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O homem que inspira este país*

4 Julho, 2010

Uma das instruções que demos aos responsáveis pelo programa de entretenimento que se oferece nos écrans é que se podem repetir as imagens de jogadas, mas não de jogadas polémicas. O que aconteceu ontem foi um erro. Seremos mais rigorosos, de modo a que não se repita” – declarou o porta-voz da FIFA, Nicolas Maignot, a propósito do sucedido no jogo México-Argentina, em que o primeiro golo da partida, marcado pelos argentinos, nasceu de um fora-de-jogo. Como devo fazer parte dos cem portugueses (talvez não sejamos tantos!) que se declaram ignorantes e incompetentes para discutir as decisões dos árbitros, deixo a questão futebolística do fora-de-jogo no Argentina-México para os restantes 10.656.429 portugueses.
Porque aquilo que o senhor Maignot declarou é política pura: não interessa o que acontece. Não interessa o que se faz. Apenas conta o que se vê, daí a importância sobre o que se deixa ver. O “entretenimento” sobrepõe-se à realidade. Este papel de editor da realidade que a FIFA se arroga dentro dos estádios e para matérias de bolas e balizas, esta utilização perversa do termo “polémicas” – como se polémicas tivessem sido as jogadas e não as decisões dos árbitros – é algo que conhecemos bem em Portugal no campo da política: todos os dias se acrescentam detalhes às negociatas, aos conluios, ao tráfico de influências, e é como se nada acontecesse ou tivesse acontecido. Graças ao filtro da propaganda oficial e dessa justiça que anula, arquiva e prescreve tudo o que possa pôr em causa o poder instituído, as “jogadas polémicas” não existem oficialmente. E o que não é oficial é inexistente. E se por acaso ou desleixo dos guardiões-editores vislumbramos alguma jogada polémica, logo mais medidas serão tomadas para que o erro não se repita. Como chave de ouro desta forma de ver e actuar em que o estádio de Soccer City é apenas uma alegoria, o erro não foi o árbitro ter validado o golo, mas sim os monitores terem demonstrado à exaustão aquilo que muitos (até o próprio autor do golo) sabiam ter acontecido: uma jogada irregular. Nicolas Maignot não é apenas o porta-voz da FIFA. É o nosso homem. Um guru, por assim dizer.

*PÚBLICO

23 comentários leave one →
  1. PMF's avatar
    4 Julho, 2010 10:48

    Excelente. Na mouche!

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  2. Euro2cent's avatar
    Euro2cent permalink
    4 Julho, 2010 11:20

    “Fifa is the Goldman Sachs of sport, the Olympics being J.P. Morgan.” (como diz o camarada Taki, em http://www.spectator.co.uk/columnists/life/6083968/part_2/football-overload.thtml – mais opinioes divertidamente ultrajantes no link ‘More articles from: Taki’)

    Fora isso, e borrifando-me para a bola, acho graça aos gritos lancinantes (sobretudo dos americanos) pelos “instant-replays” que mágicamente instituíriam a justiça no jogo. (E intervalos para anúncios …)

    A ingenuidade é tocante. Como se vê por Wall Street, melhorar as regras mecânicas contra a trafulhice produz melhores trafulhas. Isso sim, é um salto tecnológico que não está ao alcance de todos – a trafulhice cá na terra é tão tosca que mete dó …

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  3. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    4 Julho, 2010 11:39

    a helena finalmente confessa-se publicamente.

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  4. Desconhecida's avatar
    4 Julho, 2010 11:57

    Na Coreia do Norte acontece algo perecido e no entanto o Partido Comunista defende que aquilo é uma democracia. Qual é o problema, então?

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  5. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    4 Julho, 2010 12:10

    A FIFA e a maioria das organizações mundialistas funcionam assim.
    É um espectáculo,ora um espectáculo existe para fazer sonhar, para acreditar na perfeição, na política temos o Comunismo, Nazismo e em menor grau Fascismo. Um espectáculo é sempre totalitário.

    Logo a verdade que mostra a imperfeição tem de ser escondida.

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  6. Desconhecida's avatar
    zazie permalink
    4 Julho, 2010 12:20

    #um espectáculo é sempre totalitário”.

    Esta gajo droga-se.

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  7. JJ Pereira's avatar
    JJ Pereira permalink
    4 Julho, 2010 12:37

    A coisa já vem de longe . ” Quando os factos desmentem a teoria, nega-se a realidade aos factos”…

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  8. Alves's avatar
    Alves permalink
    4 Julho, 2010 13:34

    Como era a tal canção? “Money, money, money…”

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  9. Fado Alexandrino's avatar
    4 Julho, 2010 13:40

    Sim, mas faltou acrescentar um pormenor.
    É que (como na política) as imagens podem não ser dadas no estádio mas cá fora serão sempre dadas até à exaustão.
    É como o “segredo de justiça” dura um bocadinho, mas acaba depressa.

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  10. socialista vaselinado's avatar
    socialista vaselinado permalink
    4 Julho, 2010 14:04

    Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público, 2010-06-21

    Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.

    Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

    Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

    Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

    Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

    Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

    Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

    Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

    E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

    Pedro Afonso

    Médico psiquiatra

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  11. Eduardo F.'s avatar
    4 Julho, 2010 15:16

    Suspeito que não tenha sido o porta-voz da FIFA, Nicolas Maignot, «a inspirar este país». Suspeito antes que tenha sido este país que o inspirou a ele e à FIFA.

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  12. Iberista's avatar
    Iberista permalink
    4 Julho, 2010 15:58

    Contra o patriarcado alemão
    Uma fúria sem perdão
    Do macho ibero machão
    Às armas! Às armas
    Viva Espanha

    Com a colaboração da mafifa
    Aparecerá sempre na rifa
    Uma vitória, uma conquista
    Porque o jogo calculado
    Com final anunciado
    Não agrada a um público aficionado

    PS
    Ibéria por favor

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  13. Desconhecida's avatar
    Ricco Filho permalink
    4 Julho, 2010 16:00

    #11: Este Maignot deve ter frequentado o 12º ano das “novas oportunidades” do sokas!

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  14. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    4 Julho, 2010 16:11

    6 Esta gaja nem precisa de se drogar. Ela é mesmo assim.

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  15. Desconhecida's avatar
    zazie permalink
    4 Julho, 2010 16:40

    Ó caralho- também achas que alguém normal diz que todos os espectáculos são prova de totalitarismo?

    Vai-te catar que o Luck droga-se. Ele diz que já faltou mais para que os portugueses se juntem e criem um país novo para se verem livres das amarras do Estado.

    E chama fascista a tudo- até a um espectáculo. Mas defende as boas das guerras feitas pelo Estado.

    Aí já não há fascismo nem totalitarismo. O grande perigo é um espectáculo ou um prémio a alguém- se for colecta de impostos para invadir outros países- força! que neoconeirismo é esta patranha.

    Só se lembram da liberdade para os caprichos, como os putos ranhosos.

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  16. Eduardo F.'s avatar
    4 Julho, 2010 17:08

    #13

    Parece-me uma explicação muito convincente.

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  17. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    4 Julho, 2010 17:34

    Quem está no espectáculo vende sonhos logo precisa de ter um controlo sobre a mensagem. Por isso é que a criança que cantou nos Jogos Olímpicos da China fez lip-sync para uma outra criança com mais jeito a cantar mas feia. E se fosse possível fazer foot-sync…
    Um Espectáculo tal como uma Ditadura, que também vende perfeição não pode mostrar falhas.

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  18. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    4 Julho, 2010 17:41

    um espectáculo é sempre totalitário

    Um Lucklucky é sempre totalmente analfabeto.

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  19. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    4 Julho, 2010 18:01

    Há quem goste deixar-se enganar.

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  20. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    4 Julho, 2010 19:26

    São no total dez estádios em nove cidades, quatro deles renovados e outros seis especialmente construídos para albergar o Mundial, alguns dos quais em cidades que nem têm uma equipa de futebol de escalão principal ou de râguebi.

    “Alguns destes estádios, simplesmente, não vão estar em posição de cobrir gastos. Neste sentido, vão dar prejuízo”, disse no passado mês ao diário Mail & Guardian, o economista Stan du Plessis, da Universidade de Stellenbosch.

    Só o estádio de Polokwane, na província de Limpopo, uma das mais pobres do país, prevê cerca de dois milhões de dólares anuais para a manutenção, um orçamento colossal para uma região extremamente necessitada de melhorias nos serviços básicos, como por exemplo na educação.

    A Cidade do Cabo tem agora um estádio espetacular que custou mais de 400 milhões de dólares, mas segundo a imprensa sul-africana a sua construção obedeceu mais a um capricho da FIFA, e concretamente do seu presidente, Joseph Blatter, uma vez que a cidade já contava com recintos perfeitamente válidos para o torneio.

    Por seu turno, o estádio de Port Elizabeth, que acolheu o jogo de estreia de Portugal com a Costa do Marfim (0-0), custou 160 milhões de dólares e não se sabe qual será o seu futuro depois do Mundial, apesar da cidade estar a pensar atrair alguma equipa profissional para a tornar sua sede, pois dificilmente poderá ser amortizado à base de concertos.

    http://dn.sapo.pt/desporto/mundial2010/interior.aspx?content_id=1610409

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  21. Desconhecida's avatar
    Licas permalink
    5 Julho, 2010 00:15

    Desta vez Lucklucky (#5) saiu-se com uma frase lapidar (que VOU repetir, POSSO?)
    ____O ESPECTÁCULO É SEMPRE TOTALITáRIO_____________________

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  22. Desconhecida's avatar
    zazie permalink
    5 Julho, 2010 00:16

    Mais outro drogado.

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  23. Desconhecida's avatar
    Licas permalink
    5 Julho, 2010 18:36

    Zazie nem o único neurónio ainda não afogado no álcool põe a funcionar.
    Lucklucky muito acertadamente teorizou e demonstrou (será nesmo original?) que
    TODO O ESPECTÀCULO É TOTALITÀRIO.
    Basta-nos considerar o J. Sócrates a *fazer* as auas meias maratonas acompanhado da Rosa Mota, ral como o Putin a *lutar* com um KGB e o Mussolini atravessando a nado um rio da *sua* Itália.
    Como diz Lucklucky * há pessoas que gostam de ser engandas.
    Acrescento : são os patetas úteis ( a tropa imbecil do *politicamente correcto*).

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