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Tribalizámos

21 Fevereiro, 2011

As 50 famílias ciganas de Campo Maior esperam há um ano pelo realojamento” – escrevia o PÚBLICO de dia 12 deste mês. Talvez se a frase não começasse com aquele artigo definido “as” o título não me chamasse a atenção. (Como se chamarão agora com a TLEBS? E alguém sabe explicar em que ficou essa reforma do ensino da gramática do Português?) Mas voltemos a Campo Maior. Será que em Campo Maior vivem 50 famílias ciganas e todas elas esperam por realojamento? Foi com esta dúvida que comecei a ler o artigo e confesso que acabei aterrorizada.
Descobri uma localidade, Campo Maior, cujo presidente de câmara fala de comunidade cigana e não- cigana. O que será a comunidade cigana? E quem constitui a comunidade não-cigana? E por que razão uma dessas comunidades é definida pelo que não é? Não sei mas devo ser só eu a viver nesta ignorância de que os cidadãos portugueses se dividem agora em comunidades, para já a cigana e a não-cigana.

E quanto mais lia menos percebia, pois, segundo nos informa o artigo, o autarca de Campo Maior é muito criticado pela oposição por não ter resolvido ainda este problema da comunidade cigana, donde concluí que em Campo Maior não se duvida desta comunitarização dos portugueses: “É esta comunidade [a cigana], na sua esmagadora maioria a viver do rendimento social de inserção, que continua à espera que se faça um bairro novo” para ser realojada. Ou seja, o conceito de comunidade leva a que os cidadãos portugueses, desde que arrumados nessa ideia meio tribal meio folclórica da comunidade, sejam tratados como um todo: recebem por atacado o rendimento social de inserção e por atacado será resolvido pela autarquia e pelo Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IRHU) a sua necessidade de novas casas. E têm de continuar a viver todos juntos? E como é possível que tenham todos características tão semelhantes que, segundo informa a notícia, esteja a “esmagadora maioria a viver do rendimento social de inserção”?

Este tratamento colectivo de grupos de cidadãos a partir de traços culturais não se costuma chamar racismo? Seja como aconteceu em França, com a ordem de expulsão para os ciganos romenos, seja para atribuir rendimento dito de inserção ou casas em bairros sociais em Portugal, o conceito de comunidade não é mais do que uma forma politicamente correcta de segregação. Um dia vão atirar-nos com isto à cara!

3 comentários leave one →
  1. Arlindo da Costa permalink
    21 Fevereiro, 2011 15:55

    Concerteza. Há comunidades ciganas, cabo-verdianas, angolanas, ucranianas,etc.
    Até há vastas comunidades beirãs, alentejanas, minhotas e madeirenses em Lisboa, que é conhecida por ser a capital dos parolos e dos provincianos, já para não falar da famigerada comunidade dos retornados?
    Mas, qual é o espanto, Drª Helena?

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  2. o caso todo permalink
    21 Fevereiro, 2011 17:47

    E por que razão uma dessas comunidades… pelo que não é?
    Fácil, para se indicar que tal comunidade bem ficará ao relento, ao sol e chuva, se por meios próprios não arranja onde viver, pois não tem direito a realojamento, a recasa, enfim.
    Ao passo que a outra tem…

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  3. Ana permalink
    22 Fevereiro, 2011 03:44

    A Sério que não conhecia? Ou é uma brincadeira?
    também há a comunidade de paises de lingua oficial portuguesa. E as comunidades luso-descendentes. E a comunidade de pessoas que frequentam colégios privados e a comunidade das pessoas que imaginam que as as pessoas não se organizam em comunidades (esta última imagino composta por meia dúzia membros) e claro a mais importante de todas as pessoas que gostam de discutir os não assuntos.

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