais anos) existiam 6,4 indivíduos em idade activa, ou seja, com idades entre os 15 e os 64 anos. Em 2012 essa percentagem caiu para 3,4. Em 1970 nasceram em Portugal 180.690 crianças. Em 2012 esse número foi menos de metade: 89.841.

Desde 2008 que o crescimento das despesas com pensões vem sendo superior ao das receitas das contribuições.

Qualquer semelhança entre esta situação e a onda de um tsunami que se vai formando no horizonte não é coincidência: a insustentabilidade da Segurança Social vai cair-nos em cima. Mas até lá os mitos vão-nos entretendo.

1 A conta imaginária A imagem é poderosa, mas é falsa

2 Os meus descontos chegam e sobram para pagar a minha reforma  Temos pena mas não é verdade

3 As reformas actuais são muito baixas Só se for por ilusão de óptica

4 Os cortes permitiram equilibrar as contas da Segurança Social  Infelizmente é falso.

5 A Segurança Social gasta muito dinheiro em intervenção social É verdade, mas essa verdade não explica quase nada

6 A Segurança Social deve deixar de pagar o desemprego/reconversão profissional Uma falsa boa ideia.

7 A Segurança Social é um contrato entre gerações É verdade. Mas é um mau (para não dizer péssimo) contrato para uma das partes

8 É o crescimento económico que tem de garantir a sustentbilidade da Segurança Social É óbvio que sim, mas o óbvio só é óbvio quando dá jeito.

9 A Segurança Social deve alargar a sua base de financiamento Essa opção pode ser tomada, mas vai prejudicar os jovens.

10 Devemos apostar numa reforma que resolva definitivamente o problema Esqueça o definitivamente.

27 comentários leave one →
  1. Ruca permalink
    31 Maio, 2015 12:53

    Excelente resumo! Os jovens entendem que se contribua para a SS, mesmo que não estejam a descontar para eles próprios.

    Têm realmente muitas dificuldades em entender que os reformados vivam MUITO melhor do que eles próprios, quando são eles a pagar…. Tá certo que é um contrato, mas como diz, ruinoso para uma das partes, que não foi sequer consultada!

    Se calhar nem 8, nem 80?

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  2. Nuno permalink
    31 Maio, 2015 13:03

    Falta aí o problema das pensões de sobrevivência, que só tornam o sistema ainda mais insustentável.

    A esperança média de vida do membro sobrevivo dum casal já ronda os 90 anos (é necessariamente mais alto os 84 anos das mulheres).

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  3. Luís permalink
    31 Maio, 2015 13:34

    Eu vejo algo muito perverso em Portugal que não se vê em Inglaterra ou na Holanda, que são sociedades que conheço minimamente.

    Em Portugal os pensionistas dão muito dinheiro aos filhos e netos e há umas gerações isso não acontecia na dimensão actual. Ajudam a pagar a prestação da casa, o colégio privado, o infantário, a empregada doméstica. Pagam explicadores e propinas, ou o bilhete do festival de música. Ajudam na entrada para o carro ou para o apartamento.

    Nas últimas duas décadas muitos portugueses compraram casa no Algarve. Muitos mesmo. Mas enquanto que os estrangeiros usufruem da sua moradia algarvia vários meses por ano, o típico português só lá vai meia dúzia de dias, na melhor das hipóteses um em doze meses. E tenho perguntado a alguns pensionistas, «então nunca vem, gastou tanto dinheiro e não usufrui da casa, fica lá na Covilhã onde o Inverno é tão frio». E respondem: «tenho de ajudar os minha filhos e os meus netos».

    Muita gente com menos de 50 habituou-se a pequenos luxos e hábitos de consumo graças à generosidade dos pais e avós. Ajustar as pensões à realidade obrigará muita gente a mudar de vida e tal nunca será popular. Esperam-se menos jovens em colégios privados ou explicadores, ou em festivais de música.

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  4. manuel branco permalink
    31 Maio, 2015 14:00

    Definição em italiano de propaganda, que é o que Helena Matos faz com a burka do jornalismo:

    Azzione svolta al fine di diffondere fra strati sempre piú ampli di popolazione idee, concetti, dottrine politiche, sociali, religiosi facendo ricorso a tuttii mezzi ritenuti utile a modificare in mesure relevantei le opinioni e i comportamento.

    Eu teria vergonha se me acusassem disso. Como parra para tapar a vergonha chamam alguns a isto jornalismo de causas. Como diria la rochefoucauld, a hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude.

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  5. manuel permalink
    31 Maio, 2015 14:07

    Face à complexidade da situação, penso que a ideia da ministra das finanças de cortar 600 milhões é a mais adequada. Os portugueses, particularmente os 3500000 de reformados, vão reconhecer a razão da excelsa Maria Luís nas próximas eleições. Quando o Costa for eleito correrá leite e mel e seremos todos muitos felizes. Custa muito, mas o regime como é evidente, já não tem soluções em democracia. Aguardemos pela solução Grega, pode estar aí o nosso futuro.

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    • 31 Maio, 2015 17:00

      Aguarde o Manuel a solução grega. Pelos 600 empregos que lá se perdem por dia (consulte as estatísticas) diria eu que a perseguimos até Junho de 2011, quando o desemprego estava em queda livre.

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      • manuel permalink
        31 Maio, 2015 17:09

        Um futuro muito provável pode ser a saída do euro ou a pertença a uma moeda de 2ª. Não tenha dúvidas, sem uma reforma do estado o país não é viável, e nessa altura nem reformas, nem SNS, nem ensino nem nada.

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      • Duarte de Aviz permalink
        31 Maio, 2015 17:54

        Sim, sim Manuel. Com inflação a 20% o valor real das pensões fica rapidamente resolvido. Varofaquiamente resolvido…

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  6. insider permalink
    31 Maio, 2015 14:26

    eu ainda me lembro quando se dizia que a solução era privatizar…
    a helena parece a trombeta deste(s):

    O Governo já trabalha na privatização da Segurança Social.

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    • manuel permalink
      31 Maio, 2015 14:42

      A privatização da segurança social como está a ser feita, para dar a uma classe parasitária intermedia, entre o estado e as pessoas, a fatia maior do bolo, e no fim, os pobres ficam com migalhas, tem de ser parada imediatamente e se possível revertida com o próximo governo. Ressalva: esta linda política começou nos governos anteriores ao atual, mas este acelerou.

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  7. PiErre permalink
    31 Maio, 2015 15:57

    Portanto, em 1970 já havia alguma segurança social sob a forma de caixas de previdência, sociedades mutuárias e fundos de pensões. Mas eram privadas, não do Estado.
    Agora eu pergunto: por que é que o Estado as confiscou e se pôs a fazer coisas para as quais não tinha capacidade nem competência, com os resultados que estão à vista?
    Que fez aos bens a ao dinheiro que confiscou?
    Quem responde?

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  8. Ruca permalink
    31 Maio, 2015 16:17

    Antigamente, lembro-me dos avós, havia qualquer coisa chamada casa do povo. Onde se fazia descontos.

    Realmente as pessoas faziam os seus descontos, mas estavam convencidas de que os faziam para a sua reforma. E até foi assim…

    No 25 de Abril começou a roubalheira total. Eu era um puto, não me lembro, mas pelo que vejo, começou-se a distribuir dinheiro por todo o ser vivo, quer tenha descontado, quer não. E assim continua.

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  9. Eleutério Viegas permalink
    31 Maio, 2015 16:32

    Excelente trabalho da Helena Matos, que serve de guia para quem não é especialista do assunto. Está um bocado extenso, mas os subtítulos já são esclarecedores.

    Como não conto com grande coisa da SS, e criei um bloqueio aos meus bolsos, é um não assunto para mim, mas isto tem que ser tratado de forma séria, pois afecta muita gente e muitas cabeças… Ora o peiésse, como é costume, já começou a ajavardar o assunto.

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  10. 31 Maio, 2015 16:37

    Os portugueses tem uma qualidade única no Mundo.
    Inventar problemas e depois empurrá-los com a barriga.
    Toda a gente sabe que a solução deste problema passa pelo plafonamento das prestações da Segurança Social.
    Mas ninguém tem a coragem de dar o passo em frente.
    Toda a gente sabe que há milhares de prestações pagas indevidamente, toda a gente sabe que há centenas de fundações, observatórios e institutos perfeitamente inúteis e que como sanguessugas sugam tudo o que podem.
    Toda a gente sabe que o SNS é um cancro que precisa de ser extirpado.
    Toda a gente sabe, mas ninguém quer saber.

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    • Euro2cent permalink
      31 Maio, 2015 18:25

      > uma qualidade única no Mundo

      Não seja chauvinista. Vá ler os californianos miar com o sistema de pensões dos empregados do estado deles (a Republica das Californias, para dar o nome exacto).

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    • JCA permalink
      1 Junho, 2015 15:59

      .
      O CM de hoje informa que há um Fundo qualquer para prémios para alguns da Função Publica de mil milhões de euros. Ora 600 milhões para as Pensões seriam peanuts. Pelos vistos há para aí dinheiro a pontapé. E a pontapé para apenas o que querem. Pelo que se lê .. Que tal atribuir por exemplo esses fundos para reforçar à Caixa Nacional de Aposentações dos proprios Funcionários Publicos sem prejudicar os premiados ?
      .

      .

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  11. 31 Maio, 2015 18:10

    Objecção à pressuposição do mito 7.
    Não existe contrato nenhum. Nenhum vínculo obrigatório, coercivo, irressolúvel, pode ser considerado um contrato.
    Até o diabo tem mais integridade, quando exige o acordo voluntário, para selar o pacto proposto em troca da alma e faz questão de cumprir com a sua parte.

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  12. Manolo Heredia permalink
    31 Maio, 2015 20:46

    Os trabalhadores por conta de outrem e seus patrões foram OBRIGADOS a descontar para um seguro de rendimentos na velhice. Seguro esse garantido pelo Estado, apólice emitida pelo Estado.

    Dizer que são os jovens que estão a pagar as pensões dos velhos com os seus descontos é o mesmo que dizer que os automobilistas com seguro contra terceiros estão a pagar as reparações dos sinistros de carros em reparação de danos próprios.

    Dizer isso é enganar os segurados, é uma aldrabice. Nenhuma entidade seguradora tem legitimidade para recusar o pagamento de indemnizações ao abrigo do contrato de seguro, alegando falta de sustentabilidade das contas da seguradora.

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    • Nuno permalink
      1 Junho, 2015 08:42

      Talvez. Mas toda e qualquer seguradora tem a legitimidade de ir à falência.

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  13. 31 Maio, 2015 22:34

    ora , quem puder q trabalhe sem descontar e va poupando . eh o meu conselho aos mais novos 😃 . ja sabem : estado ? vade retro , satanas .

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  14. JCA permalink
    1 Junho, 2015 01:00

    .
    Bom na minha continuada ignorância, manifestando o Relatorio da S Segurança Social de 2013,
    .
    a média das pensões dos Privados (Empregados e Empregadores) são cerca de 300 e poucos Euros,
    .
    a média das Pensões dos Publicos são são cerca de 1200 e poucos Euros;
    .
    segundo tenho lido a Caixa Nacional de Aposentações que paga as Pensões dos Publicos tem anualmente metade das Receitas das Despesas que tem com as Pensões Publicas;
    .
    também segundo o que leio a Segurança Social que paga as Pensões dos Empregados e Empregadores até tem um Fundo de Reserva creio de 17 mil milhões, crê-se além disso que os vários Governos também meteram a mão na gamela nas Receitas da S Social, a titulo de emprestimos emprestadados …..
    .
    Ora põe-se, se o patrão Estado, os sucessivos Governos, se baldou durante anos a pagar a sua parte à Caixa Nacional de Aposentações é questão que têm de resolver dentro do lobby Nomenklatura. O resto dos País (empregados e empregadores não tem nada a ver com isso,
    .
    nem tem que estar sujeito a marketings de apocalipses, que diga-se ninguém passa cartão nenhum solvo as habituais “juizes em causa propria2 que andam a vender tretas. Nem se sabe para quê, nem porquê, tão absurdo são.
    .
    É tema zero para os Eleitores nas proximas eleições. Todos sabem o que se passa, dispensam as explicações dos diretorios ocasionalmente nos Partidos, e dos Politicos também da Publica acidentalmente em Poder. Ocasionalmente e acidentalmente porquê ? Porque mais umas pazadas de apoios da UE com bilhete de ida e volta são insuficientes para os manter instalados. Como se desinstalam só ‘os deuses’ saberiam, ou saberão.
    .
    A proposito nenhum dos que legitimamente se estão a apresentar como candidatos a PR ganhará as eleições. Tanta agua ainda vai correr debaixo da ponte. Nem vale a pena perder tempo por agora como o eleitorado (todos os que podem votar, votem ou não) está a ‘osservar’ a coisa para além daquela coisa que existia, comunicação social e jornas.
    .

    .

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  15. Chopin permalink
    1 Junho, 2015 01:48

    O equívoco dos três milhões e meio de pensionistas está aqui explicado,

    http://quartarepublica.blogspot.pt/2015/05/confusao-entre-pensoes-e-pensionistas.html

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  16. José Ribeiro permalink
    1 Junho, 2015 11:25

    Baixa da TSU agrava défice em 0,25% do PIB em 2018
    00:07 Marta Moitinho Oliveira
    Economistas do PS preparam novos dados para defender proposta de redução da TSU dos trabalhadores e das empresas. 2018 é o ano em que o impacto negativo no défice é maior.

    Baixa da TSU agrava défice em 0,25% do PIB em 2018
    Os economistas do PS prevêem que a redução da Taxa Social Única (TSU) para as empresas e para os trabalhadores agrave o défice em 0,25% do PIB em 2018, cerca de 460 milhões de euros. Este é o ano em que a baixa da TSU mais pesa aos cofres do Estado. O cálculo, que foi apresentado por Mário Centeno numa sessão de esclarecimento, já tem em conta todos os efeitos: o custo imediato da redução das contribuições, os seus efeitos positivos indirectos que resultam do estímulo à economia e do aumento do rendimento e as novas fontes de financiamento para a Segurança Social.

    in http://economico.sapo.pt/noticias/baixa-da-tsu-agrava-defice-em-025-do-pib-em-2018_219893.html

    Isso está bonito!
    Estes “icomonistas” tiraram o curso aonde?
    Mais uma “bancarrotazinha” para a mesa do fundo, fáxavor!

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