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União Europeia vs «europeus»

1 Abril, 2009

elec-ue1Neste quadro com a taxa de participação nas últimas (2004) eleições para o Parlamento Europeu, é patente o facto indesmentível do divórcio entre o discurso político de alguns sobre a «relevância» das instituições europeias e a realidade: aqueles que a própria UE gosta de tratar como «europeus» não ligam muito, nem dão especial relevância à escolha dos seus representantes junto dessa instituição.

Tal irrelevância não é uniforme no conjunto da UE, mas podem-se notar basicamente duas tendências: entre uma baixa participação (em todos inferior a 50%), nos chamados países «fundadores» que a imprensa gosta de chamar «europeístas» e o desprezo do eleitorado dos países que mais recentemente entraram.

Com efeito, descontando os 5 países onde o voto é obrigatório (ou onde de alguma forma existem sanções para quem não vote), apenas na pequena Malta as votações são expressivas, o que é uma tradição em qualquer acto eleitoral naquele país. Acima dos 50% surge apenas a isolada Irlanda, mas que ainda assim, se deverá somar o contributo de no mesmo dia se ter realizado um referendo sobre atribuição de nacionalidade a filhos de estrangeiros

De notar que as eleições europeias, sendo quase sempre actos «intercalares» face às legislativas nacionais, os partidos no governo são invariavelmente penalizados, por comparação com as mais recentes legislativas. Em 2004, dos 25 países tal sucedeu em 23 (excepções foram a Espanha, cujo PM tinha acabado de tomar posse e a Eslováquia). Em 2009 é suposto suceder o mesmo, embora provavelmente em menor número de países, pois que nos últimos meses e semanas, vários governos já caíram.

Como razão para este «divórcio» UE/cidadãos nacionais apresentam-se várias teorias. Certamente o facto de a UE ser liderada por duas instituições não-eleitas e para a qual o voto nas europeias nada conta, como seja a Comissão e o Conselho de Ministros terá o seu peso face à percepção do potencial eleitor da irrelevância da sua escolha. O facto, bastante comum, como por exemplo entre nós, de os principais partidos nacionais não apresentarem diferenças significativas face às políticas concretas da UE, terá igualmente o seu contributo, favorecendo uma opção partidária interna por militância ou de «castigo» de quem seja governo. Também elemento diferenciador face a outro tipo de actos eleitorais será não se estar perante uma escolha personalizada, como seja a escolha de um líder, o que tenderá a favorecer a opção por pequenos partidos, com mensagens mais «radicais» mas necessáriamente mais claras, face ao cinzentismo e unanimismo dos partidos tradicionais. E por fim, os mais fanáticos, sempre dirão que o «povo», coitado, não está consciente da relevância da coisa.

Fonte dos dados: European NAvigator (ENA)
Nota 1: A Roménia e a Bulgária apenas aderiram à UE em 2007.
Nota 2: Nos países assinalados com (1) o voto é obrigatório e/ou existe algum tipo de sancionamento

9 comentários leave one →
  1. JCP's avatar
    JCP permalink
    1 Abril, 2009 09:30

    Por essas e por outras é que só deveriam ser eleitos se pelo menos 50% dos eleitores exercessem o seu direito de voto!

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  2. Luis Melo's avatar
    1 Abril, 2009 11:32

    Os portugueses só “ouvem nas orelhas” (como dizia um tio meu). Só quando lhes bate á porta é que se preocupam. Como até agora, achavam que as decisões da UE não influenciavam a sua vida, borrifaram-se para as eleições. Pode ser que agora com esta crise… a coisa mude de figura.

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  3. Gabriel Silva's avatar
    Gabriel Silva permalink*
    1 Abril, 2009 11:43

    Luis Melo,

    Não creio que assim seja.
    No caso, não serão propriamente «os portugueses» que se destacarão pelo seu alegado «alheamento», mas TODOS os europeus, não se prevendo aliás que participação se altere por aí além em Junho próximo.

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  4. Gabriel Silva's avatar
    Gabriel Silva permalink*
    1 Abril, 2009 11:45

    JCP
    nesse caso o PE apenas contaria com deputados gregos, luxamburgueses, belgas, irlandeses, italianos, cipriotas e malteses.

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  5. PKS's avatar
    PKS permalink
    1 Abril, 2009 12:24

    “… a «relevância» das instituições europeias…”

    A relevância das instituições europeias e a relevância do Parlamento Europeu — e é só para este que há eleições — são coisas bem diferentes.

    ********

    Em geral, eu acho que quem votasse (em elições e referendos) deveria receber um pagamento do Estado, ainda que pequeno. Digamos 50 euros.

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  6. JCP's avatar
    JCP permalink
    1 Abril, 2009 12:35

    Gabriel,
    Havia de ver que a atitude dos políticos se alteraria substancialmente.
    Não há votos, não há deputados! Quer melhor castigo para alguma corja que anda por aí?

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  7. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    1 Abril, 2009 13:38

    A corja de comunistas, só em Portugal, ate na Russia acabaram com eles

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  8. Bonifácio's avatar
    Bonifácio permalink
    1 Abril, 2009 13:45

    A população sabe que não tem controlo sobre a UE e que as eleições são uma palhaçada. Já sente o quanto a moeda é manipulada e sabe que os índices oficiais de inflação mentem. Se apercebeu que a UE é um monstro totalitário que começa a mostrar as garras e os dentes. Sente que os seus partidos pertencem a umas quantas corporações.
    Portugal se transformou numa província ultramarina governada por poderes multinacionais. Já não garante a sua defesa e está alinhado numa aliança envolvida em guerras por todo o planeta. O quadro internacional se deteriora. Não é de se excluir, a não ser por um exercício de fé, uma guerra mundial.
    Não será hora de retirar de Portugal se retirar da UE e voltar a ser um país independente? Não é óbvio que a UE não trará a liberdade, a moeda estável, o respeito à propriedade e a segurança exterior, mas somente paternalismo, inflação, regulamentos socialistas e dependência de potências agressivas?
    É incrível o quanto fomos domesticados. Ninguém estranha que uma bandeira estrangeira agora tremule por toda a parte ao lado da bandeira portuguesa. Os portugueses do passado não hesitariam em queimar este símbolo que reaviva os projectos dos Habsburgos, de Napoleão, de Hitler e de Estaline.

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  9. PMF's avatar
    2 Abril, 2009 02:32

    Curiosamente, a mesma tendência de alheamento tem-se vindo a verificar na generalidade das eleições internas, em particular, em Portugal, com (ultimamente) uma excepção que confirmou a regra.

    Por essas e por outras é que Saramago (até) escreveu um livro…

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