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A ética será republicana?*

9 Outubro, 2009
Esta é uma ideia cara aos nossos presidentes da República que, perante o calendário de feriados predominantemente religiosos fazem questão, uma vez chegado o 5 de Outubro, de recordar ao país a importância da ética republicana. Cavaco Silva não foi excepção. Não duvido que os presidentes da República que temos tido defendam a ética da República mas daí a dizer-se que existe a ética republicana vai um passo demasiado largo. E no caso português perigosamente largo. Em primeiro e mais óbvio lugar porque não é o facto de o regime ser republicano ou monárquico que o torna mais ou menos ético. Portugal é uma república e a Suécia e a Holanda monarquias mas no que à ética da vida política e pública respeita temos muito a invejar aos súbditos de Carlos Gustavo e de Beatriz. Em segundo lugar esta associação entre a ética e a natureza republicana do regime envenenou-nos todo o século XX e ameaça-nos o XXI pois incapazes que somos de dissociar a ética da República esquecemo-nos da primeira para não nos malquistarmos com a segunda. A nossa incapacidade de debatermos o regicídio, a noite sangrenta ou, no pós 25 de Abril de 1974, a descolonização resultam em grande parte desta atávica associação entre a natureza do regime e a ética da sua classe dirigente. Onde estava em Novembro de 1975, a ética dos militares e políticos portugueses que, como relata Leonor Figueiredo no seu livro “Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, deixaram para trás nas prisões e campos de concentração de Angola cidadãos portugueses que tinham sido raptados pelo MPLA?

Enquanto os factos menos nobres praticados na República, a corrupção e o falhanço da Justiça continuarem a ser vistos como notas de rodapé na exaltação mais ou menos folclórica da ética republicana continuaremos reféns daquela divisão jacobina do mundo que envenenou a I República e que, de sinal contrário, se prolongou no Estado Novo, aí com a tentativa inversa de transformar em boa a ditadura com o argumentário da honestidade pessoal de quem a chefiava. A República que somos será mais ética não por ser república mas sim por ter entre os seus políticos e na sua administração quem não veja na condição republicana (tal como outrora o viram na condição monárquica ou em “ser da situação”) um atestado de impunidade.
*PÚBLICO
11 comentários leave one →
  1. zé sequeira's avatar
    zé sequeira permalink
    9 Outubro, 2009 10:10

    Cada vez gosto mais do que escreve (e do estilo de escrita, rápido, ao correr da pena, quase de um fôlego). Ao contrário da outra Helena, que, muda e queda, anda atrelada ao Costa, “esta” é boa cepa. Continue, nós agradecemos.

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  2. xico's avatar
    xico permalink
    9 Outubro, 2009 12:20

    D. Manuel II era um homem com uma ética “republicana” enorme. Entregou o seu espólio à república!
    Outra coisa não se poderá dizer de alguns presidentes da república!
    Só o monarca pode defender a república, porque só o monarca evita a tirania!
    Foi assim infelizmente em Portugal com Salazar e foi assim em Espanha. Em Portugal infelizmente já não havia rei a chamar para salvar a república.
    Correm com os reis e depois vão ter de os chamar, dizia Herculano.

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  3. Desconhecida's avatar
    âmendoa Amarga permalink
    9 Outubro, 2009 12:23

    A palavra ética tem muito pouca ética, e costuma ser usada por crápulas. A república foi e tem sido um episódio maçónico, por isso podia-se falar de ética maçónica.E esta é uma ética que pretende ao universal, pretende mas não consegue, porque é uma ética de seita, limitada, abusiva, totalitária.

    Ou seja a ética republicana é altamente sectária.

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  4. Desconhecida's avatar
    âmendoa Amarga permalink
    9 Outubro, 2009 12:29

    Não há presidentes neutros. A última trapalhada do PR a tentar desesperadmente ser neutro não convenceu ninguém. Um PR tem sempre as mãos atadas a um partido, por mais que as lave em “ética” e as asperja com eticol.

    Um Rei tem inúmeras desvantagens, só ele pode ser rei, e pode sair um idiota chapado. Mas pelo menos é imparcial apartidário.

    Os PRs nossos tem feito o possível por viverem em estado de apagão das suas opiniões. Por isso tem tido todos aquele ar ambivalente, sem excepção.

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  5. ASSilva, o tal's avatar
    ASSilva, o tal permalink
    9 Outubro, 2009 14:15

    Quem ler os jornais depois do 25 abril até às independências pouco lá encontra sobre o que se passava no ultramar.Os Portugueses locais foram na altura considerados dum modo geral “criminosos” mesmo que fossem carpinteiros, pedreiros, canalizadores e agricultores.
    A debandada da tropa depois do “nem mais um soldado para as colónias” tem autores e responsáveis conhecidos.E que abandonaram mesmo tudo.Não tivesse a coisa a ser devidamente executada por quem sabia da poda ajudados pelos serviços secretos cubanos e afins…
    Depois dos mais fiéis portugueses terem sido fizilados eis que os mesmos agora andam a aplicar a receita da “colonização” de Portugal ainda por cima obrigando os seus pobres a africanizar-se e os trabalhadores a receberem salários de africano.Para não falar dos impostos que se têm que pagar para o NADA pois que se trata duma política suicida da nação portuguesa.1000000 de africanos em 10 anos quando temos 1000000 de desempregados/RSI´s? e tudo mas tudo endividado e a caminho do desmoronamento?
    Os gajos andam a fazer passar a mesma água duas vezes por baixo da mesma ponte…um milagre!

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  6. ASSilva, o tal's avatar
    ASSilva, o tal permalink
    9 Outubro, 2009 14:20

    Ontem mostraram na TV a brigada do reumático socialista-descolonizadora, agora colonizadora.Continuem aos beijinhos e votar nessas merdas que vão ter um lindo enterro…

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  7. ASSilva, o tal's avatar
    ASSilva, o tal permalink
    9 Outubro, 2009 14:22

    Em oito anos (2001 a 2008), o grupo RTP recebeu em fundos públicos cerca de 1,9 mil milhões de euros. Durante este período, a empresa recebeu cerca de 900 milhões através da Indemnização Compensatória e 664 milhões em taxa de Contribuição Audiovisual. A este valor acrescentam-se dois aumentos de capital. De acordo com os números internos da RTP, a dívida da empresa será de 951,1 milhões de euros em 2009.|

    os gajos não olham a custos para amolecer corações e propiciar a traição…

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  8. Desconhecida's avatar
    Kolchak permalink
    9 Outubro, 2009 15:52

    A «Ética Republicana» é um conceito mítico que o século XVIII inventou, referindo-se à imaginada «República Romana» da época clássica. O «Iluminismo» não só admirou os «antigos», como procurou que os «modernos» os imitassem e superassem. No geral, nunca o conseguiu fazer.
    Excepções haverá, até em Portugal. Por exemplo:

    a)- O Liberal portuense Manuel Fernandes Thomás faleceu de inanição por não abandonar os trabalhos a Constituinte, que decretou a Constituição de 1822;

    b)- O Miguelista António Ribeiro Saraiva vendeu todos os seus bens em Sernancelhe, para pagar do seu bolso as dívidas da Embaixada Portuguesa em Londes;

    c) – Aristides de Sousa Mendes desrespeitou as ordens de um Ditador, para salvar milhares de inocentes no nosso consulado de Bordéus na 2.ª Guerra Mundial.

    O que tiveram em comum estas três personagens históricas? Eram Monárquicas e, sobretudo, PORTUGUESAS!

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  9. Eduardo F.'s avatar
    Eduardo F. permalink
    9 Outubro, 2009 19:19

    Os escritos da Helena Matos são um autêntico bálsamo na defesa da inteligência, do bom senso e da decência.

    Um português agradecido,

    Eduardo F.

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  10. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    9 Outubro, 2009 19:24

    Pelos poucos comentários deste post se pode concluir que acertou em cheio mais uma vez nas feridas abertas por regimes que fecham os olhos aos erros (às vezes graves) que cometem!

    É um autêntico meter a cabeça na areia….

    Até um dia…

    Como dizia António Barreto em 1999, depois da vitória de Guterres, “há-de chegar o dia em que um Presidente da República vai ser eleito CONTRA AS TELEVISÕES!!!”

    Não demorou muito: 2006!!!

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  11. Zé Preto's avatar
    9 Outubro, 2009 23:27

    “Os Jornais de Lisboa provocam todos a mesma aversão: é a pura ignomínia do abandono cobarde. Os Jornalistas que nos testemunhavam um servilismo apressado bajulam agora os revolucionários: é verdade que, agora, arriscam a pele, enquanto sob o nosso reinado se expunham a simples reprimendas ou a algumas multas” – Rainha Dona Amélia

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